terça-feira, 31 de maio de 2016

EU SÓ QUERIA ENTENDER...

Pelo menos no Brasil, os presidentes presidem, os gerentes gerenciam, os supervisores supervisionam e os chefes chefiam. Além disso, os desenhistas desenham, os escritores escrevem, os atores atuam e os cantores cantam.

Os médicos medicam, os advogados advogam, os pintores pintam e os arquitetos arquitetam. Os  auditores auditam,  os policiais policiam, os inspetores inspecionam e os assaltantes assaltam.

Os trabalhadores trabalham, os teóricos teorizam, os ideólogos ideologizam e os idealistas idealizam. Cada um no seu mister, cada um exercendo sua profissão ou vocação.

Por que então neste país, em vez de simplesmente "politizar ou politicar", boa parte dos políticos teima em só politicanalhar? Eu só queria entender...

sábado, 28 de maio de 2016

AS FILHAS DE JULIETA (E FRANCISCO) - 02 B

Minha mãe morreu com quase 89 anos, vítima de Alzheimer. Talvez tivesse uma propensão genética para sofrer de algum tipo de demência, pois sua mãe morreu com 74 anos, do que na época chamou-se de "arteriosclerose" (ou aterosclerose), quase como um bebê.

Creio que o "start" da doença de Dona Lia aconteceu depois de ter sofrido derrame nos dois olhos, fruto provável de um pico de pressão intraocular em quem nunca sofreu de hipertensão. Aplicações de laser foram feitas para corrigir ou amenizar esse problema, mas nunca mais ela conseguiu enxergar direito. A partir daí, só conseguia ver alguma coisa com a lateral do olho (essa explicação é minha!), pois quando eu chegava perto dela, percebia que estava olhando na direção de uma de minhas orelhas (fáceis de localizar!), em vez de me fitar olho no olho.

Com essa deficiência, ficou impedida de sair sozinha para fazer algum compra pelas redondezas, o que talvez tenha mudado o padrão de circulação sanguínea (minha suposição!). Para mim, essa explicação faz sentido se comparada ao comportamento de minha avó, que disse uma vez já ter trabalhado muito e que "agora queria descansar", o que fazia ao ler os jornais e sei lá mais o que, sentada ou reclinada na cama. Seis anos depois estava morta. A imagem que faço disso é o ato de andar de bicicleta: parou de pedalar, caiu.

Parêntese irresistível: com a Dilma aconteceu justamente o contrário, pois caiu de tanto pedalar (duh!). Fim do parêntese.

Apesar da limitação que a impedia de sair à rua, continuou a cuidar da casa: limpava, cozinhava, lavava roupa e ... pregava botões! Lembrando-me do Djavan, "mais fácil aprender japonês em Braille".

Essa inatividade parcial foi enormemente aumentada quando minha tia Aidê aposentou e mudou-se para a casa que possui ao lado da de minha mãe. Por pena, solidariedade ou falta do que fazer, começou a ajudar Dona Lia nos afazeres domésticos. Olha a bicicleta aí de novo!

O que sei é que a demência instala-se devagar e, no início, provoca surpresa e espanto em quem convive com o doente. Foi o que aconteceu com minha avó, foi o que aconteceu com minha mãe. Como sempre fui um filho displicente e ausente, ia vê-la no máximo uma vez por mês. Minha irmã morava com ela e meu irmão ia toda semana visitá-la. Então, para eles a barra foi muito mais pesada, principalmente para minha irmã.

Quando ainda estava conversando razoavelmente bem, mostrava algum vaso de flor que sempre enfeitava a sala simples e saía esse diálogo:
- "Você viu que bonita aquela flor ali?"
- "Vi, mãe. Muito bonita mesmo!"
- "Sabe onde eu peguei? Na porteira da fazenda do Orlando!"
Orlando era seu primo e já tinha morrido uns duzentos anos antes. E a cada vez que o diálogo se repetia, havia outra flor qualquer, mas a porteira era sempre a mesma.

Às vezes me perguntava se eu já tinha visto a "Dindinha" (sua avó, morta antes de eu nascer). 
-"Não, mãe. Creio que ela saiu ou foi comprar pão". Eu aproveitava para fazer graça para minha irmã: -"Espero não vê-la tão cedo!"

Pode parecer insensibilidade de minha parte, mas eu já era escolado desde a demência de minha avó (já contei esse caso aqui no Blogson). Ao concordar com qualquer sandice que dizia - em vez de tentar corrigi-la - eu estava apenas evitando constrangê-la (e pensar que eu saquei isso quando tinha apenas uns dezesseis anos...). Um dia, entretanto, senti uma pena imensa, quando me disse colocando a mão em minha perna:
- "Sabe, Zé, eu fiquei tão triste outro dia! Eu tentei lembrar meu nome e não consegui!"
- "Preocupa não, Dona Lia, eu também tenho andado muito esquecido, às vezes até esqueço se já almocei ou não!" E fazia algum comentário idiota sobre velhice, tipo -"É, Dona Lia, a senhora está perdida! Seus filhos estão velhos demais!"
Ela ria e respondia que não, que eu estava muito bonito (preciso lembrar que as mães não tem desconfiômetro e que a minha, além de não enxergar direito, já estava caducando).

E a doença foi evoluindo e a confusão mental ficando cada vez maior. Um dia, depois de abraçá-la, ela comentou que "os meninos estavam na escola e não demorariam a chegar". Mas os "meninos" éramos nós! Em outra visita, estando já de saída, dei nela um beijo e um abraço estilo Jotabê (dava nela uma chacoalhada, sempre a tratando por "Dona Lia". Parece que ela achava aquilo o máximo, pois se fingia de zangada, mas ria feliz). Em seguida, fui despedindo-me das demais pessoas que ali estavam - irmã, sobrinho, tia Aidê e cunhado.  Só que minha mulher continuou a conversar com minha irmã. Quando ela finalmente despediu-se de todos, voltei a abraçar minha mãe e a reação foi típica do Alzheimer: - "Ô, meu filho, você chegou?"

