sábado, 30 de março de 2024

NÃO DEU NO NEW YORK TIMES

 
Vi no site da revista Galileu uma reportagem com este tema:

Idade média dos brasileiros ao morrer varia de 57 a 72 anos a depender da capital brasileira. Os dados constam do primeiro Mapa da Desigualdade entre as capitais brasileiras, lançado nesta terça-feira (26/03) pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS), na capital paulista.

A expectativa de vida em capitais brasileiras varia 15 anos, de 57 a 72 anos. A idade média ao morrer de moradores de Belo Horizonte ou Porto Alegre, por exemplo, gira em torno de 72 anos. No entanto, para quem mora em Boa Vista a idade média ao morrer é bem inferior, em torno de 57 anos.
 

Por ter nascido e morar em BH, dá alguma satisfação e até uma pitada de orgulho ler esta notícia, pois se eu morasse em Boa Vista eu já estaria "devendo cemitério", como dizia meu sogro.
 
Mas a minha alegria logo se desfaz quando lembro que no próximo mês de junho completarei 74 anos de vida (mais ou menos) loca. Isso significa - como dizia um cunhado já falecido -, que eu estou “na tábua da beirada”.

Te cuida, Jotabê!

sexta-feira, 29 de março de 2024

CUNEIFORME

 
Você já parou para pensar qual foi a maior conquista da humanidade? Talvez você diga “não”, por ter mais o que fazer, por estar focado no trabalho ou no desenvolvimento pessoal, por ser avalista de um cunhado desmiolado, por aí. Por ser aposentado “raiz”, daqueles que não fazem porra nenhuma, eu dei-me ao luxo de pensar nesse assunto.
 
Para começar, tentei identificar as maiores conquistas para depois decidir qual delas – na minha opinião! – seria a maior de todas. E a lista que fiz foi esta: a conquista do fogo, a invenção da roda, a domesticação de animais e a invenção da escrita. Só pesos pesados, concordam?
 
Entendo ser difícil determinar uma única "maior conquista" da humanidade, mas eu não estou aqui para escrever um tratado de antropologia ou coisa semelhante. Meu negócio é só exercitar o cérebro e – com muita sorte – divertir as cinco ou seis pessoas que acessam este blog. Vamos lá.
 
A conquista do fogo pode ter sido crucial para a evolução do sapiens, ao permitir o cozimento de raízes e alimentos de difícil digestão. Permitiu também uma maior proteção contra predadores, aqueceu e iluminou as cavernas utilizadas pelos primeiros humanos. Mas fico pensando que mesmo sendo uma conquista fundamental, foi mais fruto do acaso, foi mais um insight que um processo refletido, pensado, criado. Até hoje nossos primos primatas não utilizam o fogo e estão muito bem, obrigado.
 
A domesticação de animais colocou o filé à parmegiana ao alcance da mão e facilitou o transporte de cargas mais pesadas que os escravos conseguiam suportar, além de agilizar o contato de um ponto a outro. Se o Pheiddipedes tivesse um cavalo ele não precisaria correr 42,195 quilômetros nem ter caído duro depois de correr a mesma distância de volta entre Esparta e Atenas. Claro, nem teria inspirado a criação da prova mais longa do atletismo moderno.
 
Mesmo que a invenção da roda tenha revolucionado o transporte e permitido a construção de veículos cada vez mais sofisticados e especializados, nunca é demais lembrar que os povos andinos não utilizavam a roda a não ser quando escorregavam e desciam rolando por aquelas pirambeiras.
 
E chegamos à invenção da escrita pelos sumérios, um povo que criou há 6.000 anos a mais antiga das civilizações, uma civilização que além da escrita cuneiforme, desenvolveu métodos eficientes de irrigação, de construção e sistemas numéricos e de medição. A divisão da hora em sessenta minutos e do minuto em sessenta segundos veio de lá.
 
Mas o que realmente me encanta e fascina é a invenção da escrita, por ser um “luxo” teoricamente dispensável. Para mim, o criador desse “luxo” de 6.000 anos está seguramente entre os maiores inventores da história da humanidade, pois a escrita não é um produto de primeira necessidade (como atestam as redes sociais de hoje). É uma invenção sofisticada que deve ter merecido muita dedicação e inteligência para ser imaginada e desenvolvida. Quem a desenvolveu elevou-se acima da vulgar realidade cotidiana para criar uma forma de registrar genealogias, operações comerciais, preces e lendas.

E é para esse gênio do passado que eu – que escrevo cada vez pior, que cada vez mais agrido a gramática, esqueço palavras e atropelo a concordância – que eu respeitosa e carinhosamente rendo minha homenagem por ter sido o primeiro (outros, em outras línguas fizeram depois o mesmo) a criar a maior conquista da humanidade.
 

quarta-feira, 27 de março de 2024

VIÚVAS DE MARIDO VIVO

 
Talvez por ter achado muita graça do medo de ser preso do nosso ex-pres, que o levou a passar dois dias na embaixada da Turquia, lembrei-me de um caso contado por minha mulher.
 
Um dia, durante uma conversa despreocupada, uma de suas amigas desmistificou a ideia da “adorável mãezinha”:
- Minha mãe sempre foi uma pessoa má; não é porque envelheceu que se tornou boazinha, ela sempre foi ruim!
 
É interessante observar como a maioria das pessoas reage diante de uma velhinha enrugada, encurvada e sorridente. Para os mais jovens uma idosa assim é vista como a personificação da bondade, da santidade. Como diria alguém que conheci, “é porra nenhuma!”
 
Assim são as “viúvas” do Bolsonaro, assim foram as “viúvas” do Lula enquanto ele esteve preso. Aparentam ser amistosas e cordiais, mas nem sempre são. Cheias de rancor, parecem nunca se conformar com a “perda” de seus ídolos. Fecham a cara, emburram e ficam de mal, bastando para isso que alguém mais sensato e menos radical critique ou faça piadas sobre as atitudes condenáveis de seus mitos. “Viúvas” que parecem minimizar ou relativizar as más qualidades ou intenções daqueles que idolatram.
 
Essas pessoas me fazem lembrar das velhinhas que, com terço na mão, participaram no longínquo ano de 1964 das gigantescas marchas da “Família com Deus pela Liberdade”, sem saber que a primeira coisa a acontecer seria justamente a perda da Liberdade.
 
