quarta-feira, 16 de setembro de 2020

REMAKE (YOU MAKE ME FEEL SO GOOD!)

Lá no início do blog, mas bem lá no início, resolvi dar uma explicação para um leitor inexistente sobre a técnica que utilizo para escrever as tranqueiras que publico aqui no hoje já velho e alquebrado Blogson. Esse post, obviamente, ficou mais inédito que música do Chico Buarque censurada na época da ditadura (perdão, eu quis dizer “na época dos generais presidentes”). Eu o estava relendo hoje por ter recebido um feed back super generoso de um dos leitores desta bagaça, tecendo loas à forma como escrevo (gostaria de entender como certas palavras são inventadas. “Loas”...).

Confesso que fiquei super tentado a mover o texto antigo do limbo onde se encontra para os dias de hoje, mas fui contido por um resquício de vergonha na cara que ainda trago comigo. Por isso, resolvi aproveitar alguma coisa para criar novo post, mais um post da trapaça (os que atendem minha síndrome de abstinência e que são publicados durante o dia). Entretanto se alguém achar este remake uma merda, poderá dirigir-se ao original seguindo este link.

Feita mais uma propaganda subliminar, passemos ao remake (ou remarketing). Até pensei em adotar o título "You (re)make me feel so good", mas achei que já estava passando do ponto. O leitor que ligou a chave para mais um post da trapaça aparenta não ser muito normal, pois é meio estranho. Entretanto, para dar a ele o benefício da dívida, direi que aparenta ter evoluido, que talvez seja hoje um ex-estranho. Seu comentário menciona a leveza dos textos, “mesmo quando é um assunto sem sentido” (fico me perguntando se ele teria detectado em mim sinais discretos de demência senil, mas deixa pra lá, senão esse remake não sai).

Eu já disse antes que os melhores anos de minha vida profissional foram passados dentro de um departamento responsável pela elaboração de propostas apresentadas nas licitações de obras. Como meus colegas eram competentíssimos, mais experientes e mais velhos, eu ficava tentando aprender por osmose (se um desses colegas fosse meu amigo virtual Ozymandias Realista eu ficaria tentado a aprender por ozymose. Uhu!).

Uma das tarefas rotineiras era a descrição dos métodos construtivos a utilizar e coisas do gênero. Mas eu não tinha essa expertise (ficou bonito) e era super travado para escrever. Ao contrário de um colega, que merecidamente foi promovido a chefe do departamento. Além da experiência indiscutível, ele era mega detalhista e possuía uma elegância e fluência enorme em tudo o que escrevia.

Anos depois, já perto de me aposentar, resolvi registrar as hilárias histórias contadas por meu amigo Pintão (mais marketing: foram postadas em 2014 com o título "Histórias do Digão", luxuosamente encadeadas em quinze posts). Talvez tenha sido nessa época que aconteceu a transmutação da água para leite com toddy, pois eu passei a escrever mais ou menos como quem conversa com um amigo, como quem conta um caso pitoresco na mesa de um botequim (neste ponto, preciso lembrar a música do caviar do Zeca Pagodinho: Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar, pois mesa de botequim – perdoem-me os leitores – nunca foi a minha praia).

Dito de outra forma, minha forma de escrever passou a ser rigorosamente coloquial (o que facilita muito para esconder a ignorância e o mau português). Foda é quando você encontra alguém que faz justamente o oposto disso. Trabalhei com um sujeito muito culto e muito esquisito (eu só me dou bem com gente esquisita). Esse cara tinha a mania de falar como se estivesse lendo um livro em voz alta. Enquanto eu escrevo como falo, ele falava como se tivesse escrevendo uma tese de mestrado.

Talvez seja esse meu estilo displicente, cheio de pausas para respiração, hesitações, comentários paralelos, uso e abuso de sinônimos encadeados, milhares de vírgulas e alguma ironia é que traga a tal leveza dos textos que escrevo. E como este é um “post da trapaça”, permito-me transcrever o final do post original:

Alguns anos atrás, ao folhear uma apostila de vestibular de um dos meninos, encontrei um trecho de “Macunaíma”, juntamente com uma análise desse livro. Segundo a apostila, o Mário de Andrade, que era um grande conhecedor de música, teria chamado sua obra de “rapsódia”, pela semelhança construtiva com as peças musicais que têm essa designação. Em música, segundo meu amigo Guga (para os íntimos, para os demais é Google mesmo), rapsódia é uma peça “formada a partir de trechos, temas ou processos de composição das canções tradicionais ou populares de uma região ou de um país”.

Ou seja, “rapsódia” é uma colcha de retalhos, uma verdadeira salada de frutas literária (no caso de “Macunaíma”) ou musical. Então, eu também poderia (modestamente!) chamar os textos que escrevo de rapsódicos. O problema é que as saladas que eu faço são do tipo jerimum, jiló, chuchu e cagaita, sendo esse último ingrediente uma referência indireta aos resultados que alcanço. Mas aí já é outra história.

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