quinta-feira, 30 de junho de 2022

GEMININIÑAS 06

Este é o relato feito pela mãe das gemininiñas de três anos.
 
 
Elas sempre me chamaram de mamãe. Mas essa semana começaram a falar apenas “mãe”... Estranhei... Mas “mãe” só? “Mãe”, já? Cadê o “mamãe”? Nããããoooo!
 
Falar só “mãe” é coisa de criança grande, gente! Vamos parar com essa palhaçada e vamos falar direito, que cês não tem idade pra isso não!
 
Hoje, no café da manhã, não aguentei. Depois de escutar uns três “ô, mãe” seguidos em curtíssimo intervalo, perguntei para a Lulu:
- Amor, por que você está me chamando de mãe e não mais de mamãe?
 
Silêncio...
Ela olhou para baixo sem dizer nada.
Depois de alguns segundos olhou pra mim e perguntou:
- Mãe, por que você chama o vovô de pai?
 
Como assim, minha gente? Além de não me chamar mais de mamãe, ainda me dá uma resposta dessas??? Morri!

quarta-feira, 29 de junho de 2022

EXPLODINDO DE PAIXÃO

 
Apesar de reticente em relação aos poemas pornográficos do Bukowski (eu não passo de um caipira preconceituoso!), achei sensacionais os conselhos que deixou no texto "Então queres ser um escritor?", pois é exatamente assim que me sinto quando resolvo escrever meus versos de quinta categoria:

"se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas".

Estou dizendo isso pois meu filho mais velho me contou ter sido recentemente abordado por um tilelê da vida, que lhe perguntou se ele gostava de poesia enquanto oferecia alguns livrinhos artesanais, verdadeiros fanzines (“E tome zine, zine, zine, zine, zine em papel de xerox” – Hanói Hanói). Ao contrário de mim, que mesmo não comprando nada teria conversado meia hora com o sujeito, meu filho apenas respondeu “Não!”.
 
Seu comportamento sério, equilibrado e contido às vezes me faz pensar que ele é que parece ser o pai e eu o filho. Pouco importa. Só sei que gosto muito de poesia. E gosto tanto que acabei perdendo a vergonha e começado a rascunhar alguns versos. Mas preciso dizer que sempre me considerei um farsante, uma fraude no quesito poesia.
 
Para mim está claro que a maioria dos versos que escrevi são apenas textos em prosa quebrados aqui e ali para ficar com jeitão de poema. E por que algumas vezes escolhi registrar meus pensamentos nesse formato? Creio que a explicação é simples: um texto em prosa é como um rio cujas águas vão deslizando pelos meandros e curvas suaves, tranquilamente, sem sobressaltos, serenamente. A poesia, ao contrário, lembra um rio turbulento, nervoso, com corredeiras, as águas agitadas despencando em cachoeiras e precipícios.
 
Em outras palavras, o texto em prosa lembra um arado que vai revolvendo a terra de forma metódica, enquanto a poesia lembra alguma coisa sendo arrancada da terra à mão, no muque. Serenidade versus explosão. Quando escolhi registrar sentimentos no formato de “poesia” (mesmo que fosse prosa disfarçada em poema), é porque alguma coisa estava explodindo dentro de mim.

Sempre pensei que a melhor imagem para a poesia seja a de uma espada de samurai com suas formas elegantes. Pode ser pintada com cores alegres, disfarçada com arranjos de flores, talvez, mas continua afiada e letal como a espada de samurai que é.
 
Em um poema, frases soltas podem ser lançadas no papel ou na tela sem explicação prévia, agindo como contrações musculares ou espasmos amorosos. São como que flashes luminosos, clarões de raios provocados por sentimentos represados que têm urgência em ser libertados, em total coerência com as palavras de Bukowski.
 
Já os textos em prosa não têm pressa, esperam ser burilados, polidos, lustrados. O problema é que eu tenho tido cada vez menos vontade de polir ou lustrar o que escrevo. Aliás, fica a pergunta: por que eu continuo insistindo em escrever? Talvez o melhor seja eu me dedicar à horticultura orgânica, pois ultimamente só tenho produzido abobrinhas! Fui.

terça-feira, 28 de junho de 2022

JOGO DE PALAVRAS



Tudo começou com um jogo de palavras surgido em minha mente. Imagino que meu cérebro deve ter  uma trilha especial, uma "estrada larga e pavimentada" onde circula esse tipo de associações. Às vezes penso que talvez enxergue a vida como se estivesse usando óculos com lentes "fundo de garrafa", mesmo sem delas precisar. Assim, as imagens que vejo não são aquelas que as pessoas "normais" geralmente enxergam.

Deixando a enrolação de lado, o jogo de palavras que surgiu foi "militante - limitante". Aí, para não jogar fora essa simpática associação trava-línguas, fiquei pensando no seu significado e implicações. Para mim, todo tipo de militância tem a ver com um comportamento mais visceral, mais radical, menos moderado, mais proativo. Justamente por isso nunca quis ser militante de nada nem por ninguém, pois sempre achei essa dedicação excessiva uma coisa muito limitante e eventualmente prejudicial à livre expressão e a um pensamento equilibrado, abrangente e menos bitolado.

E o que seria apenas um jogo de palavras acabou virando um jogo da verdade, da minha verdade, pois, para mim, que sempre detestei qualquer tipo de cerca, de cerceamento, ser militante de alguma causa é coisa muito limitante. Mesmo que pareça apenas um jogo de palavras. Aí resolvi cutucar meus "amigos de Facebook. E a forma sintética dessa visão publicada na rede saiu como se viu acima, cheia de coraçõezinhos cor de rosa. Um mimo!



segunda-feira, 27 de junho de 2022

EXCESSO DE RELIGIOSISMO FAZ MAL

 
Ultimamente tenho ficado muito incomodado com pensamentos, atitudes e comportamentos tornados públicos através dos meios de comunicação. E o pior é ter a sensação de que é a religião que está na origem do que me causa tanta estranheza e irritação. Melhor dizendo, não as religiões em si, mas sua deformação, o preconceito e as ideias impregnadas de uma religiosidade deturpada, mal interpretada.
 