Sempre achei patético esse tipo de comportamento anestesiado dos radicais de direita ou de esquerda e a única coisa que consigo sentir é pena dessas “velhinhas”, dessas “viúvas de marido vivo”.

terça-feira, 26 de março de 2024

DEU NO NEW YORK TIMES

 
DEU NO NEW YORK TIMES
 
No dia 25 de março o jornal homenageado pelo Jorge Benjor publicou a seguinte notícia:
 
On Feb. 8, Brazil’s federal police confiscated former President Jair Bolsonaro’s passport and arrested a pair of his former aides on accusations that they had plotted a coup after Mr. Bolsonaro lost the 2022 presidential election. 
Four days later, Mr. Bolsonaro was at the entrance to the Hungarian Embassy in Brazil, waiting to be let in, according to the embassy’s security-camera footage, which was obtained by The New York Times. 
The former president appeared to stay at the embassy for the next two days, the footage showed, accompanied by two security guards and waited on by the Hungarian ambassador and staff members. Mr. Bolsonaro, a target of various criminal investigations, cannot be arrested at a foreign embassy that welcomes him, because they are legally off-limits to domestic authorities. 
The stay at the embassy suggests that the former president was seeking to leverage his friendship with a fellow far-right leader, Prime Minister Viktor Orban of Hungary, into an attempt to evade the Brazilian justice system as he faces criminal investigations at home. 
The Times analyzed three days’ worth of footage from four cameras in the Hungarian Embassy showing that Mr. Bolsonaro arrived late on Monday, Feb. 12, and left the afternoon of Wednesday, Feb. 14. In between, he mostly stayed out of sight. 
The Times verified the footage by matching it with images of the embassy, including satellite imagery that showed the car in which Mr. Bolsonaro arrived parked in the driveway on Feb. 13.
 
Que em língua de gente significa:
 
Em 8 de fevereiro, a polícia federal do Brasil confiscou o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro e prendeu dois de seus ex-assessores sob acusações de que haviam planejado um golpe após o Sr. Bolsonaro perder a eleição presidencial de 2022. 
Quatro dias depois, o Sr. Bolsonaro estava na entrada da Embaixada da Hungria no Brasil, aguardando para entrar, de acordo com as imagens das câmeras de segurança da embaixada, que foram obtidas pelo The New York Times. 
O ex-presidente pareceu permanecer na embaixada nos dois dias seguintes, mostraram as imagens, acompanhado por dois seguranças e atendido pelo embaixador húngaro e membros da equipe. O Sr. Bolsonaro, alvo de várias investigações criminais, não pode ser preso em uma embaixada estrangeira que o acolhe, porque elas são legalmente proibidas para as autoridades domésticas. 
A estadia na embaixada sugere que o ex-presidente estava buscando usar sua amizade com um líder de extrema direita, o primeiro-ministro Viktor Orban da Hungria, para tentar escapar do sistema judiciário brasileiro enquanto enfrenta investigações criminais em casa. 
O Times analisou imagens de três dias de quatro câmeras na Embaixada da Hungria, mostrando que o Sr. Bolsonaro chegou tarde na segunda-feira, 12 de fevereiro, e saiu na tarde de quarta-feira, 14 de fevereiro. No intervalo, ele ficou principalmente fora de vista. 
O Times verificou as imagens comparando-as com imagens da embaixada, incluindo imagens de satélite que mostravam o carro em que o Sr. Bolsonaro chegou estacionado na entrada em 13 de fevereiro.
 
 
E DEU NA IMPRENSA BRASILEIRA
 
Em fevereiro de 2024 os diversos órgãos da imprensa noticiaram que o O general Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa do governo de Jair Bolsonaro (PL) chamou o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, de “cagão” ao saber que ele não aceitou participar do suposto plano de golpe de Estado.
 
 
COMENTÁRIO
 
Que posso dizer sobre essas duas notícias? Na minha opinião, O Braga Neto pode até ter usado a “munição” correta, mas acho que apontou para o "alvo" errado, concordam?.
 

segunda-feira, 25 de março de 2024

PREGABALINANDO UMA HISTÓRIA

  
Como já disse algumas vezes, eu gosto de contar histórias e “causos”, mas sou péssimo para imaginar enredos. Por isso minhas histórias são relatos do que vi, ouvi ou protagonizei. E este é mais um caso do tipo.
 
Talvez os seis leitores mais ou menos frequentes deste blog saibam que tenho andado muito cansado e mentalmente esgotado por impossibilidade de ter um sono contínuo, reparador. Ao contrário, meu sono tem sido fatiado em períodos de três, duas e até uma hora.
 
Por isso, para relaxar, pensei em pedir ao ChatGPT para escrever uma história mirabolante, sem pé nem cabeça. Mas o resultado foi um desastre, pois era uma história bobinha falando de uma cidade no meio do deserto onde os pássaros tinham asas de prata e as árvores cresciam de cabeça para baixo. Havia ainda chuvas de pirulitos, nuvens de algodão doce, unicórnios malvados e todo tipo de idiotices mais adequadas a uma história para crianças de seis anos.
 
Decepcionado e puto com o resultado, resolvi escrever minha própria história com alguns dos personagens da bobagem original. E aí fui desconstruindo algumas situações. Cidade no meio do deserto é quase um clichê; por que não um deserto no meio da cidade?
 
O anel de edificações foi uma consequência óbvia que me levou ao nome dado à cidade - As-ovdeuolde” (ou “ass of the world”) e cu do mundo, seu apelido carinhoso. O nome oficial do Mineirão é Estádio Magalhães Pinto, do Maracanã é Mario Filho, mas alguém se lembra dos nomes oficiais?
 
E continuei inventando idiotices trocadilhos de quinta série e quinta categoria, que é o tipo de humor que mais gosto de ler e de tentar fazer. Mas eu precisava definir como tinha chegado àquela cidade esquisita.
 
Foi aí que surgiu a pregabalina, medicamento que minha mulher tomou para combater a dor intensa que sentia. Mas começou a delirar tanto que, deitada na cama, ficava tentando pegar alguma coisa no ar. Acreditando que estava falando com nosso filho mais novo, perguntou-me onde estava o Zé (eu). Todos achamos graça dessas pirações, mas logo abandonamos esse remédio com várias indicações, mas totalmente do capeta.
 
E foi delirando que visitei aquela cidade alternativa. Precisando também de alguma coisa menos “insensata” para fechar a história e sair da alucinação, resolvi transcrever um pequeno trecho do Livro do Apocalipse, escrito por quem estava bêbado ou drogado, e finalizei com os versos da música Alucinação, do do Belchior. Por isso não há como criar outras histórias delirantes.

domingo, 24 de março de 2024

PREGABALINA

Como eu estava esguichando ansiedade, alguém recomendou que eu usassse pregabalina. Até pensei que seria uma pomada com propriedades, digamos, anestésicas, mas não era. Era um danado dum comprimido que provoca alucinação. E mesmo que meu nome não seja Belchior eu viajei na maionese, uma viagem que me levou a uma cidadezinha sui gênero.
 
