Desde sua criação, o Blogson foi perdendo
progressivamente os leitores que comentavam alguma coisa: minha irmã, minha
cunhada, meu filho, uns dois amigos do mundo real e uns quatro do mundo virtual
(que ficaram sabendo do blog através do Marreta). Foram todos sumindo, todos
saindo, como na música “O sonho”, do Gilberto Gil: “um por um, um por um”, até
chegar ao ponto de restar apenas duas pessoas que eu conseguia reconhecer
(mesmo não as conhecendo).
Eu credito essa situação à irrelevância cada vez maior dos posts que publico. O mesmo "fenômeno de incomunicabilidade" eu tenho observado no Facebook. Quando meu perfil
foi criado, "todo mundo" comentava ou curtia tudo o que eu postava,
por mais idiota que fosse o post. E eu comecei postando velharias do Blogson escolhidas a dedo, que provocaram os maiores elogios, etc. De repente, assim do nada, começaram a
diminuir as curtidas e comentários. Fiquei cansativo ou repetitivo, mas podem fazer duas apostas. Esse tipo de situação fez (ou tem feito)
com que eu me sinta a versão masculina da Shirley
Valentine, a dona de casa que conversa com o fogão, com a geladeira, etc.
O mais engraçado é que eu entendo e aceito
isso, pois a cada dia que passa o blog vai se tornando uma sessão de terapia
para mim, cada post uma “hora de cinquenta minutos”,
uma blogoterapia, pois está cada vez
mais confessional e ranzinza, cada vez mais voltado para o exame do próprio
umbigo. A explicação para isso talvez esteja no fato de não ter mais nada de
relevante a dizer, nenhum caso divertido para contar, nenhuma ideia mais
criativa a desenvolver, ficando apenas alguma coisa tipo "mais do
mesmo".
E só duas pessoas conseguiram continuar
resistindo nessa atmosfera tóxica e hostil. Aí, de repente, uma dessas
pessoas que eu identificava como meus
“2,3 leitores” também se retraiu, o que me fez pensar em uma mudança
momentânea ou definitiva de foco, de interesse, falta de tempo, saco cheio,
viagens, sei lá qual o motivo (e eu não tenho nada com isso).
Como sou mesmo (olha a blogoterapia!) um
sujeito ciclotímico, às vezes penso em dar um tempo no tempo que dedico ao
blog, desintoxicar-me, tentar cuidar da saúde física (da mental já desisti), tentar achar graça em
alguma coisa na vida, fazer balé, exame diário de próstata, cortar unha com serrote, qualquer coisa. Às vezes penso que seria bom morrer rapidinho, às vezes cago de medo
disso acontecer por agora.
Enfim, tenho me tornado mais e mais amargo e,
quanto mais eu tento rir de mim mesmo e da vida, do mundo, mais eu percebo que
estou ficando com câimbra na boca de tanto fazer esforço. E tudo isso vai se
alternando e se juntando e se separando e se dissolvendo e se reagrupando,
tendo como resultado final os comentários e posts que tenho feito: sem graça,
melancólicos, repetitivos, desagradáveis e até inadequados.
Acho que preciso parar com isso, talvez calçar umas
meias velhas furadas no dedão, enfiar os pés em chinelos confortáveis, descolar
uma bengala e fazer igual minha sogra: sentar-me em um sofá em frente à
televisão (será preciso mudar o layout), esperando a morte chegar. E lembrar-me do tempo em que eu me achava
o máximo (mesmo que fosse só eu) - ou não tão mínimo.
Bom, a sessão chegou ao fim, a hora de
cinquenta minutos acabou, meu intestino parou de incomodar e eu preciso (mesmo
que não queira) dormir, pois são duas da madruga. Fui.
(Publicação original 02/02/2018)
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