Li recentemente no blog “Crônicas do Edu” um simpaticíssimo texto intitulado “Amor, platônico amor”. Gostei tanto que
hoje, às quatro da matina, esse assunto se embaraçou no meu sono, fazendo-me
lembrar das paixões platônicas que atropelaram
minha adolescência de menino bobo, feio, tímido e medroso. Pode parecer
paradoxal chamar um adolescente de “menino”, mas é isso que eu era, um menino
idiota e sonhador, sempre tentando “jogar
futebol”, mas jamais “chutando a gol”
(metáfora danada de ruim!).
A vantagem de ser feio e narigudo é poder
citar estes versos de uma música do genial Juca Chaves: “Eu sou baixinho, feio e narigudo, dizem que eu só sirvo para dar
recado”. Tirando a altura (tenho 1,84m), eu era exatamente assim – magrelo,
feio e narigudo. Além disso, tinha medo, um medo orgânico que me paralisava e
impedia de pedir para namorar as meninas que me faziam sonhar. A propósito do medo,
li entrevista recente do Tom Zé em que declara ter sempre sentido medo. Tamo
junto, Tom Zé!
Nunca soube o nome da primeira paixão,
surgida em uma matinê de carnaval em que fui puxado por ela para o centro de
uma roda e logo depois dispensado. Eu devia ter uns quatorze anos, talvez. Pouco
importa. Aquela menina fantasiada de índia americana, lindamente maquiada,
povoou minha mente durante um ano, até o próximo carnaval – em que ela não
apareceu. Tempos depois, indo à missa, descobri onde morava e, pior, que já
estava namorando. Meu consolo foi perceber que era mais feia que a imagem de
índia guardada na memória.
A segunda paixão foi provocada por uma menina
feiosa e magrinha. Calma, não se apressem em julgamentos precipitados! Tempos
depois, quando a revi, seu corpo estava cheio de curvas magnificamente inesperadas
e até o rosto moreno tinha ficado mais bonito e sensual. Como bem definiu o
Vinicius de Moraes, “as muito feias que
me perdoem, mas beleza é fundamental”! Bastou isso para me fazer sonhar.
Consegui conversar com ela algumas vezes, descobri como se chamava, mas cadê
coragem para tentar uma aproximação maior? “Medo,
medo, medo, medo”, como cantou o Belchior. E ela estava em uma fase
espetacular...
A terceira paixão se chamava Alda, tinha um
sorriso encantador e estudava no mesmo colégio que eu, mas no turno da tarde.
Na única vez em que os alunos desse colégio desfilaram na parada de sete de
setembro, creio que em 1965 (eu tinha 15 anos) eu consegui me aproximar dela,
mas, de novo, fiquei só na vontade (eu era mesmo muito tímido e bobo!).
No início do colegial, em 1966 ou 1967, tive
duas paixonites. Uma chamava-se Janice e morava na zona sul de BH, mas descobri
que ela já namorava. A outra foi minha colega de sala e se chamava Aidê. Era
linda, tinha um bocão e eu conversava com ela em todos os intervalos entre as
aulas. Creio que as colegas perceberam e ficavam com risinhos (bastante
ofensivos, diga-se). Um dia a turma viajou para algum lugar (eu não fui por
falta de grana) e ela voltou namorando um aluno boa pinta da outra sala e cara
de garanhão. Filho da puta!
Outras tentativas de namorar aconteceram com
a “Help”, colega de natação e coxas fenomenais. Nessa época eu já estava menos
bobo, mas continuava magro, feio e narigudo. E ela preferiu outro cara. Teve
também a Sônia e a Joice, mas sempre fui ignorado ou repelido por elas.
Quem me abriu as “portas da percepção” foi a Cristina, de quem ganhei um selinho
depois de conversar com ela durante uma festa inteira. Antes dela e em outra festa no mesmo
apartamento, fiquei interessado em uma menina com quem tinha dançado, mas essa
teve um fim trágico: fez um pacto de suicídio com o namorado, mas ele não
cumpriu o prometido.
Esses casos bobos aconteceram entre os
quatorze e os dezessete anos, pois comecei a namorar uma menina que fumava feito
uma chaminé (meu primeiro namoro!). Quer saber como terminou? Ela viajou no carnaval e me corneou,
pois reatou um namoro antigo. Nunca reclamei, pois não era apaixonado por ela –
e seu beijo tinha gosto de cinzeiro cheio de guimbas de cigarro. E o mais
bizarro foi saber que ela teria virado freira depois disso. Verdade? Mentira? Que diferença isso faz?
Rapaz, isso é uma saga platônica!!!!
ResponderExcluirEu, como bom bipolar que sempre fui, tive meus tempos de extrema timidez e outros de extrema desenvoltura. Mas na média, posso dizer que sempre fui mais tímido.
p.s. dormir faz bem à saúde.
duro é conseguir.
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