A picaretagem e o interesse puramente
comercial tem ajudado a destruir símbolos e significados cultivados e mantidos
com carinho. Pude presenciar um exemplo disso durante o velório de um parente
de minha mulher.
Embora a família tenha um mega jazigo em um dos cemitérios de BH, o desejo expresso de ser cremado levou à contratação de uma empresa especializada em fornecer um combo de Assistência Funerária (ornamentação, coroa de flores, preparação do falecido, traslado do corpo, taxas de velório e cemitério e cremação, etc.).
O estranhamento já começou com a duração estabelecida para o velório, de 10h às 13h, pois não faz muito tempo os familiares e amigos da pessoa falecida varavam a noite ao lado do caixão, tendo tempo de sobra para vivenciar sua perda.
Hoje a coisa já está na base do cronômetro, como se fosse uma prova de atletismo. Lembrando uma piada dita por um ex-colega, a coisa está mais ou menos assim: “quem beijou, beijou, quem não beijou não beija mais, pois eu já vou fechar o caixão”.
Outra coisa que chamou minha atenção foi uma placa indicando a lotação máxima para a capela: 35 pessoas. Por isso, a surpresa foi a “recepção” oferecida fora da capela a quem esteve presente ao velório. Uma boa surpresa, diga-se. Chá, café, sucos de laranja ou de uva, água gelada, pães de queijo, salgadinhos, pães doces com creme, biscoitos, etc. Melhor lugar do mundo para fofocar, rever amigos antigos e encher a pança. Ah, estava me esquecendo do falecido. Ora, foda-se o defunto!
Mas o que realmente mais me espantou foi a cerimônia final. Às 13h recolheram o caixão e o levaram para um pequeno auditório, onde foi colocado em uma espécie de mesa elevatória. As luzes foram progressivamente apagadas, enquanto nas paredes apareciam imagens inicialmente estáticas de trigais, que começaram a oscilar suas espigas como se batidas por um vento suave. Paralelamente a isso, frases “consoladoras” no mais puro e previsível clichê iam sendo projetadas nas paredes do auditório.
Mas a “melhor” e mais surpreendente parte aconteceu quando um "padre" de feições que eu chamaria de cadavéricas surgiu do nada e começou a falar abobrinhas. A imagem era nitidamente um holograma, pois as mãos pálidas do sacerdote pareciam ser falsas, de brinquedo. O mesmo podia ser dito de seu rosto e suas roupas.
Enquanto o “padre” falava, o caixão foi subindo até não ser mais visto, provavelmente prestes a ser levado para o crematório. E aí terminou o espetáculo de mágica, pois o sacerdote evaporou, sumiu de repente e as luzes foram acesas. Estava encerrado o espetáculo.
Diante de tantos truques de prestidigitação e picaretagem para emocionar as “almas mais sensíveis”, tive vontade de perguntar:
- “Vocês também ressuscitam o morto?”
E cervejinha, tinha?
ResponderExcluirAgora, falando um pouco sério. Sou ateu, você sabe disso, não acredito em nada de vida após a morte, espírito, essas coisas (não estou dizendo que estou certo, só não acredito), mas até eu acho esse circo todo um descaso, um desrespeito a todo sofrimento e a toda dor pelos quais a pessoa passou quando doente.
Hologramas de padre... pãããâãta...
Na hora eu pensei que poderia ser uma cena do filme "Os fantasmas se divertem"
ExcluirPelo que relatou, só o fantasma não estava se divertindo.
ExcluirJotabê!!!
ResponderExcluirTerminei uma leitura
e comecei outra.
Enquanto lia ouvindo
porque uso esse recurso
eu ria de gargalhar.
Meu marido perguntou:
Está rindo de
que Mulher?
Eu disse:
Estou me divertindo
com a leitura do
livro do meu amigo
de Blog.
Ele disse: Ah tá.
Vcs são doidos
mesmo.
Estou adorando o
livro A república.
Abraço
CatiahoAlc.
Oi, Catiaho, fico muito feliz que esteja se divertindo com as bobagens que escrevi, mas estou confuso. Eu não publiquei nenhum e-book com o título "A república". Seria por caso o "Confraria da Hienas"?
ExcluirDesculpa.
ExcluirEscrevi o nome errado.
Queria muito dizer que lu
que usei o celular, daí
não conferi.
Desculpa.
Sem stress!
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