A cidade não fica no meio de um deserto, é o deserto, um deserto de idéias e areia que fica no meio da cidade. E por detestarem areia sem praia, nem mesmo para a prática de vôlei de praia, os habitantes foram edificando seus prédios em torno do deserto. E esse anel é tão perfeito que as autoridades com aquela velha mania de homenagear desconhecidos que ninguém conhece resolveram dar à cidade que se chamava Nada o pomposo nome de As-ovdeuolde, um brilhante cientista local, morto ao fazer sua primeira experiência. Mas os moradores, graças ao anel urbanístico assim formado, chamam sua cidade – mesmo que ela nunca venha – de cu do mundo.
 
Por ser uma cidade com pouca renda e outros aviamentos, os autoritários resolveram transformá-la em um polo turístico para esotéricos, hippies velhos, bichos-grilos, tilelês, maconheiros, loucos mansos e todo tipo de gente que sonha com um mundo para chamar Dirceu.
 
A primeira providência foi chamar uma moradora com dotes artísticos, para pintar um trecho da borda do deserto, um arco de circunferência. Mas a tinta escolhida acabou e a artista se viu forçada a usar várias cores para realçar o arco. E o resultado ficou tão expressivo que os moradores mandaram pintar “Arco da Iris” (Iris era o nome da pintora) em uma placa indicativa do lugar (subjuntiva também). Resolveram também arranjar uns unicórnios para dar mais sorte ao município.
 
O problema é que os unicórnios arranjados eram apenas uns pangarés usando um chifre falso, um corno feito em impressora 3D. Acho que foi daí que surgiu a expressão cornucópia. Arranjaram também uns pássaros sem asa, da família das pombas rolas, só para dar sentido ao ditado de que mais vale um pássaro na mão que dois presos na gaiola. E por serem mansos, muita gente quis pegar as rolas na mão.
 
Para completar as atrações turísticas, arranjaram um sapateiro-cantor que cantarola “tu pisavas nos astros distraída” enquanto costura estrelas em seus sapatos.
 
A cidade conta (e reconta) com um pintor do vento, como ele mesmo se define. Em dias de vendavais e com a ajuda de uma pistola ele joga a tinta para o alto, na esperança que a cidade fique com uma cor local, mas só as roupas nos varais indicam se obteve sucesso ou não.
 
Por sempre viverem no mundo da lua a principal diversão da gentalha que mora naquela cidade é fazer luaus e tomar aluá enquanto admiram seu deserto de ideias.
 
Estava passeando pela cidade quando vi uma estrela que havia caído do céu sobre a terra. Foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo e de lá subiu uma fumaça, como a de uma imensa fornalha, de tal modo que escureceu o sol e a atmosfera. e da fumaça saíram gafanhotos que se espalharam sobre a terra, e foi-lhes dado um poder semelhante ao dos escorpiões da terra.
 
Fiquei tão assustado com aquele meta-delírio apocalíptico (é, porque delírio dentro de delírio ninguém aguenta!), que comecei a voltar para o mundo real, pronto para conviver com a realidade apocalíptica que os meios de comunicação exibem em seus noticiários.
 
Enquanto a consciência ia voltando, comecei a pensar que “a minha alucinação é suportar o dia a dia, o meu delírio é a experiência com coisas reais”. E fim. 

sexta-feira, 22 de março de 2024

MINHA SINA É ME DECEPCIONAR


Em uma de suas últimas entrevistas, Millôr Fernandes soltou uma de suas frases definitivas: “Ninguém que ambiciona o poder deixa de ser um filho da puta! Pode ser um pouco mais ou um pouco menos. Mas o homem de bem, no sentido genérico e universal da palavra “bem”, não ambiciona o poder”.
 
Talvez por isso minha sina seja me decepcionar com os políticos em quem votei e homens públicos que admirei. Sem perder tempo com motivos e comentários, farei apenas uma lista de algumas dessas decepções:
 
José Serra, Joaquim Barbosa, Aécio Neves, Antonio Palocci, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Jair Bolsonaro e, naturalmente, Luiz Inácio Lula:
 
Esse aí deixei para o final, só por causa dos móveis “sumidos” do Palácio do Planalto. No início do ano passado, Seu Lula e dona Janja criaram um barraco porque 261 móveis do Palácio da Alvorada estavam sumidos. Claro, só podia ser culpa do Bozo. Sem apresentar provas, o Lula chegou a afirmar que os ex-ocupantes do Alvorada haviam “levado tudo”. Depois de novo levantamento, descobriu-se que não faltava nenhum.
 
Essa notícia foi divulgada no dia 20 de março de 2024. Seria prova de civilidade se o Lula se desculpasse por qualquer acusação feita sobre isso por ele ou dona Janja ao Bozo no “calor da emoção”. Mas ele ficou caladinho. O problema é que esse levantamento terminou em setembro de 2023!!!!
 
Reconhecer que errou é sinal de grandeza de espírito. E ele teve tempo para isso. Cadê a transparência, Lula, onde está a humildade de reconhecer que se precipitou? Como bem ensinou J. Cristo, "todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado" (Lc 14:11).
 
E eu, que votei nele, não poderia ficar mais decepcionado. Se ele se finge de morto por causa de alguns móveis usados, como poderei confiar nele em assuntos mais importantes? 
 

quinta-feira, 21 de março de 2024

A EPOPÉIA DE GILGAMESH

 
Vocês, jovens leitoras e leitoras, já ouviram falar de Gilgamés ou Gilgamech? E Ut-napisti ou Utnapishtin? Até alguns anos atrás eu não conhecia e creio que pouquíssimas pessoas já ouviram falar deles. Sem querer bancar o gato mestre – até por ser esta uma expressão muito antiga -, os dois nomes citados pertencem à que é considerada a mais antiga obra literária da humanidade, escrita pelos sumérios há mais de 4.000 anos.
 
Não vou dar spoiler, mas o trecho do “livro” que fala de Ut-napisti é tão surpreendente que me deixou pirado ao tomar conhecimento dessa história. Anos depois, mais precisamente em 07/02/2015, publiquei um post com o trecho que me deixara chapado. Então, poderá perguntar o leitor ou leitora mal humorada, para que publicar outro post sobre "mais do mesmo"?
 
