segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

MOTIVO - FAGNER // CECÍLIA MEIRELES

Meu amigo Pintão era um sujeito que lia de forma obsessiva e sobre praticamente qualquer assunto. Um dia comentou que no início da humanidade, ainda na ausência de escrita, os ensinamentos religiosos eram divulgados oralmente, de forma cantada e cadenciada, mais fácil de memorizar. A explicação me pareceu fascinante, totalmente lógica e, claro, fruto de uma grande cultura. Aliás, concordei integralmente, pois passei por uma experiência como essa quando ainda era solteiro, ao ouvir um dos primeiros discos do Fagner.

Uma das músicas desse LP de que mais gostei foi composta em cima de um poema lindíssimo da Cecília Meireles. O curioso da história é que na primeira prensagem só apareceu o nome do Fagner, disso resultando um processo contra a gravadora. Mas o que eu queria dizer é que memorizei os belíssimos versos graças à sua musicalização (linda também). E o poema é “Motivo”. Mais que nunca, tem muito a ver com o que tenho sentido ultimamente.

Eu canto
Porque o instante existe
E a minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste
Sou poeta
Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento
Atravesso noites e dias
No vento
Se desmorono ou se edifico
Se permaneço ou me desfaço
Não sei se fico
Ou passo
Eu sei que canto e a canção é tudo
Tem sangue eterno a asa ritmada
E um dia eu sei que estarei mudo
Mais nada


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