sexta-feira, 23 de agosto de 2024

SONHOS E PESADELOS

 
Já disse e nem precisaria repetir que meu “regime de sono” está uma loucura. O bizarro nessa história toda são os sonhos-pesadelos cada vez mais enlouquecidos e inesperados. Sonhos e pesadelos com releituras de Deus, deuses, religião e religiões – enredos fantásticos que tento preservar assim que acordo, mesmo sem as cores vibrantes do que foi sonhado enquanto ainda dormia.
 
Outros assuntos que rendem roteiros mirabolantes falam da origem da Vida, do surgimento da Inteligência artificial, da inteligência natural e a sopa alucinógena resultante do “cozimento” de tudo isso em um caldeirão de bruxa – ou fada, dependendo do gosto do freguês.
 
Fada, ou melhor, foda é tentar criar um texto minimamente atraente, tal como parecem ser os sonhos-pesadelos. Acabei de acordar acreditando que a hora exibida no despertador (0h50) seria 5h50. E claro, encerrando um sonho tão atraente e tão cheio de associações de ideias simpaticíssimas, que não resisti: arrastei-me até o computador para tentar registrar o que sonhei-pensei (sim, porque nesta fase da minha vida “correr até o computador” é sonho-pesadelo a ser abordado em outra hora). Continuemos.
 
Os leitores que acessam o blog há mais tempo talvez se lembrem de ter lido um comentário transcrito de algum artigo que li e que dizia mais ou menos isto: “Quando a Ciência avança, a Igreja Católica recua”, comentário que eu considero elogioso, por demonstrar que a Igreja Católica não é tão dogmática e resistente a mudanças quanto outras igrejas e religiões. Pode demorar séculos, mas a Igreja Católica admite rever suas crenças quando desmentidas pela Ciência. Um exemplo é a reabilitação de Galileu Galilei em 1992, quando o Papa João Paulo II reconheceu os erros cometidos pelo tribunal da Inquisição que o condenou.
 
Pode parecer pouco, ridículo ou desnecessário fazer isso passados tantos anos do imbróglio ocorrido, mas nem todas as igrejas cristãs compartilham a mesma abertura para revisar suas tradições e interpretações teológicas em face de novas descobertas da Ciência. Algumas denominações mantêm uma interpretação mais literal das escrituras e resistem a mudanças, mesmo diante de evidências científicas.
 
Pensei em dizer que a crença no que um mala fala e vomita é um exemplo desse fundamentalismo, mas achei melhor deixar uma mala sem alça pra lá. Porque o sonho que eu tive é muito mais interessante (para mim, pelo menos). E o sonho juntava Deus e o Big Bang.
 
Também já disse várias vezes aqui no Blogson que devo ter o “gene da religiosidade”, pois, mesmo já tendo me declarado um “ateu católico” ou “católico ateu”, vira e mexe publico coisas sobre religião e temas correlatos, mesmo que não sejam textos muito “canônicos” (a verdadeira estrela de Belém, a autenticidade do Sudário de Turim, a idade provavelmente real de Jesus ao ser crucificado, só assuntos que fazem os demônios, ou melhor, os neurônios trabalhar um pouco mais). Até sobre a existência ou não de Deus, de deuses.
 
Porque eu não tenho a certeza que algumas pessoas demonstram ter quando dizem coisas como “é claro que Deus existe!” Não há nada claro, cara-pálida. Não há certeza, há crença ou descrença.
 
Crer em Deus, para mim é uma sorte, uma benção, necessária e desejada quando o bicho está pegando. Pode ser um pensamento idiota ou interesseiro, mas é reconfortante você pedir a ajuda de Deus ou de deuses ao descobrir ser portador de uma doença gravíssima, terminal ou estar prestes a fazer uma cirurgia de altíssimo risco. Nessas horas, meu caro ateu, o medo e a angústia podem ser atenuados.
 
Durante o sonho-pesadelo que acabei de ter, a pergunta que ia e voltava em minha mente – tal como aquelas notícias curtas que ficam circulando na parte inferior dos telejornais enquanto o âncora lê ou comenta a notícia principal – era daquele tipo em que a resposta é “Sim” ou Não”, pouco importando qual delas é a correta, porque não há certeza absoluta sobre o motivo da pergunta, que trata da existência de Deus.
 
