Élcio,
Elcinho, Canário ou Canarinho, qualquer desses nomes eram e serão sempre
usados para chamar ou falar de um sujeito simples de hábitos, marrento de personalidade
e divertidíssimo de comportamento, mas, paradoxalmente, bravo e irritadiço por
conta de uma distimia que eu suspeito que tivesse e que provavelmente nunca imaginou ter. Era meu cunhado, compadre e irmão.
Podia ter (e tinha) zilhões de defeitos, mas
sempre demonstrou gostar de minha mulher, a quem, pela diferença
de idade, às vezes chamava de “mãe”, de
mim, a quem às vezes chamava de “irmão”,
e de nossos filhos e noras da forma mais escancarada e sincera, mais sem
reservas, críticas ou ressalvas, mais do que qualquer um de seus irmãos.
Morreu hoje, em pleno feriado de 15 de novembro quando voltava da casa do sogro,
depois de aquaplanar para debaixo de um caminhão, só para aumentar as estatísticas de acidentes
na merecidamente chamada de “rodovia da morte”. Logo ele, tão cauteloso e consciente dos perigos da BR-381, e só para nos deixar irremediavelmente tristes, desconsolados e órfãos de
seus comentários engraçados e obscenos, só para que sintamos saudades de suas
performances e danças hilárias nas festas da família, só para que todos sintamos infinita e incurável saudade dele.
Bom de bola, bom de briga, bom de farra e fanático pelo Atlético mineiro na juventude; bom de copo e bom de garfo (mandava bem na cozinha, com seus molhos consumidos no café da manhã), pai severo e exigente, era também solícito, turrão, amigo, bravo, generoso, irritante,
engraçado e impaciente, as qualidades e defeitos alternando-se o tempo todo, mas
permanentemente íntegro, sincero, solidário e amigo preocupado, capaz de, mesmo com um braço machucado e com o risco de repetir um abraço de afogados, ter conseguido salvar a vida de um companheiro de pescaria que se afogava, como ouvi recentemente do amigo a quem salvou.
Agora, livre da gota e da hipertensão, poderá fumar tranquilamente sem precisar fingir que tinha parado. Agora, livre de todas as amarras, de todos os
problemas, de todas as preocupações, provavelmente chamará São Pedro para pescar em Três Marias ou para tomar
umas cervejas (várias, aos tonéis, com a condição de que seja sempre Brahma) e jogar conversa fora, enquanto não começa
o próximo jogo do Galo.
Voa, Canário; voa livre, Canarinho!
Voa, Canário; voa livre, Canarinho!
Pungente e bela homenagem, JB. Pela foto, parece mesmo que ele era aquele cara meio bonachão, sem travas na língua, que alegrava a festa e, às vezes, e ao mesmo tempo, também podia, de uma hora para outra, estragá-la, criar um climão, botar a família numa saia justa.
ResponderExcluirO tipo de cara que, não que existam mortes boas, merecia um fim melhor, mais digno.
Um brinde a ele, JB. Quem sabe você não conte algumas das histórias dele por aqui.
Meus pêsames, meu velho.
Obrigado. Ele merecia esse texto. Quanto ao brinde, o ideal seria se fosse com cerveja Brahma. Quanto às histórias, ele tem algumas hilariantes, do tempo da juventude. Nunca disse isso para ninguém, mas o post "Você é um tasmaníaco? foi inspirado nele.
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