quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O CACHORRO E AS CINZAS

 
No último domingo, uma amiga me contou duas histórias tão pitorescas e divertidas que senti a necessidade de registrá-las.
 

O SORRISO TRISTE DO CACHORRO 
Um grupo de amigos resolveu passar o fim de semana na fazenda de um deles. Viajaram já anoitecendo. Depois de desfazer as malas e escolher os quartos, resolveram tomar umas cervejas, assar uma carne e jogar conversa fora.

Algumas cervejas depois, uma das presentes apontou para o vira-lata que rondava por ali e disse ao marido:
— Aquele cachorro está sorrindo para mim!
— Para com isso! Já está bêbada? — ele respondeu.
 
Mas ela insistiu, olhando fixamente para o cão, afirmando que ele estava realmente sorrindo. Os demais riram da situação e começaram a oferecer pedaços de carne para o cãozinho. Estranhamente, ele permaneceu quieto, sem se aproximar dos petiscos. Foi então que alguém comentou que o cachorro realmente parecia estar sorrindo.
 
O dono da fazenda chamou o vira-lata, que se aproximou exibindo o olhar mais triste que um cão poderia ter. Notando algo estranho na boca do animal, o dono segurou o cachorro e retirou um pequeno pedaço de couro de boi, em formato ligeiramente triangular, que ele provavelmente tentara mastigar e engolir, sem conseguir. As pontas do triângulo haviam se encaixado nas bochechas do vira-lata, esticando-as e criando um "sorriso" que lembrava o da Hebe Camargo quando ela dizia “Gracinha!” com a boca semicerrada.
 
Enquanto eu ria dessa bizarrice, minha amiga concluiu a história dizendo que livre do pedaço de couro que tentou engolir, o cachorro disparou em direção à lagoa, provavelmente para matar uma sede que já durava mais de um dia.



AS CINZAS DO FALECIDO
Esse caso é muito ridículo, acontecido na mesma fazenda da crônica anterior. O fato é que o proprietário da fazenda, já velho, adoentado e sentindo que o fim se aproximava, deixou clara sua vontade de ser cremado. Além disso, determinou que suas cinzas fossem levadas à fazenda onde passou a morar depois de se aposentar como professor universitário. Deixou também a relação dos lugares onde elas seriam jogadas: varanda onde gostava de ficar modorrando na rede, pomar, lagoa onde gostava de pescar e curral.
 
E assim foi feito. Ou quase isso. A viúva, acompanhada dos filhos, parentes e alguns amigos, decidiu iniciar a distribuição das cinzas pelo curral. Emocionada e amparada em uma bengala, resolveu exaltar a memória do morto, sem prestar atenção em uma vaca que estava por perto.
 
Alguém até comentou que a vaca estava olhando muito para o grupo, mas um empregado tranquilizou, dizendo:
- A Mimosa é mansinha!
 
Podia até ser, mas quando o animal começou a raspar a pata da frente como se quisesse chifrar todo mundo, a situação saiu do controle. O pessoal começou a correr como se fugisse de um touro bravo, enquanto o empregado repetia sem ninguém para ouvi-lo:
- Mas a Mimosa é mansinha, gente!
 
A viúva, que até então liderava a cerimônia com dignidade, ao tentar se salvar, tropeçou na própria bengala e lançou o vaso com as cinzas do falecido pelos ares. E o que deveria ser uma cerimônia solene, cheia de reverência e lágrimas contidas, rapidamente se transformou em um pandemônio de comédia pastelão, com direito a tropeços, gritos e cinzas misturadas à terra do curral.
 
No fim, a viúva, já recuperada do susto, riu junto com todos, e em meio às gargalhadas, alguém ainda exclamou:
- Culpa da Mimosa!


 


3 comentários:

  1. Eita, e senta que já vem história....hahh cinzas voando e Mimosa atacando. Hilário.

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  2. Adorei. Se eu fosse o defunto das cinzas, riria muito.

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  3. Eu ri muito com esse seu post hahaha

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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4