sexta-feira, 21 de março de 2025

GOTA D'ÁGUA

 
Tenho andado com um nível de stress e esgotamento mental tão elevados que tudo tem tomado uma dimensão diferente do que aconteceria em épocas mais amenas. Por isso, ao ler um comentário ironizando e duvidando de meu comportamento “moderado”, não consegui deixar de ficar aborrecido, pois estou na linha da letra do Chico: “qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água”.
 
Mas sou um cara educado, pouco afeito a “entrar em bola dividida”. Por isso, resolvi (re)escrever esta reflexão, lembrando a frase equivocadamente atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavras do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las". E é aqui que começa a reflexão.
 
 “A virtude está no meio do justo equilíbrio entre os extremos”. Quem disse isso foi Aristóteles, “o ser humano mais importante que já viveu”, na opinião do filósofo britânico John Sellars.
 
Alguém aí notou que estou falando de moderação e bom senso, de equilíbrio e respeito à diversidade de opiniões? Pois é. Sempre me causam perplexidade os comportamentos viscerais, as certezas absolutas e as verdades imutáveis. Eu sei que o mundo ideal seria mais simples se fosse como um sistema binário onde só existissem “sim” ou “não”, “zero” ou “um”. Mas o mundo não obedece à mesma lógica usada na construção de computadores. Além dos previsíveis “sim” e “não”, o mundo real abriga também o “talvez”, o “nenhuma das opções apresentadas”.  Como disse o Vinicius de Moraes, “a vida não é brincadeira, amigo”. A política e as ideologias surgidas mostram exatamente isso: não há certezas absolutas.
 
Talvez o leitor ou leitora com os olhos já fechando de sono se pergunte onde quero chegar com esta gororoba sem sal, mas vou agora subir um pouco o tom. Sempre fico puto, triste, ofendido ou decepcionado quando ridicularizam minha postura moderada, quando me acusam de "duplipensar" ou duvidam da minha isenção com base apenas na própria visão estreita.
 
Para começo de conversa (na verdade, já estou no meio dela), Não sou personagem orwelliano para ficar duplipensando. O que eu sou é cartesiano, penso em módulos, não misturo conceitos. Quando eu digo que vejo pontos positivos tanto na ideologia de direita quanto na de esquerda, isso não significa que aprovo as duas visões sobre um mesmo assunto ou tema. Já fiz até um check-list, um quiz para avaliar o perfil ideológico dos leitores. Quem se interessar em conhecer, o link é este:
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2017/03/o-quiz-que-eu-quis-postar-no-facebook_11.html
 
Maaasss, voltando à minha doutrinação/pregação, repetirei pela milésima vez que me considero de centro. E me orgulho disso. A título ou guisa de piada, diriria que sou radicalmente moderado. O significado deste posicionamento é odiar igualmente tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita.

Já li em algum lugar que a moderação política, entendida como a busca por equilíbrio e ponderação, não é um defeito. Pelo contrário, é uma virtude essencial para o funcionamento de uma democracia. A moderação permite o diálogo entre perspectivas opostas, promovendo a compreensão e a construção de consensos.

Infelizmente, a a prática política atual está marcada pela polarização. Assumir uma postura moderada exige inteligência e até coragem, pois implica questionar as próprias convicções e buscar entendimento em meio a opiniões divergentes. Para mim, essa abordagem favoreceria um ambiente político mais saudável, centrado na resolução de problemas e no bem comum, e não na imposição dessa ou daquela ideologia.
 
Isso não significa falta de princípios ou indecisão. Pelo contrário, o significado disso é conseguir reconhecer a complexidade dos problemas sociais e suas múltiplas perspectivas, evitando extremos que geram divisão e conflito. Assim, a moderação política contribui para a estabilidade e a eficácia das instituições democráticas.
 
