segunda-feira, 30 de setembro de 2024

PÃO, PÃO, QUEIJO, QUEIJO

 
Há muito tempo adotei um costume, uma norma aqui no blog, quase uma cláusula pétrea, que estabelece que “resposta grande vira post”. E este texto é mais um desses casos. O multitalentoso Fabiano Caldeira não se furta à oportunidade de expor suas opiniões e os valores que defende. E faz isso de forma bastante incisiva. Com ele é na base do “pão, pão, queijo, queijo”. Considero esse comportamento uma coisa muito positiva, pois, mesmo que não se concorde com o que diz ou pensa, não se pode dizer que não entendeu o que ele disse. Eu não sou assim, pois, mesmo que diga o que penso, sou escorregadio e gosto de “comer pelas beiradas”. Em outras palavras, um camaleão disfarçado.
 
 
A história começou assim: irritado com as mudanças forçadas e artificialíssimas de palavras e expressões para delas tirar qualquer referência a gênero (tipo “todes” em lugar de “todos” ou “todas”), defendi a visão de que mudanças na língua, qualquer língua, ocorrem naturalmente, nunca de forma impositiva. E citei o uso hoje normal de palavras chulas por crianças pequenas.
 
Incomodado com o que eu disse, o blogueiro Fabiano foi contundente em seu longo comentário (de que transcrevo apenas um pequeno trecho): “Se, para as pessoas que encaram com maior seriedade a vida, já está difícil, imagine para esses que crescem e viram adultos pensando que é maravilhoso ter linguajar vulgar, estudar pra quê, se temos a Internet? Batalhar pra quê, se o governo me dará um benefício depois? É essa a mensagem que eu sinto quando leio coisas assim”.
 
 
Lembrando que este post-resposta trata apenas do uso de palavrões e de como eu fui mudando meu pensamento em relação a isso, começarei contando um pouco da minha história, usando para isso trechos de posts anteriores (estou com preguiça de escrever). Bora lá.
 
Eu nasci e fui criado em uma família católica de hábitos simples e interioranos, religiosa sem ser carola. Gente normal, classe C ou D. Os valores que recebi e os exemplos que tive estavam consolidados nessa família. Não se usava linguagem chula ou vulgar. Palavras como “merda”, “bosta”, “mijo” e os atos correspondentes (“mijar”, “cagar”) eram considerados palavrões ou de mau gosto, vulgares. E continuam sendo. Ninguém nunca me ensinou isso, eu apenas pressentia o que não era tolerado naquela casa. E eu era super obediente e bem mandado (além, claro, de reprimido). Já contei esse caso aqui, mas vou repetir (transcrever):
 
Um dia, quando meu irmão já estava autorizado a sair sozinho pelas proximidades, fui com ele a algum lugar. Ao passar perto de dois meninos que discutiam, ouvimos um deles soltar um “filho da puta!”. Aquilo me mesmerizou, hipnotizou, pois era uma expressão tabu. Virei para meu irmão e disse: “Você viu o que o Alvinho falou? Ele disse F.P.!!!”.
 
Olha que coisa ridícula e hipócrita! Eu nem sonhava saber o significado de “puta”, mas sabia que aquilo era um palavrão. Se eu tivesse ficado calado, tudo bem, mas sempre me lembro e me impressiono com a hipocrisia e a carga de repressão sobre uma criança de sete ou oito anos contidas nesse episódio. (https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2016/07/infancia-f-p.html)
 
E foi assim que eu saí da infância, um menino tímido, introvertido, religioso e reprimido. Mas alguma coisa começaria a mudar, porque o defeito dos tímidos é observar, refletir, desejar e criticar o comportamento das pessoas ensolaradas. E foram pequenas mudanças de comportamento que começaram a acontecer ao atingir a puberdade e adolescência.
 
As sensações provocadas pela primeira masturbação me fizeram pedir perdão a Deus por ter feito aquilo. Apesar disso, furei com um prego a porta fina do banheiro só para ver minha tia tomando banho. Durante as missas dominicais, por querer ver as meninas que entravam na igreja, passei a ficar parado na porta de entrada. Racionalizando, entendi que aquilo não estava correto, pois ou sentava-me nos bancos próximos ao altar e prestava atenção na celebração ou parava de ir à missa. Parei.
 
A partir daí minha linguagem foi sendo “enriquecida” com todo tipo de palavrão que aprendia. E um dia, já com uns dezesseis anos e praticando natação, aconteceu algo que mudou minha vida. Transcrevendo:
 
Um dia, quando a presença de nadadores era 100% masculina, por absoluta falta do que fazer, resolvemos inspecionar o vestiário feminino. Deu-se ali, naquele momento, a revelação – FIAT LUX! – e a "luz" se fez: as portas e paredes dos boxes sanitários eram cobertas por desenhos, palavras e frases obscenas ou de conteúdo sexual, exatamente como no vestiário masculino! Aquela descoberta causou-me o mais puro encantamento: as mulheres diziam entre si o mesmo que dizíamos, nós os homens, uns para os outros!
 
Não tive dúvida: na primeira oportunidade, contei uma piada obscena para um grupo de meninas. Ante o protesto (light, diga-se) de uma ou outra, argumentei que, se falavam entre si dessa forma, por que não falar com os homens também? A partir daí, primeiro timidamente, depois de forma mais descontraída, passamos a usar uma linguagem menos “vigiada”.
 
Eu era um "soldado raso" da revolução (liberação) de costumes que estava acontecendo em todo o mundo e não me dava conta disso! No mítico ano de 1968 eu fiz dezoito anos e essas coisas já faziam parte do meu passado. (https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/09/nadando-contra-corrente.html)
 
Eu sei que ouvir um palavrão dito em voz muito alta assusta e repugna os espíritos mais sensíveis, pois a referência a práticas sexuais e a vulgaridade que o palavreado chulo carrega são características intoleráveis para pessoas muito tímidas, puritanas ou gentis.
 
Devo dizer que se enganam os que acreditam que eu sou um apologista da linguagem “boca suja”. Não sou (de verdade!). Como tenho temperamento de camaleão, me expresso de acordo com o ambiente em que estou. Por exemplo, se estiver conversando com um padre, é só ora pro nobis pra lá, aleluia pra cá e amém (bazinga!). E, quando converso com pessoas mais velhas que eu (o que está cada vez mais difícil de acontecer), jamais falo um palavrão, pois entendo que devo respeitar a diferença de comportamentos aprendidos em épocas distintas. É o caso de minha sogra.
(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/12/anticonstitucionalissimamente.html)
 
Fui pai com 26 anos, com a cabeça cheia de teorias e muitos questionamentos sobre as convenções sociais que era obrigado a cumprir. Sempre bem mandado, nunca deixei de cumpri-las, mas sempre as critiquei, contestei ou desprezei. Hoje minha conversa corriqueira é forrada de palavrões, mesmo que eu nunca me lembre de sua conotação sexual. Para mim, "filho da puta" pode ser elogio ou exclamação raivosa, mas jamais associada à mãe do elogiado ou agredido.
 
