sexta-feira, 30 de abril de 2021

COMBALIDO

 


Hoje fui tomado por um grande desgosto, desgosto que abalou ainda mais meu já combalido estado emocional (não confundir combalido com o som emitido por um carneiro cheio de amor pra dar, pois é assim que ele avisa às ovelhas: com balido) E a culpa é do uso indevido e não aprovado de meu santo nome. Usaram meu santo nome em vão, pô!
 
Mas não quero enrolar nem deixar meus amigos virtuais mais preocupados do que já devem estar com estas palavras introdutórias (e se não estão deveriam estar!). E tudo por causa de comentários a uma reportagem publicada no jornal “O Tempo” que acabei de ler.
 
Estava procurando subsídios para outro texto que comecei a esboçar mentalmente, mas ao ler essa reportagem fiquei tão impressionado com a notícia (e também com o desejo de encher lingüiça) que acabei copiando texto e comentários. O texto será resumido, mas os comentários serão trascritos na íntegra. Olhaí:
 
A Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas demitiu e investiga a médica ginecologista Michelle Chechter, que trabalhava na maternidade Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus, por aplicar nebulização de hidroxicloroquina como tratamento para Covid-19. Pelo menos uma paciente morreu após o procedimento, conforme a secretaria.
A mulher morta depois da nebulização havia acabado de dar à luz. A pasta informou que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos do Instituto Dona Lindu "nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares", diz nota da secretaria. O bebê passa bem.
(...)
A morte da paciente ocorreu em fevereiro, mas somente agora foi tornada pública. A secretaria diz que a médica passou a fazer parte da equipe em 3 de fevereiro "após contratação em regime temporário pela secretaria junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde".
(...)
O texto diz ainda que a secretaria e o instituto não compactuam com a prática de "qualquer terapêutica experimental de teor relatado e não reconhecida e entendem que tais práticas não podem ser atribuídas à unidade de saúde, que tem como premissa o cumprimento da lei e dos procedimentos regulares, conforme os órgãos de saúde pública e os conselhos profissionais".
A paciente de Manaus não é a primeira a morrer depois de passar por nebulização de hidroxicloroquina. Em março, três pacientes que passaram pelo procedimento morreram durante o tratamento em Camaquã, no Rio Grande do Sul. A nebulização foi aplicada no Hospital Nossa Senhora Aparecida, que, assim como a maternidade de Manaus, informou que o procedimento não faz parte de seus protocolos.
(...)
A ginecologista Michelle Chechter respondeu da seguinte maneira a pedido de contato feito pela reportagem: "nesse momento não estou conseguindo dar entrevistas. Futuramente entro em contato" Em suas redes sociais a médica mantém um selo com os dizeres "Covid-19. Eu apoio o tratamento precoce". O chamado "tratamento precoce" é o uso de medicamentos sem comprovação de eficácia contra Covid-19, como cloroquina e ivermectina.
Pelo menos uma publicação sobre eficácia da cloroquina da médica na rede social Facebook foi marcada como "informação falsa". Michelle Chechter é ainda apoiadora do presidente da República, Jair Bolsonaro, que também defende o uso de medicamentos sem eficácia contra a doença. Em publicação recente a médica publicou fotos da visita de Bolsonaro a Chapecó, em Santa Catarina, município que teria supostamente conseguido reduzir internações por Covid-19 com uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.
A cidade, no entanto, à época da visita do presidente, no início do mês de abril, tinha 100% dos leitos de unidade de terapia intensiva ocupados, além de ter mais mortes por Covid-19 por 100 mil habitantes que Santa Catarina e o Brasil. Segundo Bolsonaro, Chapecó tinha feito um "trabalho excepcional" na pandemia e deu liberdade a médicos para prescreverem o "tratamento precoce".
 
Para melhor entendimento, a ordem adotada dos comentários reproduzidos a seguir é a ordem cronológica real (no jornal a ordem apresentada é do “empilhamento” – aquela que vai superpondo as respostas à medida que vão chegando à redação do jornal)
 
ÊITA...... POVINHO BURRO !!! 15/4/21 11:21
COBAIA.....
 
Lucas 15/4/21 11:26
Demitida? Essa mulher tinha é que ir pra cadeia por homicídio, além de todos os "médicos" pilantras que insistem em receitar essas merdas. Cambada de vagabundos.
 
Lea Campos 15/4/21 11:56
E PARA SEGUIR A IDIOTICE DO GAROTO PROPAGANDA DA HIDROXICLOQUINA QUE SUGERE DITO REMEDIO PARA CURAR O COVID19. UMA BURRICE APOS OUTRA.
 
Othoniel Alvim 15/4/21 13:39
Será que o CFM tomará alguma providência parta evitar que mais assassinatos aconteçam?
 
