Na década de 1960 li na revista Seleções uma daquelas reportagens de provocar comichão no cérebro: dois gigantescos templos da época dos faraós estavam sendo ou seriam transportados para novo local por conta da construção da barragem de Assuã. Se isso não fosse feito, os magníficos monumentos ficariam submersos quando as águas do lago chegassem a seu nível máximo de projeto. Até onde me lembro, os templos foram cortados em vários pedaços, devidamente numerados e identificados para sua remontagem no novo local.
O remanejamento de relíquias milenares não provoca maior comoção, pois não há ninguém para lamentar a perda de seu local de nascimento ou destruição de cemitérios e templos. Por isso, não dá para fazer resorts em locais destruídos por bombas e que eram habitados e ocupados há milênios por uma população que agora querem remover sem se preocupar com a destruição de seus vínculos emocionais e religiosos, se me entendem.
Mas, a coisa pode mudar de figura como aconteceu no caso da construção da represa de Assuã. No Brasil, quando resolveram construir a hidrelétrica de Sobradinho verificou-se que o enchimento progressivo do lago que iria se formar simplesmente “afogaria” alguns municípios existentes. Para resolver o problema, construíram novas cidades para abrigar a população desalojada. E esta é a história de hoje.
Em post recentíssimo (nunca sei a ordem que escolherei para minhas publicações) mencionei ter-me tornado “amigo de facebook” do cantor e compositor Guttemberg Guarabyra, um dos expoentes do que alguém resolveu chamar de “rock rural”. Talvez por isso sua fama não seja tão grande quanto a de seus conterrâneos baianos ou de artistas como Chico Buarque. Bom, esta é minha opinião.
Por isso, resolvi apresentar meu “amigo” a quem ainda não o conhece (embora existam no Blogson pelo menos duas de suas composições – a sofisticada “Margarida” e “Hoje ainda é dia de rock” – ambas excelentes.
A música de hoje é “Sobradinho”, gravada na época em que Guarabyra formava um trio com Luis Carlos Sá e o finado Zé Rodrix. Eu adoro essa música (e um dos motivos é porque consegui "tirá-la" no violão sem ajuda externa). Ela representa bem a marcha "inexorável" do progresso, pois fala da hidrelétrica de Sobradinho e das cidades inundadas durante a formação do lago da barragem.
Na época em que ouvi a música, achei curiosos os nomes dos municípios "afogados": Pilão Arcado, Remanso, Sento-Sé, Casa Nova e Sobradinho. Depois da barragem pronta, olhei o mapa e lá estavam aqueles nomes, identificando as cidades recriadas em outro lugar.
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