Por isso, o menino que não falava palavrões liberou para seus filhos o uso irrestrito de vocabulário chulo e vulgar, justamente para tirar dessas palavras o conteúdo sexual que as fez surgir. Mas sempre alertei que há pessoas que se sentem agredidas ao ouvir “tijoladas” ditas por alguém. E citei que uma linguagem “descontraída” não deveria ser utilizada com qualquer pessoa, especialmente as mais velhas. E eles entenderam isso e sempre agiram dessa forma.
 
Penso que há um vigor nas palavras de baixo calão que as ditas “eufônicas” não têm. As palavras chulas “gritam”, enquanto aquelas recomendadas pelas boas maneiras apenas “sussurram” ou dizem à meia voz. Essas palavras carregam em si uma “energia potencial” muito grande, uma força expressiva bruta de tal forma, que, ao serem usadas, liberam emoção pura, quase atômica. Fico pensando que, por dizerem respeito a comportamentos ou secreções (excreções?) orgânicas que a sociedade acostumou-se a esconder, condenar ou evitar – por puramente animais e instintivos (longe, portanto, da razão) – acabam funcionando como catarse. Essa força explosiva que carregam quando usadas agressivamente acaba sendo preservada mesmo quando utilizadas de forma amistosa ou ironicamente.
(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/12/anticonstitucionalissimamente.html)
 
Para mim, mesmo que não seja de bom tom, falar palavrões é uma coisa meio catártica. Funcionariam como um fio-terra, colocando-nos de novo em contato com a Mãe Natureza. Penso que as palavras “fortes” nos provocam um safanão cerebral, devolvem-nos (ainda que inconscientemente) a percepção do que efetivamente somos: animais com processos cerebrais mais evoluídos, mas animais (e, por isso, instinto puro), em última análise. Eufemisticamente, diria que os palavrões e palavras correlatas são como que “rugidos e rosnados”.
(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/12/anticonstitucionalissimamente.html)
 
Bem, eu preciso terminar este post cheio de costuras e colagens, e o que posso dizer resumidamente é que os costumes e a linguagem nunca param de evoluir e mudar (às vezes até com retrocessos), mas sempre de forma espontânea, nunca impositiva. E que o fato de crianças usarem palavrões não é certeza de que serão adultos incapazes. A única preocupação que todos precisam ter está contida nas palavras de São Paulo: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”. Que mais? Só.

 

domingo, 29 de setembro de 2024

VINCENT (STARRY STARRY NIGHT) - DON MCLEAN

Sempre achei bonita essa música, mas jamais sonhei o que dizia a letra. Recebi este vídeo de minha mulher e eu literalmente babei de tanta emoção. Bom, ninguém precisa babar, mas sugiro que assistam e ouçam este vídeo, porque é lindo. E a música também.

 




sábado, 28 de setembro de 2024

TEREXA

Em 2022 imaginei uma HQzinha meia boca e até me dispus a desenhá-la, mas a impressora com scanner tinha parado de funcionar, o que me obrigaria a fazer todos os quadros imaginados a mão, coisa que sinceramente não tenho mais saco de tentar. Publiquei o texto e ficou por isso mesmo. Hoje, lembrando-me dessa tentativa frustrada, resolvi dar uma pausa no post cabeça que estou tentando escrever e pedir ajuda à Ideogram IA para fazer os desenhos. Mas foi um custo, pois de cara essa IA puritana recusou o termo "trepada". Aí tive sair inventando e mudando o texto, pois a posição de "dino assado" nunca foi gerada. Mas está bom. Agora, pelo menos, tenho uma HQ desenhada, with a little help from Ideogram IA.


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

PEDRADA


Tenho pensado em registrar minha indignação e desconforto com situações em que minorias tentam impor mudanças linguísticas à maioria. E de forma impositiva! Para mim, não há nada mais inaceitável e pernicioso que ditaduras, sejam elas ideológicas, religiosas ou comportamentais. Não vou tentar escrever um tratado sociológico, pois, além de não ter formação acadêmica para embasar minhas ideias, esse não é o objetivo deste desabafo. Porque, sim, este texto é um desabafo. Estou falando das mudanças na linguagem utilizada pela maioria, propostas por uma minoria com ímpeto autoritário.
 
O que quero dizer é que discordo totalmente de mudanças artificiais propostas para nossa rica, embora complexa, língua portuguesa. Sei que todas as línguas são vivas e evoluem naturalmente; não há como impedir isso. Mas querer que elas mudem de forma artificial para corrigir preconceitos ou abrigar novos conceitos me parece um exercício de autoritarismo ressentido. E, por isso, para mim, inaceitável.
 
Os estudiosos da língua e os dicionaristas registram novas palavras e gírias sem discutir. Documentam e estudam as formas de falar, os sotaques, os regionalismos, etc., mas não propõem mudanças radicais, incoerentes ou inadequadas apenas para atender os desejos de uma minoria.
 
Quando eu era criança, o uso de palavrões e palavras obscenas em público era considerada falta de educação, vulgaridade e mau gosto. Mas o tempo passou, os costumes mudaram, e hoje até meninas de dez anos ou menos usam palavras de baixo calão com tal naturalidade que é impossível imaginar um retorno à recatada formalidade de antigamente. Para mim, isso é um sinal de que a língua é viva e mutável, mas evoluindo de maneira orgânica, não através de imposições.
 
Digo isso porque vi uma expressão em um canal a cabo. Aliás, eu não vi, eu li. Falando de um novo programa que parece abordar questões que afetam a vida de pessoas transgênero e que está prestes a ser lançado, a chamada de divulgação dizia: “Bem-vindes”.
 
Não tenho nenhum problema, apoio e defendo as pessoas que decidem mudar de gênero, mas discordo profundamente das tentativas forçadas e pouco naturais de mudar palavras como parte de uma ação para promover a aceitação ou inclusão de minorias na sociedade. Apoio e defendo as pessoas trans, mas vou dizer algo que talvez gere críticas e pedradas intelectuais: “Bem-vindes” é a puta que pariu!

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

FUROR EDITORIAL

Amanhã o sexto e último e-book jotabélico entra na promoção de download gratuito, ficando assim até o dia 01/10. Para comemorar esse evento e encerrar mais um ciclo, vou (re)contar uma história. Segura aí.
 
