Ele voltou! Pois é, ele voltou, ou melhor,
reapareceu. Mas não voltou como o personagem da música do Nelson Gonçalves,
pois não parece ser boêmio. Talvez goste de umas escapadas, mas não chega a ser
boêmio. Sua praia mesmo é a sedução, pois é um grande sedutor, naturalmente
sedutor, sem forçar nada. E isso talvez explique a quantidade de corações que
parece ter conquistado em sua última escapada.
Se você ainda não percebeu, estou falando do
cachorrinho perdido que me cativou tão logo o vi. Hoje, bem cedo, novamente
passei de carro na ruazinha onde o tinha visto pela última vez. Naquele
dia, depois de uma desabalada corrida feita quando meu carro entrou na
ruazinha deserta e demonstrando estar com medo de alguém ou alguma coisa,
espremeu-se entre as barras enferrujadas do gradil de um prédio vazio para se
proteger.
Esse imóvel é um prédio imenso, de três
andares, que abrigou uma empresa estatal de processamento de dados. Em algum
momento e por algum motivo, talvez por ter sido extinta ou remanejada, essa
empresa deixou o prédio entregue às moscas, vazio. Posteriormente, talvez em
decorrência de um processo qualquer de privatização ou desalienação de ativos,
esse imóvel foi adquirido por uma empresa que pretendia instalar ali um grande
posto de saúde. Aparentemente essa ideia foi para o espaço, restando apenas o
elefante branco com vigias. E foi aí que o cachorrinho encontrou abrigo.
Hoje, bem cedo, ao passar na frente do imóvel
vi que um vigia, provavelmente em fim de turno, estava trancando o portão. Para
minha surpresa, parado em cima de uma laje que cobre o acesso para o andar que
fica abaixo do nível da rua, lá estava o cachorrinho. Agora com sinais
inequívocos de que tinha sido acolhido por algum dos vigias ou até mesmo por
todos eles, pois estava com um desses agasalhos que alguns proprietários vestem
seus animais em dias muito frios. Além disso, usava um cone de plástico no
pescoço, normalmente utilizado para impedir que o animal possa lamber ou morder
algum ferimento que porventura tenha sofrido (talvez daí a origem do medo
apresentado anteriormente).
Fiquei feliz por saber que encontrou abrigo e
cuidados que um cão de rua não tem. Entretanto, se ele conseguiu ser adotado,
quem acabou se sentindo órfão e abandonado fui eu, na certeza de que nunca mais
terei a chance de levá-lo para nossa casa.
Mas a vida parece ser assim mesmo - às vezes
percebemos que por mais que queiramos ou tenhamos vontade ou algum desejo,
nunca conseguiremos alcançar nem obter o objeto de nosso interesse, desejo ou
obsessão, seja ele um amor, uma paixão, um automóvel, um endereço, um número de
telefone ou qualquer coisa assim.
Não posso mais alimentar a ilusão de um dia
vê-lo brincando no quintal de nossa casa. Por isso, essa história termina
aqui. Adeus, cachorrinho.
Que bom que ele encontrou quem lhe escolhesse. Uma sugestão: adote um cãozinho, de preferência uma fêmea que, além de mais carinhosas, não ficam minando pelos cantos da casa. Até o fim do ano passado, nunca tinha imaginado ter um cão em casa e, hoje, apenas seis meses depois, é difícil imaginar a casa sem a Pandora. Não tem como ficar sozinho com ela em casa, ela está sempre querendo brigar, ficar perto. Pense no assunto, uma raça pequena.
ResponderExcluirJá tivemos uma cofap aqui em casa, todo mundo chorou quando foi sacrificada (ninguém disse para tomar uma vacina que nunca tomou. Ficou praticamente cega, descadeirada. Minha mulher tinha paixão por ela. Mas justamente no estágio atual, não dá para ter cahorro aqui em casa. Por isso eu disse que se pudesse teria pego o cachorrinho.
Excluirpego ou pegado? Deu branco!
ExcluirO correto é pegado, apesar da forma "pego" parecer até mais culta, ela não existe. Surgiu por analogia ao verbo pagar, que aceita as duas formas, pago e pagado.
ExcluirCaprichos da última flor do Lácio, inculta e bela.
Vai ser "erúdito" assim lá longe, trem!
Excluir