E eu vos direi que o motivo foi ter descoberto na internet o texto completo da “Epopéia de Gilgamesh”, que será meu próximo livro a ser encarado. Afinal, uma história de mais de 4.000 anos merece um mínimo de deferência. Em outras palavras, é uma obra “preferencial”, assim como eu.
 
Deixando a goma de lado, se alguém quem quiser se encantar com a história de Ut-napisti basta seguir este link:


terça-feira, 19 de março de 2024

A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
 
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos feito de queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
 
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
 
– Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.


(Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988)

ME CANSEI DE LERO LERO

 
Cansei. Literalmente, cansei. Ao ser criado, o Blogson era um refúgio alegre, bem-humorado e despreocupado, onde eu desovava meu humor de quinta série, meus desenhos de jardim de infância e todo tipo de besteirol que surgia em minha mente. Infelizmente, não é mais.
 
Hoje, cada vez mais decepcionado com as pessoas, com os políticos, com a política, fui ficando amargo, rançoso, velho, envelhecido. E isso fez meus comentários e textos estacionarem em um nível que não me agrada. O que eu tinha para dizer de interessante ou engraçado está contido nos posts mais antigos, não nos mais recentes (esta é uma dica de leitura).
 
Dizem que política é a arte do possível, mas, se isso for verdade, o Brasil está ferrado, porque os políticos e homens públicos brasileiros são uma fonte inesgotável de decepções, tristeza e desânimo para os eleitores que não estão chumbados no concreto das ideologias. Pelo menos no Brasil, a política e os políticos são o buraco negro das ilusões perdidas.
 
Até agora, eu ainda me dispunha a comentar em outros blogs visões diferentes das minhas, mas a não divulgação de alguns desses comentários mostrou que pouco importa o que eu penso e digo; o que realmente importa é o que digo em sintonia com o autor do texto que me dispus a comentar. Ora, se isso é verdade, para que comentar alguma coisa? Não quero aplaudir de graça qualquer idiotice publicada. Melhor é tomar sorvete, ler um livro, dormir à tarde. Ou, como disse Torquato Neto, o bom é “desafinar o coro dos contentes”.
 
Por isso, decidi que a partir de hoje não comentarei mais nada em nenhum dos blogs que ainda tenho paciência de acessar. E vou fazer uma confissão: muitas vezes eu fiz comentários sem nenhuma vontade, só para provocar uma reação igual nos posts qye publiquei. Em outras palavras, eu me prostitui emocional e intelectualmente ao fazer comentários que não tinha a mínima vontade de fazer, só para conseguir maior acesso ao Blogson. Por isso, a partir de hoje, os 2,3 leitores desta bagaça ficam desobrigados de fazer qualquer tipo de comentário no blog da solidão renovada (ou ampliada).
 
Outras mudanças ainda acontecerão, mas, por enquanto, isso já basta.
 

segunda-feira, 18 de março de 2024

RESPOSTA GRANDE...

 
Que o mundo, apesar de lindo, sempre foi um lugar ameaçador para se viver, talvez pouca gente ignore. Oculta em suas paisagens estonteantes sempre existiu uma ameaça natural à espreita. Lindo com um tigre e, como ele, extremamente perigoso. E foi nesses ambientes que a espécie humana desenvolveu suas técnicas de sobrevivência, sua esperteza, oportunismo e violência.
 
Infelizmente a seleção natural errou a mão e o acaso fez também surgir a crueldade, a ambição, a intolerância, a crendice, a maldade e o sadismo, transformando-nos na espécie animal mais desprezível e perigosa já criada.
 
Um dos dois leitores desta bagaça pode estar se perguntando por que eu me intoxico tanto com overdoses de leite com toddy (gelado, por favor), mas eu explico. O Blogson tem uma "cláusula pétrea" que estabelece que “resposta grande vira post”.E já disse que não mais queria falar de política neste blog, mas vou usá-la só para fazer onda.

Tudo começou com minhas ironias, críticas e comentários às duas mais recentes publicações que li no blog “A Marreta do Azarão”. A mais fresquinha trata do lançamento (é isso mesmo, não é fake news?) do perfume “Jair Bolsonaro” (que mau gosto!).
 
Para quem não sabe, o titular desse blog é o que mais se aproxima do que entendo por “amigo virtual”. Não somos, claro, pois ele já me “cancelou” em seu blog por divergência de pensamento ideológico (vejam vocês!), enquanto eu nunca o excluí - talvez porque a sina dos moderados é tentar entender os radicais. E ele é. Mas tive também o azarão de admirar seus dotes literários, sua ironia e seu sarcasmo.
 
Por isso e só por isso, mesmo não tendo nenhuma simpatia pelo PT, às vezes comento seus libelos inflamados contra o atual presidente (já está no trigésimo) ou faço provocações que o deixam enfurecido. O problema é que às vezes ele erra a mão e sai um PraTo mal cozido ou mal temperado, como o mais recente. E é nessas ocasiões que eu cutuco a vara com onça curta, tentando avacalhar seu raciocínio intoxicado. E foi o que aconteceu com o post do “perfume” a ser lançado.  Transcrevendo o comentário e a réplica:
 
Não consigo deixar de achar graça do ato falho (ou fálico) do perfumista ao dizer "Eu dei tudo de mim". Mas, para mim, a "identidade olfativa" correta seria cheiro de pólvora e de golpe. Sem nenhuma elegância.
 
Vejo que a idade não lhe roubou o olfato, ele continua aguçadíssimo, tanto quanto delirante, afinal, consegue sentir o cheiro de um golpe que não aconteceu e o da pólvora de tiros que nunca foram dados.
Curioso que esse seu faro de sabujo não tenha captado o cheiro de morte e de sangue nas mãos do PT nos casos Celso Daniel, Eduardo Campos, Teori Zavascki e, mais recentemente, Mariele Franco etc, quando votou no "moderado", no mafioso que reocupa o Planalto.
 
O divertido nessa história é perceber que o comentário do Marreta valida uma “lei comportamental” que eu criei e que chamei primeiro de “Lei de Smurf” (para brincar com a sonoridade da “Lei de Murphy” e renomeada depois para “Primeira Lei de Jotabê) e cujo enunciado é este:
 
Se você criticar a atitude de alguém, sempre encontrará quem tente amenizar ou justificar o comportamento da pessoa criticada com fatos e argumentos que nada tem a ver com o objeto da crítica.
 