Jose Botelho 15/4/21 14:37
Nós aqui em casa tomamos,ivermectina , cloroquina , azitromicina , vitamina D3 e algumas outras vitaminas. usamos tambem a cloroquina como nebulizante . Os resultados estão favoráveis. Logo, em algumas cidades do Brasil ,a reportagem cita Chapeco, mas existem outras Porto Seguro, Buzios ,Francisco Beltrão, etc, etc tornou-se normal este procedimento e os resultados são excelentes. " Quem não tem cão ,caça com gato". Alias já tomei cloroquina contra a malária .
 
Jose Botelho 15/4/21 14:43
Para que alguns tenham idéia no Brasil deve ter umas 1.000 ou mais cidades que estão usando o tratamento precoce. E nenhuma delas "fechou" pelo contrario está tudo aberto. Chapeco tem uma propaganda que diz : "VENHA COMER UM CHURRASCO COM UM VINHO DE PRIMEIRA QUALIDADE'" Temos que viajar para conhecer o que estas cidades que estão abertas estão fazendo para evitar a pandemia e manter "aberta". Viajar é conhecimento.
 
Lucas 15/4/21 15:18
O que eu acho mais cômico é que o Brasil é O ÚNICO LUGAR DO MUNDO que ainda leva a sério essa imbecilidade de "tratamento precoce", e justamente por isso é DE LONGE o país onde mais gente morre por dia de COVID EM TODO O MUNDO, mas aí vem imbecil como esse José Botelho achando que funciona. Tá funcionando que é uma beleza, hein?
 
Lucas 15/4/21 16:48
Acabam de descobrir que quem financiava a "Associação Médicos pela Vida", dos médicos picaretas que prescreviam a enganação do "tratamento precoce" era financiado pela Vitamedic, uma das fabricantes da ivermectina no Brasil. Coincidência, né?
 
RuyABC 17/4/21 18:30
Esta morte está mal explicada. . A Hidroxicloroquina cura da infecção do covid, porque ela impede a replicação deste vírus em 99,9% dos pacientes infectados por ele. . Não existe pandemia de covid nehuma, porque a hidroxicloroquina cura contra esse vírus. . A única pandemia que existe é a praga dos Parasitas Sociais no mundo todo forjando essa farsa do covid por má fé oculta detrás da falsidade cujos reais interesses são políticos socialistas de dominação e poder.
 
Capitao Cloroquina 26/4/21 11:41
O Brasil esta tomado pelos idiotas. A comecar pelo presidente. Semana passada estava num programa de tv dando GARGALHADAS. qual a graca ele ve nesse atual momento?
 
Capitao Cloroquina 26/4/21 11:43
Eu como pudim todos os dias. Nunca peguei covid. Fica a dica de outro tratamento precoce. PUDIM.
 
SUELI 15/4/21 15:27
José Botelho, a escolha é de vocês. Se querem morrer, que morram!!!
 
SUELI 15/4/21 15:29
A partir da demissão, espero que essa assassina seja condenada a muitos anos de cadeia!!!
 
Olha só! Um débil mental com o mesmo nome que o meu! Nada contra ter o mesmo nome, o problema real é que esse fato comprova a existência da anti-matéria, do anti-próton, do elétron com carga positiva (acho que vou sugerir meu nome para o próximo Nobel de Física). Um José Botelho que defende o uso do Kit Bozo de primeiros socorros só pode ser piada. Mas não é – e foi isso que me abalou tanto (tenho andado muito sesível ultimamente. Aliás, o certo nem é “andado”, é “ficado”, pois só tenho ficado preso dentro de casa).
 
Por isso, do alto dessas pirâmidades é que exclamo aos 8 = 2 x 4 ventos:
- Bolsonarista idiota , botelho pinto (desculpem o pleonasmo "idiota")! Ou melhor, meu nome é José Botelho Pinto!
 
E um último recado para o Lucas e a Sueli:
- Lucas e Sueli, recusem imitações, não comprem gado por lebre.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

NAVALHA NA CARNE

 
Eu creio já ter contado essa história aqui no Blogson, mas não pude deixar de me lembrar dela ao ler no site A Marreta do Azarão o post “Pau de Bêbado Não Tem Dono”, um texto literalmente do caralho, com a ironia e o humor típicos da grife Azarão (a parte em que ele fala da propaganda “boca a boca” é hilária).
 
A história é a seguinte: não sei mais se foi na televisão ou no cinema que eu vi um dos filmes brasileiros mais divertidos já produzidos. Na época em que foi realizado, os filmes brasileiros eram puro lixo, as chamadas pornochanchadas, de péssimo e apelativo humor. Mas esse saiu diferente, pois era um dos três episódios de um filme cômico, quase não tinha diálogo e era (é) muito engraçado.
 
Só me dispus a assisti-lo depois de ler no Pasquim uma entrevista com seu diretor (Anselmo Duarte, se não me engano), que fez um resumo do filme. A história se baseava em um fato real, semelhante ao que foi narrado pelo meu amigo virtual Marreta. Os atores eram o fabuloso Tião Macalé e a gigantesca Wilza Carla (o pessoal das antigas certamente se lembra desses atores).
 