 
Um dia, ainda no primeiro semestre de 2014, um de meus filhos talvez cansado de receber até dez e-mails por dia com todo tipo de besteira que eu escrevia, sugeriu que eu criasse um blog, Eu, que nem sabia o que era um blog, comentei com outro filho sobre essa sugestão.
 
Talvez penalizado pela ansiedade e carência afetiva que eu demonstrava e também de saco cheio pela quantidade de e-mails que eu enviava (e ninguém respondia), criou o blog para mim, logo carimbado com o que eu sentia na época: Blogson Crusoe, trocadilho com Robinson Crusoe, nome do personagem que viveu isolado e sozinho em uma ilha deserta durante quase trinta anos. Para completar o título, acrescentei o mote “o blog da solidão ampliada”. Estavam definidos o roteiro e a trilha do blog.
 
Passados dez anos, o velho Blogson conta com quase 3.000 publicações de todo tipo, cada uma refletindo o estado mental em que me encontrava no momento da postagem. Durante esse tempo o blog virou biblioteca (blogoteca), arquivo, registro de lembranças de amigos e parentes, “muro das lamentações”, confessionário, adquirindo real função psicoterapêutica (blogoterapia), pois me joguei sem rede, filtro ou proteção nas coisas que disse, nos desabafos que fiz ou nas piadas idiotas que imaginei. E foram esses posts que depois de selecionados deram origem aos e-books que publiquei na Amazon,
 
Aqui cabe um reconhecimento e agradecimento ao muito talentoso desenhista e blogueiro Fabiano Caldeira, que acabou sendo uma espécie de curador dos e-books, graças ao seu incentivo para que eu publicasse um livro, pelas orientações, explicações, críticas e revisões pacientemente feitas até que o primeiro “rebento” nascesse. E a capa de tom sombrio e super adequado para o conteúdo desse e-book foi um presente que me deu. Por isso, minha eterna gratidão a ele.
 
Por que estou falando disso agora, se já falei sobre isso em outras ocasiões? Porque eu gosto de contar histórias, repetindo-as sob novos ângulos e perspectivas. E agora é que eu cheguei onde queria:
 
Depois da publicação do primeiro e-book fui tomado por uma espécie de "furor editorial", pois resolvi publicar mais livros (afinal, eu já tinha descoberto o caminho das pedras!). E esse “furor” me fez pensar em mais quatro e-books, cada um dedicado às linhas principais dos textos do blog: crônicas e divagações, besteirol e textos de humor de “quinta série”, casos e lembranças de pessoas com quem convivi e desenhos de humor que um de meus filhos definiu como “arte rupestre”. Depois, resolvi publicar mais um, dedicado apenas às lembranças do Pintão, ex-colega e melhor amigo que já tive. Mas agora parei, não pretendo publicar mais nada, pois não tenho mais assunto nem inspiração (só piração).
 
E não espero ganhar nada com esses e-books (publicados a custo zero e preços de venda irrisórios), pois o prazer de publicá-los é um lance puramente pessoal. Diria que eles são meus "netos", pois são filhos do Blogson Crusoe. Então, o único esforço que fiz foi selecionar o que achei mais legal entre as quase 3.000 postagens. E agora, para alimentar a blogoteca (a biblioteca do blog), transcrevo os textos que escrevi para apresentar na Amazon cada um dos e-books que foram sendo publicados: (alguém aí ainda está acordado?)
 
O EU FRAGMENTADO
Os sessenta poemas desse livro foram originalmente publicados no blog Blogson Crusoe. E por que algumas vezes escolhi registrar meus pensamentos no formato “poesia”? Creio que a explicação é simples: um texto em prosa é como um rio cujas águas vão deslizando pelos meandros e curvas suaves, tranquilamente, sem sobressaltos, serenamente. A poesia, ao contrário, lembra um rio turbulento, nervoso, com corredeiras, as águas agitadas despencando em cachoeiras e precipícios.
 
MEU NOME É RICARDO
Nesse e-book encontram-se contos, crônicas e divagações existenciais originalmente publicadas no blog Blogson Crusoe. A linguagem é predominantemente coloquial, ótima para esconder o vocabulário pobre e as agressões à gramática da "Última Flor do Lácio". Os contos, mesmo que eventualmente inspirados em fatos e pessoas que conheci, são puramente ficcionais. Nas crônicas eu tentei fazer uma releitura lírica de fatos e episódios corriqueiros do dia a dia. Já as divagações são viagens mentais sobre a Vida, sobre sua aparente ou real falta de sentido, sobre mim, enfim, sobre qualquer coisa que me dê na telha falar.
 
CONFRARIA DAS HIENAS
Esse livro reúne uma seleção de textos originalmente publicados no blog Blogson Crusoe com a intenção de tentar fazer as pessoas rir com minhas idiotices e falta de senso.
O material selecionado foi dividido em três seções, a saber:
- ESSE MENINO É UM SPAMTO – Textos e crônicas “engraçadinhas”;
- AFORISMOS, DESAFORISMOS E TEXTÍCULOS – Frases e pequenos textos de humor tão mínimo quanto o tamanho dos aforismos e “textículos” (estou tentando vender este neologismo);
- DIÁLOGOS DE SPAMTAR – Diálogos curtos e provocadores. De azia e má digestão, bem entendido.
Que mais? Ah, sim, o título deste e-book homenageia aqueles animais que parecem estar sempre rindo, mesmo que nunca se saiba por que nem se descubra de quê.
 
O CASO DA VACA VOADORA E OUTRAS LEMBRANÇAS
Esse e-book reúne os casos mirabolantes e histórias contadas e vividas por meu ex-colega “Pintão”, uma pessoa absolutamente singular.
Falando francamente, alguns casos são tão insólitos que nunca saberei se realmente aconteceram tal como nos foram contados ou, até mesmo, se não são invencionices de um grande contador de casos. Os diálogos, mesmo que recriados, são o mais próximo possível do que consegui lembrar e tentam manter a mesma descontração com que foram proferidos.
É à memória desse cara, o melhor amigo que já tive, que dedico este texto, originalmente escrito logo após sua morte. E foi muito bom remexer nessas lembranças, relembrar suas histórias, contadas e vividas por uma pessoa absolutamente singular.
 
SÓ PARA PASSAR O TEMPO (PORQUE O TEMPO PASSOU)
Alguém disse que “qualquer vida, se bem contada, merece um livro ou pelo menos um capítulo.” Embora eu não me considere um grande narrador, descobri que adoro contar histórias. Neste e-book, reuni lembranças de vinte pessoas com quem tive o privilégio de conviver – protagonistas de momentos curiosos, divertidos e, às vezes, inacreditáveis. Reviver esses “causos” me trouxe muita diversão. Ao compartilhar essas histórias, espero que provoquem nos leitores o mesmo prazer que tive ao recordá-las.
 
