quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

DIGA PRUNES

Como sabem os dois leitores deste blog, sinto uma atração especial por fotografias, por entender que são a melhor representação de “fração de segundo” – mesmo que isso não fosse verdade quando os primeiros retratos começaram a ser feitos.
 
Por isso, depois de ler o artigo “Retratos antigos raramente têm sorrisos. Quando sorrir virou hábito em fotos?”, resolvi fazer um post sobre esse assunto. Mas que ninguém espere filosofanças e refluxões. Hoje o que eu quero mesmo é cronicar (o modo Odorico Paraguaçu estava habilitado).
 
SAIS DE PRATA
Depois de passar no vestibular resolvi estudar Engenharia Química por pura macaquice, pois meu irmão já estava no terceiro ano desse curso. Quando ele  resolveu mudar para Engenharia Civil eu mudei também.
 
Mas enquanto eu fazia nada no curso de Química, fui colega do filho de um professor da UFMG que também fazia nada (o filho, obviamente). Talvez por isso tenhamos ficado amigos. Seu pai havia criado um processo para recuperar a prata envolvida no processo de revelação das fotografias. Imagino que devia ser um bom negócio, pois logo esse colega abandonou a faculdade para dedicar-se integralmente a essa atividade. Espero que tenha tido tempo de enriquecer antes do advento das câmeras digitais e smartphones.
 
CONHECIMENTO É TUDO
É sempre motivo de alegria e diversão quando as netinhas vêm à nossa casa. Na vinda mais recente comentei com a Cacá que vi e achei lindo o filme em que ela e a Bia aparecem dançando na escolinha.
- Não é filme.
- Não?
- É vídeo!
- Huumm...
 
DIGA PRUNES!
Segundo o artigo que li, uma pesquisa da Universidade da Califórnia analisou 37 mil retratos de anuários americanos tirados entre 1905 e 2013. E a pesquisa constatou o que eu já sabia ao olhar fotografias antigas: ninguém ria! Ainda segundo a reportagem, na década de 1910, as bocas saiam praticamente horizontais na foto. E o sorriso só apareceu a partir de 1940.
 
Mas por que as pessoas não riam nas fotos antigas? O escritor Mark Twain explicou:
“Uma fotografia é um documento importante, e não há nada mais condenável para a posteridade do que um sorriso tolo capturado e mantido para sempre”. Ou seja: sorrir era coisa de gente estúpida.
 
Outra razão é cultural. Segundo a reportagem uma boca pequena fazia parte do padrão de beleza do século 19. Em vez do “xis”, alguns fotógrafos pediam que os retratados falassem “prunes” (ameixa, em inglês), formando um ligeiro biquinho.
 
Se era assim, que terá acontecido para que hoje, todas as pessoas ao se verem na mira de um smartphone ou câmera fotográfica tenham que sorrir? Dá a impressão que alguém atrás do "fotógrafo" está fazendo chifrinhos em sua cabeça, oferecendo um pedaço de pizza ou, até mesmo, mostrando a bunda.
 
DIGA XIS
Parece que a principal responsável pela libertação do xis e por inserir os sorrisos nas fotos foi a Kodak, uma empresa de fotografia analógica. “À medida que as câmeras ficaram mais acessíveis e populares, a Kodak fez campanhas de marketing para associar a fotografia a algo prazeroso, como férias e comemorações. Fotógrafos profissionais eram instruídos a vender sessões de fotos para famílias em férias e momentos de lazer”.
 
Quando vejo um “case” de sucesso como este eu tenho de aplaudir muito os marketeiros que bolaram essa estratégia, pouco se lixando para os ensinamentos do Mark Twain. A Kodak investiu em slogans do tipo “Guarde seus momentos felizes com a Kodak” e “Mais prazer em seus momentos”. Um anúncio de 1908 já mostrava uma moça sorrindo enquanto segurava uma câmera portátil.
 
Na década de 1920, seguindo a trilha deixada pela Kodak, diversas empresas tentaram associar seus produtos à felicidade – assim, as fotos de campanhas de marketing passaram a mostrar pessoas alegres. E de tanto ver sorrisos em fotos, as pessoas se acostumaram a sorrir também.
 
OLHA O PASSARINHO!
Hoje, em quase todos os retratos tirados, há sempre alguém sorrindo ou fazendo biquinho. E quem maneja o equipamento nem sempre pede para dizer "xis”. Em churrascos e confraternizações, por exemplo, muitas vezes com todo mundo já chapado de cerveja, o “fotógrafo” pode pedir para substituir o “xis” por “pênis”. E há muita gente que adooora a ideia.
 
BIQUINHO
Umas coisas mais esquisitas que eu acho é quando alguém tira uma foto fazendo biquinho. Sério mesmo. Por isso, já que a Kodak foi a principal introdutora do sorriso nas fotografias, eu penso que o patrono honorário da ideia de se fazer biquinho poderia ser considerado – com muita justiça, diga-se – o fabricante do gel lubrificante íntimo K-Y.
 
KODACHROME
E para encerrar este post com cara de pizza a palito, de frango a passarinho, a música "Kodachrome”, composta pelo Paul Simon e apresentada em 1981 em concerto no Central Park, quando a dupla Simon&Garfunkel já tinha se separado – mas ainda tinha cabelo. Escutaí.
 



 

2 comentários:

  1. Peço desculpa mas, hoje, embora vendo, lendo, e elogiando a sua publicação, passo a fim de deixar:
    .
    Votos de um NATAL MUITO FELIZ, repleto de luz, alegria, saúde, amor, prosperidade, paz, extensivo à sua ilustre família.
    .
    Poema: “ Natal de amor e saudade “
    .

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  2. Obrigado, Ryk@rdo, desejo-te o mesmo.

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