Eu estava ironizando o perfume do odioso Bozonaro e você vem com acusações ao PT! Mas fique tranquilo, meu caro Marreta, vou dizer o que penso do seu comentário. Os assassinatos de Celso Daniel e de Mariele Franco são duas tragédias nacionais que exigem punição exemplar para os mandantes e os executores. Já supor que os desastres aéreos com o juiz Teori Zavascki e o pré-canditato Eduardo Campos atenderam aos planos de poder do PT é (até agora) viajar em mais uma teoria da conspiração.
 
O que penso e creio disso tudo é que o mundo com seu desfile eterno de putins, trumps, maduros, netanyahus, e todo tipo de  idiotas e tiranos de várias nacionalidades e ideologias é uma miséria. A ambição dos homens é uma miséria, a crueldade dos homens é uma miséria, este país é uma miséria, a espécie humana é uma miséria. E essa miserabilidade sempre acabará transformando a vida dos povos do mundo em tragédia, independente de quem estiver no poder.
 

domingo, 17 de março de 2024

VIAGEM

 
Já vejo meus setenta e quatro anos se aproximando, prontos para substituir ou aniquilar os desgastantes setenta e três, vividos com dor, perplexidade e medo. Espero que a nova idade seja mais gentil comigo.
 
Mas não preciso dela para perceber que o tempo passou. E nem me iludo que ele volte apoiado em plásticas que não farei e em cabelos que não tingirei. Amores passados, amigos falecidos, oportunidades desprezadas, nada disso retornará. Não adianta nem é saudável sentir saudade do que passou.
 
Hoje eu me vejo como se estivesse dentro de um veículo em movimento, um avião, um carro, um metrô. O veículo se move, mas eu estou imóvel dentro dele. Não estático, mas parado, quieto. Ele se move, mas eu não. Para mim o tempo em que vivo é o que está dentro do veículo e o nome desse veículo é Presente.

sexta-feira, 15 de março de 2024

SENHA

 
Estou sentado em uma ala do hospital dedicada à ortopedia. Já retirei a senha para atendimento e mantenho os olhos fixos no painel, esperando que meu número seja logo chamado, pois a consulta foi agendada para as 8h e já são 8h07. Não gosto de me atrasar para nada e sou super ansioso. A título de brincadeira, digo que deveria ter nascido prematuro, pois minha ansiedade parece ter surgido antes de mim.
 
Os desconhecidos que também esperam ser chamados sorriem condescendentes. Acordei às 4h, rolei na cama até as 5h, levantei-me, fiz o café e esperei chegar as 6h para ir à padaria comprar o pão nosso de cada manhã. Por isso, a espera para que minha senha surja no painel torna-se um pouco enervante.
 
À minha frente acontece um desfile constante de braços na tipoia, botas ortopédicas, joelhos enfaixados, cadeiras de rodas de vários tipos e tamanhos, pés e pernas engessadas, muletas, bengalas e todo tipo de artefato que minore o sofrimento e desconforto de quem nunca antes tinha precisado desse suporte.
 
Minha senha finalmente é chamada. Apresento a carteira do convênio, assino alguns papeis e espero, espero. Um raio X é pedido, nova senha é tirada e eu espero, espero. Volto ao médico que diz estar tudo bem. pede para já agendar a retirada de pontos “para a próxima semana”. Mais uma senha é emitida e eu espero, espero, espero. A espera é tão longa que muitos desistem de esperar e vão-se embora. Saio do hospital às 11h45. O que imaginava ser apenas uma consulta transformou-se em exercício de resignação e paciência. Gostaria que existisse também uma senha para refazer a vida!

quinta-feira, 14 de março de 2024

FARMÁCIA

Três vezes por dia, duas vezes, uma vez por dia
Em jejum, de manhã, à tarde, ou à noite
Durante sete dias ou em todos os dias
Todos os dias, todos os dias, todos os dias.

Formatos, cores e tamanhos variados 
Pomadas, cremes, cápsulas, pílulas, sprays, ampolas, adesivos
Para dor leve ou moderada, intensa ou neuropática
Náuseas, diabetes, hipertensão, depressão, ansiedade, esofagite
 
Algodão, Allegra, Aradois, Betrat, Colecalciferol
Clorexidina, Deller, Diamicron, Divena, Durogesic, Eliquis
Forxiga, Furosemida, Glifage, Hidratante, Lenço umedecido
Loratadina, Massageol, Metadona, Micropore
 
Milgamma, Miosan, Morfina, Mud, Nesina, Novalgina
 Nutren, Pamelor, Pepsamar, Polaramine, Prednisona
Pregabalina, Qtern, Quetiapina, Restiva, Sanador, Targin
Tramadol, Transtec, Trok G, Tylex e Vonau
 
Fortificantes, vitaminas, complementos, suplementos
Diuréticos, analgésicos, antiinflamatórios, antihistamínicos
Anticonvulsivantes, antialérgicos, antipiréticos, anticoagulante
Anticonstitucionalissimamente. Tirando isso, estamos bem.

terça-feira, 12 de março de 2024

O BESTEIROL VOLTOU!

 
Sabe quantas palavras você precisa conhecer para ser fluente em uma língua estrangeira? De duas mil a três mil. Mas se quiser manter um lero com um escritor, um intelectual, precisa de um vocabulário de até 50.000 palavras.
 
Eu nunca tive essa pretensão, principalmente por tropeçar na minha própria língua. E para passar vergonha no crédito ou no débito é melhor ser monoglota. Estou dizendo isso na esperança que você conheça a fábula da raposa e as uvas.
 
Mas uma situação de que não posso fugir é o fato de estar perdendo vocabulário, justamente aquele adquirido através das leituras que fiz e dos livros que li. Se essa perda continuar a acontecer talvez eu tenha de tomar aulas com minhas netas de cinco e seis anos, que sempre me encantam e surpreendem ao empregar palavras que muitos adultos nem conhecem, como quando uma delas disse para a mãe estar “abismada” com alguma coisa.
 
Ter um bom vocabulário é sinal, portanto de boas leituras e convivência com gente culta e com boa instrução formal. Dito de outra forma, a linguagem que você utiliza é fruto ou influência do meio em que vive.
 
