quarta-feira, 19 de julho de 2023

PARA AQUELES QUE ASPIRAM ENVELHECER COM ELEGÂNCIA - JORGE PAPROCKI

Os 2,3 leitores que acessam este blog poderão me perguntar: "Paprocki? Quem é esse cara?" E eu direi que foi, não é mais, pois faleceu em 2015 aos 89 anos. E o que ele tem de tão notável assim? Em primeiro lugar ele foi o psiquiatra  que me analisou nos anos de 1972 a 1974. Em segundo lugar está o fato de ter publicado este texto em seu blog em 2014, meses antes de morrer  (pois é, veja você, ele tinha um blog, com uns 88 anos de idade!)

Ao pesquisar seu nome na internet para subsidiar um texto que ainda será escrito achei seu blog e o artigo transcrito a seguir, bem, bem a cara dele. Até consegui ver seu sorrisinho irônico enquanto escrevia essas recomendações. Aí resolvi copiar e publicar aqui no Blogson, por entendê-las aplicáveis a qualquer um que passou dos cinquentinha ou sessentinha, não só aos médicos. 

É estranho pensar que o Paprocki já tinha sido praticamente apagado na minha mente. Entretanto, ao ler esse artigo pintou uma saudade tardia dele. Na verdade, talvez eu esteja mesmo é sentindo saudade de mim aos 21 anos, quando comecei a fazer terapia com ele. E aqui cabe a pergunta: que problemas um sujeito com 21 anos tem para buscar ajuda psicoterápica? Defeito de fabricação? Esta pergunta só poderá ser (ou não) respondida daqui a uma semana ou mais. Enquanto isso, divirta-se com as recomendações.

 

SUGESTÕES PARA MÉDICOS JOVENS, COM MENOS DE  65 ANOS, QUE ASPIRAM ENVELHECER COM ALGUMA ELEGÂNCIA E DIGNIDADE E PERMANECEREM BEM TOLERADOS POR SEUS COLEGAS, SEUS PACIENTES, SUAS MULHERES, FILHOS E NETOS

Postado em 01 de dezembro de 2014

 

·  Durante o seu curso médico você adquiriu, presumivelmente, excelentes conhecimentos médicos, bom adestramento técnico e noções de ética. As Faculdades de Medicina somente propiciam ensino profissionalizante. Não propiciam um aculturamento amplo e, tão pouco, ensinam boas maneiras e bom gosto. Se você não foi orientado por seus pais ou outros mentores, quando criança e adolescente, provavelmente permanece como entrou na faculdade, isto é, habitualmente inculto, rude e com gosto duvidoso, ainda que com excelente qualificação profissional. A seguir, são enumeradas algumas atividades que poderão ajudá-lo a superar certas dificuldades no plano de aprimoramento social e cultural.

·  Não pare de estudar enquanto estiver exercendo atividade médica: leitura de uma hora por dia, todos os dias, costuma ser suficiente para manter-se razoavelmente atualizado em qualquer especialidade. Continue frequentando reuniões científicas de sua associação: conferências, seminários, cursos e, se possível, congressos.

·  Procure aculturar-se, permanentemente, até o fim de sua vida: leia bons livros, assista boas peças teatrais e bons filmes; ouça boa música, erudita ou popular; visite bons museus e realize boas viagens. Tudo isso costuma ser melhor quando efetivado em boa companhia, isto é, em companhia de pessoas cultas, bem educadas e de gosto refinado.

·  Faça, periodicamente, um curso de aculturamento amplo, fora da área médica: música erudita, história da arte, história das religiões ou outra disciplina que sempre desejou estudar e nunca teve tempo.

·  Procure manter-se bem informado acerca de algum assunto atual, de seu interesse: política internacional, economia, meio ambiente, preservação da natureza. Esses conhecimentos podem tornar você atraente para outras pessoas, interessadas nos mesmos assuntos. Lembre-se: “Quanto mais interesses você tiver, mais interessante você fica”.

·  Cultive algum “hobby”: pintura, música, percussão, canto, dança, teatro, culinária, jardinagem. O “hobby” ideal deve envolver alguma atividade manual e deve proporcionar prazer. Brinque de músico, de pintor, de jardineiro ou de cozinheiro. O resultado ou o produto final dessas atividades é pouco relevante. O importante é o aspecto lúdico e o prazer auferido por você, não pelos outros!