Nem todo mundo consegue entender ou aceitar essa falta irreversível de lógica. Meu irmão, teoricamente tão escolado como eu pelo convívio na adolescência com nossa avó, teve um dia a reação mais estúpida que eu jamais poderia esperar dele. Creio que exasperado pelas constantes referências à "presença" de minha avó (falecida em 1972) e da "Dindinha" (morta antes de 1950), colocou minha mãe dentro do carro, veio até Belo Horizonte (minha mãe morava em Lagoa Santa, município da região metropolitana), levou-a ao cemitério do Bonfim e, mostrando o túmulo (onde hoje ela também está) e disse-lhe: 
-"Sua mãe está enterrada aqui!Preciso fazer algum comentário?

Em uma das últimas vezes que visitei Dona Lia, talvez a penúltima, antes que eu a visse, Tia Aidê comentou que minha mãe apresentava novo comportamento: ficava sentada na beira da cama, virada para a parede, em silêncio e de cabeça baixa. Quando cheguei à porta do quarto, lá estava ela quietinha, olhando para o nada, passando a impressão de que estava muito triste ou deprimida. Chamei por ela, fui logo brincando como antes, mas sua reação foi de apatia e, talvez, indiferença, como se não estivesse me reconhecendo direito.

Ao contrário de sua mãe, que morreu apresentando reações de um bebê, Dona Lia ainda falava e andava na última vez em que estive com ela. Quando cheguei, minha tia avisou que estava deitada. Ao entrar no quarto pude ver que estava acordada e de olhos abertos. Sentei-me a seu lado, falei seu nome (-"E aí, Dona Lia?") e tentei lhe dar a "chacoalhada Jotabê", que tanto a fizera rir satisfeita em outros tempos. A reação que teve foi a que eu menos esperava. Com raiva, exclamou: -"Pára! Você quer me quebrar?"

E eu fiquei ali, constrangido e sem saber o que dizer, mas com a certeza de que não mais conseguiria fazê-la rir ou sorrir ao me ver chegar.


sexta-feira, 27 de maio de 2016

AS FILHAS DE JULIETA (E FRANCISCO) - 02 A

Minha mãe nasceu em 19 de dezembro de 1920 e morreu em 28 de outubro de 2009 (dia de São Judas Tadeu, segundo minha irmã). Nesse intervalo de tempo teve sonhos, casou-se, sofreu humilhações, teve três filhos e seis netos. Acabou? Não, claro. O problema, a dificuldade de falar sobre ela está no fato de ser minha mãe.


Não que eu tenha grilo em detonar Dona Lia (mesmo que isso seja deselegante). Até porque não há mãe perfeita, inatingível, intocável, no pedestal (nem pai). Como cantaram os tropicalistas, "ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração dos filhos", uma releitura sacana de um verso do Coelho Neto ("ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração!").


Mas vamos tentar avançar. Minha mãe chamava-se Maria (só Maria, assim como eu sou apenas José), mas Lia era a forma como todos a chamavam. Para ser sincero, nem todos. Duas sobrinhas de meu pai, gêmeas univitelinas, talvez por só terem começado a falar com quatro anos (já contei esse caso), quando falavam com ou de minha mãe diziam "Liarr", produzindo um som rouco, afrancesado, como se estivessem pigarreando. A mesma "rouquidão" acontecia ao pronunciarem o nome de meu irmão - "Eduarrrdo" Quando falavam meu nome diziam "Cecinho", querendo dizer "Zezinho".

Era dócil de trato e se dava bem com todas as cunhadas (esse não era exatamente um padrão familiar). Talvez essa docilidade fosse uma tática de defesa, pois, já casada, viu-se obrigada a continuar morando na casa de sua mãe. Como já foi contado antes, meu pai e seus irmãos quebraram na época da Segunda Guerra. Essa dureza, essa falta de dinheiro, a provável incapacidade de meu pai reagir a isso, a conseguir soerguer-se fez com que ela só conseguisse ter sua casinha já com quase sessenta anos. Lembro-me de algumas vezes tê-la ouvido dizer em tom ligeiramente queixoso do sonho ainda não alcançado de ter sua própria casa. Imagino que nessas horas já tinha engolido doses adicionais de humilhações e aborrecimento.

Mas, preciso admitir, não acredito que ela fosse a perfeitinha, "prendada e do lar" apenas. Imagino que tinha as garras retráteis como os felinos. Não fosse assim, meu psiquiatra não teria feito referência a seu comportamento de "mãe castradora". Mas não era barraqueira. Nem meu pai.

Quando eventualmente discutiam, não havia bate-boca nem se ouvia nada com volume acima do normal. Meu pai era particularmente bom na esgrima de sarcasmo e ironia ferina. Minha mãe era perita em silêncios e chantagem emocional. Assim, quando ouvia palavras mais cortantes (ele era muito bom nisso), emburrava e ficava uma semana sem dar uma palavra com ele, que ficava no maior "porco", com cara de cachorro que peidou na igreja. É importante destacar que esses espasmos ocorriam muito esporadicamente, pois, no geral, viviam e conviviam muito bem.


A demência de minha avó começou a dar sinais quando eu tinha uns quinze, dezesseis anos. Isso significa que durante uns vinte anos minha mãe deve ter-se aborrecido e sentido a humilhação de ouvir comentários pouco elogiosos à indolência de meu pai e sua incapacidade de arranjar um emprego, qualquer que fosse ele. Essas minhas suspeitas são mais que suposições, pois ouvi de uma antiga amiga de minha mãe que essa era a avaliação da "família". Infelizmente, meu pai esmerava-se em fornecer lenha para essa fogueira, pois acordava muito tarde (provavelmente em consequência de depressão e sensação de impotência - ou preguiça mesmo), saindo após o almoço sabe Deus para onde. 