Lá no início do blog eu escrevi um texto brincando com as palavras utilizadas por alguns grupos evangélicos. E disse “brincando” por ter apenas a intenção de fazer rir os “2,3 leitores” do blog. A introdução do post já indicava a motivação: Já notei que os evangélicos da linha neopentecostal apropriam-se de algumas palavras de uso comum e dão a elas uma conotação puramente religiosa. Para acabar com essa mesmice, imaginei uma releitura de algumas palavras “eleitas”. Vê aí:
 
Se alguém se interessar em conhecer esse besteirol o link é este:
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/11/glossario-evangelico.html

Como talvez saibam os cinco ou seis leitores que ainda acessam esta bagaça, fiquei quatro dias confinado dentro de um hospital por conta de uma cirurgia a que minha mulher se submeteu. Nesse meio tempo, já cansado de ler os livros que levei, deixei a mente “devagar” (divagar com lentidão) e pensar besteiras, aproveitando enquanto o cérebro não vira geleia (até já arrumei um apelido para meu cérebro deteriorado: “zéleia”). E aí saíram mais algumas releituras (muito fraquinhas!) de palavras que ouço ou leio nas redes sociais (nestes tempos politicamente corretos preciso deixar claro que não critico a fé de ninguém que as utiliza). Olhaí
 
Apóstolo: Lembra o aviso de um juiz de prova de atletismo ou natação aos competidores – “Todos a póstolos!”
Bispo: Peça de jogo de tabuleiro que só anda na diagonal. Alguns têm comportamentos tão condenáveis que bem mereceriam um xadrez para chamar de seu. Com cadeado pelo lado de fora.
Glória: nome de atriz da TV. Mas também pode ser de cantora: Glória Groove
Livramento: Como todo mundo sabe, é um glorioso município mineiro com população de 43 mil pessoas
Milagres: sobrenome da atriz Gorete, criadora da hilária personagem Filó
Varoa: Imagino que seja a pronúncia lusitana para baroa; batata baroa ou mandioquinha
Varão: Sei não, não curto. Por via das dúvidas vire o varão para outro lado. Eu, heim?
Ungido: Ungido? Eu não sei o que é, só sei que parece com “mugido”. Deve ter alguma coisa em comum, pois tem sempre um pastor “berrante” perto de um mugido (ops, errei, pois o certo é ungido)
 
Pensando bem, talvez tivesse sido melhor continuar sem publicar nada, E, sinceramente, é o que pretendo tentar fazer a partir de agora. 2.820 posts publicados, um tanto excluído, acho que está bom.

 

segunda-feira, 4 de março de 2024

ATÉ O DIA QUE DER

 
Acho que a “aglomerada solidão” em que vivo (usando o verso de Tom Zé) leva-me a querer conversar com alguém que não seja parente. Talvez seja esta a explicação dos posts do Blogson sempre lembrarem uma conversa de doido manso, de quem fala sozinho, com as paredes. Este início já comprova minha suspeita.
 
Não tenho nada para publicar no blog nem sei quando voltarei a publicar alguma coisa, pois esta semana mexerá com minha cabeça e com minha rotina. Precisarei me organizar para arrumar a casa (literalmente) e tomar algumas providências antes de uma cirurgia que está para acontecer (e depois também).

Talvez possa imitar os grandes jornais que ao ter artigos e reportagens censurados durante os governos militares, publicavam receitas de bolo na primeira página. Mas acho que não dará certo, pois já estou meio bolado (jogo de palavras vagabundo!).
 
Gostaria muito que cinco dos seis leitores que ainda acessam este blog em processo acelerado de erosão curtissem as postagens mais antigas do Blogson (o sexto já conhece tudo). As “safras” de 2014 a 2020 são as melhores e mais criativas.
 
Aos que gostam de poesia eu sugiro que acessem o marcador Literatices – versos. Se quiserem rir um pouco (pode ser de pena de mim) sugiro os marcadores Sem noção, Diálogos de spamtar e Produção terceirizada (onde encontrarão mais de dez posts dedicados ao genial Millôr Fernandes).
 
Se quiserem conhecer um pouco da minha história e de meus amigos e parentes o marcador Memória é porto seguro para isso.
 
E se quiserem conhecer minhas experiências com humor gráfico é só acessar o marcador Eu não sei desenhar (
uma das minhas HQs prediletas é Fiat Lux!", uma releitura que fiz da lenda bíblica de Adão e Eva).
 
Então é isso. Até qualquer dia, até o dia que der. See you later, aligator!

domingo, 3 de março de 2024

TRISTE SINA

 
Acabei de ver no canal Arte1 um documentário sobre o cartunista Hergé e seu personagem Tintim (“Tantan”). Hergé desenhou as histórias em quadrinhos do jovem repórter Tintim durante mais de 50 anos. Em algum momento desse tempo – e o documentário destaca isso – sentiu-se escravizado pelo personagem, como mostra o desenho feito por ele: o personagem Tintim está com um flagelo na mão enquanto o autor se esforça para criar as histórias. O que tinha sido prazer havia se tornado uma obrigação.

 
Segundo matéria encontrada na internet, “Hergé dedicou toda a sua vida a Tintim, e nem sempre foi fácil. ‘Tintin sou eu: meus olhos, meus pulmões, meus sentimentos, minhas entranhas!’ ele explicou para justificar por que não queria que mais ninguém continuasse as aventuras de seu personagem principal depois que ele morresse.
 
Mas ele era um homem atormentado, consumido pelo trabalho, preocupado com a espiritualidade e obcecado em alcançar a perfeição - um homem muito mais complexo do que se pensava há muito tempo. E, como muitos grandes artistas, a fama não fez nada para diminuir o seu fardo”.
 
 
Já observei que esse desconforto em continuar fazendo o que os tornou famosos não é uma raridade entre grandes artistas, mesmo que possa ser um sentimento transitório. Em 2016, incomodado pela pouca inspiração para escrever textos atraentes ou engraçados (essa reclamação vem de longe!), escrevi um post de onde tirei trechos que republico aqui.
 
Você sabe o que Joaquín Salvador Lavado Tejon, Henrique de Souza Filho, William B. Watterson II e Arnaldo Angeli Filho têm em comum? Não sabe nem quem são eles? Vou aliviar um pouco: eles são mais conhecidos como Quino, Henfil, Bill Watterson e Angeli. Melhorou agora? Ainda está complicado? Difícil, heim??
 
Esses quatro cavalheiros são os cartunistas que criaram os personagens Mafalda, Os Fradinhos, Calvin e Hobbes (ou Calvin e Haroldo) e Rê Bordosa. Agora, se você disser que ainda está em dúvida, acho que seu negócio é procurar uma revista Caras para ler (folhear, melhor dizendo) ou dedicar-se mais um pouco ao seu grupo de WhatsApp.
 
Falando um pouco mais sério, os quatro cartunistas citados têm em comum, além da genialidade, o fato de em algum momento terem parado de desenhar seus personagens. Quino afirmou que não voltaria a desenhar Mafalda agora porque "os jovens de hoje estão desiludidos e não querem mudar o mundo para melhor, ao contrário da década de 1970, quando nasceu a personagem".
 
