Há situações em que às vezes nos envolvemos e
que trazem resultados inesperados, constrangedores ou totalmente inadequados.
Nessas horas não há o que fazer, não adianta pedir desculpas ou tentar
corrigir, só lamentar.
Um caso desse tipo aconteceu com meu falecido
amigo Pintão. Talvez fosse fim de semana ou talvez ele e seus amigos ou colegas
estivessem numa happy hour anabolizada. O fato é que já tinham enchido a cara
quando algum do grupo recebeu um telefonema avisando que a mãe de um amigo
comum a todos tinha falecido e estava sendo velada em tal lugar.
O bando de bêbados resolveu ir ao velório
para cumprimentar e consolar o amigo. Segundo meu amigo Pintão, quando o filho
da falecida o viu chegar, franziu o rosto numa cara de choro, dizendo “Ô Luís...”. Mas nem terminou a frase,
pois o Pintão, bêbado igual a uma vaca (vaca bebe?) começou a rir
descontroladamente. Na cara do amigo. Em pleno velório. Ao lado do caixão da falecida. Ainda
tentou explicar alguma coisa, mas não parava de rir e teve de sair às pressas do lugar.
No dia seguinte, já curado da bebedeira, ainda tentou explicar e se desculpar pelo
acontecido, mas já tinha perdido a amizade para sempre.
Um caso de inadequação não tão dramático
aconteceu comigo no último domingo. As duas netinhas que moram em BH vieram com
seus pais à nossa casa. Elas são lindas, graciosas e muito altas - mas têm
apenas quatro anos.
Quando abri o portão elas exibiram o maior
sorriso e foram entrando. Para fazer “gracinha”, disse assim a elas:
- Vou
contar um segredo para vocês! Vocês são lindas e maravilhosas, mas... tem uma
pessoa que é mais linda ainda.
Elas me olharam com a inocência e curiosidade
de seus quatro anos e eu completei:
- Sou eu!
Só não esperava ouvir a resposta dita seriamente por uma
delas:
- Cada
um tem seu jeitinho.
Aquela resposta quase me desintegrou! Grosseiramente
falando, devo ter ficado mais sem graça que as piadas que eu mesmo invento. Tentei dizer que só estava brincando, que elas são lindas e que eu
sou feio pra caramba, etc., mas percebi que a pureza da primeiríssima infância não
entende ironias nem duplo sentido.
Sinceramente, não consegui deixar de pensar
nisso e na vergonha que senti naquele momento. E eu, que considero o humor e a
ironia uma das mais altas conquistas da espécie humana, sinal inequívoco de
inteligência mais refinada, fiquei novamente com essa dúvida antiga: seremos mais felizes, ficaremos mais alegres quando troçamos de outras pessoas e do que acontece com elas? Seria esse o motivo de me auto-depreciar propositalmente quando tento fazer humor ou dizer coisas "espirituosas" (pois assim não estarei magoando ou ofendendo ninguém)? Cartas para a redação!
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