Às vezes chegava esperançoso e comentava com minha mãe que tinha conversado outra vez com o deputado Aécio Cunha (pai do Aécio Neves) e que teria recebido dele a "milésima" promessa de uma sinecura ou boquinha em algum órgão público. Imagino que se os dois ainda estivessem vivos, meu pai estaria esperando o cumprimento dessa promessa de candidato que já está eleito. 

Nunca tive coragem nem interesse em conversar sobre isso com meus pais, mas fico meio perplexo por meu pai nunca ter exercido a medicina (pois parecia ser um bom médico), preferindo tentar ganhar a vida como farmacêutico - mesmo aparentando não ter o menor tino comercial para isso - e, depois, como químico. Talvez a medicina da época fosse exercida em consultórios (que meu pai não tinha condição financeira de montar), talvez a inexistência de planos de saúde fosse outro limitador, não sei. O que sei é que meu pai e seu irmão Nhô, em virtude das dívidas provocadas pela quebra dos negócios da família, passaram todo o período da minha infância envolvidos com o pagamento de agiotas, pegando aqui, pagando ali, etc.

O que isso tinha a ver com minha mãe? Tudo, claro, pois quem aparava os raios de mau humor de meu pai, quem ouvia calada os comentários ácidos de familiares, quem era obrigada a cozinhar, lavar, passar e fazer faxina em uma casa onde moravam dez adultos e duas crianças era ela, que ainda dava um jeito de costurar para a irmã rica só para ganhar alguns trocados.

Essa situação mudou com o tempo? Claro que mudou, pois os irmãos foram casando, minha avó começou a catar coquinho no asfalto e meu pai finalmente arranjou um emprego fixo em empresa particular, com carteira assinada (eu tinha uns treze anos quando isso aconteceu). Óbvio que a vida ficou menos opressiva, mas até chegar a esse ponto, nem consigo imaginar os sapos que minha mãe foi obrigada a engolir. Se vacilar, pode ter sido até a responsável pela extinção de alguma espécie.


Minha avó morreu em 1972. Com a morte de meu avô em 1976, ficaram morando na casa onde vivi toda minha vida de solteiro apenas meus pais, minha irmã e minha tia Aidê (que tinha uma carta na manga). Depois da morte de minha avó, aos poucos, minha tia foi comprando dos irmãos interessados em vender, a parte que lhes cabia da casa de sua mãe. Assim, pouco tempo depois de perder o pai, tia Aidê resolveu vender a casa, pois já era dona de 50% do imóvel. 

Para encurtar a conversa, vendeu para minha mãe uma casinha que possuía em Lagoa Santa (mas ficou com metade do lote), um processo tão intrincado, complexo e obscuro que motivou o fato de - logo depois da morte de Dona Lia - eu ter sido também declarado "morto" por meu irmão, tudo por causa de um mal-entendido gigantesco (ele entendeu mal). Depois disso, mesmo que continue a amá-lo, mesmo que continue rezando (orando) por ele, mesmo que continue gostando dele como sempre gostei, sempre digo de sacanagem que só voltaremos a nos falar no Centro Espírita Grande Oriente.

Mas antes que esse caldo entornasse e antes que o "alemão" invadisse sua mente, minha mãe viveu nessa casinha e nessa cidade talvez os melhores e mais tranquilos anos de sua vida, ao lado de meu pai, de minha irmã e, no tempo certo, de meu cunhado e meu sobrinho. É importante dizer que esse cunhado tornou-se quase um filho para meus pais, tal a paciência e atenção que dedicou a eles.


É quase impossível falar de minha mãe dissociada de meu pai. Mesmo sendo tão diferentes em sua essência, eram extremamente unidos, fazendo uma versão "casal" do Gordo e o Magro, pois minha mãe era extremamente magra e meu pai, depois de conseguir abandonar definitivamente o cigarro, obeso mórbido, graças a um apetite filhadaputa. No final de suas vidas, dormiam em quartos separados (- "seu pai ronca demais!"), mas lembro-me do dia em que minha mãe ainda lúcida comentou que "sentia muita falta" de meu pai, falecido alguns anos antes.

Resumindo, Dona Lia e Seu Amintas eram pessoas cheias de defeitos e qualidades (como aliás, todo mundo é), mas deixaram para os filhos a melhor herança que alguém poderia receber: o exemplo de um amor extremado por nós. E eu os amava por isso.


E agora, chega de falar da fase lúcida e sofrida de minha mãe, porque a continuação deste texto será uma aula de alemão (em outro post). Quem quiser aprender, terá de esperar até a próxima semana (ou não). "As aftas ardem e doem!", "Deutschland über alles"! O que quer que isso signifique. 
  

NO PAÍS DOS TRIÂNGULOS - 08


CRÔNICA DA MORTE ANUNCIADA

Você sabe o que Joaquín Salvador Lavado Tejon, Henrique de Souza Filho, William B. Watterson II e Arnaldo Angeli Filho têm em comum? Não sabe nem quem são eles? Vou aliviar um pouco: eles são mais conhecidos como Quino, Henfil, Bill Watterson e Angeli. Melhorou agora? Ainda está complicado? Difícil, heim??

Esses quatro cavalheiros são os cartunistas que criaram os personagens Mafalda, Os Fradinhos, Calvin e Hobbes (ou Calvin e Haroldo) e Rê Bordosa. Agora, se você disser que ainda está em dúvida, acho que seu negócio é procurar uma revista Caras para ler (folhear, melhor dizendo) ou dedicar-se mais um pouco ao seu grupo de WhatsApp.

Falando um pouco mais sério, os quatro cartunistas citados têm em comum, além da genialidade, o fato de em algum momento terem parado de desenhar seus personagens. Quino afirmou que não voltaria a desenhar Mafalda agora porque "os jovens de hoje estão desiludidos e não querem mudar o mundo para melhor, ao contrário da década de 1970, quando nasceu a personagem". 

