quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"SABE DE NADA, INOCENTE!"

Já deixei claro que sou um sujeito antissocial, etc. Por ser assim, é ainda mais difícil ter amizade ou simpatia por determinado tipo de pessoas. Por exemplo, bêbado desconhecido. Esse tipo está sempre pronto a conversar com quem quer que esteja distraidamente perto dele. Como disse meu filho, a solução é evitar o contato visual e sair de perto rápido. Também não aguento os conhecidos quando estão bêbados. Resumindo: não tenho saco para aturar gente bêbada.

Outro tipo de gente que detesto e desprezo são os que só sabem contar vantagem, os “reis da cocada”, os presunçosos, os “sabe-tudo”. Tenho problemas também com gente visivelmente burra ou ignorante. Agora, os que eu realmente não tenho paciência de aturar são os fieis xiitas de duas igrejas fundamentalistas, pois, para mim, são ignorantes que acreditam tudo saber. 

"Sabem" até o que é bom para quem não pensa como eles! Como diria o “filósofo” Compadre Washington, “sabe de nada, inocente!” Esses sabichões de araque são os neopentecostais e os petistas.

Alguém pode argumentar que o PT não é uma igreja. No sentido literal realmente não é, mas seus “fieis” comportam-se como se fosse (alguns de seus "cardeais" e “bispos” até vivem em clausura). Seus “fieis” pagam dízimo, acreditam que só eles conhecem a “salvação”, são intolerantes com os que têm crenças diferentes das suas e tem até um sumo-sacerdote, um sujeito tipo papa (papa tudo).

Ou seja, são duas “igrejas” diferentes, mas a fé de um desses dois grupos assemelha-se à fé do outro grupo. Poderia dizer que os petistas são os neopentecostais da política. Em contrapartida, os neopentecostais são os petistas da fé. Pois, se você observar bem, são fundamentalistas, militantes, obstinados em suas convicções e chatos pra caramba.

Mas, sinceramente, se tiver de escolher, ainda prefiro os evangélicos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CHATÔ, O REI DO BRASIL - FERNANDO MORAIS

Hoje, eu reverencio o escritor Fernando Morais e seu excelente livro “Chatô - o Rei do Brasil”. Embora seja um calhamaço de mais de 700 páginas sobre a história de Assis Chateaubriand, que foi dono de uns cem jornais e emissoras de televisão, entre outras empresas, é uma leitura agradabilíssima e extremamente divertida.

Para essa homenagem, transcrevo uma das histórias super pitorescas contadas no livro. Essa história tem início em uma campanha para a criação de aeroportos pelo país afora. Para isso, usando de sua absoluta influência, Chateaubriand conseguiu que várias empresas, “espontaneamente”, doassem aviões de pequeno porte para os aeroportos criados. E o texto transcrito descreve uma dessas cerimônias. 

Falando sério, quem ainda não leu esse livro não sabe o que está perdendo, pois é muuuito bom! E o autor escreve bem demais (o início, então, é magistral). Olhaí.

(...) Até a metade a cerimônia não foi em nada diferente das dezenas que já tinham acontecido naquele mesmo lugar. Primeiro falou alguém em nome dos doadores; depois foi a vez da madrinha Iolanda Penteado; depois do ministro, Chateaubriand encerrou a sessão de discursos: ‘Desejo em primeiro lugar expressar nosso agradecimento pela presença do ministro da Aeronáutica nesta festa e pela galanteria da senhora Iolanda Penteado, que veio ungir dos santos óleos de sua espiritualidade o batismo do novo aparelho ...’, nem seu discurso deixaria de ser uma repetição de tantos outros que fizera em ocasiões idênticas.

Feito o batismo, apareceram os garçons com o champanhe. Chateaubriand tomou das mãos de um deles a bandeja, dobrou o guardanapo sobre o braço esquerdo e saiu servindo os convidados que se encontravam à sua volta. Uma taça para a madrinha, uma para o ministro, uma para cada um dos doadores presentes. Aproximou-se do grupo de oficiais da Aeronáutica, todos fardados, e com uma mesura ofereceu-lhes uma taça. Um deles, alto e louro, tomou uma taça nas mãos e perguntou-lhe delicadamente:

-   O senhor sabe quem sou eu?
Ele respondeu com um sorriso:
-   Não, não sei. Quem é o senhor?
O jovem oficial respondeu de cara fechada:
-   Eu sou o tenente Paulo Bockel, seu filho da puta! Sou irmão do Clito Bockel!

