quarta-feira, 12 de março de 2025

CORRE, COELHO!

 
Ontem, às quatro da madrugada, levantei-me para lavar vasilhas. Por que fiz isso? Porque me sinto cada vez mais como o coelho de Alice no País das Maravilhas: sempre com pressa, sempre com uma sensação de urgência, sempre com a sensação de que não tenho mais tempo a perder – pois meu tempo está se acabando.
 
Pensei nisso depois ter lido ontem a notícia do falecimento de um político que conheci na juventude, quando ele era apenas um estudante de engenharia e sobrinho de meu chefe. Morreu com 71 anos, vítima de doença degenerativa que já vinha sofrendo, agravada por uma pneumonia.
 
Era ou ficou rico, construiu prédios, elegeu-se prefeito da cidadezinha onde nasceu, foi deputado federal e depois ministro de estado. Por eu ter saído da empresa onde seu tio trabalhava, só fiquei sabendo disso pelo noticiário dos jornais.
 
E morreu com 71 anos. Não é comum quando alguém morre com cinquenta, sessenta anos, o normal é quando não se morre nessa faixa etária. A situação se inverte quando se passa dos setenta anos, pois passam a serem normais as notícias de falecimento de pessoas que você conheceu ou acompanhou a trajetória de vida.
 
O normal após os setenta é perceber ou pressentir a aproximação da morte – sua ou de conhecidos. Por isso, é que me identifico com a correria do coelho de Alice, sempre apressado, sempre dizendo “– Ai, ai! Vou chegar atrasado!”. Mas, para ser sincero, prefiro chegar atrasado que adiantado ao meu destino final.

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