Há quem diga que Angeli "matou" a Rê Bordosa porque a popularidade da personagem ficou tão grande "que ela estava perdendo a sua essência e que os editores queriam torná-la produto para a grande massa, tornando sua linguagem simples e estampando-a em lancheiras, cadernos e outros produtos. Sendo assim, o cartunista teria resolvido dar cabo da vida da porra-louca

Henfil ficou meio dividido: primeiro, o fradinho Baixim deu uma banana para os leitores do Pasquim e saiu de cena. O fradinho Cumprido pôde então se esbaldar, até ver que o Baixim tinha voltado. Ao abraçá-lo, vem um caminhão e mata os dois, que param sucessivamente no céu e no inferno, tendo sido expulsos dos dois. Não me lembro mais se continuaram a ser desenhados no Pasquim, pois o Henfil foi para os Estados Unidos, voltou, criou a revista Fradim (com histórias hilariantes dos fradinhos) e morreu. 

O certo é que em algum momento esses artistas geniais pararam definitivamente de desenhar seus personagens. Cada um teve seu motivo e saber qual foi não vem ao caso. A única certeza é que eram magníficos, reflexivos, engraçadíssimos, sensacionais, sucessos de público e de crítica.

Quando criei o Blogson por sugestão de um dos filhos, a primeira coisa que me ocorreu foi aproveitar as toneladas de bobagens que tinha encaminhado para minha família e mais três amigos. Isso até que funcionou, pois me diverti bastante divulgando posts diários, revisando, alterando, descartando, enxugando, ampliando, etc. Até hoje ainda tenho algum lixo inédito. Alguns, jamais poderei divulgar, pois, nesses tempos enjoativamente corretos, correria o risco de ser, no mínimo, execrado, excomungado, admoestado ou até processado. Fazer o que, não é mesmo? "Va', pensiero, sull'ali dorate"!

Mas tenho sentido um tédio, um desencanto com os rumos do blog. Me pego pensando sobre o que publiquei e surgem as inevitáveis perguntas: para quem eu escrevo? A quem desejo impressionar? Tenho realmente alguma coisa a dizer? Isso tem alguma relevância? E as respostas que encontro são respectivamente "não sei"; "todo mundo?"; "não" e "não".

Diante desse quadro, lembro-me de três textos que encontrei na internet.  O primeiro, premonitório (porque foi utilizado no terceiro ou quarto post do Blogson), diz o seguinte: "Porque eu escrevia já não sei, algo de vaidade, esforço pra ser diferente, ousar o título de poeta, intelectual, deixar marcas na vida quando eu me for. A ideia de ser um cara genial, com ideias avançadas e futuramente escrever no Estado de Minas e aparecer no Jô Soares pode ter funcionado como catalisador... Mas como isso tudo é muito estúpido e sem sentido, penso que acabei por naturalmente perceber que não havia porque escrever". O autor é Rafael Prosdocimi.

O segundo é de autoria do celebrado Bukowski, a quem prestei minha reverência justamente pelo texto de onde foi extraído este trecho (na verdade, poderia transcrever todo o poema): "não sejas como muitos escritores, não sejas como milhares de pessoas que se consideram escritores, não sejas chato nem aborrecido e pedante, não te consumas com auto-devoção".

E o terceiro é uma frase que pincei do blog "A Marreta do Azarão". Comentando uma frase bem bolada de algum anônimo, teve o seguinte espasmo: "Ah, a genialidade das grandes sacadas condensadas nas pequenas frases... e eu, aqui, insistindo em meus quilométricos textos, que não têm mais nada a dizer".

Deu para perceber onde quero chegar, não é? (se alguém responder "dei", vai pegar mal). Tenho pensado em acabar com o Blogson, um blog que tem apenas sete(!) pessoas que o visualizam com alguma frequência. E, constrange-me dizer, nem minha mulher se interessa mais em ler o velho Jotabê. Talvez porque eu não tenha mesmo nada mais a dizer (se já tive algum dia). Talvez o bom senso esteja com ela. 

Os "produtos" do blog com melhor aceitação são os textos relacionados às minhas lembranças. Portanto, não adianta forçar a barra: não sei mesmo fazer humor, sou apenas um contador de "causos". O problema é que as lembranças se esgotam!

Então é isso: longe de mim querer sequer me aproximar dos artistas geniais que citei no início. Também não pretendo equiparar-me aos autores dos textos transcritos. A única coisa que sei é que eu e o velho Blogson não estamos bem de saúde. No meu caso, talvez seja apenas cisma, talvez não seja nada. No caso do blog é "nada" mesmo o problema principal. Por isso, fica o aviso: o Blogson vai acabar. Talvez antes de mim, talvez depois, mas vai. Chega de solidão ampliada! 


terça-feira, 24 de maio de 2016

MAIS SUCO DE MAÇÃ

Hoje aconteceu uma coisa legal quando uma de nossas noras ligou e pediu para falar com minha mulher. Disse-lhe que ela estava distante e que iria levar o telefone. Essa menina tem um astral altíssimo, é super divertida, desbocada e se dá bem com todos nós. Adora minha mulher (o sentimento é recíproco) e já disse que tem mais ciúmes dela que do marido, nosso filho.

Com seu jeito alegre e descontraído, disse-me que eu poderia conversar enquanto andava - ou cantar.
- "Cantar?" (eu gosto de cantar e até sou afinadinho)
- "É, qualquer coisa! Pode ser Beatles, por exemplo".
- "Beatles? Lá vai: 'If I fell in love with you, would you promise to be true’...". Antes de entregar o aparelho a minha mulher, ouvi o comentário (me pareceu sincero) - "Que lindo!"

Depois de passar o telefone, continuei cantarolando essa música, lembrando-me do tempo em que consegui tocá-la no violão, ainda com uns dezessete anos.