Nem acabou de falar e, num gesto instantâneo que sem dúvida ensaiara, com mão esquerda jogou a taça de champanhe nos olhos do jornalista e com a direita aplicou-lhe violento murro no olho esquerdo. Apesar de sua resistência de remador, Chateaubriand percebeu instintivamente que o homem que o agredia era pelo menos vinte centímetros maior que ele. Largou a bandeja com garrafa e taças no ar, enfiou a mão na cintura e tirou o revólver, que já saiu do coldre disparando. Com um olho obscurecido pelo sangue que jorrava de sua sobrancelha e o outro ardendo e semifechado pelo champanhe, viu que duas balas tinham atravessado a batina do padre. Desabou no chão atirando mais uma, duas, três vezes. Ao ver um vulto avançar sobre seu corpo ainda caído, mirou na cabeça. Chateaubriand disparou e viu a bala entrar na boca do agressor. Os guarda-costas de Salgado Filho carregaram o jornalista para o banco de trás do carro do ministro e arrancaram em disparada. A festa de batismo do Augusto Severo estava terminada.

Ainda não eram onze horas da manhã quando o jornalista francês Jacques Epstein entrou esbaforido pela redação dos Associados e escancarou aos gritos a porta da sala de Dario de Almeida Magalhães:
-   Chateaubriand a tué Olimpio Guilherme! Chateaubriand a tué Olimpio Guilherme!

Naquele mesmo instante Chateaubriand estava chegando ao consultório de Drault Ernanny, amparado pelos seguranças do ministro Salgado Filho, assustado e com o rosto coberto de sangue:
-   Doutor Drault, parece que eu matei Olímpio Guilherme e que arranquei o saco de um padre com dois tiros! O padre eu nem conheço, doutor Drault, mas eu achei que estava atirando no filho da puta do irmão do Bockel e fui acertar logo na cara de Olímpio Guilherme, o homem mais bonito do Brasil?

A célebre pontaria ruim de Chateaubriand não fizera tanto estrago assim. Quando Epstein chegou ao jornal com a notícia de que Chateaubriand havia assassinado Olímpio Guilherme, Dario de Almeida Magalhães procurou se informar sobre a tragédia. Mas, ao chegar ao hospital em que o ator e jornalista tinha sido internado, soube que ele escapara por verdadeiro milagre. Chateaubriand disparara ao todo quatro tiros. O vulto que se aproximara dele não era o de Paulo Bockel, como imaginara na confusão, mas o de Olímpio Guilherme (também alto e forte como o agressor), que se abaixara para socorrê-lo. A bala de calibre 38, disparada quase à queima-roupa, arrancou-lhe os dentes e foi alojar-se na garganta, a poucos milímetros da medula. Ele já tinha sido operado e estava fora de perigo. As outras duas balas, que Chateaubriand temia que tivessem "arrancado o saco" do padre-piloto Geraldo da Silva e Souza, na verdade passaram entre as pernas do religioso, apenas perfurando sua batina. A quarta bala, localizada depois pelo inquérito feito pela Aeronáutica, perdera-se no ar e fora alojar-se na parede do fundo de um hangar. Como Olímpio Guilherme não sofreria nenhuma sequela mais grave, o único prejuízo maior provocado pelos tiros tinha sido a constrangedora revelação de que ‘os mais belos dentes do Brasil’ eram postiços, feitos em Hollywood.(...)” 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

PREDADOR TAMBÉM É GENTE (POLÍ TITICA)

O nome ridículo deste post é uma homenagem ao desprezível "Festival da Falta de Ética e de Moral" que aconteceu no país durante o recente período eleitoral (com destaque para as "apresentações" deixadas para o segundo turno), tal a quantidade de baixaria e matéria fecal (merda mesmo) publicada, pichada, colada em postes, tapumes e paredes ou trombeteada verbalmente. Não vou nem discutir o mérito dessas atrações de Festival, se elas correspondem ou não à verdade. Isso é assunto para os que se sentirem injustiçados, desonrados ou vilipendiados. Minha praia é outra.

