quinta-feira, 27 de julho de 2023

BLACK DOG

Em 2003, peguei uma pneumonia meio brava e fiquei uns dez dias hospitalizado, com direito até a CTI. Todo dia coletavam meu sangue para analisar sei lá o que. Minha mulher estava desconfiada de que eu estaria sofrendo de hipertireoidismo. Por isso, a pedido dela, incluíram nos exames de sangue alguns testes relacionados aos hormônios da tireoide. Foi na mosca. Ela (mais uma vez) tinha razão! Provavelmente, essa doença pode ter facilitado o surgimento da pneumonia.

Talvez alguém queira saber por que minha Amada fez o pedido do teste. Ela tinha lido um artigo sobre essa doença e percebeu que eu apresentava a maioria dos sintomas ali descritos. Por isso, como a palavra charlatão serve também para identificar o falso médico, eu sempre digo que ela é uma charlatã competentíssima (identificou também, antes do médico, outro problema de saúde que tive. Muito fera!).

Poucos anos depois, esse hipertireoidismo mudou para hipotireoidismo, doença que se assemelha à extinção de espécies animais, pois é para sempre. Pois bem, em determinado momento, comecei a suspeitar de que tenho uma depressão leve, permanente. E depressão é o tema de hoje (com essa introdução, o título poderia ser “volta ao mundo”).

Eu não sei quem nasceu primeiro, se foi a galinha ou se foi o ovo. Aliás, deixo claro que estou me lixando para isso. O que me preocupa é outro tipo de ordem (não, não estou falando de política). O fato é que descobri ser o hipotireoidismo uma possível causa de depressão. Por isso, a pergunta: no meu organismo, quem nasceu primeiro, a depressão ou o hipotireoidismo?

Depressão é uma coisa meio paralisante. Acredito que meu pai sofria dessa doença em uma escala que iria de “moderada” a “alta”, pelo comportamento que tinha, pelos comentários que fazia, pela ironia melancólica que às vezes utilizava. Uma música antiga do Lobão traz essa frase bastante sugestiva: “a maior expressão da angústia pode ser a depressão, algo que você pressente, indefinível”...

Recentemente eu descobri que o Winston Churchill, por quem tenho a maior admiração, também sofria de "black dog", que era o apelido dado por ele à depressão. Dizia que esse cão negro sempre estava ao seu lado, sempre à espreita.

Bem, aqui em casa tem um cachorro preto, que fica sempre por perto, mas o nome dele não é "Depressão", é Zulu. Antes de ele surgir, eu já sofria de uma depressãozinha moderada, daquelas que faz o sujeito ficar carente de atenção, de afeto, de aprovação. Sinceramente, deve ser essa a motivação principal para querer divulgar os textos meio tortuosos, piadas sem graça e trocadilhos infames que escrevo.

No início, enviava essa tranqueira por e-mail para algumas pessoas, a quem chamei de “o grupo dos infelizes”. Normalmente, nunca tinha essa consciência na hora de clicar em "enviar", sempre esperava que alguém respondesse alguma coisa, comentasse, elogiasse ou até descesse o cacete. Mas nada disso acontecia. Aí surgiu o Blogson.

Hoje, pensando no black dog e em (mais) uma piadinha infame que me ocorreu, cheguei à conclusão de quanto fui (e ainda sou) chato, inoportuno, carente, infantil e... mala.

Sem perceber, eu praticava bullying quase diariamente contra as pessoas de quem conheço o e-mail, quase como se as estivesse cutucando fisicamente e dizendo  "ri, anda, ri!!". E essa percepção me envergonhou e entristeceu. Afinal, nunca é tarde para reconhecer um erro cometido de forma descuidada e egocêntrica.

Às vezes eu penso que nada mudou com a criação do blog, até porque utilizo maciçamente nas postagens as coisas que encaminhava para meus filhos e amigos. A diferença é que agora, lê quem quiser. Talvez um dia eu pare de postar obsessivamente as tralhas que escrevo. Provavelmente, continuarei produzindo minhas "maravilhas", mas se tiver vontade de postá-las no Blogson, farei como na piada, ficarei quietinho até a vontade passar.

Postagem original: 19/11/2014



3 comentários:

  1. Todo mundo precisa de uma forma (ou, no nosso caso, lugar) pra escoar os sentimentos, do contrário a gente acaba ficando (ainda mais) maluco! Temos pelo menos a "alegria" de saber que existe quem tenha interesse em ler nossas loucuras. Kkkkk

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    1. Eu gosto quando você ri das minhas idiotices. E vou te contar um "segredo": diante das agruras vividas por pessoas queridíssimas comecei a repaginar o pensamento, a reprocessar minha visão da vida. Hoje eu sei que minha idade (e de pessoas que eu amo) me levou à "estação de embarque", mesmo que talvez não tenha ainda "comprado a passagem" (talvez nem precisemos comprar, as passagens vêm na base do 0800. Como o Milton Nascimento cantou, "sei que nada será como antes amanhã"). Mas, para não terminar de forma melancólica esta resposta, vou contar o caso de uma das netinhas de quatro(!) anos. Segundo a mãe, ela tem andado preocupada com a morte. Aí, outro dia, chorando copiosamente, disse "EU NÃO QUERO MORREER!". A mãe tentou acalmá-la e perguntou por que estava chorando assim. A resposta foi hilária: "No céu não tem comida! E nem tem armário para eu guardar minha roupa!" Como vê, as questões existenciais podem surgir quando menos se espera. Abraços.

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    2. Kkkkk que gracinha. E é exatamente isso, JB! Como podemos ver, não há idade pra esses questionamentos... e eu sempre tive muitos. Tô numa fase, em especial, de pensar demais sobre. Acho que por tudo que tenho visto também. Faz parte, né?

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