Esses comportamentos e atitudes são tão cretinos, tão asquerosos, tão moralistas e tão preconceituosos que me fizeram imaginar uma palavra para definir esse ”desvio de conduta”: “Religiosismo”, uma palavra que imaginava poder estar no dicionário do Aurélio, mas que não encontrei. Mesmo que possa ser um neologismo, é depreciativa e diferente de religiosidade.
 
(Parêntese: tempos atrás eu tinha boa fluidez para expressar o que estava sentindo. Hoje, parece que os pensamentos trombam uns com os outros e até desaparecem. Mesmo assim, tentarei expor de forma clara minha visão sobre notícias recentes com exibições explícitas de “religiosismo” sem utilizar demais os comandos “CTR X” e “CTR V” neste texto).
 
E o motivo de ter pensado nessa palavra foram as recentes notícias sobre os estupros de uma criança de onze anos e de uma jovem de 21 anos, suas consequências e as reações de pessoas envolvidas nessas ocorrências, fazendo-me crer que há uma espécie de “religiosismo” perpassando os dois casos e, provavelmente, tantos outros acontecidos no Brasil. Segundo a Globo News, 35.000 crianças até 13 anos de idade foram vítimas de estupro só no ano de 2021.
 
O que têm essas notícias em comum – além de duas gravidezes provocadas por estupro – é a exibição do mais repulsivo moralismo e preconceito exibidos pelos profissionais que deveriam estar ao lado de quem foi estuprada. Mas não, comportaram-se como se estivessem pensando na “dignidade humana” do feto de cinco meses (que foi felizmente abortado) e da criancinha que foi dada para adoção pela mãe de 21 anos.
 
Esse negócio de “dignidade humana” relacionado a conceitos e interpretações religiosas equivocadas não existe! Pelo menos, não para mim. Ainda há quem creia que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (daí a tal dignidade e sacralidade do corpo humano). Por mim, poderia até ser verdade (mesmo que não creia nisso). O problema é dar um jeito de incluir nessa "imagem e semelhança" nossos primos, os também humanos Neandertais e Denisovanos. Ou explicar a falta de “dignidade” dos chimpanzés e bonobos, que, afinal de contas, compartilham mais de 98% de seu DNA com os Sapiens (nós mesmos). Sem falar na dignidade do sexo feminino (ah, tá bom, esse não conta, pois foi criado a partir da costela de Adão...).
 
Tenho a sensação de que essa ideia (que parece estar na gênese do pensamento moralista) é que levou uma “juíza” empenhada em não deixar a gravidez de uma criança de 11 anos ser interrompida a fazer chantagem emocional e formular perguntas sinuosas, “serpenteantes” e melífluas a uma criança estuprada e grávida aos onze anos:
 
– Qual é a expectativa que você tem em relação ao bebê? Você quer ver ele nascer?
– Você tem algum pedido especial de aniversário? Se tiver, é só pedir. Quer escolher o nome do bebê?
– Você acha que o pai do bebê concordaria pra entrega para adoção? (referindo-se ao estuprador!).
 
A filhadaputa não teve o bom senso e generosidade de pensar no que o apresentador Luciano Huck disse sobre esse episódio:
– Criança não é mãe!
 
Os mesmos “princípios” abjetos, canalhas, devem ter levado um médico que examinou uma jovem de 21 anos, atriz - mais uma vítima de estupro -, a dizer que ela era responsável por 50% do DNA da criança que nasceria poucos dias depois (grande novidade!) e que “seria obrigada a amá-lo”, enquanto a fazia ouvir o coraçãozinho batendo. E tudo porque a jovem estava decidida a entregar para adoção um filho gerado em consequência de um estupro!
 
Para fechar este texto só transcrevendo o diálogo entre a “juíza” e a mãe da criança de onze anos:
 
- Hoje, há tecnologia para salvar o bebê. E a gente tem 30 mil casais que querem o bebê, que aceitam o bebê. Essa tristeza de hoje para a senhora e para a sua filha é a felicidade de um casal.
 
Aí, tomou uma tijolada da mãe, que disse aos prantos:
- É uma felicidade, porque não estão passando o que eu estou!
 
Depois do vazamento da gravação dessa conversa, a Justiça (a verdadeira) determinou que o aborto legal fosse realizado. Ainda bem.

domingo, 26 de junho de 2022

ALMOÇO MINEIRO - RUBEM BRAGA


Recentemente eu disse que voltaria a ler só para aprender a escrever. E é justamente isso que estou tentando fazer, ao começar a reler as crônicas do Rubem Braga. Como escrevia bem! Na quinta ou sexta crônica já fiquei louco de vontade de compartilhar sua leitura com os amigos e amigas do Blogson. Olha que maravilha:


Éramos dezesseis, incluindo quatro automóveis, uma charrete, três diplomatas, dois jornalistas, um capitão-tenente da Marinha, um tenente-coronel da Força Pública, um empresário do cassino, um prefeito, uma senhora loura e três morenas, dois oficiais de gabinete, uma criança de colo e outra de fita cor-de-rosa que se fazia acompanhar de uma boneca.

Falamos de vários assuntos inconfessáveis. Depois de alguns minutos de debates ficou assentado que Poços de Caldas é uma linda cidade. Também se deliberou, depois de ouvidos vários oradores, que estava um dia muito bonito. A palestra foi decaindo então, para assuntos muitos escabrosos: discutiu-se até política. Depois que uma senhora paulista e outra carioca trocaram idéias a respeito do separatismo, um cavalheiro ergueu um brinde ao Brasil. Logo se levantaram outros, que, infelizmente, não nos foi possível anotar, em vista de estarmos situados na extremidade da mesa. Pelo entusiasmo reinante supomos que foram brindados o soldado desconhecido, as tardes de outono, as flores dos vergéis, os proletários armênios e as pessoas presentes. O certo é que um preto fazia funcionar a sua harmônica, ou talvez a sua concertina, com bastante sentimento. Seu Nhonhô cantou ao violão com a pureza e a operosidade inerentes a um velho funcionário municipal.