E a história é a seguinte: o franzino Tião Macalé era casado com a montanhosa Wilza Carla. Ele, um sujeito galinha, sempre atrás de um rabo de saia. Ela, uma dona de casa ciumentíssima que sempre ameaçava emascular o marido por causa de suas traições. E uma navalha sempre era exibida.
 
Um dia o personagem acorda com o pijama todo ensanguentado e vê que a mulher tinha cumprido a promessa. Fecha um close na cara do Macalé e ele sai gritando desesperado para o hospital. A cena seguinte já é o momento em que acorda da cirurgia, com o médico perguntando se tinha filhos. Ele responde que não, pois a “patroa” nunca quis ter. E quer saber o motivo da pergunta:
- Infelizmente, Sr. Fulano, o senhor não poderá mais ter relações sexuais.
- Como assim doutor?
- O senhor perdeu o pênis.
- Não doutor, eu cheguei com ele aqui na mão!
- Lamento, mas deve ter caído pelo caminho.
- Mas não sobrou nem um toquinho?
- Lamento.
 
Os diálogos foram criados por mim a partir das imagens surgidas na minha cabeça. E o Macalé sai correndo do hospital tentando encontrar a “joia” perdida. Lembro-me de três cenas durante a corrida desabalada do personagem.
Ele chega perto de uma velha senhora e faz uma pergunta inaudível para o espectador, tendo como resposta:
- Ah, meu filho, faz muito anos que eu não vejo um!
 
Na segunda cena a pergunta é feita a um homem que, ofendido, bota o Macalé para correr. E a cena final da busca (filmada com o auxílio de uma salsicha) acontece quando o personagem  imagina ver o pau na boca de um cachorro, que sai correndo quando o personagem tenta retomar o que lhe pertencia.
 
Nessa hora o filme corta para o Macalé deitado na cama, vestindo o mesmo pijama da cena inicial, mas sem nenhuma mancha de sangue. Olha para o criado mudo onde sempre ficava a navalha e vê um barbeador elétrico. Todo aquele drama era só um pesadelo. E o filme termina com ele se barbeando e dizendo:
-Viva o barbeador elétrico, viva o Brasil!

quarta-feira, 28 de abril de 2021

O BOM SELVAGEM

Tive por colega um sujeito muito bem-humorado e que dizia ótimas frases. Não sei se eram de sua autoria, mas sempre me divertia ao ouvi-las. Uma delas é essa:
- “Se até o Jean Jacques Rousseau, por que eu também não posso 'roussar'?”

O que essa maluquice tem a ver com este post? Nada, em princípio. Porque o "Jacquinho" só veio com uma conversa mole de “bom selvagem”, de que "o homem nasce bom e é a sociedade que o corrompe, piora".  Pode até ser, sei lá, mas meu negócio não é teoria, é prática.

Porque eu tive a sorte de ser pai e literalmente ver nascer o verdadeiro “bom selvagem”, um filho que nasceu para por desordem na minha cabeça, uma desordem maravilhosa, porque ele, ou melhor, você é intrinsecamente bom e generoso. Mas selvagem, desde pequeno, o que sempre me deixou surpreso.

Apesar de seu temperamento de gato-do-mato ou diabo-da-tasmânia (o do desenho do Pernalonga, bem entendido), você é uma unanimidade entre todos os que te conhecem dentro e fora da família, pois não há ninguém que não goste de você e/ou seja seu fã. E talvez seja porque, além de outras qualidades incríveis, você possui uma inteligência emocional de gênio (pois iguais a você só conheci duas pessoas).

Curiosamente, os três têm (ou tinham, pois um já morreu) as mesmas características: nada em vocês é artificial ou forçado; sempre simpáticos, bem-humorados, sempre com um sorriso fácil e cativante, a voz nem muito alta nem muito baixa, e um carisma (ou elã) filho da puta! Outra semelhança é a determinação e a integridade de comportamento. Você, assim como os outros dois que citei, não alisa, não adula, não finge. Só seduz.

Talvez seja esse seu segredo: quem gosta de você sabe que não está vendo um personagem ou máscara para enganar ninguém. Você é severo e alegre, bravo e bem-humorado, crítico e divertido, impaciente e amoroso. E quem te conhece sabe que isso tudo é você mesmo, não um ator representando.

Mas é um selvagem. Pelo menos, na infância. Os casos de selvageria explícita de quando era criança já pertencem ao anedotário da família. E são vários (foto 3 x 4, carteira de identidade, permanência na sala de aula do jardim de infância, etc.). Como na vez em que foi levado a um salão infantil para cortar cabelo junto com seus irmãos. Eu sei que você já me ouviu contar esse caso inúmeras vezes, mas eu nunca me canso de recontá-lo.

Seu cabelo estava enorme, pois nunca tinha sido cortado, se não engano.  Creio que tinha uns dois anos. Estrategicamente, deixamos você por último, pois já estava dando sinais de querer explodir o mundo. Tentamos fazer você ficar quieto na cadeira em forma de carrinho, mas em vão. Para resolver o impasse, o barbeiro disse que eu podia ficar com você no colo e aproximou-se com um pente na mão e a tesoura na outra, dizendo qualquer coisa como “menino bonitinho”. Você não estava chorando, só dizia que não queria e estava com cara de quem iria comer o fígado do sujeito.