Eu estava sempre pronto a me apaixonar por alguém, mas o mesmo não acontecia com as meninas com quem tentava uma aproximação. Nessa época, nem os Beatles me ajudavam, ao contrário do Tavito, que cantou essa situação na música "Naquele Tempo". Para quem não conhece, só uma palinha:

Naquele tempo eu tentava, eu queria
E quanto tempo eu fiquei sem namorar
É que eu tinha vergonha e precisava muita gana
Pra criar coragem e cantar
E ela só queria um cara forte, totalmente louro, rico e que falasse inglês
Mas eu era moreno, um mineiro bem trapeiro, já sentiu que eu nunca tinha vez.
E mesmo sem saber qual era a dela, pegava um violão
Mandava um cha-la-la-la
Puxava um uou uou uou do fundo do coração
E os Beatles sempre perto me ajudavam na próxima canção

Mas, voltando à trilha principal, o que eu queria mesmo dizer é que a música If I Fell tem gosto de juventude, de adolescência e continua boa de escutar, boa de cantar. Definitivamente, uma música suave como suco de maçã. Se alguém se interessar em ouvir, siga o link.

https://www.youtube.com/watch?v=0kv9DpQ8Owk

NO PAÍS DOS TRIÂNGULOS - 05


segunda-feira, 23 de maio de 2016

COMENTANDO AS RECENTES - 13 (OCUPAÇÃO)

Imagino que em algumas favelas ou comunidades não pacificadas a troca de poder pode acontecer da seguinte forma: sai quadrilha, entra milícia; sai milícia, entra quadrilha.

Às vezes eu penso que talvez aconteça coisa semelhante em alguns países da Europa do Sul, Ou seja, parece não haver troca de governo, mas de ocupação, tal a quantidade existente de políticos "escutados", investigados, indiciados, denunciados, envolvidos, condenados e presos.

E la nave va.

NO PAÍS DOS TRIÂNGULOS - 04


domingo, 22 de maio de 2016

CARTA DO CHEFE SEATTLE

Há uns vinte anos, recebi um pequeno poster que trazia o trecho de uma carta endereçada ao presidente dos Estados Unidos, escrita por um chefe indígena americano. Havia tanto lirismo e poesia naquelas palavras que tive vontade de ler o texto na íntegra. Comentei sobre isso com meu então concunhado e ele me emprestou um livro daqueles que você termina a leitura arrasado. 

O título em português era "Enterrem meu coração na curva do rio", uma escolha meio capenga para traduzir a beleza do título original ("Bury My Heart at Wounded Knee"). O livro trazia relatos das sacanagens, traições, promessas nunca cumpridas e destruição sistemática de várias tribos indígenas da "Terra de Marlboro", mas não continha a tal carta.

Hoje lembrei-me disso e resolvi procurar na web. Descobri o texto e fiquei sabendo de que talvez não seja a versão original (o que não me espantaria). Aliás, existe a hipótese de que tenha sido apenas um "discurso" feito pelo cacique Seattle. O registro escrito teria sido feito por quem ouviu aquelas palavras. Não importa. O que sei é que gostaria de tê-las escrito, pois são impregnadas de muito lirismo e poesia. Por isso, vamos a esse belíssimo discurso:

    
O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.

Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.Minhas palavras são como as estrelas que nunca empalidecem.

Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.

O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertencem à mesma família.

Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.

Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.

Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.

Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiro.

O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as árvores, o homem. O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres.

Assim, pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós - os índios) matamos apenas para o sustento de nossa vida.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.

Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.

De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.

Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará, para chorar sobre os túmulos de um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos que o homem branco venha, talvez, um dia descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra; mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos também vão acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuas poluindo a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado em teus próprios desejos.

Porém, ao perecerem, vocês brilharão com fulgor, abrasados, pela força de Deus que os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não podemos imaginar como será, quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.

Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos, e por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos viver o nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas floresta e praias, porque nós a amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.

Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse: E com toda a tua força, o teu poder e todo o teu coração - conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.



NO PAÍS DOS TRIÂNGULOS - 03


sexta-feira, 20 de maio de 2016

RECICLANDO O BIG BANG

No post anterior, eu mencionei ter brincado algumas vezes com a teoria do Big Bang (em que acredito totalmente, sem nenhum problema). Como eu sei que a maioria das pessoas - e isso acontece em qualquer blog - só lê os textos mais recentes, pouco se importando se os textos mais antigos são melhores ou piores, resolvi agrupar três dessas brincadeiras em um mesmo post. É picaretagem isso? Com certeza! Mas eu não tenho mesmo nenhuma vergonha na cara se o assunto é auto-citação. Para piorar mais um pouco as coisas, preciso dizer gosto muito do humor que faço (mesmo que seja o único a fazer essa avaliação). Por isso, vamos rebobinar a fita (antiga essa!) até o início de tudo. Som na caixa!



BIG BANG - UMA TEORIA
(Data da postagem original: 20/06/2015)























FIAT LUX!!! - 01
(Data da postagem original: 25/09/2015. Essa é uma versão mais "bíblica" do Big Bang. Logicamente, segundo o crivo Jotabê)

Depois de "inventar moda" (como se dizia antigamente) ao tentar fazer humor com sólidos geométricos, vetores e noções de conjuntos - com a qualidade decrescendo nessa ordem - fiquei imaginando uma coisa mais minimalista ainda. Surgiram assim os desenhos que começarão a ser divulgados diariamente a partir de hoje pelos próximos quinze ou vinte dias (para não perder a sequência lógica). Os personagens são um segmento de reta, um círculo e uma "nuvem". E o tema, bom... o tema...

Para mim, a diversão maior foi utilizar apenas recursos do Word e do Paint Brush (99%, para ser mais verdadeiro) para fazer os "desenhos". O humor assim obtido reflete o minimalismo das formas escolhidas, ou seja, é mínimo também. Mas foi divertido fazer. Vê aí.




(Data da postagem original: 15/11/2015)

Eu acho que o bullying surgiu com o Homem. Talvez possa ter a idade da Terra.