WHAT A WONDERFUL WORD! (Eu não sei desenhar)
Esse livro é o resultado de uma seleção de cartuns e HQs que desenhei. Talvez por essa identificação absoluta com o desenho de humor, sempre pensei idiotices que imaginava poder transformar em desenhos e historinhas, mas eu não sei desenhar!
Para corrigir essa “falha de caráter” comecei a transformar as bobagens que surgiam em minha mente em diálogos non sense associados com formas minimalistas. A criação desses desenhos trouxe muita, muita diversão para mim. Isso significa que mesmo se ninguém gostar do conteúdo desse e-book, pode estar certo de que EU gosto! 
 



 

 

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

A TCHURMA

 
Eu sou um dos heterossexuais mais frescos que podem existir. Quando comecei a namorar minha mulher um de meus cunhados machões disse a ela que eu era “viado” (como disse o Caetano, “Narciso acha feio o que não é espelho”). Um de meus filhos me goza quando solto um exclamativo “Ui!” e diz que se eu demorasse mais dois minutos para nascer eu seria gay. Aí eu retruco dizendo que ele não é metrossexual (ele é), é só meio-metrossexual
 
Então, a expressão macho alfa não me define, nunca me definiu. Aliás, nem mesmo macho beta. Eu creio que sou mais um “macho dzeta” – ou zéta (esta piada está repetida!), pois às vezes falo com voz afetada e minhas mãos ondulam quando conto casos. Mas sou cisgênero, um cara feliz com a sua identidade. Segundo o pai dos muito burros Cisgênero é um termo que se refere a pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído no momento do nascimento, ou seja, com o seu sexo biológico”.
 
Tenho dois sobrinhos gays, amigas e amigos gays e lésbicas, defendo o casamento gay e abomino todo tipo de homofobia. Por essas características pessoais, nunca tive grilo nem preconceito com o pessoal LGBT. Mas tem uma coisa que está me enchendo o saco, justamente a atual sopa de letras criada para fazer referência aos que não são heterossexuais cisgêneros.
 
Antigamente, muito antigamente, usavam-se as palavras “viado”, “bicha”, “refrigerado”, “pederasta”, “enrustido” e “invertido” para o sexo masculino e “entendida” – além das horrendas “franchona” e “sapatão” – para o sexo feminino. Isso, sem falar nos regionalismos (“baitola”, “chibungo”, “boiola”, etc.).
 
O mundo mudou, a Lusitana nem sei se roda mais e surgiu a sigla LGBT, fácil de memorizar. Mais um pouco e foram acrescentando letras até chegar em LGBTQIA+. Fiz questão de decorar, pelo respeito que merecem as pessoas representadas por essas letras.
 
Agora acrescentaram mais a letra “P”! A sigla hoje é a quase “indecorável” (não confundir com indecorosa, por favor) LGBTQIAP+.
 
Mas a coisa fodeu de vez quando alguns malucos resolveram ampliar ainda mais a cobertura (sem trocadilho) da sigla. Não sei se é verdade, mas (transcrevendo) “atualmente, há algumas correntes que indicam para uma sigla completa. É composta por: LGBTQQICAAPF2K+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Questionando, Intersexuais, Curioso, Assexuais, Aliados, Pansexuais, Polissexuais, Familiares, 2-espíritos e Kink).
 
Fala sério isso deve ser, só pode ser piada. Mas se não for, a continuar essa expansão, daqui a pouco vai faltar letra! Por isso fica aqui minha humilde sugestão para esse problema: suprimam-se as letras e adote-se a simpática expressão “Turma do Alfabeto”. Como diz o blogueiro Marreta, "Pãããããããta....

 

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

INVENÇÕES QUE PRECISAM SER INVENTADAS

 
Minha irmã já disse algumas vezes que eu sou um desperdiçado, por ser “multi-talentoso”, já que toco violão, desenho e escrevo. Ela só se esqueceu de que eu toco mal, desenho mal e escrevo mal. Falando sério, isso é coisa de irmã mesmo. Mas o que ela nunca sonhou é que sou também um inventor desperdiçado. Olha esta história:
 
No início da década de setenta, eu e minha Amada estávamos estudando na biblioteca da antiga Faculdade de Filosofia da UFMG, que ficava na Rua Carangola, em Beagá. Aí bateu aquela vontade de fumar (nessa época, eu e ela fumávamos). Não sei bem por que, mas não tínhamos cigarro e não havia lugar perto para comprar. Resolvi fazer uma “inspeção” entre as pessoas que ali estavam, todas elas absortas em seus estudos e leituras. 
 
Lá longe, em uma das extremidades da biblioteca, vi um sujeito fumando (na época, podia). Pelo tipo e pela roupa, tinha cara de universitário pobre e “revoltado com o sistema”. Apesar dessa impressão, não titubeei: cheguei perto com meu melhor sorriso, pedi desculpa por incomodá-lo e perguntei se poderia me dar um de seus cigarros. O olhar que ele me dirigiu foi meio assustador, mas enfiou a mão no bolso e me deu. Era um Continental sem filtro (!!!). Quase recusei, de tão ruim que esse cigarro era. Ainda mais sem filtro. Bom, aí já não tinha mais jeito. Pedi para acender, agradeci imensamente (sou um puxa-saco com pós-graduação) e voltei para junto do meu Amor.
 
Mas não tinha como fumar aquilo: o fumo se soltava e agarrava no lábio, na língua. E como era forte! Aí, me ocorreu uma ideia brilhante: com a ponta do lápis (rombudo), furei alguns buracos ao redor da ponta não acesa. A ideia era de que ao aspirar a fumaça (fumante diz “dar uma tragada”), o ar também fosse sugado através desses buracos, suavizando e esfriando a fumaça. O “projeto” era bom, mas a execução ficou uma merda. Creio que nem terminamos de fumar aquela coisa.
 
Pois bem, o tempo passou e um dia eu vi a propaganda de um novo cigarro (“Charm”, creio que nem existe mais) destinado ao público feminino, que alardeava a elegância de seu formato – mais fino que os demais, mais longo que a maioria e, claro, muito suave. Detalhe: imediatamente após o filtro, havia um “anel” de microfuros, cuja função era a mesma que eu tinha imaginado alguns anos antes para conseguir fumar aquele Continental. Fiquei todo orgulhoso, mas continuei pobre como sempre, pois nunca imaginei que aquela ideia pudesse valer alguma coisa.
 
