domingo, 31 de agosto de 2014

IMBRÓGLIO

Recentemente. o Papa Francisco canonizou o Papa João Paulo II. Até aí, tudo bem, pois o Karol Wojtyla era dez. 

Quando o Papa Francisco já tiver morrido, talvez pensem também em canonizá-lo, talvez não. Se virar santo, provavelmente será conhecido pelos argentinos como San Francisco... 

Se não virar, pode pelo menos ser lembrado como Stan Francisco. Olhaí.

(sem sacanagem, eu acho que mandei bem agora. É verdade que meu carnê de viagem para o inferno teve mais uma parcela quitada).


sábado, 30 de agosto de 2014

SILÊNCIO OBSEQUIOSO

-   Resolvi criar um blog!

-   Para que?

-   Em vez de ficar mandando e-mails pra vocês com as coisas que me vêm à cabeça, vocês poderão entrar no blog e ler tudo!

-   Que alívio, meu...

-   Não entendi, mas tudo bem. Estou empolgadão!

-   Se você está assim, imagine seus amigos como ficarão quando souberem da boa nova ...

-   Já pensou?

-   E você já tem alguma coisa para colocar?

-   Aí é que mora o segredo! Tudo o que eu mandei pra vocês está guardado. Precisa só dar uma recicladinha e tá pronto.

-   Está falando sério ou isso é porque você é meio retardado?

-   Seríssimo!! Todo mundo reclama que eu falo demais, mas assim eu vou mostrar que não sou de jogar conversa fora. Boa essa, não?

-   Pôô!... Você disse que precisa dar só uma reciclada. E qual será o nome do seu blog - "Aterro Sanitário"? Porque você não é prolixo, você é pro lixo!

-   Tá de sacanagem comigo! Eu, sem falsa modéstia, escrevo bem pra caralho.

-   Deus tá vendo! É cada “joia” que envia! E como você é meio mal acabado, deve ser por isso que quando se aproxima, o pessoal já diz – “lá vem o Spamtalho”... 

-   Isso é gozação!

-   Tá bom, vou mudar de assunto. Qual será mesmo o nome do seu blog?

-   Ainda não decidi, mas já pensei em colocar junto com o nome uma frase bem sacada, só pra causar impacto.

-   Impacto?

-   É, tipo assim “o blog da vaidade exacerbada” ou “o blog sem desconfiômetro” ou, até mesmo, o ” blog da solidão ampliada”.

-   Com os dois primeiros eu concordo totalmente, mas por que “Solidão ampliada”?

-   É, porque quando eu escrevo eu estou totalmente solitário.

-   Aaah, sei! Mas eu tenho outra frase legal para você pensar nela, que seria uma homenagem aos seus amigos e parentes e uma referência à "aprovação" que fazemos de sua "obra".

-   Gostei! E qual seria?

-   O blog do silêncio obsequioso

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE (PASSANDO A SUJO)

Quando trabalhava em construtora, fiquei sabendo de um caso explícito de “mau-caratismo”. Um colega fez um elaborado estudo sobre algum assunto, para a diretoria da empresa. Esse engenheiro era muito inteligente, culto e escrevia bem pra caramba, além de ter ótima caligrafia. Não sei se chegou a apresentar o trabalho. O que sei é que outro engenheiro, um picareta ignorante e mesquinho, pegou esse trabalho e reescreveu tudo com a própria letra (não havia computadores) e o apresentou ao diretor.

Quando ficamos sabendo disso, um sujeito sarcástico disse que o texto tinha sido “passado a sujo”, porque estava até com erros de português e a letra do plagiador era muito mais feia que a do autor original  e comentou: “como ele é semianalfabeto, nem passar a limpo direito ele conseguiu”. Nós (aí incluído o diretor) rimos muito desse caso, mas, curiosamente, não houve punição para o mau-caráter.

Lembrei-me desse caso porque no ano passado eu mandei para algumas pessoas um texto com uma reflexão estilo "poça d'água“ (profunda como) sobre uma ideia que vinha me atormentando. Como gosto de criar títulos malucos para as coisas que escrevo, dei a esse texto o título de “Assim caminha a humanidade” por conta do assunto abordado. 