Talvez, quem sabe, seja até mais antigo que o Universo – nem que por apenas alguns trilionésimos de segundo...

ECOS DO BIG BANG - 03

Eu já disse neste blog que tenho poucos interesses e muita obsessão. Isso é basicamente verdade, pois alguns assuntos às vezes me perseguem por muito tempo. É o caso da origem do Universo. Antes da série “Ecos do Big Bang” (que se encerra aqui), eu já tinha brincado com isso nos posts “Big Bang - Uma Teoria”, “Big Bullying” e no primeiro "desenho" da série "Fiat Lux!" (esse, uma versão mais bíblica da "coisa"). Esperando agora encerrar o assunto, apresento a “rapa do tacho”:


SANDUBA
Não sei se existe algum lugar que tenha um sanduba de nome "Big Bang" (qual o problema? Já não existe um "Big Mac"?). Se esse lugar existir, bem que poderia usar um slogan assim:
"Big Bang, uma explosão de sabores!"

Ou esse:
"Big Bang, o burguer gourmet que cria um universo de sabores em sua boca!"
(Agora deu ânsia de vômito, juro!)


SINA
Às vezes eu penso que os homens-bomba são mais que malucos, são como ecos do Big Bang. Ao explodir pessoas e se auto-explodir, imaginam que estão contribuindo para a criação de um mundo novo. Mas pensar e agir como se só eles estivessem sempre certos parece ser a sina de todos os radicais. (A ânsia continua!). 


NO PAÍS DOS TRIÂNGULOS - 01

Já disse isso anteriormente, mas vou repetir. Minha mulher e os meninos sempre comentam que eu explico demais, que eu falo demais. E eu não tenho a menor dúvida que dizem a verdade. Isso fica ainda mais evidente quando ninguém me pediu uma explicação ou quando o que fiz, faço ou farei é apenas opção minha, sem que qualquer pessoa tenha nada a ver com isso.

Ficou meio esquisito esse início, mas tem sua razão de ser (olha a explicação chegando). Hoje, durante o banho, ocorreu-me a ideia de fazer nova série de “desenhos” baseada em formas minimalistas. É previsível que o humor também seja mínimo. A explicação para essa maluquice ser divulgada no blog é que para mim o velho Blogson seria uma espécie de “blogoteca”, um lugar onde eu concentro e guardo tudo o que faço e tudo o que consegui preservar e conservar da fase pré-internet. Se alguém irá “consultar” são outros “seiscentos” (alterei o chavão por já ter mais de quinhentos posts publicados).

Voltando à nova série, o que pretendi dizer é que se trata de uma viagem puramente pessoal, uma tentativa de estimular a criatividade ao fazer releituras de situações do dia a dia em um “país de triângulos” (esse é o tema). E a graça ou humor da coisa surgirá (se surgir) do conflito entre o cotidiano previsível e humano e o non sense de isso acontecer com formas geométricas. Precisava dar essa explicação? Não!



quarta-feira, 18 de maio de 2016

DISMORFEU - A RESPOSTA

Minha resposta precisou ser transformada em novo post (o que acho ótimo) de tão grande. Mas vamos lá. Em primeiro lugar, obrigado pelo imerecido “genial”. Gostei muito da história da catarata, pois são lembranças desse tipo que humanizam as pessoas, mesmo que não as conheçamos. E talvez aí também esteja o problema, pois tendemos a julgar o mundo segundo nossa “régua e compasso”, como disse o Gil.

O que quero dizer é que, embora verdadeiramente tímido e introvertido, eu finjo muito bem, sendo capaz de fazer as maiores idiotices em público, pois me treinei para isso. Ou seja, se eu estou no controle de mim mesmo, sou até capaz de plantar bananeira dentro de igreja. Mas, se for pego de surpresa, a timidez e a introversão se manifestam e eu fico todo torto, sem graça e sem chão.

E eu fui criando esse escudo para mim depois de descobrir que eu era feio (ou não era o modelo de beleza que eu gostaria de ser). Por isso, uma das formas de tentar corrigir essa falha genética foi transformar-me no palhaço, no bobo da corte, no gente boa, no legal, no sem noção. Agindo assim, talvez imaginasse que as pessoas gostariam de mim e as meninas sentiriam atração pelo feioso.

Isso até que funcionou bem em muitos aspectos. Por exemplo, virei o rei dos velhinhos e das velhinhas. Ao dar a eles uma atenção (falsa) que normalmente não recebem, ao brincar com eles, ao agir de forma esculhambada e descontraída, consegui que muitos se tornassem meus fãs declarados. Uma senhora um dia me disse que “devia ser muito bom ser minha mãe”, só porque eu a tratava com respeito e (falsa) atenção. Meus pais adoravam esse meu estilo. Especialmente meu pai, um tímido patológico. Eu percebia nele um sorriso de orgulho quando fazia minhas macaquices ou contava casos idiotas realmente acontecidos, tais como os dois que contei no post, porque eu contava fingindo achar aquilo um absurdo, mas logo começava a rir dessas bobagens, fazendo-os rir também.

Sem querer me estender muito nem entrar em outras “áreas”, o que posso dizer é que me divirto muito falando mal de mim mesmo (pois estou no controle), mesmo que no fundo não pense com essa severidade.  Então, quando às vezes pareço estar falando sério, posso estar apenas fazendo uma piada ou troça.

Creio já ter contado isso, mas vou repetir: quando vejo pessoas pavoneando-se demais eu jogo a isca, dizendo que o sujeito “está com os burros na sombra”. Se percebo que ele mordeu a isca, achando que o estou elogiando ou reconhecendo sua importância ou imponência, dou nele aquela desarmada, dizendo que quando falo que meus burros estão na sombra é porque meus filhos estão debaixo da marquise. O efeito que isso provoca é muito engraçado.