Quando ele esticou o braço com o pente para pentear (lógico, né?) seu cabelo, levou um tapa na mão que fez o pente sair voando, exatamente como no filme "2001 - Uma Odisséia no Espaço",  na parte em que o hominídeo lança o osso para o alto e a cena corta para um monólito negro girando no espaço. O pente era o monólito. Essa é apenas uma de suas muitas selvagerias que nos fazem rir sempre que as lembramos. E é óbvio que você não cortou o cabelo naquele dia.

Mas há uma coisa que sempre me faz um bem enorme lembrar. Você devia ter uns dez ou onze anos quando começou a me abraçar sem nenhum motivo aparente. Você passava os braços pela minha cintura (ou parte dela), ficava segurando e dizia com o melhor sorriso: –“Colou!”

Eu adorava quando você fazia isso – e você fazia sempre. Depois, você cresceu e perdeu esse costume. Mas, como me deixou mal acostumado, às vezes eu gosto de te abraçar de surpresa, fico te prendendo no abraço e digo –“Colou!”. E você ri, discretamente constrangido.

Hoje você é o único dos verdadeiros "fab four" que ainda mora conosco, o que é motivo de grande felicidade para nós, seus pais, pois você continua sendo uma maravilhosa companhia, seja quando vamos nadar na academia ou quando sugere que almocemos em algum restaurante super incrementado que você descobre não sei como. Sei lá, creio que você nos hidrata com sua juventude, bom humor e criatividade.

E, mesmo não sendo aquele personagem da propaganda que "mima demais" o cliente, você faz exatamente isso conosco, pois resolve de repente encarar um fogão e fazer receitas incríveis para gordo nenhum botar defeito, pois você manda super bem na cozinha. Às vezes, só de sacanagem (porque eu acho que é sacanagem), avisa:
- "Pode comer à vontade, pois é diet". 
Esse aviso, no meu caso, é mais ou menos como amarrar cachorro com linguiça. E eu fico tentando achar pelo menos duas jacas, pois uma só não comporta dois pés.

Eu sei também que em algum momento você cuidará de criar uma família com sua amada. E ficaremos super felizes pois amamos muito a Claudinha, nossa filha do coração, e isso faz parte da vida. Mas não se assuste se, algum dia, já casado, ao abrir a porta de entrada de sua casa pela manhã, me encontrar deitado ou sentado no chão. Você se assustará e eu deixarei que você se aproxime. Quando chegar bem perto, agarrarei sua perna e apenas direi: “Colou!

Beijos de um pai que te ama muito. Parabéns!

(28/04/2016)

segunda-feira, 26 de abril de 2021

DEU NA MÍDIA

Deu na mídia:

"Ministro da Saúde admite dificuldade em fornecer segunda dose da CoronaVac” 

“Governo federal orientou uso de todas as doses que chegassem a Estados e municípios, mas agora há dificuldade na obtenção de matéria-prima”
 
Ninguém pensou na possibilidade de faltar vacina para ser dada a segunda dose na data certa? Era mais importante passar a imagem de eficiência e "proatividade"? 

O pessoal do interior, aquele pessoal das antigas, tinha uma boa expressão para essa prova de irresponsabilidade política:
 
“Isso é o mesmo que contar com o ovo no cu da galinha!”

ANTI-VACINA É A SENHORA SUA TIA!

A família de minha mãe possui um invejável componente genético relacionado à longevidade. O irmão de meu avô materno morreu com 103 anos de idade, permanecendo lúcido até os 102. Talvez meu avô pudesse seguir o mesmo caminho se não tivesse morrido aos 76 anos, atropelado quando ia ou voltava da casa de sua segunda mulher (creio que ele era bom de tiro, pois teve onze filhos apenas com minha avó, mas nada sei da segunda família).
 
O que sei é que alguns dos irmãos de minha mãe parecem ter sido aquinhoados com alguns desses genes matusalêmicos. Minha tia mais velha tem hoje 102 anos e, embora ultimamente esteja rateando um pouco, até recentemente estava totalmente lúcida. Meu tio mais novo completou 81 anos neste mês de abril. O defeito ou problema do filho da puta é parecer ser mais jovem que eu, mesmo tendo dez anos a mais!
 
Acho que esse bons genes, “eugenes”, passaram longe de mim, substituídos por “badgenes” que me deram a aparência atual de múmia egípcia. Paciência... Mas não é disso que eu quero falar. Meu assunto hoje é vacina, ou melhor, vacinação.
 
Uma das irmãs de minha mãe ligou para mim esta semana, pois estava “morrendo de saudade”. Claro que eu tinha de tratá-la bem (até porque estou de olho nos muitos livros que ela ainda tem, pois é “solteirrona” e, mesmo tendo alguns sobrinhos de estimação (grupo onde modestamente me incluo), a maioria é toupeira e está mais interessada em ganhar dinheiro (uma pequena dose de veneno familiar nunca é demais!).
 