Recentemente, relendo o que havia encaminhado, achei que não dizia coisa com coisa. Aí resolvi passar essa ideia a limpo, ou melhor, “a sujo”, pois o que já era ruim ficou pior (por ter sido expandido). Então, sofrendo de novo:

Eu gosto muito de documentários sobre os grandes animais da África. Tenho especial predileção pelas cenas de caça (seria sadismo? sei lá). E uma coisa que descobri é que os predadores escolhem suas presas entre os animais mais velhos, os filhotes ou os que estão distraídos e perto demais para conseguir fugir.

A lógica disso é simples e já foi exposta em uma piada, aquela em que um sujeito vira para o companheiro de caçada e diz que não precisa correr mais que o leão, só precisa correr mais que o amigo.

Lembrando isso, outro dia me ocorreu uma ideia tipo papo cabeça, cabeça de vento, talvez, que é a seguinte (concentrando-me no exemplo dos animais mais velhos porque será?): comparadas duas pessoas de mesma faixa etária, a expectativa de vida será menor para aquela que tiver os passos mais vacilantes, menos vigor, menos desembaraço e mais dificuldade para caminhar. Como se pode notar, esta é mais uma teoria miojo.

Talvez por apresentar hoje as provas do meu desleixo e da minha irresponsabilidade com a própria saúde – artrose nos joelhos (entre outras “coisinhas”), provavelmente antecipada pelo sobrepeso que carrego displicentemente na pança, essa ideia tem se mostrado bem recorrente na minha cabeça.  

Então, bem ao estilo poça d’água, o lance é o seguinte: a capacidade de locomover-se, de deslocar-se, de caminhar foi fundamental nas migrações dos diversos povos, desde o princípio da humanidade. Expressões metafóricas do tipo “estrada da vida”, “caminhada por este mundo”, “ele deu um mau passo” são ouvidas com frequência, tal é a importância do ato de andar.

Assim, a dificuldade de caminhar notada especialmente nos idosos sinaliza (para mim, pelo menos) que a pessoa com essa limitação tem uma expectativa de vida abreviada, se comparada com ela própria se não tivesse nenhuma restrição motora. Pode ser também que essa dificuldade de locomoção seja apenas a ponta do iceberg. 

Porque penso assim? Porque quando alguém começa a ter dificuldade para locomover-se sozinho, a tendência é ficar em repouso, na maior parte do tempo sentado. E aí o organismo começa a reagir (mal) a essas mudanças. E tudo começa a ir para o ralo. A experiência é pessoal, acreditem.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

FÁBULAS DO DESENGANO - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

Na edição número 2320 da revista VEJA, publicada em 8 de maio de 2013, eu li um artigo do Roberto Pompeu de Toledo, que tinha o título "Fábulas do Desengano". Há muito tempo sou fã desse jornalista, pois tudo o que escreve me deixa babando de admiração, seja pela elegância do estilo, clareza de ideias ou pertinência das observações e comentários.

Bom, eu gostei tanto do artigo citado, que tive o trabalho de escanear o texto via OCR e revisar para ficar igualzinho na revista. Aí mandei por e-mail para meus filhos. Lembrando-me disso, achei que esse texto seria uma ótima forma de reverenciar seu autor. Se a VEJA não fosse a excelente revista que é, só os artigos da última página, onde se alternam Roberto Pompeu de Toledo e J. R. Guzzo, já fariam  valer a pena a assinatura ou compra avulsa dessa publicação. 

Um dos autores que eu já reverenciei neste blog é justamente J. R. Guzzo. E o texto escolhido foi “Analfabetos Voluntários”. Talvez pela visibilidade do autor, talvez por ter sido extraído dessa revista, talvez apenas por ser um excelente e super bem escrito artigo, o fato é que esse post tornou-se o top de linha do blog, com mais de 180 acessos (este é um blog modesto e praticamente invisível, porque tem, no máximo, uns 3,5 leitores).