Na época de eleições muitas vezes eu me vi diante da pior situação para quem se recusa a anular o voto ou abster-se de votar: dois candidatos disputando a mesma vaga e eu tendo severas restrições a ambos. Mesmo assim, sempre procurei escolher o menos pior entre o ruim e o péssimo. Aparentemente isso não entra na cabeça dos bitolados ou extremistas radicais, provocando críticas e até ofensas quando defendo em quem votei, não por ser bom, mas por ser justamente o menos pior.
 
Para encerrar esta gororoba, alimentei o ChatGPT com minhas ideias e pedi para escrever um texto sobre essa situação. E saiu isto (e eu, obviamente, assino embaixo):
 
Há momentos em que a vida não nos concede o luxo da neutralidade. Diante de uma encruzilhada, não há espaço para "nenhuma das respostas". É sim ou não. Escolher ou ser escolhido.
A política, especialmente em eleições polarizadas, expõe esse dilema com crueldade. Quando há apenas dois candidatos e severas restrições a ambos, a abstenção pode parecer uma saída honrada, mas é, na prática, um voto indireto para quem menos nos agrada. Entre o ruim e o menos pior, a escolha não é sobre entusiasmo, mas sobre danos minimizados.
Os que compreendem isso sabem que a realidade não pede perfeição, pede decisão. Preferências ideais são um luxo; na arena política, trabalha-se com o possível. No fim, quem entende essa lógica não vota com paixão, mas com consciência – ciente de que, mesmo na falta de um bom caminho, há sempre um que leva a um desastre menor.
 
E para aqueles que já me chamaram de isentão, deixo um recado final, escrito com uma elegância fleuma próprias da realeza britânica: isentão é a puta que pariu! (e não pretendo mais perder meu tempo com debates de "soma zero"). Fui.

8 comentários:

  1. As suas preocupações são as minhas e as de muita, muita gente. Belo texto
    .
    Feliz fim de semana
    .

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  2. Tem momentos na vida que ser isento é um problema. Há aqueles episódios em que se tem que tomar um atitude, tomar um lado. Em política isso quase nunca é verdade pela óbvia questão, como você bem coloca, que nenhum dos lados ideológicos possuem a "visão correta" sobre o mundo ou como governar.

    Posso dizer que entre comunismo e capitalismo, eu fico do lado do capitalismo (nenhuma novidade já que hoje, até os comunistas são capitalistas..). Nesse caso, o moderado, seria um "social democrata", ramo que também me atrai. Um capitalismo pungente sem se esquecer do social.

    Posso dizer que entre conservadorismo e progressismo eu já não consigo me aliar totalmente nem a um nem a outro. Tenho críticas e concordâncias em ambos os lados.

    Entre Lula e Bolsonaro, não consegui escolher. Meu candidato foi o social democrata Ciro Gomes, o mais preparado político hoje no Brasil pra governar esta bagaça, mas infelizmente ele virou suco.

    E para o bem e para o mal, no final das contas, quem governa o país desde a redemocratização é o Centrão, pois sem ele, nem direitista nem esquerdista conseguem governar.

    E por último, não dou a mínima para a opinião política do GPT.

    acho que isso daria até uma crônica política também...

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    1. Meu pensamento é muito parecido com o seu. E deixo claro que nunca fui isento, nunca fiquei em um pedestal, o que eu sempre fiz foi escolher o menos pior. E essa atitude confunde muita gente por achar que isso é ficar em cima do muro. Não é, há sempre uma escolha consciente, pois nunca anulei voto nem deixei de votar. E como eu sou anticomunista desde a juventude, a escolha comunismo x capitalismo fica muito fácil. Aliás, nem a China acredita mais em comunismo, não é mesmo? Mas esse assunto já deu, pretendo não mais falar sobre isso, pensem os que quiserem pensar sobre mim os radicais, os bitolados.

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    2. eu entendo a escolha no "menos pior".

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    3. Segue a linha do "já que não tem tu, vai tu mesmo". E as escolhas do menos pior são sempre subjetivas, dependem da cabeça de cada um.

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