Apesar de reticente em relação aos poemas pornográficos do Bukowski (eu não passo de um caipira preconceituoso!), achei sensacionais os conselhos que deixou no texto "Então queres ser um escritor?", pois é exatamente assim que me sinto quando resolvo escrever meus versos de quinta categoria:
"se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas".
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas".
Estou dizendo isso pois meu filho mais velho me
contou ter sido recentemente abordado por um tilelê da vida, que lhe perguntou
se ele gostava de poesia enquanto oferecia alguns livrinhos artesanais, verdadeiros
fanzines (“E tome zine, zine, zine, zine,
zine em papel de xerox” – Hanói Hanói). Ao contrário de mim, que mesmo não comprando nada teria
conversado meia hora com o sujeito, meu filho apenas respondeu “Não!”.
Seu comportamento sério, equilibrado e contido às vezes me faz pensar que ele é que parece ser o pai e eu o filho. Pouco importa.
Só sei que gosto muito de poesia. E gosto tanto que acabei perdendo a vergonha
e começado a rascunhar alguns versos. Mas preciso dizer que sempre me considerei um
farsante, uma fraude no quesito poesia.
Para mim está claro que a
maioria dos versos que escrevi são apenas textos em prosa quebrados aqui e ali
para ficar com jeitão de poema. E por que algumas vezes escolhi registrar meus
pensamentos nesse formato? Creio que a explicação é simples: um texto em prosa
é como um rio cujas águas vão deslizando pelos meandros e curvas suaves,
tranquilamente, sem sobressaltos, serenamente. A poesia, ao contrário, lembra
um rio turbulento, nervoso, com corredeiras, as águas agitadas despencando em
cachoeiras e precipícios.
Em outras palavras, o texto
em prosa lembra um arado que vai revolvendo a terra de forma metódica, enquanto
a poesia lembra alguma coisa sendo arrancada da terra à mão, no muque.
Serenidade versus explosão. Quando escolhi registrar
sentimentos no formato de “poesia” (mesmo que fosse prosa disfarçada em poema),
é porque alguma coisa estava explodindo dentro de mim.
Sempre pensei que a
melhor imagem para a poesia seja a de uma espada de samurai com suas formas
elegantes. Pode ser pintada com cores alegres, disfarçada com arranjos de
flores, talvez, mas continua afiada e letal como a espada de samurai que é.
Em um poema, frases soltas
podem ser lançadas no papel ou na tela sem explicação prévia, agindo como
contrações musculares ou espasmos amorosos. São como que flashes luminosos,
clarões de raios provocados por sentimentos represados que têm urgência em ser
libertados, em total coerência com as palavras de Bukowski.
Já os textos em prosa não têm
pressa, esperam ser burilados, polidos, lustrados. O problema é que eu tenho
tido cada vez menos vontade de polir ou lustrar o que escrevo. Aliás, fica a
pergunta: por que eu continuo insistindo em escrever? Talvez o melhor seja eu me dedicar
à horticultura orgânica, pois ultimamente só tenho produzido abobrinhas! Fui.
Rapaz, você conhece essa música do Hanoi-Hanoi!!!! Por essa, eu não esperava. O Arnaldo Brandão, ex-líder da banda e já há muito tempo em carreira solo, é um dos caras mais competentes musicalmente e singulares da nossa MPB. O cara é foda!
ResponderExcluirEu acho que a prosa é uma luta de boxe daquelas de 12 rounds e, que se for boa, um acaba vencendo no final por pontos. A poesia - a boa poesia - é aquele nocaute fulminante nos trinta segundos do primeiro round, feito os do Tyson, nos bons tempos dele.
E você ainda vai acabar se curvando ao "charme" do velho Buk.
Gosto pra caralho do Hanoi Hanoi e tenho vinil que traz essa música. Não conheço mais nada, mas tive a oportunidade de ver um show da banda aqui em BH “de grátis”, quando eles se apresentaram em uma feira agropecuária no “Parque de Exposições da Gameleira”. O Arnaldo é muito foda. Segundo ele, o maior público da banda era justamente daqui. Se é puxasaquismo oportunista ou não, não sei. Quanto ao Buk, acredite, já estou quase chegando lá, justamente pelo texto incrível que citei e que cada vez mais me impressiona (eu releio muitas vezes tudo o que gosto)
Excluirem tempo : "O problema é que eu tenho tido cada vez menos vontade de polir ou lustrar o que escrevo". Isso também vem acontecendo há algum tempo comigo. Ainda mais que meus textos são relativamente longos e os escrevo primeiro à mão para, só depois, digitar, revisar etc.
ResponderExcluirRapaz, eu não consigo entender essa sua mania de escrever à mão! Todas as merdas que eu escrevo geralmente só saem depois de alguns controlX / controlV. Sem essas teclas o blog já tinha ido pro saco há muito tempo
ExcluirNem é mania. Eu, simplesmente, não consigo organizar meus pensamentos, meu texto, direto no teclado; a não ser que tenha lá poucas linhas, um parágrao ou dois. Fora isso, tenho que, no mínimo, rascunhar, montar o esqueleto dele, no papel.
ResponderExcluirEu entendo o que diz. Eu tinha uma boa fluência quando escrevia à mão, ia mandando bala sem pestanejar. Mas é trabalhoso fazer isso e depois ter de digitar. Sem contar que meus pensamentos estão mais caóticos hoje em dia. Aí, o recorta e cola fica melhor. Até mesmo respostas a comentários às vezes eu digito em word, corrijo e só então colo no blog.
ExcluirSpoiler: estou preparando uma super maluquice que fará com que meus filhos balancem a cabeça em sinal de total desaprovação., porque é idiotice mesmo. Sairá em gotas (umas três, talvez).
Estou na espera homeopática, pois.
ResponderExcluira primeira gota já pingou.
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