Mas a coisa não pára por aí, pois tive uma ideia genial que estou pensando em oferecer de grátis para os japoneses, povinho danado de bom para fabricar traquitanas eletroeletrônicas. Quem não se espanta, por exemplo, com a tecnologia "embarcada" em um assento sanitário que só falta jogar talquinho nas partes pudendas do usuário? Fala sério - mesmo que seja um pouco vulgar dizer isso - qual culo não morre de inveja de seus congêneres nipônicos?

Pois bem, a minha ideia é um cortador de unhas inteligente, uma invenção que precisa ser inventada! Hoje em dia,é um sacrifício filhadamãe para mim cortar as unhas dos pés, pois além da coluna que às vezes resolve guinchar, há também uma barreira a vencer, uma barriga de fazer inveja ao Shreck. Por isso, curvar-me para cortar as unhas é tarefa que sempre me deixa ofegante. Ofegante e puto, pois não consigo dar um acabamento decente.
 
Por isso imaginei o cortador revolucionário, que descreverei rapidamente: você enfia o pé na jaca, ou melhor, no aparelho e seus dedos e unhas são escaneados para definir a melhor extensão do corte. Ainda não sei como será feito o corte das unhas ou se elas serão só lixadas (problema dos japoneses!). Mas antes de tirar o pé da “jaca”, seus calcanhares serão suavemente lixados para tirar aquela impressão de que não lava os pés há dois meses.
 
Até já consigo ouvir um sorridente empresário nipônico dizendo

Watashi-tachi wa korekara takusan no okane o kasegu tsumoridesu. Arigatō!
(私たちはこれからたくさんのお金を稼ぐつもりです。ありがとう!)

Que em língua de gente significa:
- Vamos ganhar muito dinheiro com isso. Obrigado!

 

domingo, 22 de setembro de 2024

TEM GENTE NOVA NO PEDAÇO

 
Você já ouviu falar em drogadicto? Provavelmente sim, diante de tantos casos de viciados em drogas que existem hoje. E eu descobri ter-me tornado um depois da criação do Blogson Crusoe, um tipo diferente de viciado, um “blogadicto”, um viciado em blog. Mas como acontece com os viciados comuns, a coisa foi perdendo o controle, surgindo assim o desejo de experimentar novas sensações. Em outras palavras, tornei-me um “e-bookadicto”, um viciado em lançar novos e-books.
 
Escrevi esta introdução idiota e de mau gosto só para informar aos milhões que acessam o velho e alquebrado Blogson Crusoe que mais um e-book jotabélico foi publicado na Amazon. Como disse antes, são casos indexados ao marcador “Memória” do Blogson.
 
Com isso, minha ânsia de publicar e-books com textos selecionados do Blogson está satisfeita. Honestamente, atingi minha cota. Agora, só falta eu conseguir publicar um e-book com minhas experiências gráficas, dezénhos e HQs surreais. Já tentei antes, mas não deu certo. Tentarei novamente, pois de todos é meu e-book predileto (mesmo que não saiba desenhar).
 
Voltando ao novo rebento, o título é “Só para passar o tempo (porque o tempo passou)”. Estará disponível para download "0800", “de grátis”, no período de 22 a 26/09. O único defeito que não consegui corrigir foi a capa. Eu queria uma capa só no preto e branco, mas minha ignorância me impediu de conseguir isso. Enfim...
 
O link é este:
 
https://www.amazon.com.br/dp/B0DHLKDQS4

sábado, 21 de setembro de 2024

MINHA VIDA NÃO FOI UM ROMANCE - MÁRIO QUINTANA

 
 Coisa mais linda!
 
Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...
 
Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
 
Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!
 
Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

FRESCURA POUCA É BOBAGEM

Olha o spoiler! Mesmo que ninguém possa ter notado, tenho andado sumido do Blogson. E o motivo mais que “nobre” é por estar selecionando casos divertidos ou curiosos que indexei ao marcador “Memória”. Depois de lançar o e-book de “poesias”, comecei a pensar que precisava publicar um livro dedicado aos casos e lembranças de colegas, parentes e amigos.

O livro da “Vaca voadora” já estava “pronto”, pois tinha enviado o texto para os parentes de meu querido amigo Luis Felipe Pinto, o “Pintão”. Entretanto, preferi lançar os e-books de crônicas e contos,  o de besteirol e meu predileto, um de cartuns e HQs. O de desenhos deu tilt e ainda está esperando solução. Mas o outros sairam e, mais recentemente, o de memória e lembranças do Pintão. 
 
Mas achei que estava pouco, pois como gosto de contar histórias e meu desejo seria transformar em livro as memórias que guardo de minha família, de ex-colegas, amigos e etc., por serem mais fáceis de ler (assim  imagino).
 
Mesmo tendo publicado no Blogson vários textos sobre as famílias de meu pai e de minha mãe, percebi que um livro com essas histórias não seria uma boa ideia, pois alguns parentes continuam vivos e poderiam se magoar com minha falta de filtro.
 
Restaram, portanto, ex-colegas, amigos, antigos vizinhos e parentes de minha mulher com quem não tenho mais nenhum contato, muitos já falecidos (tornando um eventual contato mais difícil ainda...).
 
Tomada essa decisão, mergulhei no marcador “Memória”, “pescando” os textos com histórias saborosas, bizarras e divertidas. E esse é o material do próximo e-book.
 
Nunca é demais lembrar que me diverti muito ao reler os textos que fui escolhendo. Espero que os leitores desta bagaça também gostem. Mas, primeiro, preciso escolher capa, título e apresentação. Naturalmente, espero fazer a promoção de download gratuito, pois meu interesse é apenas divertir os eventuais leitores e fazer uma massagem no meu ego (porque massagem no ego é muito melhor que massagem no coração, não é mesmo?).
 
E aí, em um tempo que não sei precisar, tentarei publicar o e-book mais especial para mim, dedicado aos cartuns e HQ minimalistas e surreais. Mas isso ainda demora.
 
E sabem por que eu estou escrevendo este post? Excesso de frescura, pois eu estava morrendo de saudade de publicar alguma coisa no blog, qualquer coisa. Vício é foda!

terça-feira, 17 de setembro de 2024

ATEU NÃO COMETE HERESIA

 
Tive muitas dúvidas se deveria ou não publicar um texto tão provocativo, mesmo que profundamente confessional e sincero (apesar da tradicional avacalhação jotabélica). Minha sorte é não conseguir alcançar o brilho intelectual dos comentários de Yuval Harari em seu livro “Sapiens”. Além disso, não pretendo convencer ninguém a mudar sua fé (nem sua descrença). Este texto reflete apenas o estágio atual da minha espiritualidade. E posso dizer que sinto saudade do tempo em que tinha fé.
 
