sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

AS SIRENES ESTÃO TOCANDO

 
Algumas notícias que leio sobre o meio musical me deixam incomodado. Mais que incomodado, assustado e triste. Refiro-me ao encerramento das carreiras de músicos e bandas que alegraram a minha vida e de mais meio mundo de gente.
 
Tudo bem que a maioria seja de pessoas com idade próxima à minha ou mais velhos ainda e que alguns estejam até incapacitados fisicamente de continuar fazendo shows e turnês. O problema é que muitos deles fizeram ou fazem parte da trilha sonora de minha vida. E a lista é grande!
 
Dentre os que “viajaram fora do combinado” em 2021 estão o Cassiano, o rolling stone Charlie Watts e o tecladista de jazz Chick Corea. Em 2022 foram embora a Olivia Newton-John, o Galvão dos Novos Baianos, o roqueiro porra louca Jerry Lee Lewis, a Gal Costa, o Erasmo Carlos e o Rolando Boldrin, autor da frase entre aspas.
 
Em 2023 aconteceram as perdas de Rita Lee, João Donato, Tony Bennet, Tina Turner e Sinéad O’Connor. Sem falar em uma porrada de músicos com nomes menos conhecidos mas que fizeram parte de bandas super badaladas. Alguns, de tão velhos já estavam “devendo cemitério”, como dizia meu sogro. Mesmo assim foram perdas irreparáveis e que me entristeceram muito.
 
Mas o que pega mesmo são aqueles que decidem curtir uma régia aposentadoria (e põe régia nisso!). Desses eu acabo me sentindo órfão, mesmo que muitos nem tenham me impactado tanto, caso do atualmente semi inválido Phil Collins, por exemplo.
 
Então, descobrir que as turnês de Milton Nascimento, Elton John, Phil Collins, Aerosmith, Peter Frampton, Roger Waters e Eagles (só para citar alguns) não mais acontecerão me fazem perceber que o tempo passou, que passou mais depressa do que eu jamais poderia imaginar. Para alguns ainda há esperança de retorno, caso do Skank. Ou de Caetano Veloso, que continuará a fazer shows, mas só em seu estado natal.
 
E é ai que entra o motivo de estar escrevendo este texto: a banda de heavy metal Sepultura anunciou que fará uma turnê de despedida dos palcos, quarenta anos depois de ter sido criada por quatro adolescentes marrentos no bairro onde moro. Porra, já não bastava a banda Titãs com a turnê “Encontro pra dizer Adeus”?

Pela importância da Música e de muitos desses músicos em minha vida, a morte de alguns ou decisão de outros com idade próxima à minha de encerrar suas carreiras deveria, precisaria ser entendida por mim como um sinal, um alerta, ou como foram um dia os sons das sirenes antes da chegada dos aviões alemães na Londres da Segunda Guerra: talvez fosse a hora de ficar quietinho, de procurar abrigo fora do blog,talvez devesse ser a hora de parar de escrever banalidades e torcer para que os e-books lindamente exibidos no blog graças à inestimável ajuda da Maju ficassem mais conhecidos.

Mas eu sou um prisioneiro do Blogson, um blogadicto que continuará publicando o que der na telha, mesmo que tenha zero leitores, ainda que possa ser desprezado ou criticado por mudar de opinião, pois mesmo que não tenha mais saco para ouvir Raul, continuo a ser uma metamorfose ambulante. Por isso eu me desdigo, volto atrás de minhas decisões definitivas, repagino sempre as mesmas ideias ou mudo de opinião sem pestanejar, ora criticando o Lula, ora o defendendo, ora criticando o Bozo, ora o criticando ainda mais.

Ainda bem que existem bandas e músicos que se recusam a parar. A impressão que me causam é que depois de comer a carne e roer os ossos até ficar luzidios ainda pretendem fazer farinha da ossada. É assim que eu pretendo agir com o Blogson. Como ele é uma entidade apenas digital, sem carne nem esqueleto, usarei os ossos do ofício para fazer uma farinhada. 
 
E se quiser ouvir música nova passarei a ouvir as gravações recentes de Sir Paul McCartney, pois aquele ali com a vitalidade e o bom humor que tem provavelmente ainda viverá uns duzentos anos. Tocando seu baixo Höfner e em cima de um palco, obviamente.


2 comentários:

  1. Não sabia da Olivia Newton-John. Quantas homenagens já não lhe fiz na época do filme Grease ...
    Até o Sepultura está a caminhar para a cova?
    É a podridão, meu velho.

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    Respostas
    1. O Andreas Kisser disse “vamos parar em paz”. O nome da turnê é “Celebrating Life Through Death” (Celebrando a vida através da morte, na tradução livre). A primeira e a última frase “Eutanásia, o direito a morte digna. Direito de escolha de ser livre quando se nasce e quando se morre!”. Eu não sabia disso, mas a morte da esposa dele em 2022 parece ter pesado nessa decisão.

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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4