sexta-feira, 15 de março de 2024

SENHA

 
Estou sentado em uma ala do hospital dedicada à ortopedia. Já retirei a senha para atendimento e mantenho os olhos fixos no painel, esperando que meu número seja logo chamado, pois a consulta foi agendada para as 8h e já são 8h07. Não gosto de me atrasar para nada e sou super ansioso. A título de brincadeira, digo que deveria ter nascido prematuro, pois minha ansiedade parece ter surgido antes de mim.
 
Os desconhecidos que também esperam ser chamados sorriem condescendentes. Acordei às 4h, rolei na cama até as 5h, levantei-me, fiz o café e esperei chegar as 6h para ir à padaria comprar o pão nosso de cada manhã. Por isso, a espera para que minha senha surja no painel torna-se um pouco enervante.
 
À minha frente acontece um desfile constante de braços na tipoia, botas ortopédicas, joelhos enfaixados, cadeiras de rodas de vários tipos e tamanhos, pés e pernas engessadas, muletas, bengalas e todo tipo de artefato que minore o sofrimento e desconforto de quem nunca antes tinha precisado desse suporte.
 
Minha senha finalmente é chamada. Apresento a carteira do convênio, assino alguns papeis e espero, espero. Um raio X é pedido, nova senha é tirada e eu espero, espero. Volto ao médico que diz estar tudo bem. pede para já agendar a retirada de pontos “para a próxima semana”. Mais uma senha é emitida e eu espero, espero, espero. A espera é tão longa que muitos desistem de esperar e vão-se embora. Saio do hospital às 11h45. O que imaginava ser apenas uma consulta transformou-se em exercício de resignação e paciência. Gostaria que existisse também uma senha para refazer a vida!

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