quinta-feira, 31 de julho de 2014

HISTÓRIAS DO DIGÃO - PARTE IV


A PONTE

Além da experiência rodoviária, o Digão trabalhou também na construção de pontes, inclusive fazendo parte da equipe que iniciou as obras da Ponte Rio - Niterói. O caso a seguir relaciona-se com outra ponte, de menor porte.

As fundações de alguns dos pilares da tal ponte ficavam localizadas dentro do rio. Para a execução dessas fundações foram feitos aterros provisórios, que avançavam para dentro da água, permitindo assim o acesso de máquinas e a construção das bases e estacas em terreno mais seco. Com isso, o rio ficava mais estrangulado e a água, consequentemente, passava com maior velocidade no local. Foi também construída uma ponte metálica de serviço, provisória, para facilitar o acesso de uma à outra margem.

Devido à distância da obra em relação às cidades mais próximas, os engenheiros e todo o resto continuavam acampados nos finais de semana, sem ter muita coisa a fazer, a não ser encher a cara.

O Digão foi um ótimo nadador em sua juventude, tendo como rival nas piscinas o Fernando Sabino. Um dia, já de cara cheia, apostou uma caixa de cerveja que saltaria da ponte provisória. Naquele salta não salta, pegaram o carro e dirigiram-se ao local da ponte, ele e vários outros, entre apostadores e curiosos.

– Quando fomos chegando perto, o fogo já foi melhorando.

Desistir naquela hora seria a suprema humilhação, apesar de todo o risco de vida embutido na ideia maluca de pular da ponte.

– Quando eu olhei aquela água passando lá em baixo, eu pulei o guarda-corpo, agarrei-me  à viga da ponte e fiquei pendurado ali, até não mais aguentar, quando soltei as mãos.

Só conseguiu sair da água uns três quilômetros rio abaixo.

– A partir daí, foi um sucesso, cansei de ganhar apostas com os visitantes da obra. Para grande alegria dos meus colegas de serviço, lógico.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

HISTÓRIAS DO DIGÃO - PARTE III


A VACA VOADORA

Essa história é muito, muito inverossímil, embora ele jurasse que aconteceu mesmo. Mas é uma das melhores contadas por aquele velho maluco.

O Digão trabalhou em obras durante muitos anos, a maior parte do tempo fora das capitais. Uma dessas obras foi a construção de um trecho de estrada no norte do Brasil, bem no meio da selva, ligando, se não me engano, Porto Velho a Rio Branco.

Segundo ele, o acesso inicial ao local era feito de barco. Os equipamentos pesados, provavelmente transportados por balsa, abriram uma clareira na floresta, que logo deu lugar a uma pista de pouso. A empresa tinha um avião DC-3 ou Constelation, adaptado para o transporte de carga. Assim, a porta se abria para dentro do avião, sabe lá Deus por qual motivo. O piloto, meio aloprado, havia sido demitido de uma das companhias da época (Panair, Real ou outra qualquer).

A obra transcorria dentro da normalidade, exceto por um detalhe: a carne servida aos operários era necessariamente salgada, charque. Depois de um tempo, começaram as reclamações, pois ninguém mais aguentava comer todo dia essa carne.

A primeira solução encontrada foi contratar um caçador que, apesar de estarem na selva, só conseguia trazer macacos, cobras, coisas assim. Segundo o Digão, um macaco limpo (sem os pelos, sei lá), lembra muito uma criança recém nascida. Já viu que devia ser uma maravilha de se preparar ou comer, não é?

O fato é que o abastecimento de carne era um problema real. Surgiu então a ideia de comprar algumas cabeças de gado, deixadas em Rio Branco ou Porto Velho. Na medida da necessidade, os bois eram abatidos e a carne levada para a obra no DC-3. Entretanto, devido a algum problema, às vezes o voo atrasava. Assim, quando a carne chegava ao local da obra era jogada fora, pois já estava esverdeada e cheirando mal, provavelmente devido ao calor e falta de refrigeração.

Aí, surgiu a solução definitiva: levar o boi vivo para a obra. Para isso, o boi era colocado em um cercado improvisado, feito com uma espécie de rede usada para prender a carga dentro do avião. Chegando à obra, o boi era abatido, esquartejado, desossado e tudo o mais que é necessário para um cristão poder comer carne fresca.

Pela paixão que tinha por aviões, quase todas as vezes que havia voo para buscar alguma coisa, o Digão ia junto. Segundo ele, foi assim, nessas viagens e graças ao piloto aloprado, que aprendeu a pilotar o DC-3, sem, no entanto, decolar ou aterrissar.

Em uma dessas aconteceu o caso da vaca. A viagem transcorria normalmente, com a vaca presa na rede, até que apareceu um “CB”, um cumulus nimbus, que é uma nuvem com intensa turbulência interna segundo meu amigo.

O piloto ainda tentou contornar a nuvem, mas o avião começou a balançar muito. Com isso, a vaca começou a ficar agitada e tentando se desvencilhar da rede que a prendia. O piloto começou a dar ordens:

– Acalma essa vaca!

E o avião chacoalhando e a vaca cada vez mais agitada. E o piloto ainda mais agitado:

– Acalma essa vaca aí, pô!!

Os poucos passageiros tentavam acalmar o animal, mas a situação estava realmente preta, com grande risco para todos. Decidiram que a vaca deveria ser jogada para fora do avião.

O fato é que utilizaram a tal rede para fazer um corredor até a porta do avião (que abria para dentro, como já dito antes). Uns puxavam, outros empurravam e a vaca foi chegando perto da porta. E o piloto, já possesso:

– Joga essa vaca pra fora!!!

E eles lá, tentando:

– Vai, neguinha, vai!!!

Mas a vaca empacou perto da porta, provavelmente assustada com o barulho do vento e do avião. Tentaram empurrar, mas nada. E o piloto, já histérico:

– JOGA ESSA VACA PRA FOORA!!!!!!!