Mas nós todos sentíamos, no fundo do coração, que nada tinha importância, nem a Força Pública, nem o violão de seu Nhonhô, nem mesmo as águas sulfurosas. Acima de tudo pairava o divino lombo de porco com tutu de feijão. O lombo era macio e tão suave que todos imaginamos que o seu primitivo dono devia ser um porco extremamente gentil, expoente da mais fina flor da espiritualidade suína. O tutu era um tutu honesto, forte, poderoso, saudável.

É inútil dizer qualquer coisa a respeito dos torresmos. Eram torresmos trigueiros como a doce amada de Salomão, alguns louros, outros mulatos. Uns estavam molinhos, quase simples gordura. Outros eram duros e enroscados, com dois ou três fios.

Havia arroz sem colorau, couve e pão. Sobre a toalha havia também copos cheios de vinho ou de água mineral, sorrisos, manchas de sol e a frescura do vento que sussurrava nas árvores. E no fim de tudo houve fotografias. É possível que nesse intervalo tenhamos esquecido uma encantadora lingüiça de porco e talvez um pouco de farofa. Que importa? O lombo era o essencial, e a sua essência era sublime. Por fora era escuro, com tons de ouro. A faca penetrava nele tão docemente como a alma de uma virgem pura entra no céu. A polpa se abria, levemente enfibrada, muito branquinha, desse branco leitoso e doce que têm certas nuvens às quatro e meia da tarde, na primavera. O gosto era de um salgado distante e de uma ternura quase musical. Era um gosto indefinível e puríssimo, como se o lombo fosse lombinho da orelha de um anjo ouro. Os torresmos davam uma nota marítima, salgados e excitantes da saliva. O tutu tinha o sabor que deve ter, para uma criança que fosse gourmet de todas as terras, a terra virgem recolhida muito longe do solo, sob um prado cheio de flores, terra com um perfume vegetal diluído mas uniforme. E do prato inteiro, onde havia um ameno jogo de cores cuja nota mais viva era o verde molhado da couve — do prato inteiro, que fumegava suavemente, subia para a nossa alma um encanto abençoado de coisas simples e boas.

Era o encanto de Minas.
Setembro, 1934

  

sábado, 25 de junho de 2022

RUA VAZIA


Perto de onde eu moro há uma rua pequena, uma ruazinha de apenas uma quadra ou quarteirão, confinada, espremida entre duas outras de muito movimento de automóveis e pessoas. Tem passeios estreitos e seu pavimento é de calçamento poliédrico, antigamente chamado de "pé de moleque".
 
É uma rua deserta, uma rua vazia. Do lado direito existe um pequeno edifício de apartamentos, um lote vago, um prédio comercial desocupado, os fundos do almoxarifado de uma empresa de construção e a lateral de uma residência. E só.
 
No lado oposto não há muita diferença: uma quadra de esportes abandonada, lembrança de um colégio que não existe mais, um pequeno ginásio poliesportivo do mesmo colégio (alugado apenas uma vez por semana por quem quer jogar futsal), um lote vago, um prédio de apartamentos construído não faz muito tempo, os fundos de um conjunto de blocos de apartamentos cujo acesso de moradores e veículos é feito por outra rua e a lateral de uma casa construída na esquina.
 
Com esse tipo de ocupação, não fosse o fato de ser utilizada para retorno de carros, seria uma rua quase deserta, pois quase nunca alguém caminha em suas calçadas estreitas e maltratadas. Talvez por isso tenha atraído no passado a atenção de alguns jovens, que a utilizavam para fumar maconha sentados no meio fio, sem ninguém para importuná-los ou constranger. Hoje, depois da construção do prédio do lado esquerdo, nem isso acontece mais.
 
Por ser uma rua sem movimento de pessoas andando a pé, às vezes, especialmente em tempo de chuva, algum morador de rua abriga-se sob a marquise do ginásio para dormir, com a quase certeza de que não será incomodado.
 
Recentemente, durante o dia, ao passar de carro por essa ruazinha vi um morador de rua sentado em frente a esse ginásio. Apesar de sua aparência maltrapilha - roupas sujas e rasgadas, pés descalços e cabelo desgrenhado -, o que chamou minha atenção foi a forma como estava  acomodado. As costas apoiadas na parede, as pernas esticadas e cruzadas, ali estava ele, como se estivesse sentado em uma espreguiçadeira.
 
Tudo indicava não ter família, amigos ou parentes. Pelo menos, não agora, não próximos. Mas havia alguma coisa de serenidade, de calma, enfado ou resignação em sua postura, que contrastava com sua aparência andrajosa, fazendo-me pensar no que estaria passando em sua cabeça. Algum tipo de arrependimento? Saudade de alguém, algum lugar ou época? Ou, ao contrário, algum sonho a acalentar?
 
Nada disso combinava com a imagem que tinha guardado na memória. Talvez - deve ser essa a explicação real - estivesse apenas vivenciando a falta de sentido da Vida, da sua própria sua vida. Nada esperar, nada sonhar, nada com que se preocupar, nada a desejar, a não ser a próxima refeição, uma marquise e um cobertor para proteger-se do frio da noite. Nenhuma expectativa, apenas a resignação de viver até onde der.

Tenho pensado assim nos últimos tempos, uma época em que nada parece ter sentido ou esperança. Justamente por isso fiquei com vontade de voltar à ruazinha deserta, aproximar-me do morador de rua e perguntar:
- Posso sentar aí ao seu lado, irmão?

sexta-feira, 24 de junho de 2022

RECADINHO

 
Não tenho perfil no Instagram ou Twitter. Por isso, acabo usando o Blogson para dar notícias e mandar mensagens para aqueles que acessam este blog mal acabado. E a última notícia (pensando bem, melhor dizer “mais recente”. Sei lá, vai que eu tenho um troço e caio duro depois dessa “última notícia”) é a seguinte: hoje, dia 24/06/2022 as estatísticas do blog indicam  a existência de 2.440 publicações. É post pra dar com pau!
 
