quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

METÁFORA DO JUMENTO E DA VARA

 
Não sou bom analista político. Na verdade não sou bom analista de nada. Sou um jegue, um jumento, sem os atributos físicos desses animais. Por isso, depois de tomar alguns “chega pra lá” por conta de minhas opiniões sobre a política e políticos brasileiros, resolvi falar de minha incapacidade de análise, através de metáfora. Duas, na verdade, esperando pelo menos divirtam os 2,3 leitores desta bagaça.
 
O falecido ator, compositor, cantor e apresentador de TV Rolando Boldrin era um especialista em contar “causos” engraçados e pitorescos. Um deles é a história de um criador de porcos. Que é mais ou menos assim:
 
 
O FISCAL E O CRIADOR DE PORCOS
Um sitiante estava dando comida à sua criação de porcos quando apareceu um fiscal de saúde animal e perguntou o que o caboclo estava dando para a porcada.
- Tô dando o milho.
- Que absurdo, tanta gente passando fome no país e você aí dando milho pros seus porcos! E vou ser obrigado a te multar, pois os porcos precisam de mais variedade de alimentos.

Passado algum tempo o fiscal volta ao sítio do criador de porcos.

- O que é que você está dando de alimentação agora pra sua criação?
- Hoje? Tô dando lavagem. Tudo o que sobra das nossas comidas eu dou para eles. Arroz, feijão, verdura, fruta, casca de batata, casca de banana, tudo o que sobra. Olha como estão comendo com gosto!
- Comida? Onde já se viu? Com tanta fome no país, o senhor joga no chiqueiro comida da gente? Tá multado de novo.

Lavra a multa e vai embora. Passa mais um tempo e o fiscal mala está de volta.

- E então? Como o senhor está alimentando agora seus porcos?
- Pra falar a verdade, não estou dando mais nada para eles.
- Ficou doido? Assim sou obrigado a te multar de novo, por estar deixando seus animais morrer sem ter o que comer. Isso é crueldade animal!
- Pode ficar tranquilo, moço, eles não vão morrer de fome. Agora, diariamente eu dou uma nota de R$10,00 para cada um e eles compram o que quiserem comer. Olha como tá tudo gordinho!
 
 
O VELHO, O MENINO E O BURRO
(fábula antiga apresentada em versos por Olívia Couto)
 
Conta tradição antiga
Que um velho camponês
Precisando de dinheiro
Em certa altura do mês
Manda o filho caçula
Buscar o burro ou a mula
Para vender dessa vez.
 
O menino vem ligeiro
Trazendo o belo burrinho,
Seguiram os três pra cidade
Logo de manhã cedinho
Ninguém montou no animal
Pra ele não dar sinal
De cansaço do caminho.
 
Porém numa curva
Da estrada
Viram um viajante
Que falou: - “Que “besteira”!
O animal vai vazio
E o pobre velho senil
Vai a pé na caminhada”
 
- “Vejam, só, que grande asneira
É promessa ou penitência?”
E o velho lhe deu razão
E foi no burro montando
E o menino  puxando
Na mais pura inocência.
 
E foi dizendo o velhote
- “Só assim ninguém reclama
E tapo a boca do mundo!”
Logo à frente as lavadeiras
Lavando nas corredeiras
Gritaram: - “Mas que burrama!”
 
  - “Um marmanjão com saúde
Muito contente montado
E um pobre menininho
Puxando o burro! Ah, malvado!...
Este mundo está perdido
Desça daí seu bandido
Que o menino está cansado!”
 
Depois dessa, o pobre velho
Indignado acenou
E na garupa do burro
O seu menino montou
E disse ali sem demora:
- “Quero ver quem fala agora!?”
E o seu caminho continuou
 
Mas não deu nem dez minutos
Desponta ali na frente
Montado na bicicleta
Um roceiro e diz: - “Oxente!
O pobre desse animal
Não vai chegar ao final
Com esse peso em dia quente!”
 
 Disse isso e foi-se embora
E o velho concordando
Desce, deixando o menino
E sai na frente puxando
Mas encontra outro sujeito
Que ao menino curva o peito:
- “Majestade!” O vai saudando.
 
Logo pergunta o menino:
- “Por que falas: majestade?”
- “Porque somente os príncipes
Tem servo na tua idade
Puxando as montarias
Não fosses rei não terias
Lacaio à tua vontade!”
 
- “Lacaio, eu?” – Diz o velho
- “Mas que grande desaforo!”
Desça ligeiro menino
Pra não ouvir este coro
Vamos com o burro nas costas
Pra ver se o mundo assim gosta
E não faça mais agouro
 
E os dois com o burro nas costas
Qual estranho ritual
Encontram alguns rapazes
Que fazem tal carnaval
Gritando: - “Vejam três burros
Só falta soltarem zurros
Quem é o mais burro afinal?”
 
E o velho grita: - “Sou eu!
Burro de orelha também
Querendo escutar o mundo
Sendo aconselhado além
Quem segue o mundo maluco
Vai morrer doido e caduco
Sem nunca agradar ninguém!”
 
Os “causos” aqui apresentados compartilham a mesma "moral": precisamos nos informar, coletar informações fidedignas, não palpites nem fake news), para formar nossas próprias opiniões e tomar nossas próprias decisões, mesmo sabendo que não há verdades absolutas e imutáveis.

Um comentário:

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