Aí, alguém teve a ideia salvadora: tirou um punhal ou peixeira e espetou na bunda da vaca que, mugindo de dor, saltou, melhor dizendo, voou pela porta afora. Nesse ponto, enquanto literalmente chorávamos de rir com a história, o Digão emendou, a título de gozação:

– Não sei se é verdade, mas dizem que até hoje tem lá uma tribo que adora uma vaca que caiu do céu.

terça-feira, 29 de julho de 2014

HISTÓRIAS DO DIGÃO - PARTE II


O CONTO DA MEMÓRIA

O Digão era muito culto e um ótimo contador de casos, sempre dizia coisas interessantes e era particularmente bom no que se conhece como “cultura inútil”. Nas conversas diárias sempre saía algum assunto curioso, precedido pelo vocativo – “Aqui, você viu...?”. Quando o assunto foi “memória”, gabou-se de ter uma excelente para números, sendo capaz de lembrar com facilidade quinze ou mais algarismos. O Anísio ironizou – “Qualé, Véio, você não lembra nem quando nasceu!..”

Seguiu-se uma animada discussão sobre a forma utilizada por ele para guardar números – “É tudo uma questão de ritmo”, disse, batendo ritmadamente a mão na mesa. Questionado sobre isso, comentou que no início da humanidade, ainda na ausência de escrita, os ensinamentos religiosos eram divulgados oralmente, de forma cantada e cadenciada, mais fácil de memorizar. A explicação me pareceu fascinante, totalmente lógica e, claro, fruto de uma grande cultura. Aí ele propôs um teste para demonstrar sua “incrível” memória
.
– Escreve aí qualquer número, que eu vou ler e memorizar, disse para o Anísio.

Condescendente, o Anísio sugeriu que ele mesmo escrevesse os algarismos. Para empatar, ele foi ditando os algarismos e o Anísio anotando. De vez em quando perguntava quantos já tinham sido escritos. Quando chegou a vinte, parou. Olimpicamente, pegou o papel, leu-o por alguns minutos e o devolveu para meu colega. Em seguida, batendo cadenciadamente a mão na mesa, começou:

– 2 71 82 81 14 15 92 65 35 26 14

Meu colega, com um sorriso irônico, comentou que o número estava correto.

– Eu posso guardar esse número por, pelo menos, um mês, diz o Digão, exultante. 

Encantado com esse prodígio de memória peguei o papel e pedi que repetisse. E ele, satisfeito, repetiu tudo sem errar: – “2 71 82”...

No dia seguinte, o Anísio refez o teste e ele acertou na mosca. Aí eu comecei a fazer propaganda de sua memória com os outros engenheiros. Uma semana depois, eu já contava esse feito extraordinário para os gerentes. Um mês depois, eu contei para o diretor. 

Ao ficar sabendo disso, o Digão e o Anísio começaram a rir descontroladamente. Sem entender nada, perguntei o que estava acontecendo:

– Isso é uma brincadeira! Eu não tenho memória nenhuma. Esses números são o número e (base dos logaritmos neperianos), seguido pelo número PI com 10 algarismos e mais o telefone lá de casa, sem o prefixo.

– Filhos da puta!!!!! Eu fiz a maior propaganda de sua memória, seu bosta! Agora, eu não acredito em merda nenhuma que você contar.

E tome xingamentos do otário aqui e tome risadas da parte dos cúmplices no conto da memória

segunda-feira, 28 de julho de 2014

HISTÓRIAS DO DIGÃO - PARTE I

Hoje em dia, quando vejo que a intolerância e o rancor, independente de que lado do espectro político ou espiritual em que as pessoas estejam, continuam tão presentes no Brasil e em outros países, eu me lembro de uma pessoa a quem tive a sorte, a honra e o prazer de conhecer, um humanista, um sujeito que celebrava a amizade e a tolerância como dois dos grandes valores que sempre nortearam sua vida. 

É à memória desse cara, o melhor amigo que já tive, que dedico os próximos posts que, reunidos, formam o texto original que escrevi sobre ele logo após sua morte. E foi muito bom remexer nessas lembranças, relembrar suas histórias. Todos os nomes e apelidos citados são fictícios e foram trocados para preservar a privacidade de quem participou dos casos contados. Ao todo, serão quinze os posts que tentam preservar as histórias contadas e vividas por uma pessoa absolutamente singular. Assim, esta semana e também a próxima serão dedicadas ao Digão, meu amigo queridíssimo. A um eventual leitor desse blog, eu sugiro que leia todos os quinze posts, pois trazem casos divertidos e histórias saborosas. Por isso, som na caixa:


Por absoluta falta do que fazer e por já ter contado esses casos para muitas pessoas, resolvi escrevê-los, como forma de passar o tempo enquanto o serviço não surgia. Descobri com isso que o trabalho de escrever é muito cansativo e enfadonho, pois é cheio de faz e refaz, correções ortográficas e coisas que me fazem pensar em monges da idade média, reclusos em suas celas, com todo o tempo do mundo para refletir sobre suas vidas, enquanto copiavam e ilustravam pacientemente textos antigos de outros povos e outras épocas. Ou seja, um senhor programa de índio.

Depois que comecei a escrever, percebi que este texto, para mim, é uma forma de homenagear a memória de um amigo querido, ao registrar suas histórias e casos mirabolantes.

Falando francamente, alguns são tão insólitos que nunca saberei se realmente aconteceram tal como nos foram contados ou, até mesmo, se não são invencionices de um grande contador de casos. Os diálogos, mesmo que recriados, são o mais próximo possível do que consegui lembrar e tentam manter a mesma descontração com que foram proferidos.

O INÍCIO

Foi no início da década de oitenta, talvez em 1980 ou 1981, que ouvi falar do Rodrigão, um sujeito que viria tornar-se meu melhor amigo fora do ambiente familiar, apesar da grande diferença de idade existente – uns trinta anos, talvez.

Trabalhávamos na mesma sala eu e o Anísio, colega recém-transferido para a sede da empresa, vindo de uma obra em Belo Horizonte. Com o passar do tempo, meu colega começou a falar sobre o Rodrigo, a contar alguns casos, sempre rindo muito. Disse que esse sujeito era tratado por alguns engenheiros pelo apelido "Digão" para diferenciá-lo do filho Diguinho, que também trabalhava na empresa e tinha o mesmo nome do pai.

