O mundo é dos jovens. Eu sei que essa é uma
frase clichê, mas o mundo é definitiva e irrefutavelmente dos jovens. E isso
ficou ainda mais patente com o surgimento das mídias sociais. Mas não me refiro
aos que ainda estão na fase da adolescência. Os jovens de que estou falando têm
entre dezoito e quarenta e cinco anos. Você poderá me perguntar o que quero
dizer com isso. Mas, mesmo que não pergunte nada, já vou esclarecendo: esse é o
mundo ao qual eu gostaria de pertencer, essa é a minha tribo ideal.
Não, não estou querendo parecer tiozão nem
vestir bermudas com camiseta regata (creio ser esse o nome). Longe de mim essa
breguice. O que eu gostaria mesmo é de estar nessa faixa etária. Já disse uma
vez que não tenho saudade de épocas, estilos, moda ou ritmos musicais, não
curto nostalgia. O que eu tenho - e isso é tristemente real - é saudade de
mim mesmo, quando podia fazer as coisas que não fiz ou fiz e não deveria ter
feito.
O Sérgio Britto, dos Titãs, compôs a música "Epitáfio", cuja letra é a minha (e
de muitos mais) "lista de compras" existencial. Está
tudo ali. Estranho é o fato de tê-la gravado em 2002, quando tinha apenas 43
anos, talvez indicando que meu "limite superior" esteja muito
"elástico".
Hoje, quase tudo o que me atrai e seduz é
feito por jovens e para jovens. Música, por exemplo: além dos Titãs, Skank e
Jota Quest são bandas que eu aprecio. Mas se eu pensasse (não penso) em ir a um
de seus shows ficaria tão deslocado quanto um pai "zeloso" que leva
seu filho ou filha e fica atento a qualquer saliência, pagando mico e
envergonhando o pimpolho.
Outra coisa que eu curto são as tiras, livros
ou páginas da internet de jovens e talentosíssimos autores de humor. O problema
são as referências a filmes, séries e jogos de que não faço a mínima ideia. Às
vezes peço a meus filhos uma tradução. E aí chegamos à pior situação, que é o
estilo de vida de um jovem normal. O lugar onde moro é conhecido como um bairro
de vida boêmia e cultural intensas. É possível encontrar três bares ou
restaurantes em um cruzamento de duas ruas. Todos sempre cheios, alguns com
música ao vivo. Qual o público? Jovens, em sua maioria.
E a coisa vai rolando por aí. Se eu
resolvesse (não tenho essa intenção) frequentar esses lugares, talvez fosse
recebido com alguma estranheza, desconfiança ou curiosidade pelas pessoas
(jovens) que ali estão. Tirando bailes da terceira idade (esconjuro-te!),
hidroginástica, festas de família, jantares em restaurantes, peças teatrais
mais comportadas, conversas sobre futebol, música sertaneja e atividades afins,
todo o resto é próprio ou mais adequado para gente jovem. Mochilar? Jovem.
Acampar? Jovem. Dormir em sleeping bag? Já dormi quando era jovem (e sonhei).
Esportes, diversão, shows, trabalho, academias, conversas pela madrugada afora,
tudo isso é quase uma "reserva de mercado" dos jovens. Paquera,
pegação, paixonites, isso é para jovens (solteiros, bem entendido).
Ser jovem, ser ainda jovem é uma dádiva do
Tempo. Aos mais velhos resta a arquibancada, resta observar, criticar (inveja
pura) e sentir-se como um estrangeiro em um país ocupado e dominado por jovens.
Quando eu ainda ouvia discos de vinil, às
vezes derramava um pouquinho de álcool no centro do disco, para tentar reduzir
a chiadeira provocada pelo desgaste decorrente das sucessivas audições. Gostava
de ver o álcool ir-se espalhando em direção à borda do LP, numa ótima
demonstração da força centrífuga.
Pois
bem, hoje eu me sinto como aquele álcool, que vai sendo cada vez mais conduzido
para a borda, para a periferia da sociedade. Saudade de mim, entendeu? Estrangeiro? Esse cara sou eu!
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