segunda-feira, 4 de abril de 2022

CADEIRA DE BALANÇO - FLORA FIGUEIREDO

 
Recentemente, minha mulher me chamou para ver o Miguel Falabella recitar uma poesia no Instagram. Como gosto de tentar agradá-la com pequenos mimos, carinhos, cafunés e abraços inesperados, prestei atenção no nome da poeta desconhecida (acho tão bonito falar poetisa!) e fui pesquisar na internet. Achei não só o poema declamado, mas vários outros, geralmente com rimas simples e até surpreendentes (adorei rimar Chopin com manhã). Encaminhei via zap para ela o poema do Miguel e escolhi outro para criar este novo post. E o motivo dessa escolha é aquele lance de identificação, entende? Se não entendeu, leia o poema. Morra de inveja, Jotabê, você nunca conseguirá fazer versos assim!
 
Vai chegar o dia
de minha cadeira balançar
vazia;
vai se aquietar o Noturno de Chopin
que toca sempre ao meu lado;
vai se quedar dobrado
o clássico jornal do café da manhã.
Provavelmente hão de permanecer
histórias divertidas,
ensinamentos,
brigas e arrependimentos,
problemas que dividimos,
parcerias que fizemos,
o doce que sempre repartimos,
os amargos que muitas vezes nós comemos.
Devem sobrar nas prateleiras
guirlandas e claves
caídas das cirandas,
que rodaram com a meninice.
Para vocês pode parecer tolice,
mas um dia
elas engrossaram de amor
a minha biografia.
Remendem a meia furada na ponta,
motivo de tanta discussão;
continuem tendo por perto
a lata de aveia
para quando o intestino não der certo;
é bom insistir na sopa de feijão.
Apagar a luz ao sair,
escovar os dentes antes de dormir.
Mas, acima de tudo, nunca dispersar.
Sei que a vida separa e distancia,
mas mantenham-se unidos
seja qual for o lugar
que cada um deva ocupar na geografia.
Nunca contrários,
nem bipartidos.
O destino gosta de rolar suas maldades
sobre sangues divididos,
sobre irmãos adversários.
Tomara que eu tenha sucedido
ao costurar com fio de eternidade
a alça pulsante de cada coração.
Do canto etéreo em que estiver guardada,
vou me alegrar por essa equipe tão amada,
mandar a benção feita de plumas e algodão.
 

2 comentários:

  1. Um poema do caralho! Nem você nem eu, Jotabê, jamais chegaremos perto de escrever algo que minimamente resvale nessa qualidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não, você está em outro patamar. Você tem muitos poemas muito bons.

      Excluir

ALLEZ, DIS DONC, MOLIÈRE!

Por ser material de ótima qualidade, várias coletâneas de frases espirituosas e inteligentérrimas de gente como o Barão de Itararé, Bernard ...