Evidentemente, a qualidade alcançada é inversamente proporcional à quantidade produzida. Essa é quase uma fórmula matemática universal (boa desculpa!). Por isso, aproveitando a desertificação da criatividade e de assunto, resolvi (mais uma vez!) criar outro blog só para passar o tempo. Alguém mais sensato poderá calmamente dizer:
 
- “SE JÁ NÃO TEM ASSUNTO PARA UM BLOG, PARA QUE CRIAR OUTRO?”
 
E a resposta é simples: há muito tempo tenho sentido vontade de limpar o blog, de remover os posts lixo que publiquei. Poderia fazer isso no próprio Blogson, mas tenho um pouco de TOC de não alterar o original. Tentei fazer isso migrando alguns posts para datas mais recentes, mas me senti muito mal.
 
Por isso, aliando a absurda falta de assunto e de qualidade dos últimos posts com a minha necessidade real de encontrar alguma coisa para passar o tempo que me resta (e eu desconfio que seja muito pouco), resolvi criar uma versão limpinha, “gourmet”, para abrigar o que acredito ser ”o melhor do peor”.
 
Esse novo blog atende pelo mimoso nome de “Blogson Crusoe Gourmet” e será alimentado diariamente com posts escolhidos e revisados do velho Blogson. A dosagem máxima será de duas publicações por dia. E aí vem a parte matemática da coisa:
 
Total de posts: 2.440
Posts aprovados e revistos:  60% (estimativa)
Total de posts do novo blog: 1.440
Prazo mínimo para publicação: (1.440 / 2) / 365 dias/ano = 2 anos
 
Assim, pelos próximos dois a quatro anos precisarei continuar vivo (e lúcido) para dar sequência a esta insensatez. E o velho Blogson não será abandonado, pois continuará a ser alimentado com todo tipo de tranqueira que me ocorrer.
 
A vantagem para quem acessar a versão gourmet, essa nova maluquice jotabélica, é que os posts mais antigos serão os primeiros a ser publicados. Isso é bom? Pode ser, pois ninguém precisará mergulhar nas profundezas do Blogson original para ler os textos iniciais. E posts informativos como este, é claro, nunca farão parte do Gourmet.
 
Para finalizar, caso algum incauto se interesse, o link é este (já está com duas publicações!):
 
https://blogsoncrusoegourmet.blogspot.com/

quinta-feira, 23 de junho de 2022

CARA QUEIMADA

 
A recente prisão do ex-ministro Milton Ribeiro – por quem nosso presidente disse que colocaria a cara no fogo (correndo o risco de passar a ser chamado de "Cara Queimada")  – fez com que eu me lembrasse de uma historinha divertida contada por meu falecido amigo Pintão.
 
Parece que alguns indígenas americanos batizavam seus filhos com nomes de animais, fenômenos da natureza ou plantas. E a explicação seria esta: O filho pergunta ao pai como seu nome havia sido escolhido. E o pai explica:
 
- Quando nasce uma criança na tribo, o pai sai da tenda e a primeira coisa que vê torna-se o nome escolhido para aquele menino ou menina. Por isso, sua irmã mais velha se chama Lua Prateada, seu irmão é Nuvem Cinzenta, sua mãe é Neve Branca, eu sou Cabeça de Alce e o mesmo aconteceu com o Chefe Touro Sentado. Entendeu, Two Dogs Fucking?

ANTOLOGIA EXTRATERRESTRE

 
Se há uma coisa que eu posso afirmar com quase 100% de certeza é que eu e o presidente Bolsonaro detestamos o Lula. Eu disse “quase 100%” pois o que o Mito sente pelo Lula talvez seja medo, cagaço de pensar na naba que provavelmente levará nas próximas eleições. Mas eu, sinceramente, detesto o Lula. O problema é que também detesto o Bozo!
 
Aliás, por ele ter dito as maiores barbaridades ao longo dos últimos anos, comecei a colecionar essas declarações divulgadas em diversos meios de comunicação. Se fosse outro o político que as tivesse dito, poderia identificá-las como “pérolas”. Como ele aparenta não se importar muito com garimpos ilegais na Amazônia, acho melhor classificar essas sandices como “pepitas”, capazes de horrorizar e causar inveja até mesmo no Silas mala. São frases bastante conhecidas e antigas, mas, mesmo assim, merecedoras de não ser esquecidas. Saca só que bela antologia:
 
A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país (em pronunciamento na Câmara dos Deputados, em abril de 1998, ressaltando que não pregava que o mesmo destino dado aos índios americanos fosse dado aos brasileiros. Sugeria apenas que fossem demarcadas "reservas indígenas em tamanho compatível com a população");
 
Pinochet devia ter matado mais gente. (sobre a ditadura chilena de Augusto Pinochet em entrevista à revista Veja, edição 1575, de 2 de dezembro de 1998);
 
No período da ditadura, deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique. (em maio de 1999, num programa de TV, ao defender o fechamento do Congresso Nacional);
 
Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater. (após o então presidente FHC segurar uma bandeira com as cores do arco-íris em defesa da união homoafetiva, em maio de 2002);
 
O filho começa a ficar assim, meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento dele. (em um debate na TV Câmara, em 2010);
 
Sou preconceituoso, com muito orgulho. (em entrevista à revista Época, em 2011);
 
Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados. (em resposta a Preta Gil, sobre o que faria se seus filhos se relacionassem com uma mulher negra ou com homossexuais, no programa CQC, da Band);
 
Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. (em entrevista sobre homossexualidade à revista Playboy, em dezembro de 2011);
 
Fui ser deputado federal para não andar de ônibus, fusca, van, e morar bem. (ao ser perguntado por um vendedor ambulante, em agosto de 2013, se o transporte não seria melhor caso os políticos utilizassem o serviço);
 