Pois bem, conversa vai, conversa vem, queixou-se do isolamento prolongado, pois está trancada dentro de casa e sem poder visitar a irmã de 102 anos. Esqueci-me de dizer que a “veneranda macróbia” (como dizia o Estanislau Ponte Preta ao referir-se à Tia Zulmira, um dos personagens divertidíssimos criados por ele) tem 87 anos. Mas, ao contrário da Tia Zulmira, minha tia é uma senhora “escovadíssima”, saudável... e caipira.
 
Preciso explicar esse “reticente caipirismo”. Todos os meus tios, tanto por parte de pai como por parte de mãe nasceram “na roça”, longe dos ares civilizatórios da cidade grande. Meu pai nasceu em um distrito de Ponte Nova, minha mãe nasceu em Ijaci, glorioso município que possuía 5.863 habitantes segundo o Censo de 2010. Infelizmente, graças à falta de senso dos atuais mandachuvas do país ao cancelar o Censo, tão cedo não saberemos a quantas anda a orgulhosa população da cidade natal de Dona Lia.
 
Mas estou escapando mais do assunto que quero abordar que minha tia das seringas usadas para vacinar. Comentei com ela já ter tomado a primeira dose de Coronavac e disse estar louco para tomar a segunda, pois não aguento mais de vontade de abraçar as pessoas que amo e que graças à mamoninha assassina estou impedido de fazer há 400 dias.
 
Despreocupadamente comentei que por ela já ter tomado as duas doses de vacina estava obviamente em situação bem melhor que a minha. Foi aí que eu ouvi a resposta inacreditável:
- “Eu não tomei a vacina, eu não tomo nenhuma vacina”.
Como é? Minha tia não toma vacina? Nem contra a gripe? Nenhuma? Minha tia não foi vacinada contra a Covid? Pataquipareu! Outro comentário inacreditável:
- “O pior é ter de ficar presa em casa até acabar a pandemia!”
 
Como assim, tia? Ela prefere ficar presa dentro de casa a tomar a vacina que a libertaria do isolamento. Mas ela já está com 88 anos! E se a pandemia demorar três anos para acabar, como é que fica? Aí veio o xeque-mate:
- “Eu sou contra vacina”.
 
Mesmo tendo se aposentado como secretária executiva de um diretor de multinacional, continuou caipira! Aí eu constatei que minha tia é da tchurma do Bozo! Agora, se eu ironizar alguém por duvidar da eficácia da “vachina” ou por se comportar como nosso estimado e xucro Cavalão e ouvir como resposta que “anti-vacina é a senhora sua tia!”, serei obrigado a me calar, concordar e aceitar o nocaute.

 


sábado, 24 de abril de 2021

MAIS RIDÍCULO,IMPOSSÍVEL! - A REVISTA


Tenho andado muito puto ultimamente com os perrengues e as limitações que a velhice me impôs (lembrando: sou velho, pô!). Limitações que foram escancaradas pela pandemia e pela consequente “clausura” em que me encontro. Por isso, resolvi criar um texto  de "humor" que tivesse as situações mais ridículas que eu conseguisse imaginar para um idoso e que tentasse exorcizar um pouco do mau humor, da angústia e depressão em que frequentemente tenho mergulhado.
 
A coisa evoluiu e eu resolvi criar um personagem inspirado nos super-heróis que meu amigo virtual Ozymandias apresenta e comenta em seu blog, ou seja, um novo "super-herói", mas que fosse a antítese dos fortões super poderosos da Marvel e assemelhados. Pensei nos nomes “Super Ancião” e “Super Idoso” para esse verdadeiro "zhérói", mas achei que “Super Velho” seria ainda mais desmoralizante e ridículo.

Aí, novamente inspirado nos heróis de meu amigo Ozy, resolvi fracionar as maluquices e besteiras que consegui imaginar e com elas criar uma história em quadrinhos, originalmente dividida em seis episódios (pois é...). Para torná-la mais ridícula, imaginei cada "tira" formada por um único quadro, com um único desenho e um texto seco e bem, bem, bem idiota, tal como os produzidos por humoristas franceses que eu lia na revista GriloSe alguém criticar, direi que é humor marciano e pronto. Vai reclamar de quê?
 



 


sexta-feira, 23 de abril de 2021

NO CÉU COM DIAMANTES

À medida que envelhecem, é comum ver pessoas usar expressões do tipo “no meu tempo é que era bom”, “porque na minha época...”, carregadas de nostalgia, de saudade e por aí.

Fiquei pensando sobre isso outro dia, depois de ler que o Ziraldo (81), o Zuenir Ventura (82) e o Luis Fernando Veríssimo (77) estão escrevendo um musical sobre a velhice. Nas palavras de Ziraldo, “nenhum velho tem a noção do que é a velhice” e disse ainda: “conversamos muito e chegamos à conclusão de que não nos sentimos velhos”. Bacana.