Há quem diga que Angeli "matou" a Rê Bordosa porque a popularidade da personagem ficou tão grande "que ela estava perdendo a sua essência e que os editores queriam torná-la produto para a grande massa, tornando sua linguagem simples e estampando-a em lancheiras, cadernos e outros produtos. Sendo assim, o cartunista teria resolvido dar cabo da vida da porra-louca.
 
Henfil ficou meio dividido: primeiro, o fradinho Baixim deu uma banana para os leitores do Pasquim e saiu de cena. O fradinho Cumprido pôde então se esbaldar, até ver que o Baixim tinha voltado. Ao abraçá-lo, vem um caminhão e mata os dois, que param sucessivamente no céu e no inferno, tendo sido expulsos dos dois. Não me lembro mais se continuaram a ser desenhados no Pasquim, pois o Henfil foi para os Estados Unidos, voltou, criou a revista Fradim (com histórias hilariantes dos fradinhos) e morreu.
 
O certo é que em algum momento esses artistas geniais pararam definitivamente de desenhar seus personagens. Cada um teve seu motivo e saber qual foi não vem ao caso. A única certeza é que eram magníficos, reflexivos, engraçadíssimos, sensacionais, sucessos de público e de crítica.
 
Quando criei o Blogson por sugestão de um dos filhos, a primeira coisa que me ocorreu foi aproveitar as toneladas de bobagens que tinha encaminhado para minha família e mais três amigos. Isso até que funcionou, pois me diverti bastante divulgando posts diários, revisando, alterando, descartando, enxugando, ampliando, etc. Até hoje ainda tenho algum lixo inédito. Alguns, jamais poderei divulgar, pois, nesses tempos enjoativamente corretos, correria o risco de ser, no mínimo, execrado, excomungado, admoestado ou até processado. Fazer o que, não é mesmo? "Va', pensiero, sull'ali dorate"!
 
Mas tenho sentido um tédio, um desencanto com os rumos do blog. Me pego pensando sobre o que publiquei e surgem as inevitáveis perguntas: para quem eu escrevo? A quem desejo impressionar? Tenho realmente alguma coisa a dizer? Isso tem alguma relevância? E as respostas que encontro são respectivamente "não sei"; "todo mundo?"; "não" e "não".
 
Diante desse quadro, lembro-me de um texto que encontrei na internet: "Porque eu escrevia já não sei, algo de vaidade, esforço pra ser diferente, ousar o título de poeta, intelectual, deixar marcas na vida quando eu me for. A ideia de ser um cara genial, com ideias avançadas e futuramente escrever no Estado de Minas e aparecer no Jô Soares pode ter funcionado como catalisador... Mas como isso tudo é muito estúpido e sem sentido, penso que acabei por naturalmente perceber que não havia porque escrever". O autor é Rafael Prosdocimi.
 
Deu para perceber onde quero chegar, não é? (se alguém responder "dei", vai pegar mal). Constrange-me dizer, nem minha mulher se interessa mais em ler o velho Jotabê. Talvez porque eu não tenha mesmo nada mais a dizer (se já tive algum dia). Talvez o bom senso esteja com ela.
 
Os "produtos" do blog com melhor aceitação são os textos relacionados às minhas lembranças. Portanto, não adianta forçar a barra, não sei mesmo fazer humor, sou apenas um contador de "causos". O problema é que as lembranças se esgotam!
 
Então é isso: longe de mim querer sequer me aproximar dos artistas geniais que citei neste texto. Porém uma coisa é certa: o que já foi prazer hoje é apenas a manifestação de uma obsessão ou maldição –  a minha sina, a minha triste sina é alimentar o blog com bobagens cada vez mais irrelevantes, porque não consigo dele me afastar (ao contrário dos antigos leitores).

Para melhorar o astral nada como ler um texto engraçado (para mim é!). Por isto, dentro da ideia "pague um, leve dois", sugiro a leitura do post do link a seguir. Espero que gostem, pois até minha mulher gostou!

https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/09/minhas-maos-me-fazem-lembrar-o-chuck.html


sábado, 2 de março de 2024

O CASE DO OCASO

 
Se é verdade que o hábito do cachimbo faz a boca torta eu não sei dizer. Como não fumo e nem tenho cachimbo, só gosto de fazer conta, fazer de conta que meus pensamentos ainda contam. Na falta de casos para contar quis o acaso que eu voltasse minha atenção para a diminuição dos acessos ao blog. Por isso, resolvi analisar a quantidade média de visualizações por post e por semestre. Quem sabe essa análise resultasse em um estudo de case, mesmo que fosse um case de fracasso. E o case revelou ocaso.
 
Não se preocupe caro leitor, estimada leitora, não há erro de digitação, o que há é uma tentativa desesperada de fazer joguinhos de palavras. Não é um caso bom para contar. Este post apenas mostra o ocaso do blog, provado pelas contas que fiz.
 
Para ser sincero, o resultado encontrado deixou-me surpreso pois imaginava encontrar uma curva estatística na forma de sino, indicando que as visualizações tivessem progressivamente aumentado à medida em que foi sendo conhecido, seguido por uma fase de “apogeu” e um declínio provocado talvez pela qualidade decrescente do material postado. Entretanto, não foi isso que aconteceu. Segundo os dados que estou sempre atualizando, a fase áurea do blog aconteceu no primeiro ano de de sua existência e foi decaindo até chegar à média de duas ou três(!!!) visualizações por texto publicado. Esta descoberta dá sentido ao provérbio “Falar é prata, calar é ouro”. E acho que é isso mesmo que preciso vivenciar, aprender, aceitar, garimpar esse ouro.
 
Olha a tendência de queda das visualizações por post, um sinal bastante preciso da falta de interesse e de qualidade que foi afugentando os leitores ao longo dos anos. Quer saber? Vou falar mais nada, porque uma imagem vale mais que mil palavras (hoje há fartura de clichês!). Olhaí.

 




 

sexta-feira, 1 de março de 2024

SÓ FALTA A NOTA FISCAL!

 
Durante muito anos eu ficava sabendo das notícias do “mundo exterior” através da compra diária do jornal de maior circulação em BH e do “Jornal Nacional”. O jornal impresso era lido durante o café da manhã, mas pouco me importava com as manchetes que trazia. Eu sabia da violência e das mazelas do mundo, da minha cidade, mas isso não me sensibilizava, pois minha mulher ficava com o primeiro caderno e eu me divertia com o caderno “cultural”, onde lia sobre cinema, livros, filmes, discos e shows.
 
