terça-feira, 22 de novembro de 2016

SOBRE COMO ESCREVER IRRELEVÂNCIAS

Ontem, após a missa de sétimo dia do meu cunhado, muita gente me cumprimentou por ter escrito o texto que foi lido no final. Isso me deixou feliz, agradecido, surpreso e super constrangido. O motivo é o fato de o texto não ter sido escrito para ser lido na missa. Eu o escrevi às quatro da matina do dia do sepultamento, e chorei demais enquanto escrevia. Além de divulgá-lo No Blogson, também o postei no Facebook, que é o lugar perfeito para compartilhar coisas com os “amigos” (já tenho oitenta e nove agora).

A surpresa foram os comentários de que escrevo bem, essas puxações de saco. Aí resolvi brincar com essa ideia, só para descontrair. A forma encontrada foi “ensinar” ensinar o segredo de como escrever bacaninha. A partire de agora o texto é o mesmo do Facebook.

O problema de tentar ensinar como escrever é que quem é professora e formada em letras aqui em casa é minha mulher. Por isso, mesmo que não possa ser processado por ela, corro o risco de dividir o tapete com o Zulu. Mas outros educadores, também meus amigos de Face, por puro corporativismo (esse povo é muito corporativista!) resolvam me meter um processo por exercício ilegal da profissão. Em minha defesa direi que não ganhei merda nenhuma com isso.

Mas o fato é que aqui em casa todos, sem exceção, escrevem bem pra caramba. Sem falar que as noras também mandam muito bem. Minha mulher sempre me emociona quando me mostra alguma mensagem que escreveu para alguém. Ela é a rainha da delicadeza (acho que ela nasceu “no tempo da delicadeza”). Talvez um dos motivos disso seja “leitura”, palavra mágica e necessária para se escrever bem.

Mas, para mim, todo mundo deveria escrever, pois é uma excelente forma de autoconhecimento, uma terapia gratuita. Você pode descobrir que é uma toupeira semi-analfabeta. Ok. Eu, por exemplo, descobri que sou uma toupeira, um quase jegue (infelizmente, não atendo todas as especificações), só não sou analfabeto. Ok também. Mas não estou querendo atrapalhar ou reduzir a justa remuneração de nossa competentíssima amiga e comadre (sei lá, ela pode pensar que estou tirando o leitinho e as viagenzinhas internacionais da Rafinha). Deia, pelamordedeus, não fique com raiva, não é nada disso!

Mas, vamos às dicas: a técnica inicial é começar. Sem grilo, sem medo e às escondidas, sente-se no computador ou pegue um caderno (serve até papel de pão) e escreva o que te der na telha. Vá escrevendo sem se preocupar. Escreva como se estivesse falando ao telefone ou sentado(a) em um boteco. Linguagem coloquial, entendeu? Depois disso, corrija a gramática, a ortografia, a regência, a concordância. Se você não se lembra ou nunca aprendeu sobre isso, essa é uma boa hora. No computador, com Word, é bem mais tranquilo. Até para excluir trechos ruins, alterar a ordem, corrigir vaciladas na grafia.

Outra dica boa é não se prender a chavões e frases feitas, que bitolam muito o pensamento. Por exemplo, em lugar de escrever “antes tarde que nunca”, você poderia escrever “antes tarde que de madrugada”. Pode não fazer muito sentido, mas as pessoas poderão achar isso divertido.

Só mais essa: não tenha medo ou receio de parecer ou ser ridículo. Só os muito idiotas é que gostam de se exibir o tempo todo. Não seja sério demais, pois escrever pode ser muito divertido. Experimente contar casos antigos e falar mal de conhecidos (de desconhecidos não tem graça), mas só na zoeira. É muito mais divertido mostrar que o rei está nu e até passar a mão na bunda dele (da rainha, nem pensar, senão o pau come) que ficar tentando parecer ser melhor que é realmente.

Para finalizar, vou te contar um segredo: todo mundo começa escrevendo "histórias de terror". É verdade! Depois de algum tempo, quando você já tiver desencanado e adquirido o gosto pela escrita, ficará aterrorizado ao ver como eram ruins as primeiras tentativas de escrever alguma coisa. Mas não desanime. Talvez, quem sabe, um dia você possa escrever um texto lindo como esse:

Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:
“Eu sou lá de Cachoeiro..." (Rubem Braga)

Anime-se, vai!

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