domingo, 3 de abril de 2022

É CHATO SER CHATO!

 
É chato ser chato, é a conclusão a que cheguei depois de ler um artigo no site da revista Galileu. O título era muito atraente para alguém sem ter o que fazer e que sente a maior atração por cultura inútil (especialmente se abordada de forma supereficial) - “Estudo traça características de pessoas chatas; saiba se você é uma delas”
 
O maior problema do artigo estava em algumas conclusões equivocadas (podem acreditar, eu sou chato mesmo ao pensar assim). “Quem se encaixa no estereótipo de ‘chato’ corre maior risco de desenvolver problemas de saúde mental e de ser percebido como alguém frio e incompetente”. Como assim? “Desenvolver problemas mentais” está de boa, pois tenho uma penca deles, mas me chamar de incompetente é ofensa pura. E gratuita!
 
Segundo o artigo, “A pessoa mais chata do mundo provavelmente é religiosa (Silas Mala que desminta essa conclusão!), trabalha em um centro de dados e tem como hobby assistir televisão. Pelo menos é o que aponta um novo estudo da Universidade de Essex, na Inglaterra, que descobriu qual o estereótipo de um ‘chato’".

Aqui o sinal amarelo acendeu, pois realmente devo ter o "gene religioso" e trabalhei muito tempo analisando dados, mas nunca curti muito ficar vendo Sonia Abrão, Ratinho, João Cleber, Raul Gil e Silvio Santos. Se ainda pudesse ficar vendo documentários sobre Egito antigo, leões caçando e coisas do tipo, tudo bem. Mas, infelizmente, eu não tenho a força, ou melhor, o controle do controle remoto.
 
Voltando ao artigo, fiquei sabendo que “os empregos considerados mais chatos são: analistas de dados, contadores, faxineiros e banqueiros”. Neste ponto sou obrigado a dizer “me engana, que eu gosto!”, pois comparar faxineiro com banqueiro é sacanagem. Até imagino o faxineiro dizendo para o banqueiro:
- “Pois é, doutor, descobri que consideram nossos empregos os mais chatos”.
- “Errado, Deiverson, você tem o seu emprego mais chato e eu tenho o meu emprego mais chato, pois eu tenho um iate de 74 pés em Angra, e você?” (o banqueiro, além de chato pra cacete era também muito pedante e um pouco cruel).
- Ué, doutor, eu só tenho meus dois pés!
 
Ao equiparar profissões chatas com pessoas idem, o artigo capengou, pois cabe fazer a pergunta clássica: “o que o cu tem a ver com as calças?” Os operadores de telemarketing deveriam ter garantidos os melhores lugares do céu, mas serão necessariamente malas sem alça quando estão fora de seus postos?
 
No meio da leitura, surgiu um convite sedutor, com a sugestão “saiba mais” - e o assunto era outro artigo: "Pessoas que corrigem a gramática dos outros são chatas, diz estudo”. Foi aí que eu dancei, pois o novo artigo trouxe a informação de que “Quando corrigimos os erros gramaticais alheios, não apenas podemos soar chatos como, segundo um novo estudo, temos de fato personalidades menos agradáveis e julgadoras”.
 
Nesse ponto fui obrigado a reconhecer que sim, que devo ser um mala sem alça. Talvez até mais que isso, talvez um baú sem alça ou, até mesmo, um container sem alça. E o motivo é o fato de não ter noção nem filtro. Por exemplo (vou repetir um caso já contado aqui, prova de que sou chato mesmo), como na vez em que fui a uma farmácia perto de minha casa e, na hora de pagar, subi na balança ao lado do caixa. Ao ver o display mostrar meu peso obsceno, comentei que aquela balança só me dava tristeza. A senhora que estava no caixa (esposa do dono) sorriu e disse ter ficado muito feliz ao pesar naquele dia. Distraidamente, perguntei:
- “A balança estava desligada?”
Nem sei por que não tomei uma promoção de kit shampoo + condicionador na cabeça!
 
Mas o pior mesmo eu vou contar agora Conheço um sujeito verdadeiramente admirável. De origem muito humilde, conseguiu ascender na profissão até fazer parte da diretoria internacional de um banco. Por esse motivo, alguém se interessou em contar sua história, sua trajetória de vida, a ser transformada em um capítulo de um livro sobre grandes executivos brasileiros.  Ao contar-me a novidade, disse que me mandaria o texto em primeira mão. Fiquei super feliz pela deferência com que estava sendo tratado. Passaram-se alguns dias e recebi por e-mail um texto longo, escrito em Word (esse foi o erro do meu amigo).
 
Comecei a ler sobre sua incrível história de vida, mas comecei a ficar incomodado com os erros de português que iam aparecendo no texto – tropeços em concordância, gramática, erros de digitação, etc. Para encurtar a conversa e encerrar este texto chato, comecei a corrigir tudo o que achava que deveria ser corrigido! E o pior é que devolvi o texto “corrigido”, explicando por que fizera isso. Precisa dizer mais alguma coisa? Precisa! Segundo o artigo da Galileu, “Se você corrige e se sente muito incomodado com erros gramaticais, cuidado: você pode ser realmente chato”.
 
Hoje, lembrando-me dessa história, fico imaginando a reação do meu conhecido:
- “Quem aquele filho da puta pensa que é?” E hoje, se eu pudesse responder, diria humildemente:
- “Um chato, chato pra caralho!”
 
Para não transformar este texto em textão (que sempre é chato de ler), deixarei de comentar outro artigo superinteressante (embora publicado na revista “Galileu”), que tem este título: “Fenômeno do bêbado chato pode ser resultado de mutação genética”. Será que essa mutação genética também pode ser encontrada em que parou espontaneamente de beber em 2014?

3 comentários:

  1. Podem acrescentar a "profissão" nessa lista.
    Erros de português também me incomodam muito, dá-me comichão de corrigi-los. E o maior erro de português de todos : a descoberta do Brasil.
    E, sim, Jotabê, pode ter certeza disso, o bêbado mais chato é aquele que para de beber.
    Vou ver se acho o tal artigo da mutação.

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    1. https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2015/11/fenomeno-do-bebado-chato-pode-ser-resultado-de-mutacao-genetica.html

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    2. Rapaz, é por essas e outras que vivo propagandeando o papel terapêutico do blog! Graças às reportagens lidas, as lembranças e reflexões delas extraídas, agora eu posso afirmar categoricamente (falando sério!) que sou uma pessoa desagradavelmente chata e que tenta disfarçar sua inconveniência fazendo piadas idiotas e rindo de tudo como se hiena fosse. Eu já desconfiava, mas agora tenho certeza. E nem precisei pagar um colega do meu amigo GRF para descobrir isso. Talvez eu até volte a beber (bazinga!)

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