Não te estupro porque você não merece. (para a deputada federal Maria do Rosário do PT-RS, em dezembro/2014);
 
Os índios não falam nossa língua, não têm dinheiro, não têm cultura. São povos nativos. Como eles conseguem ter 13% do território nacional? (Campo Grande News, 22/04/2015);
 
Não tem terra indígena onde não têm minerais. Ouro, estanho e magnésio estão nessas terras, especialmente na Amazônia, a área mais rica do mundo. Não entro nessa balela de defender terra pra índio. (Campo Grande News, 22/04/2015);
 
O erro da ditadura foi torturar e não matar. (em participação no programa Pânico, da rádio Jovem Pan, em julho de 2016);
 
Em 2019 vamos desmarcar a (reserva indígena) Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil e armas a todos os fazendeiros. (Congresso Nacional, publicado em 21/01/2016);
 
Quando se fala em poluição ambiental, é só você fazer cocô dia sim, dia não que melhora bastante a nossa vida também, está certo? (resposta a pergunta de jornalista em 09/08/2016);
 
Fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem pra procriador ele serve mais (em palestra no Clube da Hebraica, no Rio, em abril de 2017);
 
Pode ter certeza que se eu chegar lá (Presidência da República) não vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola. (Estadão, 03/04/2017);
 
Sou capitão do Exército, minha missão é matar. (em palestra em Porto Alegre, em junho de 2017);
 
Se eleito eu vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho. Não serve mais. (Palestra para empresários no Espírito Santo, em 31/07/2018);
 
Há anos o terminal de contêiner do Paraná, se não me engano, não sai do papel porque precisa agora também de um laudo ambiental da Funai. O cara vai lá e se encontrar, já que tá na moda, um cocozinho petrificado em índio, já era, não pode fazer mais nada ali (Portal Folha UOL, em 12/08/2019);
 
 
São tantas as pepitas que cansa ficar juntando toda essa "riqueza". Algumas merecem o rótulo de piadas, como quando disse ser de “centro-direita”. (Macron é de esquerda e eu sou de centro-direita - declaração feita 28/08/2019, após encontro com o presidente do Chile, Sebástian Piñera). Centro-direita? Como assim, cara pálida? (pensando bem, depois da recente prisão do ex-ministro Milton Ribeiro - por quem o presidente poria "a cara no fogo", talvez seja melhor dizer "cara queimada).
 
Mas perdi o interesse em continuar colecionando essas frases extraterrestres após o surgimento da pandemia e as mais de seiscentas mil mortes por ela causadas (graças ao “auxílio luxuoso” do Jair). 

“Não sou coveiro”, “É só uma gripezinha”, “todo mundo vai morrer um dia”, “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma tubaína” poderiam ser boas piadas se fossem ditas em um contexto não tão trágico assim. Por isso parei. E pensar que votei nesse cara no segundo turno da eleição de 2018!

 

terça-feira, 21 de junho de 2022

O QUE A MEMÓRIA AMA, FICA ETERNO – ADÉLIA PRADO

 
Quanto menos eu tenho algo a dizer, mais me encanta o que outros disseram antes de mim E como disseram bem! Recebi pelo whatsapp de um amigo o texto transcrito a seguir. Tudo o que eu já pretendi escrever está ali, apresentado de forma tão fluida, tão bonita e comovente que me faz pensar por que continuo tentando, insistindo em manter o Blogson majoritariamente autoral. Excesso de vaidade, excesso de bobagem!
 
Apenas para evitar pisar novamente no tomate, tentei confirmar na internet se o texto recebido é mesmo da escritora Adélia Prado. Para variar, descobri uns três textos ligeiramente diferentes entre si, indicando que pelo menos dois (ou os três!) foram editados. Por isso, não posso garantir que o texto original seja exatamente igual ao que recebi nem que a autora seja mesmo essa escritora mineira. Se forem, ótimo, se não forem, paciência. Mas deleitem-se com a elegância destas palavras:
 
 
Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender.
 
O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.
 
É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.
 
Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.
 
Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.
 
A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época.
 
Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20 ,30 ou 40 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos. Mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.
 
A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre “as crianças”, não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Pra eles, a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.
 
Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.
 
Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.
 
 
Adélia Prado
Aroma de Poesia

domingo, 19 de junho de 2022

AS ILUSÕES PERDIDAS

Recentemente, pentelhando as manchetes do site da VEJA, li uma reportagem sobre o lançamento do filme francês “Illusions Perdues”, baseado em um livro de mesmo título, escrito por Honoré de Balzac. Apesar de não ter lido o livro nem ter a intenção de ver o filme, fiquei com o nome na cabeça, material suficiente para meus neurônios remanescentes se divertirem.
 
Nada mais natural que as pessoas ao longo de suas vidas alimentem ilusões, esperanças e crenças. Até mesmo o Gil, quando cantou em sua lindíssima música “Super Homem” que “Um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria”. Pois é... O problema é quando você passa a vida acreditando em quimeras ou fazendo apostas erradas.
 
Conheço um sujeito tão idiota, tão ingenuamente sonhador que já protagonizou um caso pra lá de bizarro. Mesmo que seu perfil de Facebook indique que está há anos “em um relacionamento sério” com sua namorada, tem o péssimo hábito de se imaginar muito esperto, mas o máximo que conquistou foi “comprar capim pegando fogo ou lote na Lua”. No dia a dia, tudo que consegue é ser desprezível (e desprezado), reprovável, aético e amoral, características que puderam ser comprovadas quando se envolveu em um relacionamento pela internet com uma mulher aparentemente tão aética e amoral como ele. Ou tremenda gozadora, sempre disposta a tirar sarro de alguém.
 
E meu conhecido embaraçou-se em suas redes quando ela prometeu dar a ele um carro de presente (sem nunca terem tido qualquer contato físico!). Melhor dizendo, o imbecil acreditou nessa nota de três reais! A namorada ficou sabendo, aparentemente assimilou o corno virtual e ele até hoje deve estar esperando seu carro.
 
