domingo, 7 de junho de 2015

ÁLBUM DE CASAMENTO - SEGUNDA PARTE



- Alô? Sou eu, claro! Já se esqueceu da minha voz?

- Demorei a ligar porque custei muito para achar o endereço dele. Mas as notícias não são boas.

- Calma, não há mais pressa. Eu fui até o endereço que eu tinha, mas encontrei um bar onde antes era o estúdio dele. Ele morava no fundo do imóvel. Perguntei ao dono do bar se ele sabia do Paulinho, se havia se mudado. Nem conhecia. Um freguês do bar me indicou uma casa próxima, e disse que a família dele ainda morava lá.

- Não, não o encontrei. Bati a campainha, veio uma senhora e eu perguntei pelo Paulinho. Ela me disse que era a viúva dele. Eu quase caí duro. Aí contei do álbum de casamento e perguntei onde estariam os negativos, já imaginando que teria de procurar uma agulha em palheiro, como no ditado. Mas ela deu o golpe final: contou que pouco tempo antes de morrer e já quase cego, o Paulinho colocou todos os negativos e fotos que tinha em um quartinho sem laje, nos fundos da casa. Em um dia de tempestade muito forte, os ventos arrancaram algumas telhas do quartinho e a chuva pesada que caia fez o resto.

- Pois é, eu também fiquei em choque. Perguntei se não tinha sobrado nada, mas ela disse que a maior parte tinha se estragado e, por isso, depois da morte dele, a família resolveu jogar tudo fora. Mas que traria o que conseguiram recuperar. Voltou com alguns negativos de outros casamentos, mas nenhum do nosso.

- Quer saber? Não sei se foi assim tão ruim. Veja bem, o que esse álbum significaria agora? Além de mostrar você tão linda, vestida de noiva, o que mais representaria? Seria um testemunho do nosso fracasso, dos nossos enganos, dos sonhos desfeitos, das ilusões perdidas? (Pô, isso ficou parecendo música de corno!).

- Não estou brincando, falo sério. Acho que a perda dos negativos do nosso álbum é um fecho definitivo para o que foi nosso casamento, concorda? É melhor que as lembranças sobrevivam apenas em nossas mentes. Assim, podemos escolher se ficamos com as melhores ou as piores. Com o passar do tempo, nem isso.

- Não precisa agradecer! Foi legal conversar outra vez com você, ouvir de novo sua voz. 

- Não, acho que não... Não temos mais nada a falar.

- Não se cola vidro quebrado, sabe? Ainda mais depois de tanto tempo...

- OK, outro para você. Cuide-se.

- Adeus.




2 comentários:

  1. Sei não... acho que isso ainda vai ter continuação!

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    1. Acho que não, Marreta. O Blogson não é Hollywood, que ressuscita até morto para dar continuidade a um filme de sucesso. Ou faz uma continuação escrota do filme Psicose. Para mim, o melhor trecho da segunda parte é justamente aquele "Adeus" sem ênfase, sem emoção. Aliás, deve ter percebido que a segunda parte é justamente a que se baseou em fatos reais. E quem bancou o detetive para uma pessoa próxima fomos eu e minha Amada, porque o fotógrafo Paulinho (apelido real) fotografou também nosso casamento.
      Relendo agora, vejo que o texto (especialmente a primeira parte, da qual gostei mais no início) ficou menos que meia boca. Por isso, aceite a vocação real deste blog, que é contar "causos", falar de inutilidades, banalidades e idiotices.

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