Minha irmã já disse algumas vezes que eu sou
um desperdiçado, por ser “multi-talentoso”, já que toco violão, desenho e
escrevo. Ela só se esqueceu de que eu toco mal, desenho mal e escrevo mal. Falando sério, isso é coisa de irmã mesmo. Mas o que ela nunca sonhou é
que sou também um inventor desperdiçado. Olha esta história:
No início da década de setenta, eu e minha
Amada estávamos estudando na biblioteca da antiga Faculdade de Filosofia da
UFMG, que ficava na Rua Carangola, em Beagá. Aí bateu aquela vontade de fumar
(nessa época, eu e ela fumávamos). Não sei bem por que, mas não tínhamos
cigarro e não havia lugar perto para comprar. Resolvi fazer uma “inspeção”
entre as pessoas que ali estavam, todas elas absortas em seus estudos e
leituras.
Lá longe, em uma das extremidades da
biblioteca, vi um sujeito fumando (na época, podia). Pelo tipo e pela roupa,
tinha cara de universitário pobre e “revoltado com o sistema”. Apesar dessa
impressão, não titubeei: cheguei perto com meu melhor sorriso, pedi desculpa
por incomodá-lo e perguntei se poderia me dar um de seus cigarros. O olhar que
ele me dirigiu foi meio assustador, mas enfiou a mão no bolso e me deu. Era um
Continental sem filtro (!!!). Quase recusei, de tão ruim que esse cigarro era.
Ainda mais sem filtro. Bom, aí já não tinha mais jeito. Pedi para acender,
agradeci imensamente (sou um puxa-saco com pós-graduação) e voltei para junto
do meu Amor.
Mas não tinha como fumar aquilo: o fumo se
soltava e agarrava no lábio, na língua. E como era forte! Aí, me ocorreu uma
ideia brilhante: com a ponta do lápis (rombudo), furei alguns buracos ao redor
da ponta não acesa. A ideia era de que ao aspirar a fumaça (fumante diz “dar
uma tragada”), o ar também fosse sugado através desses buracos, suavizando e
esfriando a fumaça. O “projeto” era bom, mas a execução ficou uma merda. Creio
que nem terminamos de fumar aquela coisa.
Pois bem, o tempo passou e um dia eu vi a
propaganda de um novo cigarro (“Charm”, creio que nem existe mais) destinado ao
público feminino, que alardeava a elegância de seu formato – mais fino que os
demais, mais longo que a maioria e, claro, muito suave. Detalhe: imediatamente
após o filtro, havia um “anel” de microfuros, cuja função era a mesma que eu
tinha imaginado alguns anos antes para conseguir fumar aquele Continental.
Fiquei todo orgulhoso, mas continuei pobre como sempre, pois nunca imaginei que
aquela ideia pudesse valer alguma coisa.
Mas a coisa não pára por aí, pois tive uma
ideia genial que estou pensando em oferecer de grátis para os japoneses,
povinho danado de bom para fabricar traquitanas eletroeletrônicas. Quem não se espanta, por exemplo, com a tecnologia "embarcada" em um assento sanitário que só falta jogar talquinho nas partes pudendas do usuário? Fala sério - mesmo que seja um pouco vulgar dizer isso - qual culo não morre de inveja de seus congêneres nipônicos?
Pois bem, a minha ideia é um cortador de
unhas inteligente, uma invenção que precisa ser inventada! Hoje em dia,é um
sacrifício filhadamãe para mim cortar as unhas dos pés, pois além da coluna que às vezes
resolve guinchar, há também uma barreira a vencer, uma barriga de fazer inveja
ao Shreck. Por isso, curvar-me para cortar as unhas é tarefa que sempre me
deixa ofegante. Ofegante e puto, pois não consigo dar um acabamento decente.
Por isso imaginei o cortador revolucionário,
que descreverei rapidamente: você enfia o pé na jaca, ou melhor, no aparelho e seus
dedos e unhas são escaneados para definir a melhor extensão do corte. Ainda não
sei como será feito o corte das unhas ou se elas serão só lixadas (problema dos japoneses!). Mas antes de tirar o pé
da “jaca”, seus calcanhares serão suavemente lixados para tirar aquela impressão
de que não lava os pés há dois meses.
Até já consigo ouvir um sorridente empresário
nipônico dizendo
- Watashi-tachi wa
korekara takusan no okane o kasegu tsumoridesu. Arigatō!
(私たちはこれからたくさんのお金を稼ぐつもりです。ありがとう!)
Que em língua de gente significa:
- Vamos
ganhar muito dinheiro com isso. Obrigado!
Fico admirado como cigarro é um item facilmente compartilhado. Um estranho chega e pede um, o cara simplesmente dá. Parece um tipo de compaixão por saber da necessidade do outro. Eu peguei uma era onde fumavam em qualquer lugar, principalmente dentro de casa. Tudo era bem normal a gente criancinha respirando toda a fumaça do pai que descansava na sala com seu cigarro. Numa festinha com parentes, então, era uma reunião de cigarros. Eram outros tempos.
ResponderExcluirNa verdade, às vezes a gente tem a capacidade de imaginar coisas e achar que aquilo é um verdadeiro fenômeno que deveria ser patenteado. Mais tarde a gente descobre que esse pensamento também foi o pensamento de vários outros.
O cortador de unhas foi só para zoar, mas os furos do cigarro foram uma boa sacada.
ExcluirRapaz, que bons tempos quando íamos às bibliotecas estudar...hoje isso se chama ChatGPT. Nunca fumei na vida. Aliás, odeio o cheiro de cigarro. Lá em casa ninguém fumava. Mas eu menino, adorava aquela propaganda do cigarro Malboro com aquele cawboy cavalgando. Cigarro mesmo só botei na boca o de chocolate.
ResponderExcluirTu teve uma ótima sacada com os tais furinhos, mesmo não entendo pra quê ele funcionou. Agora, o cortador de unhas automático, eu tenho certeza que um dia vai aparecer. E tu vai continuar pobre e sem patente.
Também me diziam que eu tinha talento: para escrever, desenhar e tocar. Escrevo sofrivelmente aceitável, os desenhos de super-herois ficaram na adolescência e o meu violão está largado na minha pequena biblioteca há meses sem ser usado.
Agora, inventar, nunca pensei em inventar nada. Só causos.
Ao contrário do Bill Clinton, eu fumava e tragava (lembra desse caso?). E a fumaça aspirada do cigarro sem filtro era forte e quente demais. Por isso, imaginei que se fizesse furos perto da ponta que levava à boca, ao aspirar a fumaça puxaria também um pouco de ar pelos buracos, suavizando e esfriando o que tragava para o pulmão.
Excluirah, entendi.
ExcluirSim, o Clinton....
Jotabê!!!
ResponderExcluirPronto terminei
de ler seu último
livro.
Ótimas histórias.
Obrigada por
boa brindar
com sua escrita
clara e muito
bem humoradas.
A ração em Você
e na sua Família.
CatiahoAlc.