Acredito que seja uma situação comum a várias
faculdades: a cada nova turma sempre surge alguém que você não consegue
entender como conseguiu passar no vestibular. São sempre meio aloprados e
capazes de enlouquecer os professores. A minha turma também tinha o seu. O
apelido era Fico, abreviatura de Frederico.
Totalmente sem noção, falava alto pelos
corredores, continuava falando ao entrar na sala de aula e interrompia os
professores com perguntas inacreditavelmente estapafúrdias. Colava em todas as
provas e tinha um riso pra lá de cínico e debochado. Fora da escola, ao passar
perto de um grupo de pessoas na calçada, fazia bundalelê de dentro de uma Kombi
de portas abertas, e ria depois, ao exibir sua cara de louco. Todos os professores e alunos o conheciam.
Uma das disciplinas do segundo ano era Mecânica
Racional, matéria insuportável e difícil pra caramba. O catedrático era um
sujeito seco, mal humorado e com alma de carrasco. A avaliação era feita com
três provas bimensais valendo 20 pontos e uma final valendo quarenta. Para ser
aprovado o aluno precisava totalizar 60 pontos. Se conseguisse fechar as três
provas bimensais, não precisaria encarar a prova final. As questões eram tão difíceis
que 70% dos alunos não conseguiram a nota mínima, sendo despachados para a
segunda época ou dependência.
Em dias de prova, para evitar que os alunos
colassem, os professores assistentes ou monitores já deixavam as provas em
filas e carteiras alternadas, tornando impossível qualquer conversa. Essa era a barreira a ser transposta pelo
aloprado Fico. Ele ficava sentado na primeira carteira da primeira fileira, ao
lado da porta. Na primeira distração do monitor ele saia da sala e ia resolver
as questões com alunos mais velhos, que já o aguardavam do lado de fora. Como as
provas eram muito difíceis, a maioria dos alunos só entregava mesmo no final, quando
o monitor já ameaçava não aceitar provas entregues depois do horário. Esse era
o momento esperado pelo Fico. Naquele abafa todo, ele chegava e entregava a
prova resolvida.
Na primeira prova tirou 20 em 20. O mesmo
aconteceu com a segunda prova. Só faltava a terceira para se livrar daquela
matéria. Mas aquelas notas não passaram despercebidas pelo catedrático. No dia
da terceira prova quem ficou na sala do Fico tomando conta foi ele, o carrasco, o próprio
catedrático. Resultado: zero pontos, prova final e segunda época ou dependência.
Por incrível que pareça esse louco conseguiu
se formar e ser admitido como engenheiro na mesma construtora onde trabalhei.
Foi despachado para uma obra de terraplenagem no interior. Vivia com o walkie
talkie na mão chamando os outros engenheiros de “boca de égua”. Um dia um dos
encarregados o procurou para tirar uma dúvida e recebeu esta resposta (contada
pelo próprio Fico):
- Se
você, puta velha, não aprendeu isso até hoje não sou eu quem vai te ensinar! (claro, ele também
não sabia!).
Para finalizar, um caso bem no estilo hardcore,
contado às gargalhadas por um dos diretores da empresa. Segundo ele, o
vice-presidente da empresa, um senhor seríssimo, velhinho, verdadeiro gentleman,
sempre de terno, sempre afável, resolveu visitar a obra onde o Fico estava
lotado. Lá pelas tantas, a bexiga deu sinais de que precisava de atenção.
Indicaram para ele um sanitário feito de
tábuas, verdadeiro muquifo, bem no meio do nada. As paredes internas da
"casinha" eram cobertas com fotos de mulheres nuas e a porta não
fechava direito. Estava ele lá se aliviando, quando o aloprado Fico enfiou a
cabeça pela porta entreaberta e cinicamente perguntou:
- Aí,
Dr. Fulano! Batendo uma punhetinha?
Causo muito bom. Conheci um cara assim, se não me falha a memória, na sexta série. Toda escola conhecia o cara. Zoava toda mundo, tirava onda de atleta, paquerava todas as meninas. Um dia uma professora quebrou uma régua em sua cabeça...coisas dos anos 70! Só tinha um detalhe o filho da puta: era o aluno mais inteligente da classe. Eu o odiava.
ResponderExcluirTambém, com todos esses predicados! Devia ter metido porrada nele, só para deixar de ser besta.
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