Esse “Digão” era cunhado do presidente da empresa, pois sua primeira esposa, mãe do “Diguinho” e já falecida, era irmã do dono. Assim, antes de conhecê-lo, já sabia que era apaixonado por livros, que tinha cinco mil livros em casa, que era muito engraçado, etc.

Um belo dia entra em nossa sala um senhor de cabelos grisalhos já quase integralmente brancos, de óculos, vestindo o que me pareceu ser paletó de terno, mas sem gravata (o que acho feio demais). Além de notar a calva que avançava em direção à nuca, pareceu-me ser estrábico. Tinha também o nariz ligeiramente adunco, a pele seca, enrugada e meio avermelhada. E era velho, bem mais velho que eu e meu colega, pois aparentava ter uns setenta anos ou mais.

Ao ser apresentado a ele pelo Anísio – “Olha aí, esse é o cara de quem falei”, reagi com a maior efusão:

- Ah, você é que é o famoso Digão?

A reação foi a mais chocha e tímida possível, deixando-me constrangido e meio descrente das histórias hilariantes que já tinha ouvido sobre ele. Naquele dia, entretanto, começava uma amizade muito grande, um relacionamento quase diário, espontâneo, cordial e divertidíssimo, que durou até o ano de 1994, quando saí da empresa. 

Depois disso, embora sempre caloroso, o contato ficou muito esporádico, feito através de ligações telefônicas que geralmente partiam dele (– “venha me visitar antes que eu morra, pô!”). 

Em 2007 eu e minha mulher fizemos três visitas a ele, quando já o encontramos bem alquebrado. Morreu em 2008, mas vira e mexe eu me lembro dele, de sua companhia agradabilíssima e de seus casos mirabolantes. Como esse:


O OLHO DE VIDRO

Um dia, pela manhã, pouco tempo depois de já estar trabalhando conosco na mesma sala, ele não apareceu. Perguntei ao Diguinho, que ainda era estagiário, onde estava seu pai.

– Ele foi trocar o olho.

Não entendi nada, e perguntei: – Foi trocar o óleo?

– Não, pô, foi trocar o olho, olho de vidro, que gastou e está causando irritação na pálpebra. Você não sabia que ele tem olho de vidro?

Depois do almoço, o Digão – com um sorriso meio irônico e uma expressão que eu definiria como cara de vaca – ficou nos olhando de sua mesa. Eu, meio constrangido, sorri sem jeito enquanto notava que o cristalino da nova prótese parecia ligeiramente maior que o da anterior. Ele não se conteve e disse:

– Vocês são péssimos observadores!

Meu colega, mais debochado, retruca: – "Que é que foi, 'Véio'?”

– Eu estou de olho novo e vocês nem falam nada!

A partir daí, começamos a conversar sobre a prótese e sobre o motivo da perda do olho, como se estivéssemos comentando sobre outra pessoa ou conversando sobre futebol, tão à vontade ele nos deixou.

Fiquei sabendo que perdeu a visão aos quinze anos, ao levar um tiro de chumbinho de um amigo, que brincava com uma espingarda de ar comprimido (–“Vou te dar um tiro!” – "Então dá, pô!”). Esse tiro, segundo ele, acabou com o maior sonho de sua vida, que era ser piloto de avião.

Depois do tiro, em lugar de ser extraído todo o olho, foi colocada apenas uma capa no que restou do globo ocular. Assim, os movimentos do olho cego foram preservados, causando no máximo a impressão de que sofria de estrabismo.

Quando ficou viúvo, os quatro filhos (três meninas e um menino) eram pequenos e ficavam durante o dia aos cuidados da avó materna. À noite, ao voltar do serviço, ele os levava para casa. Os meninos, como qualquer criança sadia, eram provavelmente, irrequietos, levados. Como ficavam o dia todo longe do pai e sem a mãe para tomar conta, eles ficavam em um “freje” danado, segundo suas palavras. Para manter os meninos quietos enquanto tomava banho, tirava a prótese e a colocava sobra a mesa, com uma ameaça do tipo:

- É bom não fazer bagunça, pois eu estou vendo. 

E os meninos ficavam acuados, encolhidos talvez, olhando aquela coisa, aquele olhar congelado.


Segundo o Digão, essa história maluca foi lembrada por uma das filhas vigiadas.

domingo, 27 de julho de 2014

TRAZ AÍ O INSETICIDA!

Tem pensamentos que ficam “revoando” em meu cérebro como mariposas em volta de uma lâmpada. Aí eu tenho que escrevê-los, para “liberar o trânsito” (falou, BHTrans!). O que está circulando agora é o seguinte:

A palavra “bossa” foi usada como gíria no final dos anos cinquenta, no Rio de Janeiro. Significava jeito, maneira ou modo diferente de ser. Assim, a “Bossa Nova” foi apresentada como uma forma nova, diferente (cheia de bossa) de compor e cantar o Samba.  E há várias referências ao velho samba em clássicos da Bossa Nova. Exemplos: “Samba de uma Nota Só”, "Só danço Samba”.

Uma das músicas mais sofisticadas dessa nova bossa, “Influência do Jazz” começa assim: “Pobre samba meu, foi se misturando, se modernizando e se perdeu”...

Um pode até ter surgido do outro, mas, para um leigo como eu, Samba e Bossa Nova são ritmos totalmente distintos. Para mim, compará-los seria o mesmo que dizer que tango e bolero são a mesma coisa. Não são, claro. (isso é que é erudição!). Mas se alguém acha que meu pensamento renitente está associado apenas à música, vai se assustar. “As mariposas” no meu cérebro relacionam-se com os evangélicos.

Já disse que tenho algumas obsessões. Poucas mas intensas. Uma delas é uma certa birra com as novas religiões cristãs. Não é que eu não goste das pessoas que migraram para essas igrejas. Eu até gosto de alguns. O problema é sua forma de conversar, cheia de “Oh! Glória!”, “em nome de Jesus”, “Amém, Senhor!”. Isso estraga meu fígado. Chego a pensar que se eu contar uma piada bem sacana e obscena para um “convertido” e ele achar graça, talvez diga, entre risos, “Aleluia!". Aí, seria demais.