É claro que não gostei do resultado, porque condeno qualquer tipo de patrulhamento ideológico e radicalismo, porque acredito na livre iniciativa e na irrestrita liberdade de expressão. Isso significa que sou uma pessoa de centro, um eleitor “perpétuo” do PSDB. Mas, talvez para manter meu cérebro a salvo dessa ressaca, desse “day after”, resolvi pensar um pouco sobre o que leva algumas pessoas e instituições a negar ou esconder fatos comprometedores, a dizer apenas meias verdades ou a mentir da forma mais descarada possível (a notícia falsa sobre a morte do doleiro Youssef, ou "Aécio vai acabar com isso e aquilo...", por exemplo). 

E é esse "papo-cabeça" que queria partilhar com os 2,3 leitores deste blog. Então, vamos lá:

Ainda que existam hoje vegetarianos e sua versão "hardcore", os veganos, o homem nasceu predador. Omnívoro, mas predador. E comporta-se até hoje como os demais predadores. O que diferencia uma espécie da outra são as técnicas de caça utilizadas. O homem, por exemplo, alterna ataques diretos com ações dissimuladas, só para “comer pelas bordas”.

Então, todos os métodos utilizados durante a campanha dos candidatos – lícitos ou ilícitos, justos ou condenáveis – são apenas isso, técnicas de caça. Neste caso específico, caça de votos

O único problema que persiste é que a Humanidade, durante sua evolução, criou a Ética, a Moral e códigos de conduta baseados nesses princípios. E isso foi inequivocamente desprezado, solenemente esquecido.

Mas, como é desejo da presidente (re)eleita fazer uma “modernização” da Constituição mediante a convocação de uma Assembleia Constituinte independente do Congresso (eu ouvi o Fernando Pimentel dizer isso em um programa popularesco da TV, na hora do almoço), transcrevo uma proposta antiga sugerida por Capistrano de Abreu, uma Constituição contendo apenas dois artigos:

1. Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara.
2. Revoguem-se as disposições em contrário

Precisa mais que isso? PRECISA!!!! (Siga o link abaixo)


domingo, 26 de outubro de 2014

TALVEZ EXISTA ALGUÉM QUE GHOST DISSO

UM ESPÍRITO BAIXOU EM MIM
Essa piada é tão pronta que é provável alguém já ter pensado nisso antes. É assim:

Do jeito que a informática vai tomando conta de tudo, daqui a algum tempo nenhum orixá vai querer mais "baixar" em terreiros de umbanda ou candomblé. Só vai poder rolar download.



ENTENDEU O ESPÍRITO DA COISA?
De vez em quando surgem na mídia pessoas ligadas ao candomblé e à umbanda. Jogam búzios, fazem previsões que ninguém se lembra de conferir depois, etc.

Normalmente são identificados com nomes sonoros e significado obscuro (para mim, claro). É babalorixá pra cá, Fulano de Ogum pra lá, Ogã de Xangô e por aí. Se vacilar, é capaz até de aparecer um Quindim de Iaiá (sei lá, vai saber!).

O que me chama a atenção é que há muitos gays nesse ramo. Sem problema nenhum, lógico. Mas, para mim, há duas hipóteses para essa predileção:

1-    ou é por que são considerados “cavalos de santo”, significando que o orixá “monta” no cidadão (“adooro!!!”)
2-    ou é por se sentirem atraídos pelo “uniforme” – anéis, colares, pulseiras, bata rendada e até turbante (“chiquérrimo!”).

Pensando nessas coisas, acredito que os babalorixás gays não deveriam se auto-proclamar “cavalo de ...”. Para eles, ficaria melhor dizer “eguinha pocotó de ...”.

(Jotabê às vezes recebe espírito, mas só de porco)




sábado, 25 de outubro de 2014

AMANHÃ É O DIA!

O diálogo a seguir foi postado no dia 25/10/2014, junto com uma brincadeira que fiz pensando em um sobrinho que é assumidamente ateu. Considerados os padrões de acesso deste blog, o post fez o maior sucesso, sucesso que imagino dever-se ao diálogo sobre o Lula. 

Embora os dois diálogos sejam do tipo “Spamto”, um deles, por fazer referência à eleição presidencial de 2014, é totalmente “Vintage” (se alguém ficar sem entender o que significam esses termos, sugiro ler o post "Estrutura do Blog"). Por isso, resolvi separá-los. E a quantidade de visualizações deixei para aquele que, creio, mereceu esse destaque. O do Lula, claro. 

