segunda-feira, 27 de junho de 2022

EXCESSO DE RELIGIOSISMO FAZ MAL

 
Ultimamente tenho ficado muito incomodado com pensamentos, atitudes e comportamentos tornados públicos através dos meios de comunicação. E o pior é ter a sensação de que é a religião que está na origem do que me causa tanta estranheza e irritação. Melhor dizendo, não as religiões em si, mas sua deformação, o preconceito e as ideias impregnadas de uma religiosidade deturpada, mal interpretada.
 
Esses comportamentos e atitudes são tão cretinos, tão asquerosos, tão moralistas e tão preconceituosos que me fizeram imaginar uma palavra para definir esse ”desvio de conduta”: “Religiosismo”, uma palavra que imaginava poder estar no dicionário do Aurélio, mas que não encontrei. Mesmo que possa ser um neologismo, é depreciativa e diferente de religiosidade.
 
(Parêntese: tempos atrás eu tinha boa fluidez para expressar o que estava sentindo. Hoje, parece que os pensamentos trombam uns com os outros e até desaparecem. Mesmo assim, tentarei expor de forma clara minha visão sobre notícias recentes com exibições explícitas de “religiosismo” sem utilizar demais os comandos “CTR X” e “CTR V” neste texto).
 
E o motivo de ter pensado nessa palavra foram as recentes notícias sobre os estupros de uma criança de onze anos e de uma jovem de 21 anos, suas consequências e as reações de pessoas envolvidas nessas ocorrências, fazendo-me crer que há uma espécie de “religiosismo” perpassando os dois casos e, provavelmente, tantos outros acontecidos no Brasil. Segundo a Globo News, 35.000 crianças até 13 anos de idade foram vítimas de estupro só no ano de 2021.
 
O que têm essas notícias em comum – além de duas gravidezes provocadas por estupro – é a exibição do mais repulsivo moralismo e preconceito exibidos pelos profissionais que deveriam estar ao lado de quem foi estuprada. Mas não, comportaram-se como se estivessem pensando na “dignidade humana” do feto de cinco meses (que foi felizmente abortado) e da criancinha que foi dada para adoção pela mãe de 21 anos.
 
Esse negócio de “dignidade humana” relacionado a conceitos e interpretações religiosas equivocadas não existe! Pelo menos, não para mim. Ainda há quem creia que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (daí a tal dignidade e sacralidade do corpo humano). Por mim, poderia até ser verdade (mesmo que não creia nisso). O problema é dar um jeito de incluir nessa "imagem e semelhança" nossos primos, os também humanos Neandertais e Denisovanos. Ou explicar a falta de “dignidade” dos chimpanzés e bonobos, que, afinal de contas, compartilham mais de 98% de seu DNA com os Sapiens (nós mesmos). Sem falar na dignidade do sexo feminino (ah, tá bom, esse não conta, pois foi criado a partir da costela de Adão...).
 
Tenho a sensação de que essa ideia (que parece estar na gênese do pensamento moralista) é que levou uma “juíza” empenhada em não deixar a gravidez de uma criança de 11 anos ser interrompida a fazer chantagem emocional e formular perguntas sinuosas, “serpenteantes” e melífluas a uma criança estuprada e grávida aos onze anos:
 
– Qual é a expectativa que você tem em relação ao bebê? Você quer ver ele nascer?
– Você tem algum pedido especial de aniversário? Se tiver, é só pedir. Quer escolher o nome do bebê?
– Você acha que o pai do bebê concordaria pra entrega para adoção? (referindo-se ao estuprador!).
 
A filhadaputa não teve o bom senso e generosidade de pensar no que o apresentador Luciano Huck disse sobre esse episódio:
– Criança não é mãe!
 
Os mesmos “princípios” abjetos, canalhas, devem ter levado um médico que examinou uma jovem de 21 anos, atriz - mais uma vítima de estupro -, a dizer que ela era responsável por 50% do DNA da criança que nasceria poucos dias depois (grande novidade!) e que “seria obrigada a amá-lo”, enquanto a fazia ouvir o coraçãozinho batendo. E tudo porque a jovem estava decidida a entregar para adoção um filho gerado em consequência de um estupro!
 
Para fechar este texto só transcrevendo o diálogo entre a “juíza” e a mãe da criança de onze anos:
 
- Hoje, há tecnologia para salvar o bebê. E a gente tem 30 mil casais que querem o bebê, que aceitam o bebê. Essa tristeza de hoje para a senhora e para a sua filha é a felicidade de um casal.
 
Aí, tomou uma tijolada da mãe, que disse aos prantos:
- É uma felicidade, porque não estão passando o que eu estou!
 
Depois do vazamento da gravação dessa conversa, a Justiça (a verdadeira) determinou que o aborto legal fosse realizado. Ainda bem.

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