Parêntese: Essa xaropada que estou escrevendo foi motivada por uma campanha publicitária recente, lançada pela Igreja Universal e divulgada na TV e em backbus, com o tema “Eu sou a Universal”.

Então (gosto muito de usar essa palavra), esse pessoal – para mim – lembra um pouco o pepino, a melancia: você pode até gostar de comer (no sentido digestivo, por favor), mas depois fica com uma azia danada.

Voltando “às mariposas”, o pensamento é o seguinte: pelo que vejo nos programas maciçamente veiculados nos canais abertos, as novas igrejas evangélicas dão muito mais ênfase, valorizam e pregam de forma literal e sem crítica, os textos do Antigo Testamento, sem se preocupar com o fato de que muitos são verdadeiras alegorias, para dizer o mínimo. Falam também de Jesus, mas ele mais parece um coadjuvante. Assim, estão mais propensas a oferecer “milagres”, e “curas” que “acontecem” o tempo todo. Vendem ideias (e sonhos) de progresso material, de conquistas, etc.

Já a Igreja Católica, pelo que percebo, valoriza mais o Novo Testamento, os valores pregados por Jesus. Quem está certo? Como sou católico, digo apenas dizer que prefiro a humildade de Jesus e seus belíssimos ensinamentos.

Mas, afinal, o que isso tem a ver com a música? Isso: para mim, a Igreja Católica, paradoxalmente mais antiga, lembra muito a Bossa Nova: sofisticada, crítica, moderna (para uma religião, lógico). Já as igrejas evangélicas – embora surgidas há muito menos tempo – seriam comparadas ao samba de partido alto: tradicionais, primitivas, sem nenhuma sofisticação. Igrejas de mesma origem, mas radicalmente dessemelhantes. É isso.

Aí, alguém que ler isso, poderá dizer:
É só isso? São essas as tais “mariposas”? E eu terei que responder:

É, um pensamento merda surgido em uma cabeça merda. Fazer o quê,, né?


Ah, é? Traz aí o inseticida!

sábado, 26 de julho de 2014

SANDUBA

O Eike Batista é um empresário que alcançou muito suXesso. Todas – ou quase todas – empresas que criou têm a letra “X” no final do nome, para “multiplicar” o resultado e o sucesso de cada uma delas. Por conta dessa crença, surgiu o diálogo idiota a seguir. 

Antes do diálogo, preciso fazer só um comentário: ele pode até apreciar algum tipo de ciência (talvez ele também acredite em duende), mas exatas não é muito o forte dele. Matemática, pelo menos, não é. Tá bom, ele pode ter esquecido alguma coisa.  Esqueceu-se de que o sinal gráfico ”x”, além de ser utilizado para indicar multiplicação, tem também a função de incógnita.  E aí dançou.

 -   Sabe qual sanduiche o Eike Batista deve gostar de comer?

-   Sei lá, pô!

-   Chuta aí...

-   Não enche o saco!

-   Ele gosta de cheese egg burguer...

-   Que que eu tenho com isso?

-   Não sacou o trocadilho não?

-   Que trocadilho, mané?

-   Quando quer um sanduba, ele pede pra trazer um X eike burguer.

-   Putaquiupa!

sexta-feira, 25 de julho de 2014

TEIXEIRA SOARES 860 - 1030

Eu sempre ouvi falar em “Revolução”, mas agora que a esquerda está no poder, parece que consideram como “Golpe de Estado” o que ocorreu em 1964. No Google, mais especificamente no UOL Educação, encontrei um texto de autoria de  Renato Cancian, cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais, de onde extraí os trechos a seguir:

Segundo o autor,  “revolução” é “um movimento coletivo e, portanto, é a expressão da vontade do povo (grifo meu). Já o “golpe de estado” é realizado por grupos ou setores sociais que integram a elite dominante da sociedade”. Tem mais: Um movimento golpista consiste na tomada do poder sem pretensões de subverter a estrutura e os valores da ordem social vigente. Os movimentos golpistas de modo geral são realizados por grupos ou setores sociais que integram a elite dominante da sociedade”. E a chave de ouro: “Um golpe de Estado (...) além de ser uma iniciativa de poucos indivíduos, é considerado uma ilegalidade”. (ué,  eu nunca sonhei que uma revolução "é" legal !!!)

Eu tinha treze anos em abril de 1964, mas me lembro de uma “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” acontecida em São Paulo (antes do "golpe") e que reuniu umas trezentas mil pessoas pelo menos, justamente para contestar a direção ideológica apontada pelo governo de João Goulart. Se isso tivesse ocorrido em Brasília, era bem capaz de as piedosas senhoras participantes tomarem o poder só dando terçadas (batendo com o terço, pô!) em quem resistisse...

Agora, pensem bem: trezentas mil pessoas, só em uma única manifestação de rua? Sei não, mas a mim parece que o “golpe” apenas expressou a tal “vontade do povo”, por mais que a esquerda esperneie. Então, foi uma revolução. Outra coisa: alguém já viu uma revolução em que não há o envolvimento (mesmo que tardio) de militares? Alguém imagina “revolucionários” enfrentando uma tropa ou um exército, empunhando só tacapes, foices e cartucheiras? Por favor, né?

Então, para mim, tudo é a mesma merda, mas fica combinado que “Revolução” só a Esquerda pode fazer. Se a Direita quiser fazer o mesmo, vai ter de se contentar em dar um “Golpe”. Fecha-se o parêntese.

Pois bem, para minha tristeza, o elevado hoje chama-se Helena Greco. Isso é pura babaquice, revanchismo e mau uso do rancor guardado. Não importa se o Castelo participou ou não do golpe (revolução?). Importa é que, bem ou mal, por ter sido presidente tornou-se uma figura que faz parte da história do país. Agora, e Dona Helena, com todo o respeito (sincero), quem foi? Entrei no Google para descobrir que ela foi a primeira vereadora eleita de BH e uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores!!!!! Ah!... agora está explicado: com essa importância toda, tinham mais é que mudar o nome mesmo.