Eu realmente ouvi o boato, que, lógico, pode ter sido inventado. Talvez o Lula tenha dito isso em tom de pilhéria. Não importa. O que sei é que não consegui resistir à tentação de incluir no post de hoje (25/10) o diálogo "AMANHÃ É O DIA!". Afinal, amanhã é o DIA!
Então, vamos lá:


-   Ouvi um boato de que o Lula teria dito que se o PSDB ganhar a eleição para presidente, ele sairá do país.

-   Fugido?

-   Não, pô!

-   Tá de brincadeira comigo! Ele disse isso?

-   Tou falando sério! Não sei se é verdade, lógico.

-   E eu nem sabia que tenho mais um motivo para votar no Aécio!


CAFÉ DA MANHÃ

-   CORROFF!!!!

-   Que quié isso, Marcelinho?

-   Casca de pão... Engasguei.

-   Melhorou?

-   Tranquilo.

-   Quando a gente engasga, é bom bater nas costas e dizer “SÃO BRÁS”!!!

-   Sei...

-   Ah, mas pra você isso não ia funcionar...

-   E??...

-   Porque você é ateu, né?!



(Da série “Histórias que são um spamto”)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

TATUAGEM

Embora eu ache algumas tatuagens incrivelmente lindas, essa coisa de fazer ilustrações indeléveis no próprio corpo me deixa meio perplexo. Eu não consigo imaginar uma coisa tão definitiva como essa  ser escolhida quando se é jovem. 

Será que a tatoo feita aos 20 anos irá ainda empolgar aos 60? Provavelmente, não.  Isso me faz lembrar de uma propaganda do WWF sobre espécies ameaçadas de desaparecer, que trazia esta frase: “extinção é para sempre”. Tatuagem (na maioria absoluta das vezes) também é para sempre.

Mas o motivo dessa “reflexão” é outro: segundo ouvi dizer, existem empresas  que compram – e pagam antecipadamente – a pele tatuada, que será retirada após a morte do maluco que a vendeu.

E aí me surgiu o pensamento do dia: os tatuados e suas peles previamente vendidas – por mais que isso soe muito moderno – lembram um casamento católico, na parte em que o padre diz assim: 

"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

RETRATADO

Com exceção dos trechos de livros e textos incríveis que coloco na "seção" Reverência, normalmente só posto coisas que eu pensei e escrevi. As citações que faço (sempre entre aspas) servem para pontuar, assinalar ou enfatizar minhas ideias, meus pensamentos. Aliás, não tenho o menor problema em utilizar frases de outros autores, basta que cumpram uma única exigência: ser inteligentes e em sintonia com o que pretendo dizer. 

Ontem, enquanto esperava minha mulher ser atendida por nossa dentista, vi uma frase que mexeu comigo. Tanto, que rasguei a página da revista e a trouxe para casa (fazer o que, né?). E creio que gostei da frase por me ver um pouco retratado nela. Segura aí!

"Nunca pretendi ser senão um sonhador: a quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser."
(Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa).

Fala sério, vai escrever bem assim lá na China!


domingo, 19 de outubro de 2014

EU TOC TÔ

Sempre tive o hábito de ordenar as cédulas segundo seu valor, em ordem crescente. Assim, depois de dobradas, as de maior valor ficam meio ocultas pelas demais. Quando era mais jovem, entretanto, tinha a mania idiota de ordenar as notas de mesmo valor pelo seu número de série, também em ordem crescente.

A isso, creio, dão o nome de TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. Se alguém procurar no Googa (my brother) mais informações sobre esse transtorno, achará um artigo do Dráuzio Varella que, entre outras coisas, diz o seguinte:

“Em geral, os rituais se desenvolvem nas áreas da limpeza, checagem ou conferência, contagem, organização, simetria, colecionismo, e podem variar ao longo da evolução da doença”.