Não duvido que o homenageado de hoje vá pelo mesmo caminho, pois ele e o Guzzo se equivalem em excelência. Roberto Pompeu de Toledo, portanto, é "O Cara" desta semana. Por isso, espero que meus 3,5 leitores também o apreciem. E como o artigo escaneado é de 2013, tomo a liberdade de transcrevê-lo na íntegra, porque deve ser difícil encontrá-lo e, claro, porque é ótimo. Vamos lá:


Uma das passagens mais conhecidas de Dostoievski é a história do Grande Inquisidor, relatada no livro Os Irmãos Karamazov. O cenário é Sevilha, nos tempos da Inquisição. Ainda na véspera, uma centena de hereges havia sido queimada, para maior glória de Deus, num soberbo auto de fé. Eis que agora... quem aparece, caminhando suavemente, na mesma praça? Ele mesmo: Jesus! Estava escrito que um dia voltaria. Decidiu voltar, bem de acordo com seu conhecido gosto pelas estratégias de risco, num momento da história em que os que se fizeram de donos de sua mensagem adotaram a política de silenciar pelas chamas os insubmissos, os desobedientes, os desviantes ou os considerados como tais.

A multidão se aglomera diante dele. Vem um cego e pede: "Senhor, cura-me". Um gesto, e o cego vê. O povo rejubila-se, canta hosanas. No momento em que adentra a catedral, encontra o pequeno caixão de uma criança morta. A mãe se aproxima, entre lágrimas. "Ressuscita minha filha." Ele ordena à criança: "Levanta-te" - e ela se levanta. Nesse momento, surge em cena o Grande Inquisidor, É um velho alto, de face seca e olhar no qual brilha um sinistro clarão. Ele viu tudo: o cego que agora enxerga, a criança que voltou à vida. Aponta o dedo para o autor dos milagres e ordena aos guardas: "Prendam esse homem". O preso é recolhido ao calabouço dos hereges. À noite, o Grande Inquisidor aparece na cela. É um homem muito ciente de seus deveres e de sua autoridade e por isso lhe comunica que, no dia seguinte, será queimado. Não dá ao condenado nem o direito de palavra. Ordena-lhe: "Não digas nada, cala-te. Que poderias tu dizer? Não tens o direito de acrescentar uma só palavra ao que disseste outrora".

Dostoievski tinha em mente Jesus e os descaminhos de sua herança nas mãos dos que dela se apropriaram. Uma moral expandida da fábula poderia incluir os grandes pensadores, os políticos, os economistas ou os artistas em nome dos quais seus seguidores, admiradores ou intérpretes haurem prestígio e autoridade. E se eles voltassem? Se Marx voltasse, ou Freud, ou Darwin? Como reagiriam os chefes de suas respectivas igrejas? Para ficar mais perto, e se Bolívar voltasse à Venezuela? Teria ele o direito de acrescentar alguma palavra ao que disse outrora?

O escritor italiano Italo Svevo (1861-1928) deixou esboçada uma história, que afinal a morte o impediu de desenvolver, na qual um velho, ao preparar-se para dormir, à meia-noite, lembra que essa é a hora em que Mefistófeles costuma aparecer e propor seus famosos pactos. A esposa, na cama, já dorme placidamente. O velho deixa-se levar pelo devaneio e conclui que - sim, por que não? – de bom grado cederia a alma ao demônio. A questão é: o que pedir em troca? Imagina Mefistófeles, satisfeito por ter amealhado mais um, à espera apenas de que ele declinasse o preço. O velho pensa, pensa, e não chega a uma conclusão. Pedir de volta a juventude? Mas por quê, se ela é insensata e cruel, ainda que a velhice seja intolerável? A imortalidade? Por quê, se a vida é insuportável, ainda que nos atormente a angústia da morte? O velho se dá conta de que nada tem a pedir e, ao imaginar o embaraço do Mefisto, diante de tão surpreendente situação, põe-se a rir, e tanto que a mulher acorda. "Rindo, a esta hora", diz ela."Ê homem de sorte."