Bom, falar de velhice ou de religião comigo é o mesmo que falar de droga com um viciado: a reação é imediata, não resisto a comentar e fazer alguma teoria tipo "macarrão instantâneo" (aquela que é formulada em três minutos e o resultado é sempre uma merda). Aliás, descobri que, apesar de minha ascendência "toscana" (é que eu sou meio toscão...), devo ter também algum gene originário da França, pois, segundo o Paulo Francis, “francês sem teoria é que nem pai de santo sem terreiro”. Daí...

Bom, a minha teoria (muito particular, diga-se) é a seguinte: EU não tenho nenhuma nostalgia do passado. É claro que tenho saudade ou sinto falta de algumas pessoas que “não vou tocar além da lembrança” – meus pais, tios, etc. (não sou tão sociopata de não sentir nada). Mas a nostalgia que eu tenho mesmo é de mim, só de mim, ou melhor, do que não fui (e deveria ter sido), do que não fiz (e deveria ter feito) – ou o inverso disso.

Já que citei uma música (“No céu com diamantes”), usarei outra (“Jura Secreta”) para explicar de forma mais poética essa sensação:

“Nada do que posso me alucina tanto quanto o que não fiz”.

(03/10/2014)


quarta-feira, 21 de abril de 2021

terça-feira, 20 de abril de 2021

A GAIOLA DOS LUCAS - PARTE 1 (A REVISTA)

Foi através do livro "O Caldeirão Azul” do físico Marcelo Gleiser que tomei conhecimento do protagonista de uma nova série de "dezénhos", o Luca, ou melhor, o L.U.C.A. - Last Universal Common Ancestor, último ancestral comum universal! Segundo o livro, o biólogo evolucionário William Martin, da Universidade Heinrich Heine em Düsseldorf, na Alemanha, tentou achar sinais do LUCA escondidos nos genes de "bactérias e arqueias".
 
"Depois de estudar 2 mil micróbios modernos, cujos genes foram sequenciados nas últimas duas décadas, o time de Martin descobriu 355 famílias de genes que aparecem frequentemente, sugerindo que têm uma origem comum. Analisando os genes em detalhe, Martin e seus colaboradores concluíram que o LUCA era uma criatura anaeróbica (que vive sem oxigênio) e termofílica (que gosta de ambientes quentes), uma criatura unicelular simples, que viveu onde a água do mar encontrava o magma que jorrava do interior da Terra, em ventas hidrotermais".
 
Impossível resistir a um estímulo assim. E aí surgiu uma série com 20 episódios, condensada agora em formato "revista" (vários episódios de uma vez só), com um título que é um jogo de palavras-homenagem ao divertidíssimo filme francês "A Gaiola das Loucas" (La Cage aux Folles). Como os personagens são microscópicos, assim também é o humor obtido. Outro detalhe é que graças à pandemia de Covid a série original foi espichada em mais alguns episódios. E agora, chega de conversa fiada.

















domingo, 18 de abril de 2021

O EU FRAGMENTADO

 



Comentário "incidental": hoje o blog ultrapassou 100.000 visualizações! Não poderia deixar de registrar este fato, não só para agradecer a meus amigos virtuais e outros malucos que passeiam por aqui, como também aos robôs bisbilhoteiros do Google (que deram uma boa turbinada nesse total). Obrigado, amigos! Obrigado, robôs!

sábado, 17 de abril de 2021

PASSADO

Uma vez eu li uma frase muito boa, dita por uma antiga guerrilheira de Cuba (que, depois de ajudar o Fidel a tomar o poder, foi condenada a 20 anos de prisão e perdeu o marido, fuzilado), que era assim:

"O passado é o passado, mas é sempre o presente”.

Essa frase juntou-se às minhas obsessões e eu resolvi dar a ela um novo sentido. E, apesar de parecer apenas um jogo de palavras, é incrivelmente verdadeira – pelo menos, para os que têm mais de 60 anos:

Depois de certa idade, o passado mantém-se sempre presente.

(11/09/2014)

sexta-feira, 16 de abril de 2021

TAKE THE "A" TRAIN (ROCKSTEADY VERSION) - NATTY PRINCESS

 
No final de 2016 eu publiquei um rápido texto onde comentava e apresentava aos “2,3 leitores” do Blogson uma música que definitivamente fez minha cabeça desde quando a ouvi pela primeira vez. Foi composta em 1939 por Billy Strayhorn, parceiro e arranjador do Duke Ellington, que a gravou em 1941. A música fez tanto sucesso que acabou transformando-se na assinatura musical de sua banda (além de ser também gravada por trocentos intérpretes diferentes).
 
Outra curiosidade simpática refere-se à forma como o título da música teria surgido Parece que o título da melodia teria surgido de uma recomendação de Duke Ellington para o compositor chegar à sua casa: -“Pegue o trem (ou metrô) na plataforma A”. Se é verdade ou não, não sei. Mas certamente é uma boa história.
 