Eu sublinhei a palavra “rituais” porque esse é o tema desta “meditação". O lance é o seguinte: ontem, durante a missa das 19h30 (sou católico praticante e “comungante”!) a mente começou a viajar, mais precisamente durante a homilia (sermão, como se dizia). Fiquei pensando nos rituais que existem (creio) em todas as religiões. Há uma montanha deles. Por exemplo, o bater de cabeça dos judeus em frente ao Muro das Lamentações, as sete voltas dos muçulmanos em torno da “Kaaba”, o tira-põe da mitra dos bispos católicos durante a missa. Sem falar das vestimentas e utensílios utilizados durante as celebrações. 

Aí me ocorreu a seguinte “teoria miojo”: no início das religiões, o que existia eram apenas os ensinamentos de seu(s) fundador(es). Alguém sentava no chão, em um banquinho, em um tapete e mandava ver. Para tentar “contextualizar” (boa, essa palavra) os ensinamentos passados com o momento presente, alguns (ou todos) discípulos começaram a fazer encenações rituais que ajudassem a fixar o conceito que queriam transmitir. Ideia bacana. O problema é que as encenações teriam se tornando rígidas, obsessivas, obrigatórias: “se não fizer assim, os pecados não serão perdoados, as preces não serão atendidas, a purificação não será alcançada”.

Então, minha teoria é essa: os rituais, vestimentas e acessórios utilizados de forma recorrente pelas diferentes religiões têm toda a cara de ter sido criados por gente portadora de TOC.

Essa minha “meditação” não tem embasamento teórico, é fruto apenas da minha própria obsessão por assuntos em que a religião esteja envolvida. Tenho TOC, pô! Não sou da área, mas imagino que alguém com conhecimento e competência já deve ter estudado e analisado isso.

(O muro das lamentações onde Jotabê bate a cabeça é o terminal bancário em que consulta o saldo da conta corrente no final do mês).


sábado, 18 de outubro de 2014

KINDER EGG

-   Tava aqui me lembrando do kinder ovo...

-   Rapaz, é mesmo! Será que ainda existe?

-   Sei lá, eu não tenho neto!

-   E era caro pra caramba, né? Só por causa da porra da surpresinha...

-   Meus filhos viviam enchendo o saco pra comprar aquela merda.

-   Virou até uma piadinha, lembra?

-   Quando o André falou que o carro dele estava parecendo o kinder ovo?

-   Como é que era mesmo?

-   “Toda hora meu carro surge com uma surpresinha desagradável”.

-   Isso! Agora, por que você se lembrou dessa merda?

-   Idade, associação de ideias...

-   Pera lá, que negócio é esse?

É que meu esqueleto tá parecendo um kinder osso: vira e mexe descubro uma surpresinha desagradável em uma das juntas.

-   Essa foi ruim demais!!!


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

MEU NOME NÃO É JOE

Quando eu nasci veio um anjo safado... (ops! eu estava com a música do Chico na cabeça e me distraí) Vamos de novo:

Quando eu nasci, meus pais resolveram homenagear um dos santos de sua devoção. Aí me deram o nome de José (isso é real!). O problema é que, talvez por purismo ou inocência, deram dois vacilos:
– a junção dos sobrenomes de meu pai e minha mãe resultou em uma expressão danada de obscena (que não pretendo expor neste blog);
– eu não tenho nome composto, tipo “José Carlos”, por exemplo. Meu nome é apenas José. E isso sempre foi motivo de constrangimento para mim, um neurótico puro-sangue.

No início da adolescência, eu me torturava pensando o que diria se atendesse ao telefone e alguém perguntasse quem estava falando. E ficava imaginando o diálogo apavorante:

Alô...
– Quem está falando?
– Aqui é o Zé.
– Zé? Que Zé?
– Zé, Zé só!

Detalhe: nessa época, a casa de minha avó, onde morávamos, nem tinha telefone!!! (e pensar que ninguém nunca cogitou de me internar!)

Talvez por essa solidão “antroponímica”, eu acabei por detestar meu próprio nome e, por extensão, todos os outros nomes bíblicos. Para mim, bacanas eram os nomes saxônicos, germânicos ou escandinavos. Já pensou se eu me chamasse Balder, por exemplo? Provavelmente eu nunca teria criado este blog. Sério! Porque José tem uma sonoridade ruim. Em BH fala-se "Jusé", mas se for pronunciado corretamente, sai "Jósé", que é feio demais. Além disso, esse nome remete ao apelido “Zé” e suas múltiplas variações, todas depreciativas, tipo “Zé Mané”, “Zé Ruela”, “Zé Goela” (ou Guela), “Zé cai n’água”, “Zé Ninguém”. (Rá rá rá o que? Tá achando graça? O papo é sério!)