A fábula de Svevo é parecida com uma outra, de Monteiro Lobato, nesse grande livro que é Reinações de Narizinho. Dona Aranha, exímia costureira, faz o vestido de baile com o qual Narizinho vai se apresentar à corte do Príncipe Escamado. O vestido fica tão bonito que o espelho diante do qual a menina foi prová-lo arregala os olhos de espanto, e, à medida que são acrescentados os adereços, mais os arregala, e mais ainda, até que, de tanto se espantar, racha de alto a baixo. Era o sinal que Dona Aranha esperava desde que tinha nascido e, de menina que era, fora transformada em aranha por uma fada má. Ao mesmo tempo, uma fada boa lhe dera aquele espelho, prometendo que, no dia em que fizesse o vestido mais lindo do mundo, deixaria de ser aranha para ser o que quisesse. E agora? Dona Aranha pensa, pensa. Transformar-se em quê? Princesa? Sereia? Pensa, pensa, e desiste. "Acho melhor ficar no que sou. Estou acostumadíssima." Tanto na fábula de Svevo quanto na de Lobato a magia é derrotada. Por isso são tão saborosas. É uma delícia ver seres superpoderosos, como Mefistófeles ou as fadas, reduzidos à impotência, diante de quem despreza os seus serviços.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

DARTH VADER

Acho que não estou falando nenhuma novidade, mas já repararam como as mães e as irmãs são generosas ao comentar os defeitos e qualidades dos filhos ou irmãos?

Mãe, então, é demais. Se o filho for um Norman Bates, um “serial killer” ou apenas um vagabundo, não duvido nada que ela saia em sua defesa dizendo – “ele é muito bom para mim, me ajuda tanto!” E daí?

As irmãs não ficam muito atrás. Se o sujeito é só um perdedor, um cachaceiro desocupado que – de vez em quando – arruma uns bicos para descolar um troco, só falta a irmã falar que o idiota é microempresário. Mas, se apertar, tenho certeza que ela dirá que o irresponsável trabalha por conta própria, é autônomo.

No quesito “condescendência”, as irmãs tiram nota nove, normalmente só perdem para as mães, que tiram sempre dez, "nota dez!". Isso, traduzido, significa que ambas são péssimas para julgar de forma isenta as qualidades e defeitos dos irmãos ou filhos. Podem acreditar, isso é real. Minha mãe era assim também. Hoje, não sei, porque não frequento o “Centro Oriente”.

Porque entrei nessa? É que minha irmã já disse algumas vezes que eu sou um desperdiçado, porque seria “multi-talentoso”, já que toco violão, desenho e escrevo. Falando sério, isso é coisa de irmã mesmo.

Se formos analisar a realidade chegamos à seguinte situação: quando jovem, eu gostava de desenhar e até sonhava em me tornar um cartunista. O problema é que o “produto” obtido apenas demonstrava que eu não passo de um autista gráfico.

Se o assunto é música, a coisa fica ainda mais feia, pois sou apenas um espancador de violão. Mas eu queria ser guitarrista de banda de rock, um Eric Clapton, um Slash ou até um George Harrison. Entretanto, o máximo que eu consegui ser foi um George Ha Ha riso...

O que sobra então é o fato de que gosto de escrever. Como minha autocrítica é zero, aprecio o que faço (até criei este blog!). E embora eu sonhasse escrever com a elegância e o lirismo do Rubem Braga, a análise literária dos textos demonstra outra coisa: eu abuso tanto do uso de vírgulas que, se fossem droga, eu já teria sido internado em clínica de reabilitação.

Eu também não sei usar travessão direito; nem dois pontos. O tempo todo eu sou atropelado pelos sinais gráficos e o pior é que nunca consigo anotar a placa. Ponto e vírgula, então, dá até vergonha; eu realmente não sei como se usa essa merda! Quem lê o que escrevo só fica mesmo aliviado quando vê o ponto final.

Tem mais: eu mencionei “análise literária”, mas a qualidade e originalidade do que escrevo estão mais para ser examinadas em laboratórios de análises clínicas tipo Hermes Pardini – e levadas em potinhos!

Então, voltando ao julgamento equivocado de minha irmã, o que posso dizer é que desenho mal, toco violão mal e escrevo mal. Ou seja, o que eu sou realmente é um cara do Mal.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

NIEMEYER

O arquiteto Oscar Niemeyer morreu em dezembro de 2012, com 104 anos, se não me engano. Embora considerado gênio por alguns, tinha também quem o criticasse. E com razão.

Por fora, as obras que projetou são lindíssimas; por dentro são uma tranqueira só. Quem duvidar disso, que entre em um apartamento do Edifício JK. Mas isso passou, já é parte da História.