Sinceramente falando, parece que há um grupo de pessoas que quer reescrever a história, que quer punir e se vingar de quem os mandou para o exílio ou para a prisão, que quer curar as feridas morais e mentais causadas pela prática hedionda da tortura de que foram vítimas, apagando os rastros de quem esteve do mesmo lado dos torturadores. Não sei se isso funciona. Até onde li, o Castelo não tolerava ou compactuava com a prática de tortura de presos. É claro que não se pode dizer o mesmo dos dois generais que o sucederam (mais a junta militar). 

Mas dá para fazer um paralelo sobre isso: mesmo discordando da prática desse crime hediondo, talvez pouco pudessem fazer aqueles militares que eram contrários a isso. O mesmo se pode dizer da maioria dos petistas: mesmo ouvindo falar do mensalão e sendo contrários a isso, pouco podiam fazer para evitar essa lama. Até porque, nos dois casos, pode-se dizer que os crimes cometidos nunca eram feitos às claras. Melhor dizendo: em geral, crimes nunca são cometidos às claras.

Volto a dizer: eu tinha apenas treze anos quando essa muvuca aconteceu. Além disso, politicamente falando, sou de centro e um pouco pendular: às vezes um pouco à esquerda, às vezes um pouco à direita. Mas jamais fui de direita pura ou esquerda pura, pois considero os extremos apenas burrice e intransigência do tipo –“só nós estamos certos, vocês todos estão errados”. Comigo não, mané. Até já votei no Lula uma vez, acreditando que seria bom para o Brasil (o oponente era o Serra). Mas só um idiota não aprende com o erro e o repete.

Então, voltando à mudança tão infeliz do nome do viaduto, fica uma pergunta: porque não mudar também o nome da Rua Marechal Deodoro, na Floresta? Afinal, esse militar do século XIX (o cara era marechal, mais que general de quatro estrelas!) deu um puta golpe, pois depôs Dom Pedro II e acabou com a monarquia no Brasil. 

Ué, ninguém pensou nessa mudança? Seria porque o imperador era a instância máxima da "elite dominante da sociedade" da época?  Ah, então esse nome de rua pode ficar, né? Hum hum... Então tá!

quinta-feira, 24 de julho de 2014

TEIXEIRA SOARES 530 - 660

Em Belo Horizonte muitas ruas que tinham nomes simpáticos e até ingênuos receberam nomes de personalidades que os puxa-sacos da vez houveram por bem “homenagear”. Por exemplo: alguém sabe onde fica a “Avenida da Liberdade”? Atende hoje pelo nome de “Avenida João Pinheiro”.

E “Avenida Tocantins”? Hoje se chama “Assis Chateaubriand”. Muita gente, especialmente os mais jovens, não sabe quem foi essa “peça”. Assis Chateaubriand foi o maior empresário de telecomunicações que existiu no Brasil até a década de 1960, dono de mais de cem jornais, emissoras de rádio e televisão. Então o sujeito bem que merecia essa homenagem, não é?

Pode ser. Entretanto, lendo sua excelente biografia escrita por Fernando Morais (“Chatô, o Rei do Brasil”), verifica-se que ele era quase um gangster, um sujeito aético e amoral que passava por cima de quem ou o que ficasse na sua frente. Então, para o bem da moral e dos bons costumes, essa avenida nunca deveria ter mudado de nome? Para mim, a questão é outra. Se ela se chamasse “Avenida A” ou coisa parecida, até justificava-se a mudança. Mas ela já tinha um nome, pô! Para que mudar?

Por isso, acho total babaquice e falta do que fazer alguém que é pago para zelar pelos interesses do município e de seus eleitores ficar brincando de dar nome ou, pior, de mudar nomes já consagrados de ruas e avenidas e outras construções, como aconteceu há pouco. 

Recentemente, um bando de idiotas rancorosos resolveu mudar o nome do “Elevado Castelo Branco” para “Elevado Helena Greco”. Quando fiquei sabendo disso até espumei de raiva. Creio que a alegação para fazerem essa mudança ridícula e risível é o fato de Humberto Castelo Branco ter sido o primeiro general presidente depois do “golpe” de 1964. E daí? O nome já estava consagrado, consolidado!

Porque ninguém se interessa em corrigir excrescências como o que acontece com a "Rua Teixeira Soares"? Essa rua começa no bairro Floresta, é interrompida por um tanto de casas que nunca serão desapropriadas, tem um segundo trecho com apenas uma quadra – ou quarteirão – no início de Santa Tereza e um terceiro trecho que termina em uma rotatória, no meio do bairro de Santa Tereza. Se essa rua fosse interrompida apenas uma vez, os moradores até poderiam dizer – "Esse aqui é o módulo ‘Teixeira’, o número que o senhor procura está no módulo ‘Soares’”. Ficava até chique, concordam? Mas a rua tem três partes! Porque não usar esse tipo de situação para homenagear Dona Helena Greco, o palhaço Bozo ou quem quer que desejassem?

Antes de continuar, preciso fazer um parêntese: é “Golpe” ou “Revolução” de 1964? Se quiser ler o final deste texto, só amanhã (entendeu agora o título?). 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

TEIXEIRA SOARES 2 - 100

Este blog, embora levemente preconceituoso, politicamente incorreto e moderadamente escrachado, foi criado apenas para disponibilizar as bobagens que venho escrevendo há algum tempo. Ou seja, é um blog para minha diversão; se outros também se divertirem, melhor ainda. Mas, mesmo que não tenha sido criado para destilar ódio contra ninguém, às vezes eu me enfureço tanto com algumas coisas idiotas que vejo por aí, que chego até a espumar. E o que está me irritando tanto? Vamos lá:

Uma das coisas mais idiotas e desnecessárias que os vereadores de uma cidade podem fazer é “homenagear” alguém dando seu nome (o do/a falecido/a, lógico) a uma rua, escola ou posto de saúde da periferia mais distante. Porque desnecessária? Porque em várias situações existia um nome oficial já consagrado pelos moradores. Para que mudar então? 

Quando eu era criança, a Avenida Presidente Carlos Luz tinha o simpaticíssimo nome de Avenida Catalão. Mesmo que não “homenageie” ninguém, no Carlos Prates existe a rua “Rio Pomba”. Quando eu morava lá, essa rua chamava-se apenas “Rua Pomba”. Qual foi a vantagem trazida por essas mudanças?