Por que estou falando disso? Porque, ao criar o blog, fiquei pensando em um personagem que comentasse as piadinhas infames que escrevo. Aí até pensei no “Bloguição”, porque acho muito engraçado algumas pessoas referirem–se a si próprias na terceira pessoa, sempre se enaltecendo. Como o Pelé, por exemplo. Conheço também um sujeito próximo que fala dessa forma (“porque Gomes é foda em matemática”, “porque Gomes deu um show” e por aí). Já o “Bloguição” só interfere e comenta para tornar mais ridículo ainda o assunto abordado. Mas, convenhamos, é um nome bastante idiota e forçado.

Recentemente, um conhecido, ao saber da existência do blog, não sem uma pitada de ironia e um pouco de menosprezo, perguntou se eu era agora o “Zé do Blog”. Fiquei com vontade de mandá-lo à puta que o pariu, mas consertei: – “Não, sou o José do Blogson, um blog contraindicado para analfabetos funcionais e até para os 'analfabetos voluntários'. Mas pode me chamar de JB”. Aí, das trevas fez-se a luz e eu saquei que o comentarista do blog seria (será) a partir de agora o “Jotabê”. Piadinha infame? Olha lá o Jotabê comentando, só para deixar ainda pior. Show!
(Jotabê nunca mente, só desmente).

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CANSEI DE ILUSÕES

Quando tento falar sério sobre alguma coisa, eu sempre acho que estou me expondo ao ridículo por não ter um embasamento bacana que sustente minhas ideias e opiniões. Mas, já que ainda estamos nessa maré de eleições, tomei um antiácido para falar (de novo!) de política. Vamos lá.


PROMETEU
Faltam dez dias para a votação de segundo turno das eleições de 2014 e o pau já está comendo. Se bobear, vai ter até reedição de uma tragédia grega: cada um tentando comer o fígado do outro enquanto clama “Você Prometeu, Prometeu e não cumpriu...” (realmente, não dá para ter seriedade neste país!).


ESSENCIAL
Não consigo entender como as pessoas brigam pelo que é periférico e se esquecem do principal em um programa de governo. Casamento gay, legalização ou não do aborto, descriminalização da maconha, redução ou não da maioridade penal, fim da reeleição, adoção de políticas ambientalistas, tudo isso, para mim, é periférico. Se aprovarem, está bom; se não aprovarem, está bom também.

Para mim, o que pega é o núcleo, a medula do programa, o que pretendem fazer com o país. Eu votaria na Dilma sem nenhum problema se tivesse a certeza de que ela e o PT não pretendem “venezuelar” o Brasil, se a liberdade de expressão e de imprensa fossem respeitadas ou, até mais que isso, fossem veneradas. Votaria nela se parasse de adular e venerar os velhinhos cubanos, o Evo Morales, a Cristina Kirchner, se parasse de acreditar que o socialismo é a solução para o Brasil (e não o problema). Votaria nela se o PT parasse de tentar reinventar a roda em termos de política econômica. Votaria nela, enfim, se tivesse a certeza de que a democracia e a livre iniciativa seriam preservadas, defendidas e respeitadas, e que o autoritarismo em qualquer de suas expressões jamais fosse tolerado no Brasil.
Mas, aí já é querer demais, não é mesmo?


MENTIRAS
Eu fico bobo por neste país ninguém ser obrigado a fornecer provas contra si mesmo. E eu nem estou falando de bandidos (talvez esteja). As propagandas eleitorais divulgam dados falsos, incompletos, caluniosos e fica tudo por isso mesmo. Como pode alguém querer ser “presidenta” se autoriza (ou não desautoriza) esse tipo de campanha?

Os Estados Unidos adotam uma caretice que funciona, que é o juramento. Nego lá jurou em falso e o pessoal já quer comer o fígado dele (fígado é um eufemismo do que eu realmente estava pensando). Até presidente, se vacilar, roda. O Clinton, por exemplo, teve que rebolar muito para não sofrer impeachment por falso testemunho, quando alegou não ter feito sexo com a estagiária. E olha que o que a Mônica pagou nem foi propina; o que ela pagou foi  boquete.