Por isso, é importante deixar bastante claro que não vejo as religiões ou seus ensinamentos como algo ruim. Pelo contrário! O que realmente me incomoda é a defesa intransigente de certas interpretações feitas por alguns seguidores ao longo do tempo, pois nem Jesus nem Buda nem Maomé escreveram uma única palavra. Foram seus seguidores que “interpretaram” e registraram suas mensagens, muitas vezes moldando-as de acordo com sua falta de cultura, seus preconceitos pessoais e de acordo com o contexto de suas épocas.
 
É nesse processo de interpretação que, a meu ver, surgem os desvios, as intolerâncias e os mal-entendidos. Já pensou se um dos discípulos de Jesus fosse o Mala fala e outro fosse o padre Marcelo Rossi? Como seriam os evangelhos escritos por eles? Captou a sutileza? Afinal, talvez a essência dos grandes fundadores das religiões atuais seja, no fundo, muito mais simples e compassiva do que o que acabou sendo registrado ao longo dos séculos. E agora, deixando chorumelas, passemos ao texto principal.
 
 
Nasci em uma família católica à moda antiga, com uma fé simples e sem questionamentos, de ir à missa e comungar todo domingo, de fazer novenas, rezar terços, de acompanhar intermináveis procissões. Nos dias de semana minha avó, minha mãe e eu (então com uns sete anos) ajoelhávamos às 18 horas diante do rádio que transmitia a “Hora do Angelus”. Esse era o mundo em que cresci.
 
O defeito (só pode ser defeito!) é que eu comecei a refletir cedo demais sobre os textos bíblicos lidos durante a missa. Por conta de minhas dúvidas, ao entrar na adolescência comecei a ler tudo sobre religião, sobre religiões e cultos que encontrava pela frente. Fui a centro espírita e terreiro de umbanda. Minha busca por Deus era constante. Mas creio que meu gene da religiosidade sofreu alguma mutação, pois quanto mais suplicava a Deus para aumentar minha fé, mais eu a via indo embora.
 
E a situação se agravou definitivamente depois de ler o livro Sapiens. Dizendo em uma linguagem nada bíblica, aí a coisa fodeu de vez. E eu, um católico de missa dominical que até foi convidado a ser ministro da eucaristia, acabei por me tornar um ateu-católico ou católico-ateu (olha o gene da religiosidade atuando para não me afastar definitivamente da minha antiga fé!). Essa mudança teve um defeito colateral, pois substituí a crença pela superstição. Está bom até aqui? Continuemos.
 
Outro defeito grave, herético aos olhos de muitos, foi passar a criticar e duvidar dos textos do Antigo Testamento. Ele pode até ter sido inspirado por Deus, mas os livros que o compõem foram escritos há milhares de anos por um bando de gente bronca, sem cultura, inteligentes mas ignorantes, em um tempo em que uma simples doença de pele era considerada “lepra”. E é aí que entra meu ranço com a ideia de “terra prometida”.
 
Para começar, esse conceito foi introjetado em um povo que viveu escravizado no Egito durante algum tempo. Naquela época escravizar até mesmo uma população inteira era procedimento comum entre os vencedores de guerras entre países ou povos. Mas algum “inteligente” provavelmente entendeu que se houvesse uma intervenção divina ficaria mais fácil a população escravizada se rebelar, fugir ou o cacete que fosse. E melhor ainda era ter um deus exclusivo, poderoso, fodão, mais imponente que aqueles deuses idiotas com cara de chacal, hipopótamo, crocodilo e outras esquisitices.
 
E aí surgiu a “terra prometida”. Falando “sério”, o Deus do AT era muito mão de vaca, pois em vez de prometer uma terra com exuberantes florestas de cedros e praias paradisíacas (estou pensando no Líbano, mas se existiu um Noé, porque não uma frota de Noés para levar a moçada?), o Cara oferece um pedaço de deserto!. Mais barato, mas muito inferior. E, pior, já tinha sido objeto de usucapião por outras tribos! Isso só podia dar merda, e deu, claro, fazendo surgir um cu de gato que nunca termina.
 
Outra coisa que me incomoda muito era a crença daqueles caipiras de que Deus era exclusividade sua. São Paulo foi o primeiro a entender as vantagens da globalização. Não fosse ele, até hoje estariam sendo ignorados os bilhões de pessoas, de vários continentes e grupos étnicos que partilham da fé, da crença em Deus. Mas será mesmo que Ele existe?
 
Bom, para tranquilizar os leitores que ainda estão acordados, eu creio que sim, que é uma possibilidade simpática. Mas não aquele deus vingativo, passional, cruel e rancoroso do AT, não aquele feito (ou imaginado) à minha imagem e semelhança. Fica difícil aceitar isso, pois Ele poderia, por exemplo, ter a imagem e semelhança dos Neandertais. Ou vice versa.
 
Outra coisa que sempre critiquei sem verbalizar meu pensamento é a ideia do “pecado original”. Como assim? Quer dizer que a humanidade foi automaticamente condenada só por Adão e Eva terem desobedecido a Deus e comido o “fruto da árvore da ciência do bem e do mal”? (Gen 2, 17)?
 
Eu vejo a coisa da seguinte forma: como sou darwinista de coração, para mim Adão e Eva são apenas figuras alegóricas que não existiram tal como descrito na Bíblia. E se eles não existiram, certamente não comeram a “maçã envenenada”. E se não comeram, não há pecado original, nunca houve! Fico pensando em minhas netinhas condenadas já no nascimento por uma coisa que não cometeram. Puta sacanagem e covardia!
 
 
Agora, vamos examinar esta questão de outro ângulo. Suponhamos que o Deus do AT ficou mesmo muito puto por aquele “criado à sua imagem e semelhança” Tê-lo desobedecido. Mas pense comigo: qual pai normal pensaria em impedir e negar a seu filho oportunidade tão fundamental de adquirir conhecimento  ao comer o “fruto da ciência do bem e do mal”? O correto não deveria ser o inverso disso?
 
Eu sou um pai meia boca, relapso, mas tentei dar a meus filhos tudo o que pude – não só bens materiais, mas conhecimento formal de qualidade e, principalmente, Amor. Mas o Deus do AT não quis saber. Além de expulsar “de casa” aquele casal de crianças, ainda resolveu punir toda sua descendência com o “pecado original”. Para mim, esse comportamento espantoso é, na verdade, sinônimo de “rancor original”.
 
Para piorar ainda mais Sua imagem, mandou Seu filho unigênito descer à Terra para, com seu absurdo sofrimento, redimir a pisada no tomate feita por Adão e Eva milênios antes. Qual pai normal faria isso?
 