Às vezes a homenagem é apenas uma idiotice sem sentido. Quer um exemplo? Lagoa Santa. Não sei em que lugar desse município existe uma rua com o nome de meu avô materno. Como isso foi feito? Uma de suas noras conversou com o prefeito ou outra “otoridade” local da época e a “homenagem” aconteceu. 

Aí eu pergunto: alguém do município sabe quem foi meu avô? Ou o que ele fez em benefício da cidade para merecer isso? A resposta é um NÃO absoluto. Eu sinto algum orgulho disso? Nenhum. Sinceramente falando, eu sinto é pena. Pena por algumas pessoas serem tão idiotas de aprovar uma bobagem dessas. 

Até onde eu sei, meu avô era construtor e construiu uma chaminé de tijolos que ainda existe na orla da lagoa. Mas certamente foi contratado para fazer isso, não doou nada, não foi um benemérito que merecesse ser lembrado. E nem nasceu lá, nem morou tanto tempo assim no município! Resumindo de forma britânica: não fez porra nenhuma que o tornasse merecedor de ter o nome em uma rua dessa cidade. E olha que eu gostava dele pra caramba! Mas, homenagem? Pfff...

Aviso aos eventuais leitores que eu ainda estou calmo! O caldo vai entornar mesmo é na segunda parte deste texto, que está programado para sair na próxima quinta-feira. Sacanagem por ter de esperar ou alívio por ter chegado ao final deste post?

segunda-feira, 21 de julho de 2014

VAMOS ACABAR COM ESTA FOLGA – STANISLAW PONTE PRETA

Eu gosto de (tentar) fazer humor, gosto de ler textos de humor, gosto de ler sobre humor. Para mim, o humor é o fortificante necessário para você conseguir suportar essa coisa estranha e sem sentido chamada Vida.

Por isso, gosto demais de cartoons e HQ de humor (inteligentes, pelamordedeus!). Curto desenhos que passam nas TVs aberta e fechada do tipo South Park, Simpsons, Bob Esponja e desenhos antigos da Warner; tenho alguns livros do Millor, do Veríssimo, do Barão de Itararé e do Stanislaw Ponte Preta. Não vou falar de filmes ou seriados de TV para não encher demais o saco – mas, vou falar de outro (grande) escritor de humor.

O reverenciado de hoje é jornalista Sérgio Porto, também conhecido por Stanislaw Ponte Preta. Esse último seria um Mr. Hyde do bem do primeiro sujeito. Era incrivelmente irônico, perspicaz e  engraçado, como nessa frase – “ Desligou o telefone com uma violência de PM em serviço”. 

Um dos fundadores do velho "Pasca" - Jaguar - , disse uma vez que o “Stanislaw foi o pai d’O Pasquim”. O Millor Fernandes  considerava o Stanislaw “o patrono do jornal”. O pessoal do Pasquim o reverenciava. Claro, ele era "O cara", muito fera mesmo. Morreu aos 45 anos, em 1968. O Pasquim foi criado um ano depois.

Para finalizar, quero dizer que tive muita dificuldade de escolher qual crônica transcreveria. Nem precisei usar meus livros, está tudo na Web. Acabei ficando com uma que, não sei por qual motivo, faz lembrar a Copa de 2014. Olhaí.

O negócio aconteceu num café. Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse café, tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemães, o diabo.

De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem pra ele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela provocação e logo um turco, tão forte como o alemão, levantou-se de lá e perguntou:

— Isso é comigo?

— Pode ser com você também — respondeu o alemão.

Aí então o turco avançou para o alemão e levou uma traulitada tão segura que caiu no chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem ali dentro pra ele. Queimou-se então um português que era maior ainda do que o turco. Queimou-se e não conversou. Partiu para cima do alemão e não teve outra sorte. Levou um murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.

O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que o que dizia era certo. Não havia homem para ele ali naquele café. Levantou-se então um inglês troncudo pra cachorro e também entrou bem. E depois do inglês foi a vez de um francês, depois de um norueguês etc. etc. Até que, lá do canto do café levantou-se um brasileiro magrinho, cheio de picardia para perguntar, como os outros:

— Isso é comigo?

O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso cheio de bossa e veio vindo gingando assim pro lado do alemão. Parou perto, balançou o corpo e... pimba! O alemão deu-lhe uma porrada na cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.

Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí, madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros.

sábado, 19 de julho de 2014

CONVERSA PARA BOY DORMIR

Os 2,7 insensatos que leem a tranqueira que escrevo já devem ter notado o “roteiro” que utilizo: penso uma besteira qualquer e depois, pra justificar a bobagem, crio um diálogo ainda mais ridículo ou uma historinha imbecil. Em minha defesa, devo dizer que não forço minha mente para pensar o lixo que coloco neste blog. A coisa vem naturalmente. Imagino que isso deve ser fruto de um cérebro afetado pelo contato frequente com água sanitária e Ajax (essa é uma história para outra ocasião). Depois desse lero-lero, segue um diálogo “daqueles”.


- E aê?

- Tava aqui pensando num lance que ocorreu ontem comigo...

- Você pensar já é alguma coisa fantástica.

- Falo sério! Eu acho super sem graça, em velório, cumprimentar parentes que não conheço.

- Seus parentes?

- Cacete! Do morto, né? Eu acho que cumprimento nessas horas tem que ser sentido mesmo.

- E ???

- Bom, eu fui a um velório ontem. Aí, logo na entrada, dei uma torcida no pé, que doeu pra caramba, tá até inchado, hoje.

- E daí?

- Daí que como eu sentia muita dor, achei que minha cara demonstraria um sentimento apropriado naquela hora.

- Você é meio retardado, né?

- Que nada! Cheguei prum parente lá, dei nele um abração e falei “minhas comdorlências”. Foi intenso!

- Noossa! Você é um analfabeto terminal! É “condolências”, mané!

- Cara, com a dor que eu tava, tinha de ser do jeito que falei.