Como sou apenas um ociólogo, o objetivo deste post é esclarecer uma questão relacionada à longa vida do arquiteto. Antes de mais nada, é importante destacar que ele era ateu. Então, a resposta à pergunta “Por que o Niemeyer morreu com 104 anos?” é simples: Problemas relacionados à fé (ou à sua falta), só recentemente resolvidos. É verdade!

Quando ele estava com uns noventa e tantos anos, já morre não morre, Deus e o Diabo tiveram um pequeno bate-boca por sua causa. E Deus falou assim:

-   No Céu, esse cara não pode entrar! Ele não crê em mim!!

O Diabo, lá do Inferno, retrucou:

-   Nem fodendo que ele entra aqui, ele também não acredita em mim!

Aí ficou aquele jogo de empurra celestial, o tempo passando, até que se chegou a um acordo: ficou estabelecido que sua alma ficaria em uma das obras que projetou; mais precisamente, no Centro Administrativo de Minas Gerais, só para ele aprender, só para ele sentir o peso da goiaba.

P.S. Foi um passarinho que contou essa história, um passarinho com poderes mediúnicos, conhecido por Tico-Tico Xavier. (essa piada sensacional, a melhor do texto, é do meu filho).


domingo, 24 de agosto de 2014

ZULU

Quando o Papa Francisco esteve no Brasil, em 2013, todos os católicos se agitaram e se alegraram com sua visita ao país. Entre eles, eu.

Talvez por causa disso, o Zulu, meu “neto” canino parece ter tentado se converter ao catolicismo. Verdade! 

Tinha uma cruzinha de madeira do Encontro de Jovens dando sopa em cima de um armário, na coberta onde ele costuma ficar. 

Aí, ele "crau" (só achei a cordinha e um pedacinho de madeira preso a ela). Tudo bem que não é hóstia, mas acho que valeu a intenção.


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ANALFABETOS VOLUNTÁRIOS – J. R. GUZZO

A revista VEJA tem dois articulistas que eu admiro muito. Os artigos de Roberto Pompeu de Toledo e J. R. Guzzo são sempre ótima e prazerosa leitura - os textos são sempre elegantes, o assuntos são sempre pertinentes e o estilo é muito, muito bom.  Como esta seção destina-se a divulgar textos e poemas de escritores que eu reverencio, nada melhor que começar com a transcrição de parte de um artigo publicado na VEJA n° 2377, de 11 de junho de 2014. O autor é J. R. Guzzo, um mestre. 
Se alguém se interessar em ler o artigo completo, eu direi delicadamente: vá consultar o site da revista, pô! É isso.

Caso você esteja entre a multidão que nunca lê um livro, ou uma frase com mais de 140 toques, e nunca escreve nada mais longo do que isso, aqui vai uma notícia interessante: você é um analfabeto. Eu? Sim, você mesmo. É uma pena; infelizmente, também é a verdade. Tanto faz que tenha se formado na universidade, seja um alto executivo multinacional ou nacional, disponha de um certificado de "celebridade", por ser top model ou alguma coisa "famosa", possa utilizar 150 "apps" no seu celular, conte com 1000 amigos no Facebook e, em casos extremos, tenha até sido presidente da República. O indivíduo que nunca lê nada é uma vítima do analfabetismo - vítima voluntária, certo, mas analfabeta do mesmo jeito. (...)
 Na verdade, vigora hoje em dia um desprezo ativo pela leitura - um "porre", tanto maior quanto menos recentes são os autores. Se você já leu um livro de Eça de Queiroz, por exemplo, é melhor não ficar contando isso por aí - corre o risco de ser considerado um mala, e ainda por cima metido a besta. Escrever, então, pode ser até pior. A carta, em que as pessoas aprendiam a se expressar, transmitir emoções e juntar uma ideia com outra, é hoje um objeto extinto. Foi substituída por e-mails cada vez mais subnutridos, áridos e sem alma; um operador de código Morse escreveria com estilo melhor. (...)

Será que abolir da vida a imaginação e a curiosidade, como tanta gente está fazendo, torna as pessoas mais inteligentes, produtivas ou eficazes?

Todas as vezes em que você perceber que está ao lado da maioria, é hora de fazer uma pausa e pensar um pouco.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

TE CUIDA, GUTENBERG!