Bom, para terminar esta gororoba herética e debochada e tranquilizar os que creem em Deus, preciso dizer que não acredito no deus raivoso e vingativo do AT. Também não acredito em “terra prometida” nem em “pecado original”. Prefiro acreditar no Deus-amor, no Deus-Bondade, no Deus-perdão trazido por Jesus. E mesmo que seja hoje um ateu-católico, não vejo nenhum problema em aceitar ser J. Cristo o Filho de Deus, injustamente perseguido, torturado e crucificado por um bando de ignorantes fundamentalistas. Que têm seguidores ainda hoje, até mesmo em outras religiões. Fui.

AVISO AOS NAVEGANTES E INTRIGANTES

 
Aviso aos intrigantes: o fenomemal, legalático, estratosférico e escalafobético e-book “O caso da vaca voadora e outras lembranças” estará em promoção “de grátis” no período de 18 a 22/09. Corre lá!
 
Falando um pouco mais sério, esse e-book reúne os casos que há muito tempo eu contava em festinhas e reuniões familiares, fazendo as pessoas rir muito. São causos narrados ou protagonizados por um ex-colega muito, muito fora da curva.

domingo, 15 de setembro de 2024

VOU TE DAR UM PAU!

 
Hoje fiquei sabendo de um caso que jamais poderia deixar de registrar, pois ele afeta diretamente os machos das antigas e suas convicções. O negócio é o seguinte:
 
Distante não mais que 50 metros da casa de minha sogra, existe um imóvel, uma casa cuja ideologia dos ocupantes é fácil de identificar, porque inicialmente a casa teve a frente toda pintada de vermelho vivo. Depois, não sei por qual motivo, pintaram de preto e vermelho. A princípio pensei ser a sede de algum sindicato ou partido político e até imaginei ser ocupada por um “coletivo” ou alguma ONG de esquerda. Hoje o nome do lugar é "Instituto Helena Greco de  Direitos Humanos e Cidadania". Até aí nada de mais, concordam?
 
O que me fez rir foi saber que nesse lugar são ministradas aulas de boxe. Mas não um boxe qualquer, pois o esporte ali praticado recebeu o nome de “Boxe Antifas” (boxe anti-fascistas), um treinamento destinado à comunidade LGBTQIA+ e pirados de todo tipo, para que possam se defender de eventuais agressões de neonazistas e homofóbicos radicais, ou para repelir e conter eventuais agressões da polícia em manifestações e passeatas.
 
Fico pensando que nessa casa, durante as aulas, se alguém disser "Vou te dar um pau", só a entonação da voz dirá se se trata de um convite ou uma ameaça. Como diria alguém mais escandalizado, “Valei-me São Mike Tyson!”

IRREVERÊNCIAS DOMINICAIS

 
Eu sou basicamente um sujeito irreverente, um pouco cínico e até inconveniente em alguns casos. Creio que essas são características dos tímidos de nascença, mais propensos a risinhos e deboches discretamente exibidos.
 
Por isso, ao ver no facebook o convite para a missa de sétimo dia do parente de minha mulher, notei que abaixo do nome completo estava seu apelido dos tempos de magistério e vida loka: “Professor Pepeu”.
 
Por ele ter sido cremado, não resisti a comentar com meu filho que agora ele poderia ser lembrado como “Professor Pópeu” ou Professor Popó”. Provando o ditado de que “quem sai aos seus não degenera”, ele retrucou:
 
- Pra quem viveu boa parte da vida fumando, terminar a vida virando cinza é irônico.
 
E arrematou de forma irretocável:
 
- Pófessor Pepeu...

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

COMICHÕES E DESEJOS

 
Já mencionei aqui no Blogson que não planejava lançar outro e-book, estando bastante satisfeito com os três já publicados, bla bla bla. Porém, como acontece nas melhores famílias, mudei de ideia. O motivo? Talvez uma combinação tóxica de falta de caráter com carência afetiva congênita. Por isso, comecei a sentir comichões (não, não eram oxiúros) e desejos de publicar novo e-book. Mas sobre o quê?
 
Desde que o Blogson foi criado, o conteúdo poderia ser dividido em seis grandes categorias: dezénhos, literatices (prosa e poesia), besteirol, politicalha e memórias diversas. Como a política está fora dos meus planos de publicação, sobraram as lembranças e os “causos” das pessoas com quem convivi. E, entre essas figuras, uma se destacou de maneira especial, pois, durante anos, em festinhas e almoços de família, eu reproduzia as histórias insólitas protagonizadas por um colega, arrancando risadas com suas peripécias e idiotices.
 
Foi pensando nisso que decidi reunir essas lembranças, escritas há mais de quinze anos, como uma forma de homenagear e eternizar a memória do melhor amigo que tive. Assim nasceu o quarto e-book jotabélico.

É esta sugestão que faço ao Marreta e outros blogueiros das antigas: mesmo não tendo minha falta de caráter e carência afetiva primal, que revirem, releiam, selecionem e reúnam em e-books “de grátis” o melhor de sua produção “blóguica”. É divertido e dá alguma alegria do tipo “Pô, já escrevi bem melhor que hoje!”. Mas, pelamordedeus, passem corretor de ortografia!
 
Olha o novo pimpolho aí:



quinta-feira, 12 de setembro de 2024

ASA BRANCA - LUIZ GONZAGA

Povo chato esses ambientalistas e climatologistas! Sempre fazendo previsões sombrias, nunca defendendo a expansão das áreas cultiváveis nem a formação de novas pastagens para criação de gado! Parece que são contra a geração de riqueza! É claro que não se faz omelete sem quebrar alguns ovos, mas os fins justificam os meios. Povo chato, muito chato, só falam de futuro, nunca do presente!
 
Pois é... Se você não percebeu a ironia triste do texto acima, te convido a prestar atenção na letra escrita por Humberto Teixeira para a melodia da música "Asa Branca", pois a maior parte do Brasil está hoje com a cara do sertão nordestino onde nasceu o "Lua". Escutaí
 


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

VELÓRIO HIGH TECH

 
A picaretagem e o interesse puramente comercial tem ajudado a destruir símbolos e significados cultivados e mantidos com carinho. Pude presenciar um exemplo disso durante o velório de um parente de minha mulher.
 
Embora a família tenha um mega jazigo em um dos cemitérios de BH, o desejo expresso de ser cremado levou à contratação de uma empresa especializada em fornecer um combo de Assistência Funerária (ornamentação, coroa de flores, preparação do falecido, traslado do corpo, taxas de velório e cemitério e cremação, etc.).
 
O estranhamento já começou com a duração estabelecida para o velório, de 10h às 13h, pois não faz muito tempo os familiares e amigos da pessoa falecida varavam a noite ao lado do caixão, tendo tempo de sobra para vivenciar sua perda.
 