Então, para terminar, preciso confessar que todos os espelhos, inclusive os de minha casa mostram sempre o “feio arrumadinho” que eu sou (com a velhice avançando, cada vez mais feio e menos arrumadinho). Brincando com a historinha antiga, eu sempre sei que estou nu. Mas finjo não saber.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

DISMORFEU

Li na revista VEJA uma reportagem (“Beleza que não se reflete”) sobre transtorno dismórfico corporal (TDC) ou dismorfia corporal, doença psiquiátrica que “caracteriza-se pela percepção alterada de si mesmo diante do espelho”. Resumindo, quem é magro se vê baleia, quem é alto se vê anão, etc.

Depois de refletir (sem trocadilho) sobre isso por três segundos, cheguei à conclusão que devo ter essa coisa (mais uma para minha coleção), só que em versão espelhada (essa eu não podia deixar escapar!).

O caso é o seguinte: meu pai sempre dizia que eu e meu irmão éramos os meninos mais bonitos do mundo. E eu acreditei!!!! Por isso – e lá se vão uns sessenta anos – até hoje penso assim. Quando me olho no espelho, em vez de ficar procurando cabelo encravado na barba ou mapeando cada nova ruga que aparece, fico embevecido com tanta formosura, chegando quase a beijar o espelho. Olho aquele rosto refletido, perfeito, simétrico e ”sessual” e digo para mim mesmo: -“Vai ser bonito assim no raio que o parta!” ou então, -“Bonito pra caralho!” Tudo bem que o espelho está embaçado e que eu nem consiga enxergar nada, mas isso é só um detalhe sem importância.

Por isso, fico puto com a reação de algumas pessoas invejosas ou de mal com a vida, como uma antiga amiga de minha amada, que teria comentado não entender como uma moça tão linda tinha coragem de namorar um sujeito tão feio. E o sujeito era eu! Claro que não dei confiança, pois diz o ditado que “quem desdenha quer comprar”. E ela era um bagulho desgraçado (além de namorada de um cunhado).

Teve também o caso de nossa primeira consulta com um novo endocrinologista. Ao chegarmos ao consultório, minha mulher pediu para que eu entrasse primeiro, pois eu falo demais (o que é um equívoco). Entrei, encontrei um médico cabeludão, com cara de hippie louco, conversamos um pouco, pediu alguns exames e a consulta terminou.

Entra minha mulher e começa a conversar com ele. Por algum motivo, comenta alguma coisa sobre mim. A reação do médico foi, para dizer o mínimo, bizarra. Perguntou para minha mulher (isso é real!) se o paciente anterior (eu) era seu marido. Diante da resposta afirmativa, comentou: -“Está judiadinho, heim?” Logo eu, dono de um perfil greco-romano (nariz grande, meio careca e barrigudo)! Inveja do Hipócrita, obviamente.

É por isso que quando saio com minha mulher e vou a algum shopping da vida, fico incomodado e sem entender quando passamos perto de algum espelho grandão, daqueles que refletem o corpo todo. Olho a imagem da minha mulher e lá está ela tal como a vejo todo dia, linda, linda. Quando olho para quem está de mãos dadas com ela o que vejo é um velho com cara de idiota, olhos empapuçados, barrigudo, cabelos ralos e brancos e olhar de louco. Sei lá, prefiro o espelho do nosso banheiro. É lá que a realidade mora. 

SUCO DE MAÇÃ

Depois de formado, fui contratado por uma empresa que tinha sua sede bem no centro de BH. Ao lado do prédio, havia uma lojinha de sucos e vitaminas. Todo dia dava uma descidinha para tomar um suco de morango batido com leite, gelo e açúcar. Um dia faltou morango, para minha decepção. Ofereceram-me colocar maçã no seu lugar. Mesmo que não confiasse muito no resultado, concordei. E aconteceu uma “epifania”: o suco era muito melhor que o de morango! Suave, de sabor delicado e delicioso, sem ser enjoativo.

A partir daí, durante muito tempo, além de ficar viciado no suquinho, comecei a usar a expressão “suave como suco de maçã” para tudo que dava aquele tipo de prazer que um cobertor aconchegante provoca em dias muito frios.

Já tinha abandonado essa expressão há muito tempo, mas lembrei-me dela ao ouvir no carro uma música de que não faço nem ideia como veio parar no nosso computador, de onde a copiei para um pendrive. Talvez um de meus filhos tenha baixado da internet sem me avisar. O que sei é que é a versão instrumental de uma canção que ouvi um dia ao acordar de madrugada.

Na televisão do nosso quarto (ela fica ligada a noite toda) estava passando um filme ambientado na década de 1950. O som estava alto, dei uma olhada no filme, mas não me interessei, pois estava querendo voltar a dormir. Foi quando essa música começou. Tinha aquele toque nostálgico das músicas dessa década e era interpretada por vozes femininas magnificamente harmonizadas.

O resultado é que fiquei acordado até o filme acabar, só para ver nos créditos finais o nome dessa música. Chama-se Mr. Sandman e parece ter sido originalmente gravada pelas Chordettes, um “quarteto em cy” americano que existiu na década de 1950, por aí.

Na época em que vi o resto do tal filme, um de meus filhos baixou para mim essa música na versão “Chordettes”. Mas, nas formatadas ou mudança de computador esse arquivo se perdeu. Lamentei essa perda e algum deles (assim imagino) surgiu com a versão instrumental que ouço no carro.

Foi aí que me lembrei da história do suco, pois essa música é linda e "suave como suco de maçã". A versão instrumental que ouço até três vezes seguidas é interpretada por Chet Atkins, um guitarrista americano feríssima e já falecido, que tinha por fã o Mark Knopfler (aquele do Dire Straits), com quem chegou a gravar um LP. 