"The times they are a-changin’’, disse um dia o Bob Dylan (essa é uma frase totalmente desnecessária e foi colocada aqui só de frescura).

Em um tempo onde as redes sociais arrebanham mais de um sexto da população alfabetizada mundial, os costumes têm mudado muito rápido e certamente mudarão mais ainda. Por exemplo, a forma de expressar-se por escrito: muita coisa do que rola nos facebooks da vida é uma lástima. Por descuido, displicência ou ignorância sai cada tijolada que é duro de aguentar. E olha que eu nem participo de nenhuma das redes existentes (sou do tempo da comunicação por tambor ou sinais de fumaça)!

Recentemente, li uma frase que terminava assim: “tem que ri”. Analfabetismo funcional da melhor qualidade, lógico. E o que me entristece é a certeza de que esse tipo de erro não é resultante de falha na digitação, mas de falta de leitura mesmo. 

Fico pensando que, se um dia acabarem os livros impressos em papel, o coitado do Gutenberg vai girar tanto no túmulo que seus “vizinhos” vão passar a chamá-lo de “Hélice” (essa piada – ótima – não é minha).

Independente do que acontecer, o vocabulário corrente tem mudado. E se algumas palavras estão meio esquecidas o mesmo pode estar acontecendo com expressões e ditados da chamada “sabedoria popular”. Pensando nisso, resolvi dar minha contribuição para a revitalização dessas frases (com a ajuda de meus filhos, lógico). E saiu isso:


VERSÃO ORIGINAL
VERSÃO ATUALIZADA
Para bom entendedor, meia palavra basta.
Para bom entendedor, setenta caracteres bastam.
Família só é bom em porta-retratos
Família só é bom em álbum do Instagram
Uma imagem vale mais que mil palavras
Um Pinterest vale mais que mil tweets
Minha vida é um livro aberto
Minha vida é um Facebook desbloqueado
“Itabira é só um retrato na parede, mas como dói!” (Carlos Drummond de Andrade)
“Itabira é só uma foto no Instagram, mas como dói!”

domingo, 17 de agosto de 2014

ORAÇÃO, FRASE OU PERÍODO?

Eu preciso mais de Deus do que ele de mim

FÍSICA
Ainda que contrariados em suas crenças, nem os ateus escapam desta realidade: após a morte, somos todos eternos. Pelo menos, no nível sub-atômico...

À TOA
Ateu é foda, vive sempre falando de religião (contra, a bem da verdade), sempre dando um jeitinho de botar sua "fé"(?) em pauta. Eu respeito integralmente o direito desse pessoal de se expressar, mas, em se tratando de religião, sinto-me mais autorizado a falar. Afinal, eu (ainda) tenho uma!!

DEDICADO AOS ATEUS, AGNÓSTICOS E SIMPATIZANTES
Acredito que sofra de uma forma branda de TOC, pois tenho alguns assuntos recorrentes, algo assim como cometas, que volta e meia fazem uma órbita em minha "ensolarada" mente. Para alguns (99,9999%), TOC significa Transtorno Obssessivo-Compulsivo. Mas, pelo assunto a ser abordado, pode também ser entendido como Teologicamente Odioso aos Crentes - ou Cristãos (já fodeu!). Por conta desse TOC, vira e mexe o assunto "religião" me vem à cabeça. Daí surgiu este pensamento:

Ateu é o sujeito que acredita na descrença.

sábado, 16 de agosto de 2014

TOP CHEF

-     Aquele gatinho está me olhando!

-     Pode esquecer. É  gay.

-     Você conhece?

-     Não, mas está na cara.

-     Como é que você pode falar uma coisa dessas?

-     É só olhar a roupa: é tão justa que só cantor sertanejo tem autoridade moral para usar. E, assim mesmo, só em show.

-     Não fala assim! Ele está super bem vestido!

-     A roupa está mais colada no corpo que pintura corporal de BBB_aranga.

-     Você é a mãe do preconceito! Ele continua olhando...

-     Deve estar com inveja do seu brinco.

-     Ah, para!

-     Por falar em apara, a barba dele é aparada igual à do George Michael. Gay, lógico.

-     E o amigo que está com ele?