Hoje a coisa já está na base do cronômetro, como se fosse uma prova de atletismo. Lembrando uma piada dita por um ex-colega, a coisa está mais ou menos assim: “quem beijou, beijou, quem não beijou não beija mais, pois eu já vou fechar o caixão”.
 
Outra coisa que chamou minha atenção foi uma placa indicando a lotação máxima para a capela: 35 pessoas. Por isso, a surpresa foi a “recepção” oferecida fora da capela a quem esteve presente ao velório. Uma boa surpresa, diga-se. Chá, café, sucos de laranja ou de uva, água gelada, pães de queijo, salgadinhos, pães doces com creme, biscoitos, etc. Melhor lugar do mundo para fofocar, rever amigos antigos e encher a pança. Ah, estava me esquecendo do falecido. Ora, foda-se o defunto!
 
Mas o que realmente mais me espantou foi a cerimônia final. Às 13h recolheram o caixão e o levaram para um pequeno auditório, onde foi colocado em uma espécie de mesa elevatória. As luzes foram progressivamente apagadas, enquanto nas paredes apareciam imagens inicialmente estáticas de trigais, que começaram a oscilar suas espigas como se batidas por um vento suave. Paralelamente a isso, frases “consoladoras” no mais puro e previsível clichê iam sendo projetadas nas paredes do auditório.
 
Mas a “melhor” e mais surpreendente parte aconteceu quando um "padre" de feições que eu chamaria de cadavéricas surgiu do nada e começou a falar abobrinhas. A imagem era nitidamente um holograma, pois as mãos pálidas do sacerdote pareciam ser falsas, de brinquedo. O mesmo podia ser dito de seu rosto e suas roupas.
 
Enquanto o “padre” falava, o caixão foi subindo até não ser mais visto, provavelmente prestes a ser levado para o crematório. E aí terminou o espetáculo de mágica, pois o sacerdote evaporou, sumiu de repente e as luzes foram acesas. Estava encerrado o espetáculo.
 
Diante de tantos truques de prestidigitação e picaretagem para emocionar as “almas mais sensíveis”, tive vontade de perguntar:
- “Vocês também ressuscitam o morto?”

terça-feira, 10 de setembro de 2024

COM ELE NÃO TINHA CORÉ CORÉ

 
Quando estava me preparando para o vestibular de engenharia da UFMG, uma das matérias que mais gostei de estudar foi Português, mais especificamente noções de literatura brasileira e origem da língua. Aquilo era filé para mim. Eu não estudava, eu lia com prazer o material didático fornecido. E foi assim que fiquei sabendo do jesuíta português Padre Antônio Vieira.
 
Transcrevendo: Padre Antônio Vieira é uma das figuras mais importantes da literatura e da história do Brasil, tendo desempenhado um papel fundamental na formação do pensamento e da cultura brasileira durante o período colonial. Sua obra literária, marcada principalmente pelos seus sermões e cartas, é um dos pilares da literatura barroca em língua portuguesa.
 
E o sujeito era bom mesmo, além de prolixo ao extremo. Fico imaginando o desconforto das pessoas daquela época ouvindo seus intermináveis sermões, cheio de citações em latim (que depois traduzia), onde passava a régua nas mazelas da sociedade colonial. Segundo sua biografia, escreveu mais de 200 sermões que, agrupados, resultaram em 16 volumes (hoje, a Igreja Católica chama os sermões proferidos após a leitura dos Evangelhos de "homilias").
 
O que mais chama a atenção é que numa época em que a Inquisição barbarizava os judeus, seus sermões abordaram questões sociais e políticas relevantes, tais como a defesa dos direitos dos povos indígenas e a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos na marra ao catolicismo) e os cristãos-velhos (aqueles cujas famílias eram católicas há gerações). Essa sua postura desagradou os colonizadores e muitos membros da Igreja.

O jesuita Antônio Vieira defendeu também a abolição da escravatura, além de criticar severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição (criada e mantida pelos dominicanos, auto-intitulados "defensores da fé"). Em 1665 os inquisidores consideraram as suas proposições "heréticas, temerárias, mal soantes e escandalosas”. Ficou preso dois anos e foi proibido de ensinar, escrever ou pregar. Fico pensando que se vivesse nos tempos atuais seria chamado de “comunista”.

Transcrevendo: Vieira também é conhecido por sua visão profética e crítica da sociedade. Em textos como o "Sermão de Santo António aos Peixes", ele critica a corrupção, a ganância e a hipocrisia tanto dos colonizadores quanto da Igreja. Sua obra é marcada por uma profunda análise moral e social, que ainda ressoa na literatura e no pensamento brasileiro. 

Voltei a me lembrar dele graças a um trecho do “Sermão do Bom Ladrão” que alguém publicou no Facebook. Por ter um caráter atemporal, vou deixá-lo para o final. Antes disso, transcreverei algumas frases ditas por ele em seus sermões ou nas mais de quinhentas cartas que escreveu e que foram preservadas. Olhaí. 

A natureza e a arte curam contrários com contrários.

Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com outro se apaga.

É o amor entre os afetos como a luz entre as qualidades.

Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor.

No juízo dos males sempre conjeturou melhor quem presumiu os maiores.

O amigo, por ser antigo, ou por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado.

O amor não é união de lugares, senão de vontades.

O amor que não é intenso não é amor.

O fogo pode-se apartar, mas não se pode esfriar.

O maior contrário de uma luz é outra luz maior.

O tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade.

O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito.

O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo.

Os olhos são as frestas do coração.

Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.

A ausência também se há de definir pela morte, posto que seja uma morte de que mais vezes se ressuscita.

O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.

Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.

A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.

Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros.

Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência.

Quem quer mais que lhe convém, perde o que quer e o que tem.

A ausência é o remédio do amor.

Somos o que fazemos. Nos dias em que fazemos, realmente existimos; nos outros, apenas duramos.

A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos, do que pelos ouvidos.

A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência, porque admirados os homens das coisas que ignoram, inquirem e investigam as causas delas até as alcançar, e isto é o que se chama ciência.

Amor e ódio são os dois mais poderosos afetos da vontade humana.

Não há alegria neste mundo tão privilegiada, que não pague pensão à tristeza.

Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o crédito e lhe concilia o respeito.

Mais afronta a mesura de um adulador, que uma bofetada de um inimigo.

Três mais há neste mundo pelos quais anelam, pelos quais morrem e pelos quais matam os homens: mais fazenda; mais honra; mais vida. 

E agora o atualíssimo trecho do Sermão do Bom Ladrão, causa e motivo deste post:

Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros roubam debaixo de seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados. Estes furtam e enforcam.

ESTRELA DE BELÉM

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...