sábado, 1 de março de 2025

SOMBRAS DA MISÉRIA

 
Com o passar dos anos – seja pelo amadurecimento, seja por minha crescente fragilidade financeira (falta de dinheiro mesmo) –, tenho adquirido uma visão mais "social" da vida. Hoje eu vejo o que não via antes, hoje enxergo, com mais clareza, a tragédia vivida pelos mais vulneráveis. E nada me impressiona tanto quanto a realidade das pessoas que dormem nas ruas, tendo apenas um pedaço de papelão como barreira contra o frio e a dureza do chão.
 
A maioria tem um perfil semelhante: homens de pele preta ou parda – um testemunho do racismo institucional existente –, entre 30 e 50 anos, de magreza muito acentuada, aspecto de quem não toma banho há muito tempo, vestindo roupas escuras e puídas. Imagino que nunca saibam qual será a próxima refeição nem onde a obterão. Caminham pelas ruas carregando sacos plásticos pretos, onde guardam seus poucos pertences e o lixo reciclável que recolhem. Mas ninguém os nota. Ninguém os vê. Não são pessoas, são sombras. Seus vultos escuros são como sombras projetadas nos muros – as sombras da miséria.

2 comentários:

  1. Sabe o que é pior (ou melhor)?Já foi muito pior...
    a condição normal das pessoas no mundo durante milênios foi de pobreza. A pobreza já começou a dar trégua a partir da revolução industrial na Inglaterra.
    Sim, não é de se comemorar haver "menos" pobres do que na Idade Média. O Brasil ainda precisa crescer muito economicamente para deixar a pobreza em níveis civilizados.
    Uma sociedade onde não haja pobres me parece utopia.

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    1. Concordo com você, mas não deixa de ser esquisito enxergar as pessoas apenas como sombras. Foi isso que eu tentei transmitir.

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