-  Amigo, não. Pegante. Quando deu uma golada naquela mistura de chá de losna, groselha e álcool, deu um arrepio tão grande que dava para congelar até a bunda dos pinguins de Madagascar.

-     Ô cascavel! Se morder a língua...

-     Olha só, ele fez agora um gesto tão delicado com a mão que parecia estar regendo o "Noturno" de Chopin.

-     Chopin? Vai ver, ele é maestro.

-     Se é maestro, eu não sei, mas brinca com a batuta...

-     Amiiiga!!! Ele tem um jeito tão viril!

-     Só se for “viril de costas”, porque ele vira.

-     Credo!...

-     Vai por mim, é gay.

-     Ai! Você tinha razão! Ele acabou de fazer um cafuné na nuca do pegante!

-     Eu tenho olho clínico...

-   Está mais para olho cínico! Agora, só falta você falar para eu dar pro garçom!

-     Porque garçom? Pro Chef é melhor – se for novinho, lógico.

-     Que que tem uma coisa com a outra?

-     Chef é quem entende de comida boa...

-     Taí, vamos conhecer a cozinha?

-     Bora!


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RESILIÊNCIA

Segundo a Professora Sandra Maia Farias Vasconcelos, para a Psicologia, resiliência “é a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência do individuo face às adversidades, não somente guiada por uma resistência física, mas pela visão positiva de reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo, do estresse, das contrições sociais, que influenciam negativamente para seu retorno à vida”.

Embora eu ache bacana essa definição e não tenha nenhuma formação nessa área, creio que falta a ela um complemento que é mostrado a seguir.

Eu ganhei uma revista de bordo da TAP. Uma de suas reportagens fala da escritora Dulce Maria Cardoso, portuguesa nascida em Angola, que, em consequência da guerra civil, mudou-se para Portugal (onde estranhou tudo, inclusive o frio). Essa experiência a inspirou a escrever o livro "O Retorno", cujo protagonista é um jovem também nascido em Angola, etc. Segundo ela, não é um livro autobiográfico, mas "um romance sobre a perda".

Feita essa introdução, transcrevo um comentário da autora, que caiu como uma bomba em minha cabeça, pois externou muito do que eu sentia ou pressentia sobre a barra de enfrentar grandes perdas (de qualquer natureza) e seguir em frente (o grifo é meu). Vamos lá:

"(...) um sobrevivente precisa de uma dose muito grande de determinação, mas também precisa de outra de indiferença. As pessoas falam sempre é da história do vencedor... Mas é preciso ser muito indiferente para não sucumbir e continuar. Eu sou essa pessoa, sou uma sobrevivente".

Pra ser sincero, esse texto da revista da TAP me chamou a atenção por causa de uma senhora que conheço. Ela sofreu imensas perdas ao longo de sua vida e sobreviveu (bem) a todas, talvez por uma sabedoria intuitiva, o que também a fez melhorar com a passagem do tempo. Ela, sim, seguiu bastante bem a sugestão "carpe diem".

As perdas a que me referi são as seguintes:
-     Perda da mãe biológica e dos dois irmãos (menores que ela), aos quatro anos de idade.
-    Descoberta, aos 15 anos, que a senhora a quem ela amava e chamava de mãe era apenas sua madrasta.
-     Perda dos vínculos familiares com a mudança de Niterói para BH
-     Perda do pai
-     Perda da mãe (madrasta)
-     Perda do marido
-     Perda dos três irmãos, mais novos que ela e  nascidos do segundo casamento de seu pai.

Ou seja, embora algumas fossem previsíveis, é muita perda, decepção e sofrimento para uma só pessoa. Eu ficava admirado como ela tinha conseguido sobreviver a tudo isso sem cair na depressão (pelo contrário, sempre demonstrando uma enorme vontade e alegria de viver, coisa a que os filhos nunca conseguiram se equiparar). E eu pressentia que essa capacidade de superação estava intrinsecamente associada à pouca absorção da dor ou, na melhor hipótese, a um rápido processamento dessa mesma dor, como se houvesse uma blindagem contra o sofrimento prolongado. Aí, quando eu li a declaração da escritora, aquilo se encaixou na minha mente como duas peças de lego.

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4