quarta-feira, 9 de março de 2022

A FÁBULA DO LOBINHO E DO CORDEIRÃO

 
Talvez este não seja um texto imparcial e dois são os motivos para isso acontecer: não entendo chongas de política internacional nem tenho paciência para entender; além disso, nunca fui com a cara do Putin (se bem que no quesito "simpatia" eu dê nota zero para vários homens públicos e líderes mundiais - Putin, Biden, Maduro, Lula, Bozo, Moro, etc., etc.). Por isso, vou apenas exibir novamente meu desconhecimento sobre o atual conflito internacional. Bora lá

1969 foi o ano em que eu estava me preparando para fazer o vestibular de engenharia. Era uma época que poderia ser assim resumida: de casa para o cursinho, do cursinho para casa, sem festas, sem namorada, uma dor de corno do cacete. O único alívio que tinha era alcançado pela leitura do jornalzinho  alternativo O Pasquim, comprado religiosa e semanalmente após sair do cursinho. Não vou falar desse jornal nem de sua equipe de colaboradores geniais. Ele só tinha um “defeito”: criticava o regime militar através do humor afiado dos textos e charges que publicava.
 
E se tem uma coisa que uma pessoa muito formal, linha dura, autoritária ou careta não suporta é ser alvo de piadas, críticas e deboches. Por isso, em novembro daquele ano, logo depois da posse como presidente da república do linha duríssima general Médici, toda a equipe do Pasquim foi presa. Por qual motivo? Parece que o objetivo real era asfixiar e acabar com aquele jornalzinho petulante e debochado (e acabaram conseguindo, algum tempo depois). Mas, naquele momento, imediatamente após a prisão daquela cambada de vagabundos, cachaceiros, maconheiros, comunistas ou tudo isso junto, uma espécie de “força-tarefa” composta por profissionais de vários meios de comunicação reuniu-se e continuou a publicar o jornaleco. A primeira capa do jornal preparado pela “força tarefa” trazia uma imagem baseada na fábula do lobo e do cordeiro. Um dia meu irmão me pediu e eu dei a ele esse número especialíssimo e todos os outros exemplares que guardava do velho “Pasca”.
 
Hoje, pensando no conflito Rússia x Ucrânia, lembrei-me da capa e da fábula que a inspirou. E o post de hoje é uma mistureba dessa capa do Pasquim e uma versão em forma de poema da fábula que uns dizem ser de Esopo e outros, de La Fontaine.  A tradução em forma de versos foi feita pelo poeta Ferreira Gullar, coincidentemente um dos colaboradores do velho Pasca.
 
Para mim, é a cara do conflito atual (ou de toda situação que envolva um oprimido e um opressor), a fábula do lobão Putin e do cordeirinho Zelensky. Ou seria do lobinho Zelensky e do cordeirão Putin? Olhaí.


Fábula: O Lobo e o Cordeiro - La Fontaine (ou Esopo)
 
Na água limpa de um regato,
matava a sede um Cordeiro,
quando, saindo do mato,
veio um Lobo carniceiro.
 
Tinha a barriga vazia,
não comera o dia inteiro.
-- Como tu ousas sujar
a água que estou bebendo?
-- rosnou o Lobo, a antegozar
o almoço. – Fica sabendo
que caro vais me pagar!
 
-- Senhor – falou o Cordeiro –
encareço à Vossa Alteza
que me desculpeis, mas acho
que vos enganais: bebendo,
quase dez braças abaixo
de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.
 
-- Não importa. Guardo mágoa
de ti, que ano passado,
me destrataste, fingindo!
-- Mas eu nem tinha nascido.
-- Pois então foi teu irmão.
-- Não tenho irmão, Excelência.
-- Chega de argumentação.
Estou perdendo a paciência!
-- Não vos zangueis, desculpai!
-- Não foi teu irmão? Foi teu pai
ou senão foi teu avô –
disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.
 
Moral da história: Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece.



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