Depois do acordo de
leniência homologado pelo Juiz (fodão!) Sérgio Moro, a Construtora Andrade
Gutierrez divulgou pela imprensa um pedido de desculpas ao povo brasileiro.
Transcrevo uma parte desse pedido, esclarecendo que o grifo eventual é meu:
Além do
pagamento de indenização de R$ 1 bilhão, previsto
no acordo de leniência, a Andrade Gutierrez deve um sincero pedido de desculpas
ao povo brasileiro. Reconhecemos que erros graves foram cometidos nos últimos anos e, ao contrário de negá-los, estamos
assumindo-os publicamente. Entretanto, um pedido de desculpas, por si só, não
basta: é preciso aprender com os erros praticados e, principalmente, atuar
firmemente para que não voltem a ocorrer.
Achei bacana essa carta aberta da AG. Só
fiquei na dúvida se seria mea culpa ou meia culpa, pois, vá saber, a
empreiteira já existe há 67 anos, e aí, já viu, né? Mas o que me fez
querer comentar essa notícia foi o fato de lembrar-me na hora de meu pai. Não,
ele não era engenheiro. Nem envolvido em corrupção.
Quando eu era adolescente e às vezes cometia
alguma "falta", tipo chegar
mais tarde que a hora previamente combinada, meu pai (que nunca me bateu e de
quem nunca sofri qualquer tipo de agressão física) me chamava para conversar.
Ele sabia manejar bem as palavras e o tom de
voz. Sempre em voz baixa, às vezes dizia coisas que cortavam como navalha, pois
eram injustas ou excessivas. Eu ouvia calado enquanto ele falava de forma
interminável. Aquilo me deixava arrasado, magoado e puto, mas não reagia.
Algumas horas depois, passada sua raiva,
vinha me pedir desculpas pelo que tinha falado em excesso. Nessa hora, mesmo
sem responder nada, eu ficava putíssimo com esse pedido tardio. Para que pedir desculpas? Melhor seria
se não houvesse motivo para isso acontecer! Sinceramente, eu sempre lamentei que não
tivesse me dado porrada. Talvez tivesse doído menos.
Tive um chefe muito exigente que costumava
dizer que "justificativas,
explicações e desculpas são plenamente aceitáveis, mas não pagam a fatura do
fim do mês".
Para terminar este post, e lembrando-me de
meu pai, farei uma paráfrase do comentário citado:
As justificativas,
explicações e desculpas feitas pela empreiteira são aceitáveis, mas melhor
seria se não tivesse agido de forma a motivá-las.
Quem quiser ler a carta na
íntegra, siga este link:
Como sempre me impressionam as suas memórias, JB. Também tinha a mesma impressão quando criança e até no começo da minha adolescência, não conseguia entender porque as pessoas faziam certas coisas conscientemente e depois tinham a cara dura de pedir desculpas, mas antes mesmo que o direito pudesse ter me ensinado a vida tratou de mostrar que é feita de condutas comissivas e omissivas, não há isenção. Daí acho que aprendi ou descobri uma das coisas mais importantes, senão a mais importante, pelo menos pra mim. Conforme eu observava "a feiura" nos defeitos e vícios percebia a resistência do amor, o último a sair, a fechar a porta. Então acredito eu (e não leve em consideração minhas tolas opiniões) que é por isso que a raiva tantas vezes passa como chuva, dando lugar a mágoas que crescem na sombra em certas ocasiões, mas a porra do amor é leal. E talvez seja essa a parte mais bonita saber que não importa que nada realmente importa pra quem vai estar sempre lá por você (de alguma forma).
ResponderExcluir"J"
Eu amava meu pai, mas nunca tive uma imagem idealizada dele tal como vejo muitas pessoas fazer. Ele tinha muitos defeitos (assim como eu, assim como todo mundo), mas, sem saber, me ensinou a escancarar o coração para as pessoas que amo, assim como escancarou para nós, seus filhos.
ExcluirApenas permita-me dizer que que achei divertido o assunto principal do post (o pedido de desculpas da AG) ter sido colocado de lado. Outra coisa: que negócio é esse de se impressionar com minhas memórias? Isso é bom ou ruim?
Eu sabia que vc ia perceber que não falei nada do assunto principal, é o que eu faço com frequência me prendo aos detalhes e viajo na maionese. Agora sobre suas memórias impressionarem, já falei mais de um par de vezes sobre o seu talento com as memórias, então acho que é uma coisa boa.
Excluir"J"
Bacana! O defeito é que um dia não terei mais nada para lembrar, pois isso é "combustível não renovável".
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