terça-feira, 23 de junho de 2015

EU QUERO É MOCOTÓ

Domingo passado, durante a missa, fiquei matutando na evasão de fieis da Igreja Católica e sua consequente conversão para outras igrejas cristãs, genericamente chamadas de “evangélicas”. Eu acredito que essa migração foi provocada pela “opção preferencial pelos pobres” adotada pelos adeptos da Teologia da Libertação. É irônico pensar que foram justamente os mais pobres que se mudaram de "mala e cuia" para outra denominação. E, para mim, o motivo é bem simples: muito mais que conforto espiritual, o que esse pessoal quer, precisa e espera é a intervenção divina para melhorar de vida, curar uma doença, sair da miséria ou conseguir um emprego.

Se isso está errado ou não, se é um equívoco ou produto de ignorância causada pela baixa escolaridade, pouco importa. O que esse pessoal sempre buscou foi a salvação divina para problemas práticos, o milagre. Que o clero católico quase proscreveu, ironicamente mais preocupado com a visão social da Igreja. As igrejas evangélicas, ao contrário, especialmente as universais, mundiais ou internacionais, sempre ofereceram esse “produto” a rodo (claro, mediante algum pagamento adicional). Basta ver a publicidade divulgada em várias mídias (“eu sou a ...”).

Eu não consigo entender como as lideranças católicas não perceberam ou se importaram com isso! Mas, pensando sobre o assunto, lembrei-me do Bolsa-Família, do Bolsa-isso, do Vale-aquilo, etc. E percebi que os “clientes” de políticas populistas são os mesmos que fizeram sua migração para a as igrejas evangélicas.

Antes que alguém me acuse de simplista, de estar generalizando, apenas direi que tenho consciência disso.  Esse raciocínio que eu fiz pode não explicar a mudança de fé de muita gente, mas certamente pega a maioria. E aí é que está o ponto onde eu queria chegar: para quem vive na miséria ou muito perto dela, pouco importa a ideologia do partido que está no  poder, pouco importa se é pastor ou padre o líder espiritual da igreja que escolheu para frequentar. O que conta mesmo é a crença na solução imediata de suas privações, seja com um Bolsa-qualquer-coisa ou uma cesta de “milagres” que acontecem diariamente nos cultos evangélicos graças à invocação dos pastores ("eu determino...").

Aí me lembrei de um fato acontecido nos tempos de faculdade. Eu estava almoçando no bandejão da escola, quando um menino de rua aproximou-se da mesa mais próxima da saída e pediu um pouco de comida (o resto da bandeja, na verdade) a um dos dois alunos que ali estavam. Um deles, de óculos, barba rala, com cara de que seria um dia co-fundador do PT, disse para o menino:
- Seu problema é esse governo que está aí! (estávamos em pleno período Médici)
O colega da mesa riu e disse algo assim:
- Idiota, ele está pouco cagando para o regime em que estamos, o que ele quer é comer, o que ele tem é fome!

E acho que é assim que ainda funciona.

2 comentários:

  1. Você foi exato em seu texto, quem migra da Igreja Católica para as neopentecostais é o cara que tá afim do assistencialismo, da Bolsa-Deus, é o cara que não quer seguir de verdade nenhuma doutrina e só está interessado na prosperidade via milagre, uma espécie de Lei de Gérson do Senhor. Pouco importa a ele a denominação que frequenta, importa que ela mate a sua fome, o que importa é "deus" atuando como um prestador de serviços : eu pago o dízimo e deus resolve minha vida, minha preguiça, minhas cagadas. E sim, são clientes, sem aspas, como você gentil e educadamente assinalou.

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    1. Sei não, mas esse "gentil e educadamente" ficou meio esquisito, pois, usando uma expressão sua, sou ponta firme (nesta altura do campeonato, nem tão firme assim).
      Mas, tá bom: eu sou muuuito gentil e educado! E com a sutileza de um engate de vagão com locomotiva). Valeu.

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