Pois bem, tentei de todas as formas encontrar o link para essa gravação que escuto sempre com prazer, mas não deu. Achei uma versão bem mais antiga e inferior à beleza que o cara conseguiu depois. Para amenizar minha decepção, resolvi transcrever três links, na seguinte ordem:
 A versão das Chordettes, a versão antiga (ao vivo) do Chet Atkins e uma apresentação e do discípulo Mark Knopfler, tocando outra música lindíssima e "beem" mais antiga (I'll see you in my dreams), onde se percebe que o fã (com um toque muito elétrico) suplantou seu ídolo.

Todas elas boas para se ouvir deitado em uma rede, olhando para aquele "céu de brigadeiro", sozinho ou abraçado com alguém (melhor ainda). Finalizando, um link da música I'll see you in my dreams (em versão cantada) que fecha o show em homenagem a George Harrison, exatamente um ano depois de seu falecimento. Sem sacanagem, é de marejar os olhos mesmo de quem nunca foi beatlemaníaco.  Espero que curtam.

https://www.youtube.com/watch?v=CX45pYvxDiA

https://www.youtube.com/watch?v=n-c66SJPuUI

https://www.youtube.com/watch?v=5wTVLIZaxMk

https://www.youtube.com/watch?v=tGivnGv-HXs

domingo, 15 de maio de 2016

DICK FARNEY TRIO - DICK FARNEY

Este post começou quando resolvi mandar o link de um disco igual ao que tenho para meu amigo (e ídolo) Mauro Condé, dono do excelente "O Blog do Maluco". Entre suas muitas qualidades e cultura está o gosto por jazz. Nem sei se isso é "qualidade", pois jazz é aquela música estranha e majoritariamente instrumental de que só uns malucos apreciam (ele é maluco). 

Já estava até escrevendo o e-mail, quando resolvi transformar tudo em um post, contando uma história sobre esse link (dois posts, aliás, pois o anterior, apesar de ter sido publicado primeiro, é filho deste). Pode ser sacanagem de minha parte, mas ele (assim creio) é um dos 2,3 leitores desta bagaça e eu não poderia deixar passar uma oportunidade dessas. Por isso...

Em 1973 eu tinha 23 anos e fazia estágio em uma obra localizada no município de Matozinhos, distante uns 50 quilômetros de BH. Como eu (não) estudava de manhã, ia para lá logo após o almoço, de ônibus. Na volta, sempre pegava carona com alguém. Era uma obra razoavelmente grande e alguns serviços e técnicas utilizadas demandavam a contratação de empresas especializadas. Uma dessas mandou para lá um engenheiro  bem-humorado e gente fina que ficou por ali alguns meses. Como também voltava todo dia para Beagá, acabei pegando algumas caronas com ele.

Foi numa dessas que eu ouvi falar de Dick Farney, de quem o sujeito era muito fã. Como a minha praia sempre foi o rock, eu estava mais interessado em ouvir as fitas do Pink Floyd que ele também trazia no carro. Mas caroneiro não tem direito a escolha nenhuma e é obrigado a escutar qualquer música que o dono do carro resolva ouvir. Se vacilar, até Zezé de Camargo e Luciano & amigos. Mas dei sorte, pois além de “Dark Side of the Moon” (que acabara de ser lançado), ouvi também a fita do Farnésio (nome verdadeiro do Dick Farney). E gostei!

Esse engenheiro acabou sendo contratado pela empresa onde eu fazia estágio e a amizade consolidou-se. Antes de ser deslocado para uma obra em Curitiba, sua cidade de origem, teve tempo de namorar e casar com uma mineira. Nunca mais tivemos contato, com exceção dos dois discos que mandei para ele. A história desses discos foi contada no post anterior (hoje eu estou a fim de escrever). Mas, vamos lá.

Dick Farney foi extremamente famoso nas décadas de 1950 e 1960. Era ídolo mesmo, tanto que os fãs que curtiam jazz até criaram o Sinatra-Farney Club. Os "sócios" eram gente da classe de Johnny Alf, João Donato, Paulo Moura, etc. Além disso, teve dois programas de televisão - Dick Farney Show, em 1959 (era uma época em que música dava audiência) e e Dick e Betty, em 1965, com a Betty Faria.

Resumindo: o cara era ídolo mesmo. E craque. Mandava super bem no piano e tinha uma voz incrível. Com essas qualidades, gravou discos só instrumentais e outros onde também cantava. Não sou especialista, mas eu jamais teria gravado algumas músicas que interpretou. Um sujeito amante de jazz e com um toque sofisticadíssimo de piano gravar "A saudade mata a gente" é o fim da picada. Mesmo assim, é meu reverenciado de hoje (e sempre). Como se destacou mais como pianista e cantor, não faz sentido fazer uma biografia. Quem quiser, encontra um porrilhão de coisas na internet. 

Por isso, vou apresentar o link que deu origem e sentido a este post e que fizeram valer a pena comprar o disco que as contém (viu, Mauro?). Mas ele cantava bem demais e tinha uma voz incrível. Assim, incluí também os links das músicas gravadas por ele de que mais gosto. Espero sinceramente que curtam essas interpretações belíssimas. Bora lá:

AS MÚSICAS PARA O E-MAIL DO MAURO: (instrumentais, magníficas, gravadas pelo Dick Farney Trio)
  
Valsa de uma cidade // Tenderly
https://www.youtube.com/watch?v=HPyaA39hzEc

"CANTORIAS" (tão magníficas quanto as instrumentais): 

Aeromoça
https://www.youtube.com/watch?v=rl7Oza4cg7Q&list=RDrl7Oza4cg7Q
Alguém como tu
https://www.youtube.com/watch?v=Ne3Cg8FtO_M
Copacabana
https://www.youtube.com/watch?v=BRn_b7KVZO0
Teresa da Praia (c/ Lúcio Alves)
https://www.youtube.com/watch?v=0fTgcsPiFAI
Uma Loira
https://www.youtube.com/watch?v=NlvXuyziKuo
Você (c/ Norma Bengell)
https://www.youtube.com/watch?v=jkvjD3SV7SQ

ESTRELA DE BELÉM, ESTRELA DE BELÉM!

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...