Como uma das minhas diversões é garimpar músicas no Youtube, acabei descobrindo uma versão recente e deliciosa de “Take the ‘A’ Train”. Aí não resisti à tentação de “aplicar” essa versão em meus amigos e amigas virtuais. Espero que gostem tanto quanto eu gostei.



quinta-feira, 15 de abril de 2021

TÁ RINDO DE QUÊ?


Já disseram que "mente vazia é a morada do capeta". Deve ser mesmo, pois de vez em quando surgem algumas ideias meio "encapetadas" na minha cabeça. Devo ainda dizer que prefiro ter pensamentos malucos a não ter nenhum (não creio que essa ideia seja compartilhada pelos que me conhecem. Talvez até possam dizer -"Não, não, você fica melhor com a cabeça vazia"). Pois bem, a última que surgiu está relacionada com retratos, fotografia. Os mais impacientes dirão -De novo”? Calma, que eu explico.

Aqui em casa existem duas fotos antiquíssimas (escaneadas, a bem da verdade), que retratam duas famílias. Na primeira, estão ali perfilados meu sogro, então com uns vinte anos, seus pais e demais filhos. A foto é lindíssima - pela simetria dos retratados (todos já falecidos) - e deve ter sido tirada por volta de 1930, mais ou menos. A outra foto mostra a família de minha avó materna (então com seus dezoito ou vinte anos) - meus bisavós e todos os filhos. Deve ter sido tirada antes de 1920. São retratos espetaculares, todo mundo fitando a câmera solenemente, sem nenhum esboço de sorriso, nem mesmo das crianças bem pequenas.

O que terá mudado desde então? O que terá acontecido para que hoje, todas as pessoas ao se verem na mira de um smartphone, tablet ou, quem sabe, até mesmo de uma câmera fotográfica(!!), tenham que sorrir? Dá a impressão que alguém atrás do "fotógrafo" está fazendo chifrinhos em sua cabeça, oferecendo um pedaço de pizza ou, até mesmo, mostrando a bunda. Porque, sinceramente, não tem lógica aparente nenhuma para que as pessoas sempre exibam um sorriso diante de uma câmera. Falo sério!

Um exemplo disso aconteceu em dezembro de 2013, no velório de Nelson Mandela, envolvendo o presidente dos EUA(!!!!!) e os primeiros-ministros da Inglaterra e da Dinamarca(!!!), que se aproximaram quase cabeça com cabeça, em uma pose que eu diria meiga (meio gay), para fazer uma "selfie". Aliás, isso serviu apenas para provar que a maioria das pessoas está pouco se lixando para a morte de alguém que não seja parente ou amigo muito próximo. E que as "autoridades" só estavam ali - na expressão feliz do Ulisses Guimarães - pela "liturgia do cargo" que ocupam ou ocuparam.

Mas essa aparente falta de senso não me satisfez. Consultei o capeta de novo e surgiu essa ideia: por conta da "aglomerada solidão" (Tom Zé) em que as cidades se transformaram, será que hoje as pessoas sorriem para as câmeras apenas para deixar claro coisas como "estou do seu lado", "sou seu/sua amigo(a)", "não sou ameaça para você"?

Ao comentar sobre isso com meu filho, ele me respondeu assim (por escrito):

-"O porquê das pessoas sorrirem nas fotos, para mim, é óbvio: mostrar que aquele momento registrado foi um momento bom, feliz, mesmo que de fato não tenha sido. Mas por que as pessoas não riam nas fotos antigas? O Mark Twain explica:
'Uma fotografia é um documento importante, e não há nada mais condenável para a posteridade do que um sorriso tolo capturado e mantido para sempre'.
Ou seja: sorrir era coisa de gente estúpida.

Nas pinturas, de onde se herdou esse costume de não sorrir, o sorriso era reservado para 'pobres, lascivos, bêbados, inocentes e pessoas ligadas ao entretenimento'.

Assim, os retratos, como esses 'documentos para a posterioridade', deveriam refletir a honra dos retratados, para que ninguém zoasse da cara deles no futuro, pois a coisa mais fácil que existe é bater o olho em uma foto e criticá-la.

Dando uma pesquisada sobre o assunto, encontrei o seguinte: a palavra retrato tem origem no latim RETRACTUS, particípio passado de RETRAHERE, que é algo como 'tirar para fora'. O problema é que o que se tira nunca refletiu e nem refletirá a verdade, pois em frente à câmera a pose é automática, até mesmo para parecer que não está prestando atenção.

No primeiro dos livros da série Discworld, o personagem principal é o primeiro turista em um mundo medieval, e uma das coisas que ele leva consigo é um artefato que consiste em uma caixa, dentro da qual vive um diabinho. Essa caixa tem um poder mágico: quando seu portador a aponta para as pessoas, com o objetivo de retratá-las, elas fazem o que ele mandar :-)
E o diabinho? Ele apenas desenha o retrato ;-)

Preciso dizer mais alguma coisa? Matou a pau!

(31/10/2014)

terça-feira, 13 de abril de 2021

PODE NÃO ESTAR NA WIKIPÉDIA, MAS NO BLOGSON ESTÁ!

