O Millôr Fernandes produziu todo tipo de humor, graças à sua genialidade e imensa bagagem cultural. O texto a seguir é uma modestíssima tentativa de emular uma das formas de humor em que ele, meu ídolo, era craque (ele era em todas!), que é aquela onde o humor está presente mais nos comentários de pé de página que no texto comentado propriamente dito. Vê aí.
Entre
quatro paredes(1), como se sabe, rola de tudo. Poderia até rolar um papo assim:
- Eu sou sua esfincter(2) – disse meio chapada a
estudante de psicologia(3) ao namorado, – Devora-me(4) ou te decifro!
- Tô sabendo... Eu não sou o Édipo, mas você vai
conhecer o tamanho do meu complexo!(5)
- Então vem, meu Rei!(6)
Notas
explicativas:
(1) “Quatro paredes” é um lugar comum que não se sustenta diante de
projetos arquitetônicos mais sofisticados. E se duas paredes forem substituídas
por uma que tenha a forma de meio cilindro, por exemplo?
(2) O que a moça quis dizer é “sphingo”,
equivalente grego de “esfinge”. Em virtude da apreciável concentração de
substâncias químicas em seu organismo, cometeu um ato falho clássico.
(3) Apesar de deslumbrada e gostosinha, era uma aluna bastante medíocre,
pois já tinha levado pau por dois anos seguidos na matéria que trata da
simbologia dos mitos utilizada por Freud – o que explica também a citação
equivocada.
(4) Segundo o dicionário, “Devorar” significa “comer com avidez, com
sofreguidão”.
(5) Essa frase totalmente equivocada e fora de contexto foi dita pelo
namorado só para impressionar, pois, sendo estudante de mecatrônica, não
entendia merda nenhuma de psicologia e, menos ainda, de teatro grego.
(6) A moça era soteropolitana e fã de Carlinhos Brownie.
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