Antes do começo do começo, o pré-universo era
habitado apenas por deuses, semideuses e aspones, reunidos em uma teocracia
representativa. Por óbvio, entende-se que essa teocracia representava apenas a cassata dos deuses - que consideravam e
tratavam como escória todo o restante da população.
Todas as funções executivas eram exercidas
por um presidente, exceção apenas feita às execuções de condenados, tarefa que causava
asco e repulsa na população em virtude da grande brutalidade e violência
utilizadas, tendo saído daí a palavra carrasco,
contração da expressão “Cara, que asco!”
O presidente exercia seu mandato por um
período calculado em 1,4 x 10^24 oscilações do átomo de césio 133 (criado
através de medida provisória, pois os átomos que hoje desconhecemos ainda não
existiam no pré-universo). Na linguagem atual isso equivaleria a cinco milhões
de anos, ao fim dos quais um novo presidente eleito pelo voto impopular assumia.
O poder legislativo era exercido por políteos
(deuses políticos de todo tipo) distribuídos em três câmaras: câmara baixa (tipo tatame),
câmara alta (2,20 m) e câmara box (usada sempre que algum
deus desejasse dormir o sono é-terno, como aquele cochilinho tchutchuca era conhecido).
A vida corria bem, o átomo de césio 133 oscilava
9.192.631.770 vezes por segundo (unidade de tempo que seria inventada no futuro
mais que futuro) e os deuses se divertiam divinamente, torturando semideuses e
aspones. Também comiam divinamente (especialmente as deusas casadas com seus
pares e ímpares).
Um dia (força de expressão),
porém, o bicho pegou. Um deus mais mal humorado, solitário e puritano começou a
dizer coisas como “eu sou mais deus que
qualquer um aqui”. O mal-estar e
constrangimento causados por essas palavras acabaram criando um verdadeiro cu de gato no
pré-universo, um disse me disse, um voa que voa danado, um pega pra capar os diabos (outro nome utilizado para identificar os semideuses).
Um desses semideuses até
tentou interpelar educadamente, muito educadamente mesmo aquele deus turrão e autoritário, mas só
conseguiu ouvir um “Ora, vá para o inferno!”
E, assim, o inferno foi criado.
Como estava todo mundo muito
bêbado ou comendo a mulher do amigo ou vomitando, ninguém conseguiu reagir quando
aquele deus raivoso - dizendo “não há outro Deus senão eu” -, pegou um call lendário e, à vista de todos, o
transformou em uma singular-idade.
Que alguns estudiosos traduziram para “Fiat Lux!”.
O que aconteceu a seguir é
indescritível e inescrevível (principalmente para quem está sóbrio). Aquela
singular-idadezinha de merda provocou uma explosão tão gigantesca que destruiu
o pré-universo e espalhou deuses, semideuses e aspones pelos conmeios e confins
do universo recém-criado.
O deus puritano e
caretão deixou a barba crescer, vestiu uma túnica branca (a título de uniforme de campanha) e
começou a ditar regras, a promulgar leis universais - que alguns bilhões de
anos depois seriam finalmente entendidas e decodificadas por desequilibrados e malucos
- e a impor sua vontade através do medo.
Mas a mais festejada de suas
realizações foi o nascimento de seu filho gente boa (com temperamento totalmente oposto ao do pai), gerado por meio de sexo
à distância, uma espécie de sexo wi-fi, assunto
que não será abordado aqui, pois além de preservar a privacidade dos
envolvidos, essa é uma história já fartamente documentada e interpretada.
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