·  Participe de alguma atividade associativa: Associação Médica, Sindicato, Conselho de Medicina, Academia de Medicina, Sociedade de Especialidade ou uma ONG. Clube recreativo, torcida organizada de clube futebolístico e partido político não tem o mesmo valor!!!

·  Participe de algum trabalho voluntário, com conteúdo social: aulas de alfabetização, noções de informática, de história, de línguas, para adolescentes ou adultos, são atividades válidas e politicamente corretas. Distribuir brinquedos de natal para crianças carentes ou cobertores para “sem teto”, é pouco! Voluntariado de assistência hospitalar, para enfermidades crônicas e em estágio final, pode ser muito nobre, mas é muito desgastante. Não force!

·  Faça exercícios não radicais: caminhada, nado e dança são válidos. Ciclismo, mergulho e montanhismo são compatíveis para poucos privilegiados, com excelentes condições físicas e adestramento desde a juventude. Não são apropriados para adultos maduros que nunca praticaram de atividade física. Em um determinado momento de sua vida você sentirá que não é mais o jovem que era quando terminou a faculdade, a residência ou seu mestrado e doutorado. Nesse momento existem outras modalidades de atividades físicas que podem ser adotadas: golf e ping - pong são bons exemplos.

·  Periodicamente, submeta-se a alguma forma de psicoterapia breve. Sessões semanais, durante três meses, com intervalos de três em três anos, com um terapeuta que já lhe conhece, costumam ser suficientes para se manter, razoavelmente, equilibrado. Caso você nunca submeteu-se a uma psicoterapia, o ritmo e a duração serão estabelecidos por você e pelo terapeuta escolhido, de acordo com suas necessidades e idade. Procure informar-se acerca do tipo de psicoterapia que melhor se ajusta à sua problemática.

·  Caso você esteja saudável e assintomático, faça acompanhamento periódico com um bom clínico geral ou um geriatra. Caso seja portador de alguma enfermidade crônica faça um acompanhamento assíduo, com um especialista competente, da área correspondente à sua enfermidade. Nunca se automedique e não postergue tratamentos. Ser médico não imuniza ninguém da evolução catastrófica de enfermidades crônicas.

·  Procure não parar de trabalhar, na sua área de atuação médica, enquanto continuar sendo procurado por clientes. Reduza seu ritmo de trabalho, paulatinamente, de acordo com suas possibilidades físicas e psíquicas. Caso essa medida não seja viável ou caso esteja incapaz para realizar tarefas médicas, procure uma atividade administrativa ou burocrática, leve, com horário reduzido, que tenha alguma conexão com sua área de atuação médica, anterior.

·  Assuma sua calvície e os seus cabelos brancos. A maior parte das mulheres, de bom gosto, costuma afirmar que esta é uma atitude mais aceitável e elegante do que tentar implantes ou tingir os cabelos. Raspar a cabeça somente é aconselhável para aqueles que têm um biótipo adequado.

·  Não faça relatos acerca das suas façanhas acadêmicas, científicas e sexuais para pessoas que não pediram essas informações. Se você tem o hábito de contar anedotas, preste o máximo de atenção possível para não repeti-las, para as mesmas pessoas. Fale menos e escute mais. Se conseguir, a maioria vai achar que você é um excelente papo.

·  Evite fazer sexo somente para provar que ainda consegue (com ou sem sildenafila). O resultado costuma ser desastroso.

·  No mundo ocidental capitalista e consumista, usualmente, fomos adestrados para competir e, se possível, levar a melhor, isto é, vencer! Somos o que somos e temos o que temos como resultado de atitudes e de comportamentos competitivos, bem e mal sucedidos, ao longo de nossas vidas. Entretanto, chega um momento em que a competição torna-se inútil e desnecessária: ou você já provou que é bom, ou já não consegue provar. Aprenda a retirar-se da luta no momento próprio, com alguma elegância e dignidade.

·  Lembre-se que algumas dessas sugestões podem ser adequadas para quem as escreveu e, eventualmente, para você. Siga apenas aquelas que julgar pertinentes. Não tente persuadir outras pessoas a segui-las. Principalmente aquelas que não pediram tal aconselhamento.

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