Talvez eu tenha detalhado esse caso por ser geneticamente tão ingênuo quanto ele. O que nos diferencia é o fato de eu não ser nem aético nem amoral. Afora isso, somos dois idiotas, dois jumentos (sem os atributos mais divulgados dessa alimária). Em outras palavras, somos duas bestas quadradas incorrigíveis. Como não sou psicólogo, não devo (nem quero) traçar seu perfil emocional (mesmo que talvez consiga fazer uma análise isenta); por isso, prefiro malhar a mim mesmo, o rei das ilusões perdidas. Se não, vejamos:
 
Na infância, acreditei no mito irresponsável e piedosamente propagado por meu pai sobre minha beleza (que eu não possuía!). Na adolescência e idade adulta alimentei a crença sobre minha "brilhante" inteligência e criatividade. Já perto da aposentadoria tive a ilusão de ser um escritor bastante razoável (deu para perceber que humildade nunca foi o meu forte, não é?).
 
E agora, já devidamente atropelado por meus setenta e dois anos ("e o pior é que ninguém anotou a placa", como diz uma piada antiga), meu devaneio, minha fantasia é comportar-me com estranhos como se fosse “o” simpático, ou melhor, o idoso simpaticão que fala pelos cotovelos, sempre pronto a puxar papo com desconhecidos (preferencialmente jovens).
 
Nesses momentos, geralmente em filas de qualquer natureza, já começo a avaliar com “olhar de rapina” (como na letra de "Rua Ramalhete”) quem está à minha frente, logo atrás ou no caixa. Aí começo uma lenga-lenga sobre demora, exibo minha velhitude e – sacrilégio dos sacrilégios! - peço pra que a “presa” avalie minha idade. Como ninguém tem mesmo noção de porra nenhuma ou está a fim de gozar com minha cara, a avaliação que recebo é de que pareço mais moço que a idade confessada e que estou muito bem, o que me deixa todo alegrinho. Mas, em casa, o espelho me enquadra e me dou conta de que estou me enganando e servindo de chacota para desconhecidos (que devem falar coisas assim: “velho chato bagarai!”).
 
Pior é quando o hábito do psitacismo tardio, esse falar pelo rabo da terceira idade causa constrangimentos em mim ou em que me ouve. Como neste caso, por exemplo. Ontem, um casal que eu não conhecia veio a uma festa em nossa casa e eu, o simpaticão de carteirinha, para ser gentil, sentei-me um pouco ao lado deles. Conversa vai, conversa vem, o homem comentou ser fascinado pelo Egito Antigo, o que me surpreendeu e entusiasmou.
 
Comentei que também sinto o mesmo fascínio, mas disse de forma bastante enfática que jamais iria ao Egito ou a qualquer outro país de cultura não ocidental, por não me identificar nem um pouco com seus costumes, crenças, religiões, etnias ou comportamento predominante, que minhas raízes (as principais, pelo menos) estão fincadas na Europa Ocidental, bla bla bla.
 
E ainda fiz uma lista dos países que gostaria de conhecer se tivesse grana para isso (onde incluí Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia). Nada de Ásia, África, América Hispânica Oriente Médio ou Leste Europeu. Resumindo, falei mais que papagaio de puta, mais do que devia ou o bom senso recomendaria. Ele deu um sorrisinho meio sem graça e disse que seu avô veio do Líbano.
 
Catso! Pego de surpresa, tive de recorrer ao “modo automático de comportamento”, usado quando não presto atenção ao que alguém está falando (nessas ocasiões, pelas pausas ou entonação da voz de quem fala, meneio a cabeça lateralmente, o olho meio arregalado, em sinal de dúvida ou perplexidade. E foi isso que fiz - mesmo tendo ouvido o que disse o convidado). Apenas completei a encenação com um enigmático e sorridente "hã-hã" e pedi licença para pegar cerveja para alguém. Nessas horas eu vejo que sou mesmo uma anta, tão idiota que também mereceria ganhar um carro de alguém que desconheço. Foda!
 

sábado, 18 de junho de 2022

PARODIAR RIMA COM ODIAR

 
O escritor Oscar Wilde teria dito que Sarcasmo é a mais baixa forma de humor, mas a mais elevada forma de inteligência”. Acreditando piamente nisso e por absoluta falta de vergonha na cara, resolvi “arrombar” a letra da música “Super-Homem”, do Gilberto Gil, mesmo sabendo que paródia não é coisa para que qualquer desclassificado ache que consegue fazer. Olha a “coisa” aí (e compare com a letra do Gil):



quinta-feira, 16 de junho de 2022

FONTE DA JUVENTUDE

 


CÉSIO 133

 
Antes do começo do começo, o pré-universo era habitado apenas por deuses, semideuses e aspones, reunidos em uma teocracia representativa. Por óbvio, entende-se que essa teocracia representava apenas a cassata dos deuses - que consideravam e tratavam como escória todo o restante da população.
 
Todas as funções executivas eram exercidas por um presidente, exceção apenas feita às execuções de condenados, tarefa que causava asco e repulsa na população em virtude da grande brutalidade e violência utilizadas, tendo saído daí a palavra carrasco, contração da expressão “Cara, que asco!”
 
O presidente exercia seu mandato por um período calculado em 1,4 x 10^24 oscilações do átomo de césio 133 (criado através de medida provisória, pois os átomos que hoje desconhecemos ainda não existiam no pré-universo). Na linguagem atual isso equivaleria a cinco milhões de anos, ao fim dos quais um novo presidente eleito pelo voto impopular assumia.
 
O poder legislativo era exercido por políteos (deuses políticos de todo tipo) distribuídos em três câmaras: câmara baixa (tipo tatame), câmara alta (2,20 m) e câmara box (usada sempre que algum deus desejasse dormir o sono é-terno, como aquele cochilinho tchutchuca era conhecido).
 
