Há muito tempo adotei um costume, uma norma aqui no blog, quase uma cláusula pétrea, que estabelece que “resposta grande vira post”. E este texto é mais um desses casos. O multitalentoso Fabiano Caldeira não se furta à oportunidade de expor suas opiniões e os valores que defende. E faz isso de forma bastante incisiva. Com ele é na base do “pão, pão, queijo, queijo”. Considero esse comportamento uma coisa muito positiva, pois, mesmo que não se concorde com o que diz ou pensa, não se pode dizer que não entendeu o que ele disse. Eu não sou assim, pois, mesmo que diga o que penso, sou escorregadio e gosto de “comer pelas beiradas”. Em outras palavras, um camaleão disfarçado.
(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/12/anticonstitucionalissimamente.html)
Fui pai com 26 anos, com a cabeça cheia de
teorias e muitos questionamentos sobre as convenções sociais que era obrigado a
cumprir. Sempre bem mandado, nunca deixei de cumpri-las, mas sempre as
critiquei, contestei ou desprezei. Hoje minha conversa corriqueira é forrada de
palavrões, mesmo que eu nunca me lembre de sua conotação sexual. Para mim,
"filho da puta" pode ser elogio ou exclamação raivosa, mas jamais
associada à mãe do elogiado ou agredido.
Por isso, o menino que não falava palavrões
liberou para seus filhos o uso irrestrito de vocabulário chulo e vulgar,
justamente para tirar dessas palavras o conteúdo sexual que as fez surgir. Mas
sempre alertei que há pessoas que se sentem agredidas ao ouvir “tijoladas”
ditas por alguém. E citei que uma linguagem “descontraída” não deveria ser
utilizada com qualquer pessoa, especialmente as mais velhas. E eles entenderam
isso e sempre agiram dessa forma.
Penso
que há um vigor nas palavras de baixo calão que as ditas “eufônicas” não têm.
As palavras chulas “gritam”, enquanto aquelas recomendadas pelas boas maneiras
apenas “sussurram” ou dizem à meia voz. Essas palavras carregam em si uma
“energia potencial” muito grande, uma força expressiva bruta de tal forma, que,
ao serem usadas, liberam emoção pura, quase atômica. Fico pensando que, por
dizerem respeito a comportamentos ou secreções (excreções?) orgânicas que a
sociedade acostumou-se a esconder, condenar ou evitar – por puramente animais e
instintivos (longe, portanto, da razão) – acabam funcionando como catarse. Essa
força explosiva que carregam quando usadas agressivamente acaba sendo
preservada mesmo quando utilizadas de forma amistosa ou ironicamente.
(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/12/anticonstitucionalissimamente.html)
Para
mim, mesmo que não seja de bom tom, falar palavrões é uma coisa meio catártica.
Funcionariam como um fio-terra, colocando-nos de novo em contato com a Mãe
Natureza. Penso que as palavras “fortes” nos provocam um safanão cerebral,
devolvem-nos (ainda que inconscientemente) a percepção do que efetivamente
somos: animais com processos cerebrais mais evoluídos, mas animais (e, por
isso, instinto puro), em última análise. Eufemisticamente, diria que os
palavrões e palavras correlatas são como que “rugidos e rosnados”.
(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/12/anticonstitucionalissimamente.html)
Bem, eu preciso terminar este post cheio de
costuras e colagens, e o que posso dizer resumidamente é que os costumes e a
linguagem nunca param de evoluir e mudar (às vezes até com retrocessos), mas
sempre de forma espontânea, nunca impositiva. E que o fato de crianças usarem palavrões
não é certeza de que serão adultos incapazes. A única preocupação que todos
precisam ter está contida nas palavras de São Paulo: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”. Que mais? Só.
Eu não disse que são adultos incapazes, eu disse que a própria família incentiva a um comportamento de marginalidade porque fecha portas a algumas oportunidades boas e construtivas porque todo mundo fala palavrão, mas não porque é bonito, então ninguém se sente à vontade em quem faz desse vocabulário algo banal em sua rotina.
ResponderExcluirVocê vai entender isso quando ouvir suas gemininhas mandar você ir tomar no olho no seu cu, ou mandae chupar uma rola de dois metros. Quando elas começarem a falar isso para seus amigos, seus filhos e até para os vizinhos. Quando elas experimentarem maconha e olharem sua cara, prontinhas para falarem "o que é que foi, desgraça? Nunca viu um fumo, velho arrombado do caralho?"
Espero que você dê boas risadas e então diga como a língua é vivida.
Linguagem menos reprimida não é sinônimo de falta de educação ou cortesia. Eu não uso palavrões para agredir ou chingar pessoas. O uso que deles faço é para expressar emoções. Como disse no texto, eu me comporto e tento falar em sintonia com quem estou conversando. Ensinei isso a meus filhos também. Em 2015 eu publiquei um texto engraçadíssimo sobre o uso de palavrões (não fui eu que escrevi) e ele mostra de forma bem humorada o que venho tentando dizer. O link é este, mas vou movê-lo provisoriamente para a data de hoje, só para facilitar a leitura. https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2015/02/o-direito-ao-foda-se-anonimo.html
ExcluirPalavra correta: xingar; palavra errada: chingar. Vacilei.
ExcluirQuanto à minha característica de me expressar, não sou tão espontâneo quanto pensa. O problema é que dou muita liberdade para me mostrar a pessoas que de repente só deveriam ter palavrinhas básicas oriundas de mim - em alguns casos, palavra nenhuma. Um abraço
ResponderExcluirJotabê, apesar da nossa diferença de idade, somos muito parecidos e fomos criados também de forma parecida. Na minha infância, falar palavrão era pecado capital. Minha mãe uma evangélica carolíssima, meu pai também evangélico mas era um pouco mais suave. Cresci também com muita repressão o que me trouxe alguns problemas na adolescência que eu tive que resolver sozinho, buscar informações, pois em casa não havia diálogo sobre "certas coisas".
ResponderExcluirCom meu filho já foi totalmente diferente. Olha, o teu post até me deu uma ideia de falar sobre isso lá na minha tag "Pais e Filhos" em ocasião próxima.
Eu concordo com você. Falar palavrão é catártico, e não necessariamente, ele irá conotar uma má educação ou mesmo agressividade. Quando se leva aquela topada no mindinho, não adianta falar "ai, meu pé bateu..", não, um "putaqueopariu!!!!" é reconfortante. Na igreja um pastor aconselhava nessas situações dizer "Glória a Deus..." putz, tá falando sério, pastor? Esse conselho aí eu tinha muita dificuldade de seguir. Acho que só falei meu primeiro palavrão já adulto!!
Tive que rir com o "Glória a Deus". Tenho a impressão de uma diferença marcante entre os evagélicos e os católicos é o fato de sermos mais relaxados e debochados quando o assunto é religião ou expressões religiosas. Quando peço alguma coisa boba a alguém e sou atendido, levanto os braços e digo "Aleluia!", só de sacanagem. Ou "Deus te abençõe" apesar ter seríssimos problemas com minha falta de fé.
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