terça-feira, 29 de novembro de 2016

O MUNDO É DOS JOVENS

O mundo é dos jovens. Eu sei que essa é uma frase clichê, mas o mundo é definitiva e irrefutavelmente dos jovens. E isso ficou ainda mais patente com o surgimento das mídias sociais. Mas não me refiro aos que ainda estão na fase da adolescência. Os jovens de que estou falando têm entre dezoito e quarenta e cinco anos. Você poderá me perguntar o que quero dizer com isso. Mas, mesmo que não pergunte nada, já vou esclarecendo: esse é o mundo ao qual eu gostaria de pertencer, essa é a minha tribo ideal.

Não, não estou querendo parecer tiozão nem vestir bermudas com camiseta regata (creio ser esse o nome). Longe de mim essa breguice. O que eu gostaria mesmo é de estar nessa faixa etária. Já disse uma vez que não tenho saudade de épocas, estilos, moda ou ritmos musicais, não curto nostalgia. O que eu tenho - e isso é tristemente real - é saudade de mim mesmo, quando podia fazer as coisas que não fiz ou fiz e não deveria ter feito.

O Sérgio Britto, dos Titãs, compôs a música "Epitáfio", cuja letra é a minha (e de muitos mais) "lista de compras" existencial. Está tudo ali. Estranho é o fato de tê-la gravado em 2002, quando tinha apenas 43 anos, talvez indicando que meu "limite superior" esteja muito "elástico".  

Hoje, quase tudo o que me atrai e seduz é feito por jovens e para jovens. Música, por exemplo: além dos Titãs, Skank e Jota Quest são bandas que eu aprecio. Mas se eu pensasse (não penso) em ir a um de seus shows ficaria tão deslocado quanto um pai "zeloso" que leva seu filho ou filha e fica atento a qualquer saliência, pagando mico e envergonhando o pimpolho.

Outra coisa que eu curto são as tiras, livros ou páginas da internet de jovens e talentosíssimos autores de humor. O problema são as referências a filmes, séries e jogos de que não faço a mínima ideia. Às vezes peço a meus filhos uma tradução. E aí chegamos à pior situação, que é o estilo de vida de um jovem normal. O lugar onde moro é conhecido como um bairro de vida boêmia e cultural intensas. É possível encontrar três bares ou restaurantes em um cruzamento de duas ruas. Todos sempre cheios, alguns com música ao vivo. Qual o público? Jovens, em sua maioria.

E a coisa vai rolando por aí. Se eu resolvesse (não tenho essa intenção) frequentar esses lugares, talvez fosse recebido com alguma estranheza, desconfiança ou curiosidade pelas pessoas (jovens) que ali estão. Tirando bailes da terceira idade (esconjuro-te!), hidroginástica, festas de família, jantares em restaurantes, peças teatrais mais comportadas, conversas sobre futebol, música sertaneja e atividades afins, todo o resto é próprio ou mais adequado para gente jovem. Mochilar? Jovem. Acampar? Jovem. Dormir em sleeping bag? Já dormi quando era jovem (e sonhei). Esportes, diversão, shows, trabalho, academias, conversas pela madrugada afora, tudo isso é quase uma "reserva de mercado" dos jovens. Paquera, pegação, paixonites, isso é para jovens (solteiros, bem entendido).

Ser jovem, ser ainda jovem é uma dádiva do Tempo. Aos mais velhos resta a arquibancada, resta observar, criticar (inveja pura) e sentir-se como um estrangeiro em um país ocupado e dominado por jovens.

Quando eu ainda ouvia discos de vinil, às vezes derramava um pouquinho de álcool no centro do disco, para tentar reduzir a chiadeira provocada pelo desgaste decorrente das sucessivas audições. Gostava de ver o álcool ir-se espalhando em direção à borda do LP, numa ótima demonstração da força centrífuga.

Pois bem, hoje eu me sinto como aquele álcool, que vai sendo cada vez mais conduzido para a borda, para a periferia da sociedade. Saudade de mim, entendeu? Estrangeiro? Esse cara sou eu! 


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