Eu realmente pouco me importava com as desgraças locais ou mundiais que fossem publicadas no caderno principal. Claro que isso revela alienação e muito descaso pelo sofrimento e tragédias do “mundo real”. Na verdade eu vivia dentro de uma bolha confortável, pois ganhava bem, tinha um emprego estável e era bem visto pelos colegas e diretores da empresa onde trabalhava.
 
Um dia a bolha furou e eu tive de abandonar meu comportamento blasé, pois a nova realidade mostrava-se áspera e ameaçadora. Acabei passando em um concurso de empresa pública, cujo ambiente repressor e policialesco me fez odiar cada um dos pouco mais de 4 mil dias em que ali trabalhei até me aposentar.
 
Creio que a saída da bolha começou a provocar e a cristalizar o medo, a angústia, a tristeza e a depressão. Esses sentimentos foram se intensificando até o momento da aposentadoria, mas já era tarde. Eles agora faziam parte da minha natureza, do meu dia a dia. Apesar disso consegui manter o bom humor e o desejo de fazer rir os filhos e amigos. Esse conjunto de sentimentos estava presente na criação do blog.
 
Mas eu não imaginava o que poderia acontecer a partir daí. Meu filho diz que “a internet nos aproximou de gente que antes estava a uma distância segura”. Acho que ele estava certo, mas talvez eu mesmo seja uma dessas pessoas que é bom manter à distância, pois me tornei agressivo, meio paranoico, um “blogadicto”, um viciado em uma droga virtual que é conhecida pelo nome “Blogson Crusoe” Dito de outra forma, eu me transformei de patrão  em funcionário, em escravo do blog.
 
Mas não era disso que queria falar. O que eu estava pensando em dizer é que minha sensibilidade para as mazelas e tragédias do cotidiano germinou, aflorou e cresceu muito, fazendo com que eu cada vez mais perdesse o que restou de bom humor. Hoje eu quase enlouqueço quando vejo em um dos cinco portais de notícias que acesso compulsivamente novas notícias de homens estuprando ou assassinando às vezes com requinte de crueldade suas esposas, companheiras, amantes, namoradas e até filhas, movidos por um senso irracional e doentio de posse.
 
A sensação que fica é que esses criminosos acreditam ter a nota fiscal de compra das mulheres que violam, espancam ou assassinam. Aí eu penso que a maldade humana, o sadismo e a crueldade parecem estar atingindo níveis cada vez maiores, tornando o dia a dia uma sucessão de medos, horror, revolta e dor. Fico me perguntando onde a evolução errou ao fazer surgir na nossa espécie esse tipo de comportamento doentio. Eu sei que a evolução é cega e cumulativa pois deixa progredir o que é funcional para cada espécie, mas que ganho os sapiens tiveram  ao ser capazes de estuprar, assassinar, mutilar ou torturar as mulheres, como se elas fossem uma coisa, uma boneca inflável, um eletrodoméstico com defeito, um produto estragado ou uma embalagem que se amassa e se joga  no lixo?

OLHA O PONDÉ AÍ DE NOVO (FINAL)

 
Eu tinha pensado em transcrever trechos do livro “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” em mais dois ou três posts por ter me divertido muito com a ironia e o sarcasmo destilados no livro por seu autor, o filósofo Luiz Felipe Pondé, mas desisti. Este é o terceiro e último post com trechos extraídos do livro.
 
Mesmo tendo agora mais motivos para me alegrar que entristecer, estou mentalmente cansado e um pouco deprimido. Isso significa que só quero ficar quieto no meu canto e dormir tanto quanto eu conseguir. Por isso, espero e torço para que as seis pessoas que talvez sejam hoje a totalidade dos leitores do Blogson divirtam-se (mesmo sem concordar) com as ponderações venenosas do Pondé.
 
 
Somos basicamente covardes porque a vida é basicamente infeliz
 
Ser mãe solteira só é bonito em novela das oito
 
O politicamente correto é uma forma de ser mau-caráter
 
Em mim, o amor é raro como a virtude de uma mulher louca de desejo
 
Algum sentimento todos nós temos pelo sofrimento dos outros. Mas, se não o virmos, melhor, assim podemos ir ao cinema e jantar fora, porque inclusive, se não fizermos isso, nossos parceiros de vida vão nos achar uns chatos.
 
Nada mais chato do que o medo de não agradar. Não querer agradar é uma das maiores formas de libertação num mundo em que somos obrigados a amar tudo a nossa volta.
 
Ninguém é capaz de tanto amor; amamos, quando muito, nossos familiares (e olhe lá) e umas duas ou três pessoas a mais.
 
A praga PC diz amar toda forma de vítima social, mas isso não passa de marketing. No dia a dia, são canalhas cheios de falso amor. Fizessem uma pesquisa de fato, provavelmente ninguém seria capaz de comprovar tanto amor pela humanidade.
 
Aqui encerro o relato do meu pecado. A praga PC deve ser combatida não porque seja bonito dizer piadas racistas (não é), mas porque ela é um instrumento de (maus) profissionais da cultura, normalmente gente mau-caráter, fraca intelectualmente, pobre e oportunista, para aniquilar o livre “comércio de ideias” ao seu redor, controlando as instâncias de razão pública, como universidades, escolas, jornais, revistas, rádio, TV e tribunais. Nascida da esquerda americana, ela é pior do que a esquerda clássica, porque essa pelo menos não era covarde. A praga PC usa métodos de coerção institucional e de assédio moral, visando calar todo mundo que discorda dela, antes de tudo, tentando fazer dessas pessoas monstros e, por fim, tentando inviabilizar o comércio livre de ideias. Ideias não são sempre coisas “boas”. Às vezes doem.
 
Ao final, a praga PC é apenas mais uma forma enraivecida de recusar a idade adulta e de aniquilar a inteligência. O que ela mais teme é a coragem. Por isso, diz que o povo é lindo quando não é, diz que as mulheres estão bem sozinhas, quando não estão (estavam mal acompanhadas e agora estão pior sozinhas, porque a humanidade é basicamente infeliz e incoerente com relação aos desejos e às expectativas), diz que a natureza é uma mãe quando ela é mais Medeia, nos proíbe de reclamar de gente brega ao nosso redor, mente sobre aqueles que lutaram contra a ditadura (eles não eram muito melhores do que os torturadores se tivessem a chance de torturar alguém), nega a importância da culpa porque é mau-caráter, enfim, não é capaz de reconhecer valor em nada porque nega a própria capacidade humana de fazer discernimento.
 
A praga PC é apenas mais uma face da velha ignorância humana.

 

 

ESTRELA DE BELÉM

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...