sexta-feira, 29 de março de 2024

CUNEIFORME

 
Você já parou para pensar qual foi a maior conquista da humanidade? Talvez você diga “não”, por ter mais o que fazer, por estar focado no trabalho ou no desenvolvimento pessoal, por ser avalista de um cunhado desmiolado, por aí. Por ser aposentado “raiz”, daqueles que não fazem porra nenhuma, eu dei-me ao luxo de pensar nesse assunto.
 
Para começar, tentei identificar as maiores conquistas para depois decidir qual delas – na minha opinião! – seria a maior de todas. E a lista que fiz foi esta: a conquista do fogo, a invenção da roda, a domesticação de animais e a invenção da escrita. Só pesos pesados, concordam?
 
Entendo ser difícil determinar uma única "maior conquista" da humanidade, mas eu não estou aqui para escrever um tratado de antropologia ou coisa semelhante. Meu negócio é só exercitar o cérebro e – com muita sorte – divertir as cinco ou seis pessoas que acessam este blog. Vamos lá.
 
A conquista do fogo pode ter sido crucial para a evolução do sapiens, ao permitir o cozimento de raízes e alimentos de difícil digestão. Permitiu também uma maior proteção contra predadores, aqueceu e iluminou as cavernas utilizadas pelos primeiros humanos. Mas fico pensando que mesmo sendo uma conquista fundamental, foi mais fruto do acaso, foi mais um insight que um processo refletido, pensado, criado. Até hoje nossos primos primatas não utilizam o fogo e estão muito bem, obrigado.
 
A domesticação de animais colocou o filé à parmegiana ao alcance da mão e facilitou o transporte de cargas mais pesadas que os escravos conseguiam suportar, além de agilizar o contato de um ponto a outro. Se o Pheiddipedes tivesse um cavalo ele não precisaria correr 42,195 quilômetros nem ter caído duro depois de correr a mesma distância de volta entre Esparta e Atenas. Claro, nem teria inspirado a criação da prova mais longa do atletismo moderno.
 
Mesmo que a invenção da roda tenha revolucionado o transporte e permitido a construção de veículos cada vez mais sofisticados e especializados, nunca é demais lembrar que os povos andinos não utilizavam a roda a não ser quando escorregavam e desciam rolando aquelas pirambeiras.
 
E chegamos à invenção da escrita pelos sumérios, um povo que criou há 6.000 anos a mais antiga das civilizações, uma civilização que além da escrita cuneiforme, desenvolveu métodos eficientes de irrigação, de construção e sistemas numéricos e de medição. A divisão da hora em sessenta minutos e do minuto em sessenta segundos veio de lá.
 
Mas o que realmente me encanta e fascina é a invenção da escrita, por ser um “luxo” teoricamente dispensável. Para mim, o criador desse “luxo” de 6.000 anos está seguramente entre os maiores inventores da história da humanidade, pois a escrita não é um produto de primeira necessidade (como atestam as redes sociais de hoje). É uma invenção sofisticada que deve ter merecido muita dedicação e inteligência para ser imaginada e desenvolvida. Quem a desenvolveu elevou-se acima da vulgar realidade cotidiana para criar uma forma de registrar genealogias, operações comerciais, preces e lendas.

E é para esse gênio do passado que eu – que escrevo cada vez pior, que cada vez mais agrido a gramática, esqueço palavras e atropelo a concordância – que eu respeitosa e carinhosamente rendo minha homenagem por ter sido o primeiro (outros, em outras línguas fizeram depois o mesmo) a criar a maior conquista da humanidade.
 

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