Deus existe ou não existe? Uma pergunta tão simples com apenas duas possibilidades de resposta me fez escrever até agora quase uma Bíblia nesta introdução. O problema é que eu falo muito, sou prolixo – ou pró lixo, como alguém já disse. Eu sou aquele cara que quando alguém pergunta como vou, eu explico. Em outras palavras eu sou daqueles que falam pelos cotovelos, pelo rabo, pela bunda, igual a papagaio de puta, igual a pobre na chuva, como locutor de festa de rodeio ou leiloeiro durante um leilão de carros usados. Em resumo, pra caralho. Isso significando também que sou chato pra caralho
 
Talvez eu esteja ajudando alguém com insônia crônica a dormir ao ler esta baba cósmica, mas agora eu respondo: sim, eu creio na existência de Deus, talvez não “o início, o fim e o meio” cantado pelo Raul, mas uma crença amparada pela teoria do Big Bang. Lembrando o que disse no início deste texto, eu creio em tudo o que não foi ainda contestado, comprovado ou explicado de forma inquestionável pela Ciência (neste caso específico, talvez nunca seja).
 
Detalhando: a teoria do Big Bang diz que a criação ou surgimento do Universo aconteceu há cerca de 13,8 bilhões de anos a partir da expansão violenta de um aglomerado de partículas quentes, luz e energia num único ponto, a que deram o nome de “Singularidade”.
 
Agora pensem comigo: se essa teoria – mesmo que aceita pela maioria da comunidade científica – já é controversa, o que se pode dizer sobre Dona Singularidade? O que havia antes do não-tempo, do não-espaço? É aí é que entra a minha visão pessoal: eu creio piamente no Big Bang, mas a noção de “Singularidade” mexe comigo, um ateu-católico juramentado, pois seria a manifestação da existência de Deus.
 
Eu gosto muito da visão lírica sobre a criação do “mundo” descrita no primeiro capítulo do Gênesis e escrita por sujeito rude que viveu há milhares de anos. O cara tinha a manha!, pois registrou que No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita”. Alguns dizem que foi Moisés o autor dessa proeza, mas há um consenso entre os estudiosos de que esse insight ocorreu bem antes. Pouco importa, olha o Big Bang intuído de forma poética por alguém que viveu na “aurora da civilização”!
 
Em resumo, o “Fiat Lux” bíblico seria a explicação religiosa do Big Bang. O que Deus fazia antes do Big Bang não é da minha conta, mas para mim foi Ele quem deu início a essa zorra a que chamamos de Universo. Essa é a minha crença, até que alguém me convença do contrário.
 
E agora vamos voltar a dormir, pois o relógio já marca 02h34 e eu preciso dormir! Boa noite.

 

7 comentários:

  1. A Marreta do Azarão23 de agosto de 2024 às 11:12

    Não precisa publicar, estou só respondendo ao seu comentário na minha última postagem. E não é que alguns alunos da OZZAM! acharam a postagem e até comentaram? Não sei como isso aconteceu, afinal eles se formaram no ensino médio em 2008 e o blog só surgiu em 2009. Desconfio que algum aluno de turmas posteriores a eles, como o GRF, por exemplo, possam ter lido e encaminhado. Dá lá uma olhada.

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    1. Rapaz, tenho certeza de que suas qualidades como professor nunca dimunuiram, deve se alegrar com essas lembranças. Mas, mudando de assunto, não vai gozar a cara do Lula/ Celso Amorim depois do recado da juíza venezuelana? Estou a fim de fazer isso, mas totalmente sem tempo.

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    2. A Marreta do Azarão23 de agosto de 2024 às 16:35

      Não estou sabendo de mais esse episódio, não. Vou dar uma olhada.

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  2. As madrugadas são ótimas para a gente escrever, e para quem tem insônia é mais uma oportunidade para criar. Muito legal!

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    1. É que você não sabe que ainda há uma terceira parte, mas estou até com medo de registrar o que me lembro das maluquices da noite agitada que tive. É uma utopia distópica ou distopia utópica (um pouco de cada coisa, entendeu?). Mas vai demorar.

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  3. Parabéns pelo texto. Considero um "achado" pra mim, em virtude de minha mente sempre travar quando penso sobre o antes do Big Bang.
    Pra mim é inconcebível a ideia do "nada". Pois mesmo o nada deveria ter um motivo de existência. O que vai me acalmar a partir de agora, é refletir sempre em suas palavras: "Não é de minha conta o que Deus fazia antes do Big Bang".
    Sensacional Sr J.B., pra mim uma aula!

    Pé Vermelho Paraná

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    1. Obrigado, Alison, mas lembre-se que o texto reflete apenas a opinião ou desejo de quem foi aos poucos perdendo a fé nos ensinamentos religiosos recebidos durante a vida. De toda forma, se está bom para você, OK.

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