- Santa mãe!!!




sexta-feira, 18 de julho de 2014

VIAJANDO NO TEMPO (E NA MAIONESE)

No domingo passado, quando eu e minha mulher fomos à missa, sentamo-nos atrás de um homem de cabelos já meio ralos e grisalhos. Quando ele ficou de perfil por algum motivo, lembrei-me que era ele que tocava violão no grupo de jovens, quando eu voltei a ir à missa, por insistência do meu Amor.

Tentei imaginar quantos anos ele teria quando voltei a assistir missa regularmente, ainda recém-casado. Imaginei que talvez tivesse uns 17 anos, enquanto eu estaria com uns 27 anos.

Aí fiquei pensando na transitoriedade da vida, na velocidade com que o tempo passa, transformando o jovem de outro dia num senhor. Naquela época, a razão entre a minha idade e a sua era igual a 1,6 (27 dividido por 17), ou seja, eu tinha quase o dobro de sua idade. Hoje, que tenho 64 anos, a relação mudou para 1,2, o que significa que somos dois senhores, quase com a mesma idade (relativa, bem entendido!)

Logo depois, ainda pela manhã, fomos a um velório de uma senhora e fiquei observando o viúvo, com 94 anos e seu filho mais velho, com uns 72 anos. Na prática, eram dois velhos (ou senhores, se preferirem), o que tornava irrelevante o fato de serem pai e filho.

Lembrando-me disso hoje, fiquei pensando que às vezes é muito difícil para pais e filhos se entenderem e a explicação seria uma diferença de idades muito grande. Pegando um de nossos filhos como exemplo, a relação entre as nossas idades evoluiu assim:

Quando ele completou um ano, eu tinha 27 (um senhor!!) e era 27 vezes mais velho que ele. Ao completar 10 anos, a relação passou para 3,7. Hoje, a relação é igual a 1,7. Continuando nessa brincadeira, se eu chegasse a fazer 86 anos (coisa que acho meio impossível), a relação seria igual a 1,4. Seríamos então dois velhos, dois senhores conversando como amigos, não mais como pai e filho, tão pequena seria a diferença relativa entre nós dois.

Ou seja, à medida que passa o tempo e a diferença entre gerações se torna mais insignificante, o relacionamento pai-filho deixa de fazer sentido e vai sendo transformado em amizade entre iguais (mantido o amor já existente).

E chega de cascata!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

SE LIGA, MANÉ!

O post de hoje foi escrito como carta endereçada a um jovem. Acabei desistindo de entregá-la, pois o destinatário não é meu filho. Mas guardei. Hoje, relendo o texto que escrevi, percebi que ele é meio papo-cabeça, tem algumas lembranças de infância, misturado com papo sério. Ou seja, é bem a cara do Blogson. Por isso, como este blog é meu e eu faço dele o que bem entender, resolvi postá-lo na seção Falando Sério. E criei um título, coisa que não tinha antes.
 
Se algum jovem quiser vestir a carapuça, tudo bem. Se nem conseguir entender direito o que leu, tudo bem também. Como disse uma vez o Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, não estou nem aí. Mas, pela pertinência do assunto e para dar alguma elegância ao texto, acrescentei um trecho da letra da música “Samba da Benção”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, que não existia na carta original.
 
Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida
Cuidado, companheiro! A vida é pra valer. E não se engane não, é uma só
Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo”
 

Vou começar essa “conversa” lembrando uma música que diz assim: “nada sei desta vida, nunca saberei”. Você pode perguntar por que estou escrevendo isso, mas a resposta é muito simples: porque eu me preocupo com as pessoas de quem gosto.
 
Eu já disse algumas vezes aos meus filhos que não sou exemplo de vida para ninguém, pois, sempre vivi frivolamente, de forma amadorística, displicente, irresponsável. E tem um papo aí que diz que se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Então, não vou tentar dar conselhos, vou contar um pouco da minha história, para ver se você encontra alguma sintonia.
 
Eu morava na casa de minha avó materna, em um bairro de classe média baixa, perto de dois campos de futebol de várzea. Quando fui autorizado a sair sozinho de casa, era para lá que me dirigia. A meninada da redondeza também ia para lá, que era o lugar ideal para se jogar “finca” e bolinha de gude, soltar papagaio e, naturalmente, jogar futebol.
 
Sendo muito tímido e inseguro, era às vezes alvo de gozações e ameaças dos meus “amigos”. Afinal, a partir dos seis, sete anos, eles já vagabundeavam por ali sozinhos, livres, o dia todo. Ou seja, eles tinham quatro anos a mais de malandragem que eu e não tinham hora para voltar pra casa. E isso fazia enorme diferença, pois eram craques nas peladas disputadas com bolas de plástico ou borracha (bola de couro era muito difícil de encontrar naquele lugar de gente muito pobre).
 
Um dia meu irmão ganhou de presente uma bola de couro, pequena, fodidinha, mas de couro. A partir daí sempre éramos convidados a jogar futebol. Para equilibrar, meu irmão ficava em um time e eu no outro (éramos pernas de pau). Normalmente, me empurravam para o gol, para não atrapalhar. Mas bastava algum menino de fora chegar com outra bola de couro, que os times eram imediatamente refeitos e a bola devolvida ao meu irmão. Como ele não iria mais jogar (pois teria que tomar conta de sua bola), eu era tirado do time, coisa que me deixava puto. A partir de algum tempo, passei a não ligar para futebol.
 
A médio prazo isso foi até bom, pois fez com que eu progressivamente me afastasse dessa molecada. Como morávamos na parte mais pobre do bairro, meus companheiros eram igualmente pobres, filhos de gente humilde, pobre e sem estudo. Muitos desses “amigos” eram repetentes, outros pararam de estudar ainda no ensino básico ou logo após sua conclusão.
 
Como morei lá até me casar, pude ver em que se transformaram: um virou fotógrafo de batizados e casamentos, outro enlouqueceu, um foi morto no início da adolescência, vários se tornaram apenas desocupados, encostados nas portas dos bares. Nenhum continuou os estudos, nenhum fez faculdade.
 