Às vezes os pensamentos ficam revoando em meu cérebro tal como aviões em aeroporto movimentado, à espera de autorização para pousar. E o último pensamento que aterrissou foi este:

Eu fico impressionado com essa mania que o brasileiro tem de usar palavras da língua inglesa sem necessidade, só para parecer mais sofisticado ou menos pobre. Aliás, nem mania é, parece mais uma obsessão, um deslumbramento. Se bobear, creio que até o pessoal da Esquerda mais radical (que normalmente não tem nenhuma simpatia pelo pessoal do norte do continente americano) talvez ame utilizar “sale off”, “fine burguer”, “off price” ou “outlet”.

É claro que “fine burguer” permite que se cobre por um bolinho achatado de carne moída quase o preço de uma propaganda da Friboi. Agora, “sale off”, “off price”, “outlet”? Porque o sujeito não fala logo que tá com a mercadoria encalhada e precisa recuperar a grana (e mais um pouco) que investiu?

Porque não utilizar, por exemplo, “brechó” (que veio de “belchior”)? Ou então, a já consagrada “ponta de estoque”? Dá a impressão que só loja mais popular utiliza “ponta de estoque”.

A propósito dessa última, um estudo de autoria de um linguista renomado (cuidado com essa língua, pelamordedeus!) sugere que a expressão originou-se em uma modesta loja de roupas femininas, por conta de um funcionário bem apessoado e parecido com o Super-Homem – sem a cueca por cima da calça, lógico – que tinha o sobrenome de Stock (ou Estoque). 

Entre suas tarefas estava a de organizar nos fundos da loja as peças encalhadas ou com ligeiro defeito. Com o tempo, alguém notou que o movimento nesse setor era desproporcionalmente maior que no restante da loja. Então, quando chegava uma cliente meio velhusca, meio afobada e perguntava onde ficavam as promoções, já sabe: as vendedoras indicavam o fundo da loja e maliciosamente diziam entre si: – “mais uma que quer conhecer a ponta de Estoque”. E o nome pegou (tinha que pegar, pois ele era pegador). 

(Para Jotabê essa explicação é verídica, até porque Papai Noel também acredita nela!)

(13/01/2015)


segunda-feira, 12 de abril de 2021

MR. SANDMAN - FOXES AND FOSSILS

 
Mesmo sendo um um roqueiro de primeira hora, confesso que à exceção dos Beatles e Rolling Stones,não tenho mais muita paciência para ouvir o rock raiz, aquele das antigas. Acho o som muito datado e, em alguns casos, até mesmo meio brega (que o Rei me perdoe). Justamente por isso, tenho curtido muito mais ouvir um som ainda mais antigo(!), do tempo em que usava fraldas ou nem tinha ainda nascido quando as gravações originais foram lançadas.
 
Esse aparente paradoxo pode ser explicado pelo fato de não ter sofrido overdose de audição dessas gravações antigas, só descobertas por acaso. Tal como aconteceu quando fomos visitar uma amiga de minha mulher. Ao nos despedirmos, ela me entregou dois CDs com gravações feitas pelas Big Bands da chamada “Swing Era”, coisa ali das décadas de 1930, 1940. Ao ouvir esses CDs descobri músicas deliciosas, algumas até com o chiado dos discos de onde tinham sido recuperadas.
 
Pode acontecer também de me sentir atraído por alguma música tocada em algum filme antigo ou “de época”. “As time goes by” (do filme “Casablanca”) é uma dessas. Mas uma música em especial fez minha cabeça, justamente pelos vocais femininos magnificamente harmonizados. Eu a ouvi em um sábado de madrugada, em um filme ambientado no início da década de 1950. Preciso dizer que a televisão do nosso quarto só é desligada quando minha mulher vai para outro aposento qualquer – que geralmente tem outra televisão. Hoje só temos quatro aparelhos (um na cozinha), mas já tivemos cinco ou seis.
 
Mas voltemos à melodia ouvida na madrugada, pois este é o tema de hoje. Como estava com muito sono, tentei memorizar alguma parte da letra para depois fazer uma busca na internet. E consegui, pois o título da música era justamente o que eu tinha conseguido guardar de memória. Descobri que a gravação original foi feita pelo grupo vocal The Chordettes, formado por  quatro mulheres incrivelmente talentosas - e (na minha opinião!) muito feias. Eu sei que isso soa muito deselegante, principalmente dito por alguém que é um ogro de feio, mas apenas sigo o conselho do Vinicius de Moraes, registrado em seu poema Receita de Mulher: “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”.
 
Estou enrolando demais, mas o fato é que descobri uma gravação simpaticíssima feita recentemente por um grupo intitulado Foxes and Fossils (quatro moças e uns cinco velhos). Além de terem reproduzido a harmonização vocal original, o que tornou a gravação ainda mais simpática é o fato das quatro jovens estarem usando pijamas, numa clara referência à letra da música (“Mr. Sandman, bring me a dream”). Escutaí, porque é muito boa.
 


 

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4