domingo, 13 de novembro de 2016

PALHAÇO!

Tenho andado com uma falta de assunto tão grande que estou me sentindo como aqueles robozinhos andando no solo marciano. Procuram algum sinal de vida, mas nada. Para compensar essa aridez de ideias, tenho postado piadas ou curiosidades que vejo no Facebook ou links de músicas que eu curto. Mas, assunto interessante mesmo que é bom, neres de pitibiriba (essa maluquice é uma "homenagem" ao Marreta, que se divertiu quando usei a palavra "supimpa").

A questão é que me sinto profundamente ridículo quando tento escrever alguma coisa mais séria, especialmente se o assunto for política. Considero-me despreparado, ignorante, superficial, acho que o resultado é risível, deplorável ou irrelevante. A mesma coisa acontece quando tento entrar no terreno da ficção ou da poesia. Não sei, acho que não tenho imaginação suficiente para criar alguma coisa do nada. Sempre acredito estar trombando com a gramática, com o estilo, às vezes resvalando para a vulgaridade gratuita ou para a repetição de alguma ideia que alguém já teve antes e desenvolveu com mais elegância e melhor.

Pois bem, como não estou a fim de divulgar post com música, sou obrigado a falar mal de mim mesmo, simultaneamente o boneco de Judas e ator principal do blog. Não que eu esteja forçando muito a barra, pois estava realmente pensando sobre isso outro dia. Mais especificamente, sobre minha predileção por tentar fazer humor, por me fazer de ridículo. Esse comportamento surgiu na adolescência, ficou meio amortecido na fase adulta produtiva e pegou um embalo depois de me aposentar. 

Para tentar entender o que me levou a isso, só voltando um pouquinho no tempo. Mas como estou sem paciência para escrever tudo de novo (minha cabeça está em outro texto), vou me citar outra vez, transcrevendo trechos do post "A Praxe dos Imbecis"
 (Walter Ego, já viu, não?): Vamos lá:

"(...) Esse tipo de acontecimento acabou provocando a revelação: eu não era o mais bonito do mundo, ou melhor, eu era feio pra cacete. Magrelo, cabelo anelado, orelhas desniveladas, narigudo, uma perna torta como um parêntese, sem queixo e mais alguns detalhes eventualmente esquecidos. Em resumo, uma bosta.
Eu não sabia jogar futebol, era pobre, tímido, reprimido, medroso e inseguro (sempre!). Com isso, minha autoestima já não era lá essas coisas. Agora descobrir também que eu era feio e sem atrativos em plena adolescência, que é a época mais insegura da vida, era demais. Só havia um caminho: criar um diferencial que me destacasse. Ou pular de um edifício. Como isso nunca me ocorreu, sobrava a mudança. É óbvio que essas coisas fluíram meio inconscientemente, na base do instinto de sobrevivência.
Eu poderia escolher entre ser intelectual, “alternativo” ou “legal” (“bonzinho”, simpático ou apalhaçado). Acabei optando por tentar ser (ou fingir ser) as três coisas. É óbvio que eu não tinha consciência clara disso na época. Além do mais, esses comportamentos foram sendo adotados progressivamente, como quem veste uma armadura medieval ou uma roupa de astronauta. A função era a mesma: proteger-me do desconforto ou da dor de não me sentir amado. Ou melhor, de não ter o ferramental necessário para ser amado fora do âmbito familiar".

Eu sempre fui muito tímido, mas descobri que ter o controle dos meus atos me deixava muito à vontade para fazer qualquer tipo de idiotice. Mas, volto a repetir, essa desinibição só acontecia quando eu estava no controle. Talvez por isso eu sempre gostei de falar mal de mim mesmo, de me depreciar, de ser o mais escandalosamente ridículo possível. E talvez aí esteja a chave desta história.

Dentre as "personas" que citei antes - "intelectual", "alternativo" (ou bicho-grilo), "gente boa" ("bonzinho") e "palhaço", confesso que hoje a que mais curto é justamente a última, pois o palhaço (citando a Wikipédia) é "o próprio ator expondo-se, mostrando sua ingenuidade. Na busca desse estado, o ator não busca construir um personagem, mas sim encontrar essas energias próprias, tentando transforma-las em seu corpo". Curiosamente, caiu bem nisso a ideia de "ator", não mais como o profissional, mas como protagonista de uma situação ou como aquele que detém o controle de sua atitude.

Essa preferência talvez indique minha zona de conforto, mas o fato é que sempre curti demais a figura do “bobo da corte”, o sujeito que faz críticas como se estivesse fazendo graça, o maluco que diz que o “rei está nu” e ainda passa a mão na bunda dele.

Minha mulher já me criticou várias vezes por eu ser capaz de dizer as maiores barbaridades para alguém, mas de forma caricata, sempre sorridente, esperando que a pessoa não reaja. Realmente espero mesmo, ainda que saiba que estou sempre “cutucando uma onça com vara curta”. Porque, sinceramente, não tenho paciência para egos gigantescos (não aceito concorrência), mediocridades vaidosas, “reis do pedaço”, ufanistas e todo tipo de gente que se vangloria demais para parecer ter ou ser mais do que realmente é ou tem. Nessas horas, o “download” do bobo da corte é imediato. E minha mulher me recrimina depois:
- “Você acha que por estar sorrindo pode dizer qualquer coisa, mas está só ofendendo as pessoas!” Intimamente, fico feliz com isso, pois essa é mesmo a ideia, a de instalar um espelho na frente do “rei”.

Mas sei também que isso só reforça minha tendência ao isolamento, só aumenta a percepção de não pertencer ao grupo de pessoas com quem convivo, de ser um estrangeiro na minha própria comunidade. Afinal, quem valoriza pessoas que tem a mania e habilidade (que não é o meu caso) de fazer comentários ferinos, ácidos e engraçadíssimos, pessoas como os inteligentíssimos e satíricos Juca Chaves, Falcão e Roger Moreira?

A massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico”, era a esperança de Oswald de Andrade, mas, quem presta atenção em um bobo da corte? Ironia, sarcasmo, cinismo e humor crítico talvez sejam “biscoitos finos” demais para a maioria das pessoas.

Bem, esse era o recado que eu queria deixar. Como disse no início deste texto, sinto-me ridículo quando tento escrever alguma coisa sobre temas mais sérios e não tenho imaginação suficiente para navegar com segurança pela poesia e ficção. Assim, para não bater no gigantesco iceberg da minha própria incompetência, resta ao Blogson remar sua canoinha na direção da margem tranquila da mediocridade e irrelevância, lugar ideal para a criação de piadinhas sem graça e de comentários ridículos. 

Mesmo que eu deseje produzir biscoitos finos, faltam-me os ingredientes e o equipamento para bem assá-los. Resta-me vestir uma roupa de bobo da corte, de uma corte inexistente e fingir que estou sendo engraçado, em vez de apenas patético.

Depois de ler essa colcha de retalho sem inspiração, os leitores que tropeçam neste blog poderão dizer com pena e algum desprezo:
- “Palhaço!...” E a razão estará com eles.

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