Que eu quero dizer com isso? Que eu dei sorte de ter me afastado dos meus antigos companheiros de infância. Senão, a chance de ficar igual a eles seria muito grande. Tem um ditado aí que diz “diga-me com quem você anda que eu te direi quem você é”. Talvez seja verdade. Mas eu prefiro pensar na frase de um antigo treinador, que dizia “junte-se aos bons que em breve poderá ser um deles”.
 
Acho que é por aí. E sabe por quê? Porque eu era muito tímido, inseguro e mané. Mas eu queria passar a imagem de descolado, de fodão, de esperto. Então, eu ficava tentando ser parecido com os caras que eu admirava. E eu admirava os “ricos”, pois eu era pobre pra caralho. Mas tinha uns “ricos” de quem devia ter ficado longe, pois quase virei maconheiro ou alcoólatra.
 
Lembrando-me dessas coisas, eu vejo o quanto fui vacilão e quantas cagadas eu dei. Ao ponto de, um dia, meu irmão ter que arrombar a porta do banheiro lá de casa para me tirar, desacordado, quase em coma alcoólica. Já viu a merda que foi, né?
 
Hoje eu vejo (e pra mim já é tarde) que fiz muitas escolhas merda sem pensar muito, sem pensar o que eu REALMENTE queria ser e fazer. Eu fui sendo levado e o termo é esse mesmo, EU FUI SENDO LEVADO pela vida afora. Só não me dei mal totalmente porque meu irmão mais velho me colava o saco e perguntava se eu queria ser só um merda na vida. Depois, conheci minha Amada, que me ajudou a entrar mais um pouco nos eixos. Mas poderia estar bem melhor se só tivesse feito escolhas boas, poderia dar a ela muito mais conforto do que eu consegui dar.
 
Que conclusão eu posso tirar de tudo isso? Que todo mundo faz escolhas o tempo todo, cada um escolhe o que quer para a sua vida. O problema é quando você não consegue enxergar um pouco mais à frente, o problema é quando seus amigos são babacas ou fracassados ou radicais ou sem noção ou piores que você - ou tudo isso junto (a repetição do "ou” foi proposital, para dar ênfase). Aí, se você não tiver um rumo SEU, você corre o risco de jogar fora, de desperdiçar as suas qualidades e sua inteligência. E adotar o rumo deles.
 
Jorge Paulo Lemann, o sujeito mais rico do Brasil atualmente, disse o seguinte: “pense alto, queira o melhor, pois o trabalho para conseguir isso é quase o mesmo de você pensar pequeno”.
 
E eu acrescentaria: Mas tem que ralar, estudar e se preparar, pois, a menos que o cara seja um gênio, inteligentíssimo (e a maioria das pessoas não é), as oportunidades de progresso e riqueza neste século XXI são canalizadas para aqueles que metem a cara nos estudos, até se formar na universidade.
 
Isso não é uma verdade absoluta, lógico, mas, hoje, as chances de ganhar excelentes salários surgem majoritariamente para quem se dedicou a estudar – e estudar muito. E quanto menos educação formal as pessoas têm, mais terão que se contentar com trabalhos pouco qualificados (que sempre foram pouco remunerados – e continuarão sendo). É isso.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

POEMA EM LINHA RETA - ÁLVARO DE CAMPOS (FERNANDO PESSOA)

Antes da reverência de hoje, preciso dizer que não conheço nada ou quase nada da obra dos que são homenageados nesta seção. Só conheço “moléculas”, “farelos” do que esse pessoal escreveu. Apenas fiquei fascinado pelos fragmentos que li. Ou seja, minha cultura é apenas de orelhas de livros.

Então, quando transcrevo um texto de determinado autor, estou só dando a chave, só abrindo a porta de uma casa que desconheço. Quem gostar do ambiente apenas entrevisto, pode, quem sabe, querer entrar e conhecer mais um pouco da obra.

Como é o caso do homenageado desta semana. A reverência de hoje é para Fernando Pessoa, “o mais universal poeta português”. A curiosidade é ter ele criado mais de 70 personagens para escrever seus textos. O texto escolhido é um poema incrível (que me faz lembrar de algumas pessoas que conheço pessoalmente) escrito por Álvaro de Campos, um de seus heterônimos mais famosos.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

terça-feira, 15 de julho de 2014

VIVA A TOSCANA!

GENTLEMAN
Os 1,7 leitores deste blog que não me conhecem talvez se espantem com minha falta de modos, com minha linguagem estilo carroceiro. Já os 2,3 que me conhecem pessoalmente sabem que eu sou muito sério. Não apenas "sério", mas sério e gentleman!

Pois é. Essa seriedade e finesse devem-se à minha educação britânica. Podem acreditar! Apesar do meu jeito meio rude, minha educação é tão britânica quanto a do príncipe Charles. Na verdade, estudamos em colégios "tipo" gêmeos, só que ele na Inglaterra e eu, no Colégio Afonso Arinos.

Por conta disso, às vezes até tento me corresponder com ele, lembrar os velhos tempos, mas as correspondências sempre voltam sem terem sido abertas. Só pode ser por causa da minha caligrafia ilegível!

Aliás, isso (a caligrafia, lógico) talvez se deva à genética, pois desconfio que alguns de meus antepassados eram italianos, mais precisamente da região da Toscana. Deve ser por isso que às vezes sou assim, meio tosco.


A TOSCANA É NOSSA!
Tempos atrás, antes de criar este blog, eu tive um espasmo "criativo" e mandei uns sete ou oito e-mails ridículos em um único dia para meu círculo de vítimas (o pessoal de quem conheço o e-mail).

Como ninguém respondeu nada (todo mundo se fingiu de morto e deve ter aproveitado para me marcar como spam), imagino ter feito uma coisa quase parecida com o que o Anastasia fez no governo de Minas, quando deu um choque de gestão. No caso dele, a coisa funcionou!

Só que eu, mais sem noção, devo ter provocado um choque de indigestão (e viva a Toscana!).


COM NOÇÃO
Quem se aventura a ler os posts das seções "SEM NOÇÃO" ou "DIÁLOGOS DE SPAMTAR"  pode estranhar meu estilo mediterrâneo de escrever (da Toscana, pô!!). É que o politicamente incorreto e o escrachado andam de mãos dadas na minha mente. Mas os dois são heterossexuais.



MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4