A vida corria bem, o átomo de césio 133 oscilava 9.192.631.770 vezes por segundo (unidade de tempo que seria inventada no futuro mais que futuro) e os deuses se divertiam divinamente, torturando semideuses e aspones. Também comiam divinamente (especialmente as deusas casadas com seus pares e ímpares).
 
Um dia (força de expressão), porém, o bicho pegou. Um deus mais mal humorado, solitário e puritano começou a dizer coisas como “eu sou mais deus que qualquer um aqui”. O mal-estar e constrangimento causados por essas palavras acabaram criando um verdadeiro cu de gato no pré-universo, um disse me disse, um voa que voa danado, um pega pra capar os diabos (outro nome utilizado para identificar os semideuses).
 
Um desses semideuses até tentou interpelar educadamente, muito educadamente mesmo aquele deus turrão e autoritário, mas só conseguiu ouvir um “Ora, vá para o inferno!” E, assim, o inferno foi criado.
 
Como estava todo mundo muito bêbado ou comendo a mulher do amigo ou vomitando, ninguém conseguiu reagir quando aquele deus raivoso - dizendo não há outro Deus senão eu” -, pegou um call lendário e, à vista de todos, o transformou em uma singular-idade. Que alguns estudiosos traduziram para “Fiat Lux!”.
 
O que aconteceu a seguir é indescritível e inescrevível (principalmente para quem está sóbrio). Aquela singular-idadezinha de merda provocou uma explosão tão gigantesca que destruiu o pré-universo e espalhou deuses, semideuses e aspones pelos conmeios e confins do universo recém-criado.
 
O deus puritano e caretão deixou a barba crescer, vestiu uma túnica branca (a título de uniforme de campanha) e começou a ditar regras, a promulgar leis universais - que alguns bilhões de anos depois seriam finalmente entendidas e decodificadas por desequilibrados e malucos - e a impor sua vontade através do medo.
 
Mas a mais festejada de suas realizações foi o nascimento de seu filho gente boa (com temperamento totalmente oposto ao do pai), gerado por meio de sexo à distância, uma espécie de sexo wi-fi, assunto que não será abordado aqui, pois além de preservar a privacidade dos envolvidos, essa é uma história já fartamente documentada e interpretada.

terça-feira, 14 de junho de 2022

PREVENDO O FUTURO NO PASSADO

Recebi de meu filho uma reportagem publicada no site Hypeness. Pelo tema, impossível não compartilhá-la com os 12,5 leitores do blog. Olha aí.

 
Você consegue imaginar como será o futuro daqui a 100 anos? Aqui no Hypeness, já contamos como, por exemplo, Jim Morrison previu o futuro da música e a ascensão da música eletrônica – bem antes do surgimento do Kraftwerk, considerados os pais do gênero – e do rap.
 
As previsões do futuro do passado são extremamente interessantes e podem nos dizer algo sobre o nosso presente e sobre o tempo que ainda virá. A invenção do celular e a ideia de que teríamos tecnologias de bolso capazes de transmitir informações não são necessariamente recentes.
 
No início do século passado, diversos teóricos imaginaram a ideia de um smartphone. O físico e inventor Nikola Tesla, por exemplo, afirmou que isso era possível.
“Poderíamos presenciar e escutar eventos como se estivéssemos neles”, explicou à época.
 
Mas não era somente da ciência a previsão de um celular. Em 1919, o cartunista W. K. Haselden previu como seriam os celulares telefônicos. Em 5 de março de 1919, ele publicou o cartum “Quando todos nós tivermos telefones de bolso” no jornal britânico The Mirror.
 
Ele previu que o celular iria tocar em momentos extremamente incômodos, como na corrida em direção ao trem, com as mãos ocupadas, em um concerto musical, quando se está segurando um bebê e durante um casamento.
“Nós certamente estaremos ‘presos no telefone’ nos momentos mais estranhos da nossa vida”, diz o cartum. Mal imaginava W. K. Haselden sobre as ligações de telemarketing no século futuro.



 

segunda-feira, 13 de junho de 2022

GEMININIÑAS 05

Os pais da Lelê e da Lulu tinham uma festa de formatura para ir, mas não tinham com quem deixar as menininhas. A mãe da Bia e da Cacá generosamente ofereceu-se para ficar com elas. Seria também uma oportunidade fantástica para as priminhas se entrosarem, interagir e brincar a rodo.
Quando chegaram ao prédio onde as primas mais velhas moram, a Cacá começou com as presentações:
- Este é nosso prédio, este é o carro da mamãe...
A partir daí, segundo o pai das “anfitriãs”, suas filhas assumiram a postura de "cuidadoras" das primas, além de brincar com elas.
No dia, seguinte, quando o pai da Lelê e da Lulu foi buscá-las, a Bia comentou:
- Tomar conta de “bebê” dá muito trabalho, elas fazem muita bagunça!
Uma menininha de apenas quatro anos fazendo esse comentário sobre suas primas de três anos! Hilário!
 
 
A Bia dando palpites na decoração da casa:
- Mamãe, a gente tem que pintar nossa casa. As paredes são muito brancas!
- Você quer pintar de qual cor?
- De arco-íris...


Cacá e Bia, cada uma com um pente, resolvem “cortar” o cabelo do pai. Atacam daqui, atacam de lá, empurram a cabeça para trás, puxam para frente. O pai pergunta se o cabelo ficou bom. A Cacá responde:
- Não.
- Que você fez? Cortou meu cabelo? Como ficou?
- Careca.
A Bia emenda:
- Vou buscar a tinta para pintar. Não sai daí!
 

  

domingo, 12 de junho de 2022

DESFAZENDO MITOS

 
Recebi este texto hilário de minha mulher. Achei tão divertido que resolvi compartilhar seu humor com os leitores e leitoras do Blogson. Ria sem moderação.
 
 
Amigos, vamos desfazer alguns mitos no Dia dos Namorados?! Então...
 
O amor não ilumina o seu caminho.
O nome disso é poste.
 
O amor não é aquilo que supera barreiras.
O nome disso é gol de falta.
 
