Já faz algum tempo que eu gosto de comparar o
comportamento dos animais selvagens com o dos seres humanos, pois sempre
encontro alguma semelhança e um motivo a mais para refletir. O último a chamar
minha atenção é o diabo da tasmânia,
depois ler uma reportagem sobre ele em um número antigo da Veja.
Segundo a revista, esse animalzinho corre o
risco de se extinguir nos próximos trinta anos, e o motivo disso é uma espécie
de câncer transmitido através de mordidas ou contato físico com um animal
infectado. E isso é facilitado por conta de uma característica muito especial:
esse animal é extremamente agressivo e vive às turras com outros de sua
espécie. Aliás, essa agressividade serviu de inspiração para o personagem “Taz”, surgido em desenhos mais antigos
do Pernalonga.
Pois bem, bastou eu ler a reportagem para
fazer associação de seu comportamento belicoso e agressivo com comportamentos
semelhantes que observei muitas vezes ao longo da vida. Tudo isso porque
tenho constatado que em muitas famílias, em muitos relacionamentos, existe uma
inexplicável agressividade entre pessoas que se amam. Fico perplexo (e triste)
de ver como essa agressividade pode contaminar o dia-a-dia de uma família, de
um casal, de um grupo de amigos.
Não é preciso agressão física para machucar
ou magoar alguém. As “mordidas” são apenas palavras – ásperas, contundentes ou
depreciativas. Podem ser recriminações, às vezes ditas em tom elevado de voz,
ou podem ser palavras que diminuem, menosprezam ou desqualificam a quem estão
sendo dirigidas. E a pergunta que surge é: POR QUÊ?
Se você convive diária ou frequentemente com
outras pessoas, por que ceder ao impulso de sempre se exaltar, xingar ou – pior
– menosprezar e desqualificar a quem você ama? E uma das piores agressões é
ridicularizar características físicas. Chamar alguém de barrigudo, narigudo e
coisas do gênero pode machucar quem as escuta. E isso não é piada, é puro bullying. Se a pessoa tem baixa
autoestima, aí é ainda pior. Agressões verbais constantes, ironias e desprezo
ou zombaria dirigidas às pessoas que amamos, de quem gostamos, são um tiro no nosso
próprio pé.
Recentemente descobri uma palavra que poderia
explicar pelo menos em parte esse comportamento agressivo. E o nome é DISTIMIA.
Segundo o site do Dr. Dráuzio Varela,
“Distimia é um tipo de depressão
crônica, de moderada intensidade. Diferentemente da depressão que se instala de
repente, a distimia não tem essa marca brusca de ruptura. O mau humor é
constante. Os portadores do transtorno são pessoas de difícil relacionamento,
com baixa autoestima e elevado senso de autocrítica. Estão sempre irritados,
reclamando de tudo e só enxergam o lado negativo das coisas. Na maior parte das
vezes, tudo fica por conta de sua personalidade e temperamento complicado.”
Como não sou psicólogo nem antropólogo, devo
evitar a seara alheia. Mas fica a perplexidade de ver como uma família, como um
casal pode, aos poucos, perder a amizade, a cumplicidade e a alegria de estar
juntos, por causa de um comportamento que tem na base uma agressividade sem
propósito, quase uma mania, por ser viciosa e recorrente.
É isso, aí está o link com o diabo da tasmânia: essa agressividade
contra as pessoas que amamos pode acabar extinguindo o amor e o respeito
mútuos. E sua repetição viciada pode tornar-se uma mania, ou melhor, uma “tasmania”.
Por isso, se eu pudesse, eu perguntaria (com
um pouco de ironia e um pouco de preocupação) a alguém que venha a ler este
texto:
VOCÊ É
UM TASMANÍACO?
Se a resposta for “sim” ou “talvez”, para o
próprio bem de quem assim respondeu, eu iria sugerir que mudasse, que buscasse
ajuda especializada, que fizesse qualquer coisa, menos permanecer como está,
porque o tempo faz acumular a decepção, o rancor e a desesperança, tal como os
sedimentos trazidos pelas chuvas e que se depositam no fundo de uma lagoa. E
esses sedimentos se acumulam, ficam mais espessos, até ficar impossíveis de
remover. Ou, se quiserem, imaginem-se tentando colar um vidro quebrado: pode
até colar, mas a superfície nunca mais terá o brilho e a uniformidade de antes.
Este texto era para
ser mais leve e bem humorado, mas acabou ficando meio azedo. Paciência. Até
porque minha preocupação é real, apesar do trocadilhinho. Por isso, eu pergunto
novamente a um improvável leitor: você é
um tasmaníaco? Se for, cuide-se, mas, principalmente, cuide daqueles a quem
ama.
(Publicação original: 04/07/2014)
Sim, não sei se em grau leve, moderado ou intenso, mas sim, eu sou tazmaniaco.
ResponderExcluirEste texto foi inspirado e dedicado a um sujeito gente fina com quem convivi muito. No final da vida era um alcóolatra agressivo e violento. Morreu ao entrar debaixo de um caminhão em uma estrada quase reta. Não estava alcoolizado, mas a família (que sobreviveu) estava no banco de trás. Sempre fico me perguntando se não foi um gesto extremado, um desejo de acabar com a própria vida e a da família.
ExcluirDe fato, se há algo complicado é a tal da cabeça do ser humano. De uns tempos para cá, passei a ter um certo medo da minha.
ResponderExcluirMas cerveja barata (mas boa) nunca te deixarão alcoólatra. O cara que me fez escrever o texto e criar mais um trocadilho ridículo tomava dezesseis garrafas de 600 ml por dia , por aí (fora drogas). E tornou-se uma pessoa extremamente tóxica a que nem os parentes toleravam mais.
ExcluirDezesseis ampolas por dia? Pãããta.... O cara nem dormia.
ResponderExcluirRealmente, a prova que tive de que não sou alcoólatra veio com esse tratamento que estou fazendo, fico sem problema nenhum sem a cerveja. Eu não me vejo tomando nem 16 latinhas, se passo de 6 ou 7 já me arrisco a uma ressaca das brabas.
Corrigindo a generalização: nos dias de semana eram só cinco ou seis.
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