Aqui no Brasil, ao contrário, falso testemunho é festa. A cúpula do PT mente e nada acontece. A propaganda eleitoral é enganosa e tá limpo. Nem ficar vermelho o pessoal fica! Acho que é por não ter como ficar mais vermelho do que já é.

É por essas e outras que o povo está sempre cabreiro com a política e com os políticos. Para a maioria dos políticos a versão é mais importante que os fatos. Deve ser por isso que as pessoas de bem têm aversão por eles.


ESTA MÚSICA DIZ TUDO!
De repente, me veio à cabeça uma música linda e bem antiga, que fala de um comportamento muito presente na atual disputa eleitoral. O nome é mais do que apropriado para o atual momento. E já que é apropriado, vou me apropriar de algumas frases para fechar este post.

 (...)Mentira foi tanta mentira que você contou
 (...)Por Deus, eu nem desconfiei
História tão triste você contou e acreditei
Pois quase chorei
E agora desfeita a farsa
Só resta esquecer
Mentiras que calam na alma fazendo sofrer
(...)Mentiras ...
Cansei de ilusões

Ah, esqueci de dizer que o nome dessa música é CANSEI DE ILUSÕES.


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

DESENTERRANDO O PASSADO - AGATHA CHRISTIE MALLOWAN

Eu sempre achei que a realidade muitas vezes consegue superar a mais enlouquecida das obras de ficção. Por isso, esse lance de memórias, o registro das lembranças de tempos passados é uma coisa que sempre me atraiu, mesmo quando era jovem. E o tema da reverência de hoje é exatamente isso: um registro de lembranças divertidas e inesperadas.

Há muito tempo (e quando eu digo “muito tempo” estou falando de vinte, trinta anos atrás), minha mulher estava lendo todos os livros da “dama do suspense” Agatha Christie. Eu lia também, mas descobri que depois do décimo livro seguido era necessário dar uma parada “para respirar”, pois surgia uma espécie de ressaca, uma overdose, uma sensação de déjà vu. Dava para perceber que a organização da estrutura de cada livro era mais ou menos semelhante à dos demais. E isso acabava tirando o interesse pelo novo enredo. Foi ai que surgiu aqui em casa um livro de memórias, muito leve e bom de ler, cujo título era “Desenterrando o Passado”. E a autora era Agatha Christie. Já de início descobria-se que ela foi casada com o arqueólogo Max Mallowan e que o livro tratava de suas lembranças de viagens ao Oriente Médio feitas com o marido.

Pois bem, sendo esse um livro despretensioso, por qual motivo ele (ou sua autora) seria o objeto de minha reverência? Bom, não custa lembrar que sou um simplório, um ingênuo, que gosta de ler coisas cheias de lirismo (mas não piegas, por favor).  Além disso, não estudei Literatura, não cursei Letras e nem sou crítico literário. Então, não preciso posar de intelectual nem porra nenhuma. Sou apenas um sujeito que gosta de ler. 

E há textos que ficam em minha cabeça sem que eu faça nada para que isso aconteça  como é o caso dos  dois transcritos a seguir, que introduzem e encerram a narrativa. O primeiro é um preâmbulo ou prólogo informal, em forma de poema bem humorado, que dá uma pista do conteúdo do livro (provavelmente, no original soaria melhor). O segundo é justamente o epílogo formal, um encerramento melancólico e emocionado (foi escrito em 1944, em plena Segunda Guerra). 

Para finalizar esse papo furado, sugiro a leitura do livro, se possível, deitado em uma rede, com uma “aguinha” de coco à mão (ou cervejinha, dependendo do freguês).


ASSENTANDO NUMA COLINA

(Com minhas desculpas a Lewis Carroll)

Tudo o que puder, vou lhes contar
Desde que me ouçam com atenção:
Encontrei um jovem erudito a estudar,
Assentado numa colina.
“Quem sois, senhor?”, perguntei
“E o que procurais?”
Sua resposta fixou-se em meu pensamento,
Como manchas de sangue nas páginas de um livro.

Disse: “Procuro velhos jarros
De dias pré-históricos.
Classifico-os em grupos,
E grupos de tipos diferentes.
Depois (como você), começo a escrever.
Minhas palavras têm o dobro
Do tamanho das suas, são mais sérias,
E mostram que os meus colegas estão enganados!”