O amor não traça o seu destino.
O nome disso é GPS.
 
O amor não te dá forças para superar os obstáculos.
O nome disso é tração nas quatro rodas.
 
O amor não mostra o que realmente existe dentro de você.
O nome disso é endoscopia.
 
O amor não atrai os opostos.
O nome disso é imã.
 
O amor não é aquilo que te deixa sem fôlego.
O nome disso é asma.
 
O amor não é aquilo que te faz perder o foco.
O nome disso é miopia.
 
O amor não é aquilo que te deixa maluco, te fazendo provar várias posições na cama.
Isso é insônia.
 
O amor não faz os feios ficarem pessoas maravilhosas.
O nome disso é dinheiro.
 
O amor não é o que o homem faz e leva a mulher à loucura.
O nome disso é esquecer a toalha molhada na cama.
 
O amor não faz a gente enlouquecer, não faz a gente dizer coisas pra depois se arrepender.
O nome disso é vodka.
 
O amor não faz você passar horas conversando no telefone.
O nome disso é promoção da Tim, Oi, Vivo ou Claro.
 
O amor não te dá água na boca.
O nome disso é bebedouro.
 
Amor não é aquilo que, quando chega, você reza para que nunca tenha fim.
Isso é férias.
 
O amor não é aquilo que entra na sua vida e muda tudo de lugar.
O nome disso é empregada nova.
 
O amor não é aquilo que gruda em você, mas quando vai embora arranca lágrimas.
O nome disso é cera quente.

SUGESTÕES DE LEITURA


METAMORPHOSIS
Tenho um amigo e ex-concunhado que sempre teve pelo som dos Rolling Stones a mesma paixão que eu sentia pela música dos Beatles. Por isso, resolveu comprar novamente todos os discos que tinha perdido, emprestado ou danificado, o que não adiantou muito, pois logo estavam arranhados, danificados ou emprestados sem devolução. Não satisfeito em fazer isso com seus discos, o filho da puta fez a mesma coisa com três dos meus! Dois deles nunca mais eu vi e quando consegui resgatar o terceiro, a superfície do vinil parecia ter sido utilizada para dar polimento no piso da casa, de tantos arranhões. Pois bem, esse sujeito comprou em 1975 um disco meio estranho dos Stones (em minha opinião) lançado naquele ano, que continha gravações alternativas ou semi-descartadas pela banda.

Segundo uma crítica que encontrei, o disco Metamorphosis (esse é o título) “é ao mesmo tempo interessante e embaraçoso, uma curiosidade e um ultraje. Suas 14 faixas consistem em jams, outtakes, takes alternativos e versões primitivas de músicas que os Rolling Stones posteriormente revisaram em números mais polidos, todos gravados (aproximadamente) durante seus primeiros seis anos. Mas não se pode chamar de álbum dos Rolling Stones”.

Deve ser esse o motivo de ser tão desconhecido, pois como não me lembrava do nome do disco,custei a encontrar a imagem da capa. A curiosidade é que ela reune graficamente sos guitarristas Brian Jones (encontrado morto na piscina de sua casa) e seu substituto Mick Taylor. Olha ela aí.


 
Lembrei-me dessa história ao fazer uma garimpada de textos iniciados e depois abandonados, seja pela repetição dos temas ou pela minha preguiça em dar sequência ao assunto rançoso. Por ter o hábito de usar o Blogson como uma espécie de arquivo ou biblioteca, resolvi juntar três desses “textículos” e publicar aqui no blog. Afinal, leitores e leitoras com insônia crônica merecem a chance de dormir um pouco sem ter de usar remédios tarja preta, concordam?
 
 
 
CAMBAIO
"Fisicamente, eu te imaginava um senhor magrinho, de óculos, meio curvado. E você é, ou na foto pelo que percebi, alguém robusto, parece cheio de vida". Tomei este comentário como um elogio velado. Pois é...
 
“Quem vê cara não vê coração”, ensina o ditado popular. No meu caso, o correto seria dizer "quem vê cara não vê compleição". Porque, como muitos gostam de escrever nas redes sociais, "isso é bem euzinho". Eu sei (acalme-se, Marreta, cuidado com a pressão!) que isso ficou muito viado, mas foi só para destacar um fato impossível de ser contestado: no zoom padrão 3 x 4 eu até que fico bem na foto (ou na fita), eu até disfarço bem. O problema é quando a câmera vai se afastando e me pegando de corpo inteiro. Aí é quase filme de terror (ou comédia), pois a barriga (abdômen) está obscenamente grande. E as pernas, coitado de mim, transformaram-se em parênteses. Lembrando o vocabulário de minha mãe, hoje sou um sujeito cambeta. Ou cambaio.
 
 
 
BICICLO
Podem dizer que sou idiota, velho babão, bunda mole ou o que quiserem de mim, que eu não ligo. Afinal de contas, quem já foi chamado de sociopata por um colega não deve se preocupar com “elogios” mais leves. Porque, no duro, no duro (nem tanto assim, atualmente) o que sou mesmo é ciclotímico. E nem vou explicar o que isso significa. Se quiserem, podem me chamar de biciclotímico, pois sou geminiano e tenho dupla personalidade (piada!).
 
Isso explicaria a alternância de humor dos textos publicados aqui no blog (pronto, expliquei o significado!). Um texto sem noção antecede um depressivo que é seguido por outro idiota e assim, como uma bicicleta desgovernada, o velho Blogson vai descendo a ladeira. Hoje, apesar de ser sexta-feira (dia sem maior significado para um idoso recluso), estou com a cachorra, azedo, ácido, mais amargo que chá de boldo.
 
 
 
VIDA LOKA
Como já disse em outros posts, não tenho saudade de lugares ou acontecimentos da minha infância ou juventude, tenho saudade de mim. Não do que fui, mas do que poderia ter sido; não do que fiz, mas não deveria ter feito; não do que não fiz e deveria ter feito. Em outras palavras, tenho saudade de uma realidade alternativa que nunca ocorreu.

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4