sábado, 8 de março de 2025

PAIXÕES, PLATÔNICAS PAIXÕES


Li recentemente no blog “Crônicas do Edu” um simpaticíssimo texto intitulado “Amor, platônico amor”. Gostei tanto que hoje, às quatro da matina, esse assunto se embaraçou no meu sono, fazendo-me lembrar das paixões  platônicas que atropelaram minha adolescência de menino bobo, feio, tímido e medroso. Pode parecer paradoxal chamar um adolescente de “menino”, mas é isso que eu era, um menino idiota e sonhador, sempre tentando “jogar futebol”, mas jamais “chutando a gol” (metáfora danada de ruim!).
 
A vantagem de ser feio e narigudo é poder citar estes versos de uma música do genial Juca Chaves: “Eu sou baixinho, feio e narigudo, dizem que eu só sirvo para dar recado”. Tirando a altura (tenho 1,84m), eu era exatamente assim – magrelo, feio e narigudo. Além disso, tinha medo, um medo orgânico que me paralisava e impedia de pedir para namorar as meninas que me faziam sonhar. A propósito do medo, li entrevista recente do Tom Zé em que declara ter sempre sentido medo. Tamo junto, Tom Zé!
 
Nunca soube o nome da primeira paixão, surgida em uma matinê de carnaval em que fui puxado por ela para o centro de uma roda e logo depois dispensado. Eu devia ter uns quatorze anos, talvez. Pouco importa. Aquela menina fantasiada de índia americana, lindamente maquiada, povoou minha mente durante um ano, até o próximo carnaval – em que ela não apareceu. Tempos depois, indo à missa, descobri onde morava e, pior, que já estava namorando. Meu consolo foi perceber que era mais feia que a imagem de índia guardada na memória.
 
A segunda paixão foi provocada por uma menina feiosa e magrinha. Calma, não se apressem em julgamentos precipitados! Tempos depois, quando a revi, seu corpo estava cheio de curvas magnificamente inesperadas e até o rosto moreno tinha ficado mais bonito e sensual. Como bem definiu o Vinicius de Moraes, “as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”! Bastou isso para me fazer sonhar. Consegui conversar com ela algumas vezes, descobri como se chamava, mas cadê coragem para tentar uma aproximação maior? “Medo, medo, medo, medo”, como cantou o Belchior. E ela estava em uma fase espetacular...
 
A terceira paixão se chamava Alda, tinha um sorriso encantador e estudava no mesmo colégio que eu, mas no turno da tarde. Na única vez em que os alunos desse colégio desfilaram na parada de sete de setembro, creio que em 1965 (eu tinha 15 anos) eu consegui me aproximar dela, mas, de novo, fiquei só na vontade (eu era mesmo muito tímido e bobo!).
 
No início do colegial, em 1966 ou 1967, tive duas paixonites. Uma chamava-se Janice e morava na zona sul de BH, mas descobri que ela já namorava. A outra foi minha colega de sala e se chamava Aidê. Era linda, tinha um bocão e eu conversava com ela em todos os intervalos entre as aulas. Creio que as colegas perceberam e ficavam com risinhos (bastante ofensivos, diga-se). Um dia a turma viajou para algum lugar (eu não fui por falta de grana) e ela voltou namorando um aluno boa pinta da outra sala e cara de garanhão. Filho da puta!

Outras tentativas de namorar aconteceram com a “Help”, colega de natação e coxas fenomenais. Nessa época eu já estava menos bobo, mas continuava magro, feio e narigudo. E ela preferiu outro cara. Teve também a Sônia e a Joice, mas sempre fui ignorado ou repelido por elas.
 
Quem me abriu as “portas da percepção” foi a Cristina, de quem ganhei um selinho depois de conversar com ela durante uma festa inteira. Antes dela e em outra festa no mesmo apartamento, fiquei interessado em uma menina com quem tinha dançado, mas essa teve um fim trágico: fez um pacto de suicídio com o namorado, mas ele não cumpriu o prometido.
 
Esses casos bobos aconteceram entre os quatorze e os dezessete anos, pois comecei a namorar uma menina que fumava feito uma chaminé (meu primeiro namoro!). Quer saber como terminou? Ela viajou no carnaval e me corneou, pois reatou um namoro antigo. Nunca reclamei, pois não era apaixonado por ela – e seu beijo tinha gosto de cinzeiro cheio de guimbas de cigarro. E o mais bizarro foi saber que ela teria virado freira depois disso. Verdade? Mentira? Que diferença  isso faz?

 

 

2 comentários:

  1. Rapaz, isso é uma saga platônica!!!!
    Eu, como bom bipolar que sempre fui, tive meus tempos de extrema timidez e outros de extrema desenvoltura. Mas na média, posso dizer que sempre fui mais tímido.

    p.s. dormir faz bem à saúde.

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