Mas eu estava pensando num plano
Para dar cabo de um milionário
Despachar seu corpo de aeroplano,
Ou escondê-lo em algum aviário.
Assim, sem resposta a dar,
E me sentindo meio encabulada,
Gritei: “Vamos, diga-me como você vive!
E onde, e quando, e por quê?”

Sua resposta, gentil, veio cheia de humor:
“Quando penso no assunto, para valer,
Chego à conclusão de que é
Há cinco mil anos atrás que eu queria viver.
E quando você pegar o gosto,
E aprender a desprezar estes anos D.C.,
Então poderá vir comigo escavar,
Sem nem pensar em voltar”.

Mas eu estava pensando num jeito
De botar arsênico no chá.
E não consegui, tão de repente,
Voltar tantos anos atrás.
Olhei para ele, dei um suspiro,
Seu rosto era bem agradável...
“Vamos, diga-me como você vive”, pedi,
“E o que é que você faz...”

Ele disse: “procuro objetos
Feitos pelos homens, em suas andanças.
Eu fotografo, e classifico,
E empacoto e mando-os para casa.
Estas coisas a gente não vende por ouro
(Nem por dinheiro algum, na verdade!)
Mas põe nas prateleiras dos museus,
Para serem vistas por toda a cidade”.

“Às vezes desenterro amuletos,
E figurinhas arrebentadas,
Pois naqueles tempos pré-históricos
Não havia pessoas muito civilizadas!
E assim a gente vai se divertindo;
Não é bem o caminho da fortuna.
Mas os arqueólogos vivem rindo,
E têm uma saúde de ferro!”

Prestei atenção, pois naquele momento,
Eu tinha acabado um projeto
De manter um corpo bem conservado
Fervendo-o em algum preparado.
Agradeci-lhe por ter me contado
Tudo com tamanha dedicação,
E disse que iria com ele,
Na sua próxima Expedição...

E agora, se por acaso eu mergulho,
Sem querer, os dedos num ácido,
Ou se quebro alguma louça, com muito barulho,
Por não ser lá muito calma;
Ou se vejo um rio transbordando,
E ouço um grito de cortar a alma,
Suspiro, pois isso me faz lembrar
Daquele jovem que conheci tão bem...

Cujo olhar era sereno, a fala calma,
Cujos pensamentos estavam tão longe,
Cujos bolsos tiniam de cacos antigos,
Que ensinava baixinho, com tanto saber,
Que usava longas palavras que nunca ouvi,
Cujos olhos passeavam, com fervor, pelo chão,
Procurando tantas coisas, com a maior atenção,
Que quis me mostrar de qualquer jeito,
Que não conhecer certas coisas, era um defeito,
E que eu devia ir-me embora com ele,
E desenterrar o passado em longínquas colinas!



EPÍLOGO

            Esta crônica inconsequente foi iniciada antes da guerra, e começou pelos motivos que mencionei.
Depois, foi deixada de lado. Mas agora, depois de quatro anos de guerra, tenho pensado cada vez mais naqueles dias passados na Síria, e finalmente me senti impelida a pegar as minhas notas e toscos diários e completar o que começara e deixara de lado. Pois me parece que é bom lembrar que existiram dias e lugares assim, e que neste exato momento a minha colina de margaridas está em flor, e que velhos de barbas brancas, trotando em seus burricos, talvez nem saibam que está havendo uma guerra. “Não nos atinge, por aqui...”
Pois depois de quatro anos passados em Londres durante a guerra, eu sei que boa era aquela vida, e foi uma grande alegria e alívio reviver aqueles dias novamente... Escrever estas anotações simples não foi uma tarefa, mas um ato de amor. Não foi fugir para algo que já aconteceu, mas sim trazer para a dura labuta e amargura de hoje alguma coisa que a gente tinha, e ainda tem.
Pois eu amo aquele país fértil e gentil, e sua gente simples que sabe rir e amar a vida; que é alegre e despreocupada, e que tem dignidade, boas maneiras, e um grande senso de humor. E para quem a morte não é terrível.
Inshallah, eu voltarei lá algum dia, e as coisas que eu amo não terão desaparecido desta terra...
Primavera, 1944

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4