Mesmo que não esteja mais trabalhando, tive outro pesadelo envolvendo minha insegurança profissional ao longo da vida, causada pela absurda irresponsabilidade, comportamento leviano e negligência durante a faculdade. Acordei com a boca amarga, pensando na fábula da cigarra e da formiga. Depois do café resolvi escrever um texto utilizando essa fábula.
Com o texto já escrito, tive a ideia de fazer sua "tradução" para o modo de falar de Portugal e Angola, pois tive um grande amigo e colega nascido em Luanda, filho de pais portugueses. Para isso, pedi ao
ChatGPT que “traduzisse” o original. Mas nem todas as alterações propostas pela
IA foram aceitas, pois eu queria manter os neologismos que criei. Se a “tradução”
está correta ou se ficou boa só meu amigo Ryk@rdo poderá dizer, pois perdi o contato com esse amigo desde que se mudou para Portimão na década de 1980 (ou "voltou", como ele dizia).
Nos fins de semana, os oito rebentos machos
punham mãos à obra, atuando como pedreiros, carpinteiros ou simples ajudantes.
Assim, as residências foram sendo levantadas uma a uma, e entregues a cada um dos filhos por ordem
de matrimónio ou nascimento.
Recordando-me da fábula da cigarra e da
formiga, percebo que o tuga criou uma família de formigas, gente simples, com
pouca educação formal – apenas um frequentou a faculdade –, mas trabalhadora e
sobretudo batalhadora.
Estas dez formigas deram à luz trinta netos e
netas para o velho tuga, mas nem todos “formigaram”, pois cinco não chegaram à
maioridade, vitimados por acidentes ou sequelas na primeira infância. Dos vinte
e cinco restantes, pelo menos dezoito concluíram o terceiro grau, dois
enriqueceram sobremaneira e seis ficaram muito abastados.
Dos dezessete de classe média que sobraram,
sete foram seduzidos pelo canto da cigarra e “cigarrearam” com gosto durante a
juventude. Alguns deles adaptaram-se tanto a essa forma de vida que continuam
cigarreando até hoje.
Nos próximos dias, como é hábito no final de
cada ano, a maioria das formigas e alguns dos cigarreados reunir-se-ão numa
confraternização de primos e agregados. Pretendo ir como agregado, casado que
sou com uma mulher que formigou laboriosamente a vida inteira.
Eles gostam de mim, talvez por crer que eu
também sou formiga. Mal sabem eles que eu sou a mais genuína e arrependida das
cigarras! Irei com prazer a esse encontro pois também gosto deles. No entanto,
não terei nada para relatar nem entoar.
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