Minha resposta precisou ser transformada em
novo post (o que acho ótimo) de tão grande. Mas vamos lá. Em primeiro lugar, obrigado
pelo imerecido “genial”. Gostei muito da história da catarata, pois são
lembranças desse tipo que humanizam as pessoas, mesmo que não as conheçamos. E
talvez aí também esteja o problema, pois tendemos a julgar o mundo segundo
nossa “régua e compasso”, como disse o Gil.
O que quero dizer é que, embora
verdadeiramente tímido e introvertido, eu finjo muito bem, sendo capaz de fazer
as maiores idiotices em público, pois me treinei para isso. Ou seja, se eu
estou no controle de mim mesmo, sou até capaz de plantar bananeira dentro de
igreja. Mas, se for pego de surpresa, a timidez e a introversão se manifestam e
eu fico todo torto, sem graça e sem chão.
E eu fui criando esse escudo para mim depois
de descobrir que eu era feio (ou não era o modelo de beleza que eu gostaria de
ser). Por isso, uma das formas de tentar corrigir essa falha genética foi
transformar-me no palhaço, no bobo da corte, no gente boa, no legal, no sem
noção. Agindo assim, talvez imaginasse que as pessoas gostariam de mim e as
meninas sentiriam atração pelo feioso.
Isso até que funcionou bem em muitos aspectos.
Por exemplo, virei o rei dos velhinhos e das velhinhas. Ao dar a eles uma atenção
(falsa) que normalmente não recebem, ao brincar com eles, ao agir de forma
esculhambada e descontraída, consegui que muitos se tornassem meus fãs
declarados. Uma senhora um dia me disse que “devia ser muito bom ser minha mãe”,
só porque eu a tratava com respeito e (falsa) atenção. Meus pais adoravam esse
meu estilo. Especialmente meu pai, um tímido patológico. Eu percebia nele um
sorriso de orgulho quando fazia minhas macaquices ou contava casos idiotas
realmente acontecidos, tais como os dois que contei no post, porque eu contava
fingindo achar aquilo um absurdo, mas logo começava a rir dessas bobagens,
fazendo-os rir também.
Sem querer me estender muito nem entrar em
outras “áreas”, o que posso dizer é que me divirto muito falando mal de mim
mesmo (pois estou no controle), mesmo que no fundo não pense com essa
severidade. Então, quando às vezes
pareço estar falando sério, posso estar apenas fazendo uma piada ou troça.
Creio já ter contado isso, mas vou repetir:
quando vejo pessoas pavoneando-se demais eu jogo a isca, dizendo que o sujeito “está
com os burros na sombra”. Se percebo que ele mordeu a isca, achando que o estou
elogiando ou reconhecendo sua importância ou imponência, dou nele aquela
desarmada, dizendo que quando falo que meus burros estão na sombra é porque
meus filhos estão debaixo da marquise. O efeito que isso provoca é muito
engraçado.
Então, para terminar, preciso confessar que
todos os espelhos, inclusive os de minha casa mostram sempre o “feio
arrumadinho” que eu sou (com a velhice avançando, cada vez mais feio e menos
arrumadinho). Brincando com a historinha antiga, eu sempre sei que estou nu.
Mas finjo não saber.
Rapaz, tem muito de mim nisso tudo que você descreveu, muito mesmo. Também sou, como disse de seu pai, um tímido patológico, mas hoje sou um tímido bem treinado.
ResponderExcluirBela resposta, JB.
Eu já me convenci de que embora quase diametralmente opostos em muitos sentidos, apesar de sermos muito diferentes, somos muito parecidos.
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