segunda-feira, 16 de maio de 2016

DISMORFEU

Li na revista VEJA uma reportagem (“Beleza que não se reflete”) sobre transtorno dismórfico corporal (TDC) ou dismorfia corporal, doença psiquiátrica que “caracteriza-se pela percepção alterada de si mesmo diante do espelho”. Resumindo, quem é magro se vê baleia, quem é alto se vê anão, etc.

Depois de refletir (sem trocadilho) sobre isso por três segundos, cheguei à conclusão que devo ter essa coisa (mais uma para minha coleção), só que em versão espelhada (essa eu não podia deixar escapar!).

O caso é o seguinte: meu pai sempre dizia que eu e meu irmão éramos os meninos mais bonitos do mundo. E eu acreditei!!!! Por isso – e lá se vão uns sessenta anos – até hoje penso assim. Quando me olho no espelho, em vez de ficar procurando cabelo encravado na barba ou mapeando cada nova ruga que aparece, fico embevecido com tanta formosura, chegando quase a beijar o espelho. Olho aquele rosto refletido, perfeito, simétrico e ”sessual” e digo para mim mesmo: -“Vai ser bonito assim no raio que o parta!” ou então, -“Bonito pra caralho!” Tudo bem que o espelho está embaçado e que eu nem consiga enxergar nada, mas isso é só um detalhe sem importância.

Por isso, fico puto com a reação de algumas pessoas invejosas ou de mal com a vida, como uma antiga amiga de minha amada, que teria comentado não entender como uma moça tão linda tinha coragem de namorar um sujeito tão feio. E o sujeito era eu! Claro que não dei confiança, pois diz o ditado que “quem desdenha quer comprar”. E ela era um bagulho desgraçado (além de namorada de um cunhado).

Teve também o caso de nossa primeira consulta com um novo endocrinologista. Ao chegarmos ao consultório, minha mulher pediu para que eu entrasse primeiro, pois eu falo demais (o que é um equívoco). Entrei, encontrei um médico cabeludão, com cara de hippie louco, conversamos um pouco, pediu alguns exames e a consulta terminou.

Entra minha mulher e começa a conversar com ele. Por algum motivo, comenta alguma coisa sobre mim. A reação do médico foi, para dizer o mínimo, bizarra. Perguntou para minha mulher (isso é real!) se o paciente anterior (eu) era seu marido. Diante da resposta afirmativa, comentou: -“Está judiadinho, heim?” Logo eu, dono de um perfil greco-romano (nariz grande, meio careca e barrigudo)! Inveja do Hipócrita, obviamente.

É por isso que quando saio com minha mulher e vou a algum shopping da vida, fico incomodado e sem entender quando passamos perto de algum espelho grandão, daqueles que refletem o corpo todo. Olho a imagem da minha mulher e lá está ela tal como a vejo todo dia, linda, linda. Quando olho para quem está de mãos dadas com ela o que vejo é um velho com cara de idiota, olhos empapuçados, barrigudo, cabelos ralos e brancos e olhar de louco. Sei lá, prefiro o espelho do nosso banheiro. É lá que a realidade mora. 

2 comentários:

  1. Sem dúvida, JB, a realidade mora em nosso lar. Genial.
    Caso parecido aconteceu com minha mãe, que hoje conta com 72 anos. Há cerca de três anos, ela foi operada de uma incipiente catarata nos dois olhos. Quando retirou as vendas, as ataduras e os curativos, quase pediu as cataratas de volta. Ela tava muito mais velha do que se via antes. Do dia pra noite, apareceram dezenas de rugas e pés de galinha até então insuspeitados. Será que também não pode ser um pouco o seu caso, além da corujice paterna, uma cataratazinha amiga e benevolente?

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