Às vezes eu me sinto psicografado quando leio um texto ou poesia que “cabem tão dentro de mim, que perguntar carece: como não fui eu que fiz?” Estes versos são da música “Certas Canções”, composta pelo Tunai (irmão do João Bosco) e Milton Nascimento. E foi isso que aconteceu ao ler este texto em um jornal de bairro (que tentei transformar em poema, mas não ficou bom). Infelizmente, não sei o autor.
Eu tinha dezessete, talvez dezoito. Idade de querer muito, e saber pouco o que fazer com isso. Foi nos bailes de carnaval que ela apareceu, leve como uma marchinha lenta, com um sorriso que não pedia nada — só presença.
Brincávamos juntos, mão no ombro, mão na cintura. Abraço de fantasia, que por dentro era desejo, por fora, contenção. Nunca passou disso. Talvez por causa do pai dela, que comandava a banda com mãos firmes e olhos atentos. Ou talvez porque eu era só um menino escondido atrás da própria timidez.
Nunca perguntei seu nome. Nunca pedi pra ir à sua casa. Nunca soube onde morava, Só a via ali, duas ou três vezes por ano entre confetes e luzes coloridas, no exato compasso da música. Um dia, isso não mais aconteceu. Não sei se fui eu que deixei de ir, ou se o pai dela trocou de clube, ou se a vida saiu pela porta de emergência sem avisar.
Hoje, quando toca Máscara Negra, num radinho esquecido ou no fundo da memória, me volto pra aquele salão, aquele abraço, aquela ausência de palavras. Sinto saudade dela. Mas mais ainda, sinto saudade de mim — daquele rapaz que, mesmo sem saber, já estava dançando com o tempo.
Texto muito bacana!
ResponderExcluirEu também achei, pois é a minha cara.
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